Imaskar
das Profundezas
Descrita
por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ricardo
Costa.
Personagens
principais da aventura:
Os
Humanos: Arthos Fogo Negro;Magnus de Helm; Sigel O'Blound
(Limiekki); Danicus Gaundeford; Klerf Maunader. Os
Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. O Grimlock:
Loft Moft Toft Iskapoft. O Halfling: Bingo
Playamundo. Participação Especial:
Storm Mãe Argêntea.
Imaskar das Profundezas
A Canção de
Storm
O grupo de aventureiros da Comitiva da Fé retornou a nau
voadora que o conduzia pelas imensas e perigosas cavernas
do Subterrâneo. Os heróis estavam exaustos, mas haviam
cumprido a missão de localizar e destruir o portal e a
gema mística, partes fundamentais do plano drow de invasão
da Superfície, da cidade de Undrek’Thoz. Foram recebidos
pela bela Barda do Vale das Sombras, Storm Mão Argêntea
e pelo harpista Klerf. A mulher de cabelos prateados ajudou-os
a descer a rampa de madeira, que ligava o solo ao convés.
“E então, Comitiva?”,
perguntou.
“Conseguimos!
Encontramos o portal na Casa Trun’Zoyl’Zl
e o destruímos. A pedra havia sido roubada e exigiu mais
investigação, mas por fim a encontramos no Distrito de
Phandalkusan e também a fizemos em pedaços!”, relatou
Mikhail
“Mas não foi
sem esforço! Lutamos com muitos drows e enfrentamos até
dois demônios!”, completou Arthos, ainda com o rosto
pálido.
“E encontramos
um grupo aliado, chamado Fogo Lunar. São seguidores de
Eilistraee e nos ajudaram com a missão. Parecem existir
células dele espalhadas por outras cidades!”, disse
Kariel.
“Excelente
notícia, meus amigos! Precisaremos de toda a ajuda que
pudermos obter!”, falou Storm. “Obrigada,
Comitiva! Agora vão descansar! Vocês estão péssimos, especialmente
Arthos! Nossa próxima parada é a cidade drow de T’lindeth.
Até lá, haverá tempo suficiente para vocês se refazerem!”.
“Tenho mesmo
que descansar! Realmente me sinto muito mal, desde aquele
encontro com a mulher-demônio!”.
“Não se preocupe,
Arthos! Farei uma sopa de legumes especial!”, disse
Bingo
“Obrigado, pequeno,
mas acho que vou dormir um pouco!”, respondeu o
espadachim, desalentado.
A Comitiva se recolheu,
descansando dos perigos enfrentados na cidade drow de
Undrek’Thoz. Naqueles momentos, em que a nau cruzava
silenciosamente o ar, Mikhail orava e lia o livro sagrado
da Deusa Mystra, Kariel, deitado, escrevia um novo capítulo
do seu diário pessoal, Magnus polia sua armadura enquanto
conversava com Storm, Limiekki limpava suas armas, o professor
Danicus contava sua última aventura para o discípulo Klerf,
Iskapoft observava Bingo cozinhar e Arthos dormia. Assim,
sete horas se passaram.
O espadachim ruivo
ainda sonhava, enquanto o seu corpo cansado repousava.
Em sua mente, estava sentado em uma mesa de taverna, no
Vale das Sombras talvez, tendo do outro lado o amigo Kelta.
Jogavam carteado cormyriano, em um jogo chamado “caixa
do rei”. Arthos tinha em suas mãos cartas representando
o rei, uma rainha, o príncipe, o general e o nobre. Era
uma mão muito boa e o ruivo ex-elfo colocou todas as moedas
de ouro que tinha naquela jogada.
“É, meu velho
Kelta! Parece que agora você perdeu as calças!”,
disse sorrindo e confiante, mostrando as coloridas figuras.
“Lamento, Arthos...
mas é você quem vai andar de ceroulas!”, sorriu
o mago, baixando suas cartas na mesa.
“Um rei, uma
rainha, um príncipe, o general e o mago de guerra! Não
é possível! Perdi de você, Kelta! Você deve ter trapaceado!”,
disse, um indignado Arthos, acostumado a jogar, mas nunca
a perder.
“É, meu amigo!
Tymora às vezes dá e às vezes tira! Agora vamos comer...
vamos comer...vamos comer...”.
A voz ecoou na cabeça
de Arthos e ele acordou com Bingo a sua frente, com uma
panela na mão e um prato na outra. Iskapoft estava logo
atrás.
“Vamos comer,
Arthos! Acorda! Experimente minha sopa! Você está anêmico!”.
“Bingo! Tive
um pesadelo terrível!”, disse, despertando. “
Sonhei com Kelta! Ele me venceu em um jogo de cartas...
isso é impossível!”.
“Tanto barulho
por conta de um sonho bobo. Bebe logo a sopa!”,
insistiu o pequeno, empurrando um prato na direção do
amigo.
“Humm...
muito boa! Até que você cozinha bem!”.
“Ah sim! Sou
um bom cozinheiro! Era famoso em Luiren”, disse,
feliz da vida pelo elogio. “E você, Iskapoft? Não
quer uma sopa não?”.
O grimlock olhou para
a panela e coçou a cabeça.
“Iskapoft nunca
comeu isso, pequenino!”.
“Ah!... então
toma um pouco!”, disse Bingo, despejando um pouco
do caldo de legumes em um prato e entregando ao companheiro.
Iskapoft tomou o prato com as duas mãos e levou a boca,
em um barulho desagradável, mas logo em seguida cuspiu
tudo que havia tomado!
“Puuuuh! Isso
é ruim! Gosto de carne é bom. Isso não!”, disse
o grimlock, puxando de uma sacolinha de tecido suja, um
pedaço de carne seca e velha, para o asco daqueles que
estavam ao seu lado.
“Bem... se você,
que só come estas carnes podres, não gostou, posso considerar
um elogio!”, disse o halfling olhando para o chão
sujo. “Agora tenho que limpar esta bagunça!”.
Quando o halfling
ia deixando a cabine para buscar um balde, água e esfregão,
entrou pela porta Storm.
“Salve! Espero
que estejam melhores, especialmente você, Arthos!”.
“Um pouco melhor!”,
respondeu o espadachim. “Obrigado por se preocupar!”.
“Vim aqui lhes
fazer um convite! Não sei se sabe, mas o povo dos Vales
me chama também de a “Barda do Vale das Sombras”,
mas esta barda ainda não havia cantado nenhuma uma canção
para a Comitiva. Hoje irei reparar esta falha”,
disse a mulher de cabelos prateados, em um sorriso encantador.
“Kariel toca flauta e concordou em me acompanhar!
Se quiserem, podem ir a cabine de comando e escutar!”
“Oba! Uma festa!
Vamos!”, animou-se Arthos.
“Música é sempre
bom para aquecer o coração e espantar as sombras!”,
disse Limiekki, que sentava em um beliche próximo. “É
claro que eu vou!”.
“Vamos todos!”,
conclui Bingo.
Poucos minutos depois,
a Comitiva estava reunida na cabine de comando, a exceção
de Mikhail que, a pedido de Storm, ficara no convés, para
vigiar se as coisas estavam em ordem. A Barda do Vale
das Sombras e Kariel, que portava uma bela flauta transversal
élfica feita de prata e finamente ornada, combinaram algo
e começaram o pequeno espetáculo. Ao som melodioso e alegre
do instrumento, Storm começou a cantar. Sua voz agora
era ainda mais doce e suave.
“Eu estive em muitos lugares
Viajei mundo afora
Sempre à procura de novos ares
Mas, o que isso importa agora,
Quando todas as estradas que eu atravessei
Parecem voltar para aqueles que deixei
Rostos familiares
Pelas velhas calçadas
Estão em todos lugares
lanternas iluminadas
Onde quer que eu vá
Me chamando para voltar
Dançando sob o luar
Na chuva a cantar
Oh, como é bom estar no lar
À luz do sol a gargalhar
Na estrada a caminhar
Oh, como é bom estar no lar” (*)
A música terminou
e vieram as palmas. Mikhail, mesmo do convés, conseguiu
ouvir um pouco da música, mas outro som chamou-lhe a atenção.
Parecia alguém sussurrando, vindo da escuridão acima da
caverna. O elfo sacerdote de Mystra pôs-se em prontidão
e olhou para o alto. Em um ato de vontade, ergueu seu
martelo mágico de guerra, conhecido como o “Destruidor
de Tempestades” e dele partiu um raio de luz em
direção ao teto. A claridade revelou uma plataforma de
pedra, logo acima da nau e pequenos vultos se esconderam
aos resmungos. Porém, outros abordaram o convés, usando
cordas. Mikahil agora podia vê-los: eram cinco seres de
baixa estatura, mas com a pele cinzenta, carecas, de barbas
totalmente brancas. Eram da desprezível raça de anões
conhecidos como duergares e estavam armados com espadas.
Ouviu-se um novo ruído, repentino e forte. Uma grande
estalactite desabou do alto, destruindo e atravessando
o piso de madeira do convés, entrando pela cabine de comando,
no pavimento inferior, pelo teto. Estavam sendo emboscados.
Duergares
Storm
e Kariel haviam terminado de se apresentar quando uma
pontiaguda estalactite destroçou a madeira clara do teto,
atravessando a cabine de comando repentinamente. Arnilan,
por puro reflexo, conseguiu deslocar-se o suficiente para
desviar da rocha, que destruiu a poltrona de comando da
nau. Porém, ao escapar, o piloto evereskano chocou-se
contra uma das paredes de madeira, machucando o ombro.
A nau agora seguia ainda uma trajetória reta, mas balançava
terrivelmente.
“Uma emboscada!
Estamos sendo atacados!”, gritou Mikhail, do alto
do convés.
Os heróis então foram
buscar suas armas para auxiliar o amigo. Poucos minutos
depois, subiram as escadas e encontraram o elfo clérigo
evereskano cercado pelos anões da escuridão. Magnus foi
o primeiro a subir as escadas e já sacou sua Hadryllis.
Kariel veio logo após, seguido do professor Danicus. O
paladino correu e golpeou com força um dos duergares que
ameaçava Mikhail a altura do peito. O anão sombrio feriu-se,
mas não tombou. Os magos Kariel e Danicus tinham poucas
magias em seus repertórios, já que haviam gasto suas forças
no intenso combate anterior. E mesmo em meio àquelas que
lhes restavam, não podiam optar pelas mais destruidoras,
pelo receio de danificar ainda mais a embarcação mística.
Lançaram, os dois, então alguns dardos fulgurantes de
energia, que partiram de suas mãos e explodiram em dois
dos duergares.
Novos guerreiros ascendiam
ao convés. Eram o halfling Bingo, o mateiro das florestas
do Mar da Lua, Limiekki, o espadachim Arthos, e a Barda
do Vale das Sombras, Storm Mão Argêntea. O pequeno tomou
o seu arco e preparou um tiro, mas hesitou. Em um combate
tão próximo, podia acerta algum companheiro. Então preferiu
aguardar. Já Limiekki empunhava as duas armas que costumava
usar: a adaga e a machadinha. Partiu veloz e começou a
trocar golpes com um oponente. Arthos chamou a atenção
de um inimigo que combatia Mikhail de maneira peculiar.
Com a ponta do sabre, perfurou o traseiro de um dos anões,
que se virou para revidar. Já Storm lançou mão de uma
dádiva oferecida aos Escolhidos da deusa Mystra: um jato
de chamas prateadas partiu de suas mãos, ferindo três
dos inimigos.
A batalha prosseguiu,
mas os anões das profundezas começaram a perceber que
os oponentes que escolheram para saquear e escravizar
não eram viajantes comuns. Um deles, que batalhava contra
Arthos, usando um sortilégio, desapareceu em meio ao combate.
Outro, usando uma habilidade extraordinária, começou a
tremer e aumentar em tamanho e força. Magnus foi o primeiro
a decretar a morte de um dos oponentes: Hadryllis penetrou
profundamente, de cima para baixo, no peito do anão sombrio,
que morreu praguejando em uma língua incompreensível.
Mikhail, que não mais se encontrava encurralado, brandiu
seu martelo dourado em dois pesados golpes contra o adversário
que, já ferido pela magia de Storm, tombou. O professor
Danicus, lançou sobre si um sortilégio que o permitia
enxergar o invisível e advertiu Arthos.
“O anão ainda
está em sua frente! Ataque-o, Arthos!”.
Enquanto isto, Limiekki
lutava com o oponente maior, o duergar que possuía agora
cerca de dois metros de altura. O mateiro sentiu os golpes
da espada que o atingiram na armadura de couro batido
que usava, mas devolveu com ferocidade a investida e a
lâmina partiu o rosto do anão maligno, que morreu. Arthos
obedeceu o professor e, mesmo sem enxergar, experimentou
cortar o ar velozmente, do espaço a sua frente. Acertou
o que não viu. O inimigo reapareceu, somente para cair
aos seus pés. Apenas um vivia e este logo baixou a arma:
“Não matem
eu! Não matem eu! Fui obrigado a atacar vocês!”,
disse o duergar, emitindo em uma voz desagradável, um
idioma comum bastante ruim.
“Obrigado por
quem!?”, quis saber Limiekki.
O duergar apontou
um dos colegas mortos.
“Lançar a culpa
sobre um morto é bem conveniente!”, ironizou o mateiro,
apontando a machadinha para a criatura de pele cinzenta
e barbas brancas.
“Quem são vocês?”,
perguntou Arthos
“Anões cinzentos,
ou duergares, nós é!”, respondeu.
“Anões?! Nunca
vi anões tão esquisitos!”, comentou Arthos.
“E eu nunca
vi humano tão feio!”, rebateu o prisioneiro! “Solta
eu!”.
“De onde vocês
vem? Porque nos atacaram?”, perguntou Storm.
“De Mina Velha!
Vocês parecia bons escravos pra vender! Mas não... são
fortes demais!”
“Você sabe
o que fazemos com escravistas?”, perguntou Magnus.
“Err... vocês
libertam eles?”, falou desajeitado o anão, já advinhando
a resposta.
“Nós os mandamos
para o Abismo!”, respondeu o paladino de Helm.
“Não matem
eu!”, implorou o anão, com voz chorosa. “Se
não me matarem, posso contar coisas!”.
“Coisas? Que
coisas? Fale!”, exigiu Limiekki.
“Queremos saber
sobre outros povos vivem aqui e qual é a distância até
o próximo assentamento drow.”, completou Kariel.
“Prometem que
não vão matar eu?”, pediu o anão.
“Está bem!
Prometo, se a informação for útil!”, garantiu Mikhail.
“Nessas cavernas
vivem nós, drows, ilithides e outros. Tem uma cidade drow
para trás. Chamam ela de Undrek’Thoz. Pra frente
tem cidade drow, mas é longe!”
“Está certo!
Vamos amarrá-lo!”, disse Storm. “Depois decidiremos
o que fazer com ele!”
Enquanto o anão era
levado por Magnus para um quarto, nas dependências internas
da nau voadora, subia ao convés o elfo de cabelos dourados,
Arnilan. O piloto, que usava o capacete de comando da
nave e levava a mão ao ombro machucado, disse a todos.
“Não poderemos
prosseguir. Os controles da nau estão seriamente danificados.
Teremos que pousar ou nos arriscaremos a cair! Vou manobrar
para um platô próximo.”
“Por Mystra!,
exclamou Storm. “Faça isto e vamos avaliar os estragos!”.
Os heróis e piloto
retornaram à cabine semi-destruída. Arnilan controlou
o barco voador, que balançava perigosamente, fazendo-o
pousar. Storm, com o semblante bastante tenso, pediu aos
companheiros da Comitiva.
“Por favor,
verifiquem as cercanias deste platô para não sermos surpreendidos.
Eu e Arnilan tentaremos avaliar a extensão dos estragos!”
“Enquanto ao
duergar, Storm? Acho que deveríamos nos livrar dele. Será
uma fonte constante de perigo e pode tentar sabotar ainda
mais a nau.”, disse Limiekki, externando sua preocupação.
“Dei minha
palavra que não o mataríamos!”, lembrou Mikhail.
“Não seria honrado quebrá-la!”.
“Mas se soltarmos
esse anão por aí ele pode chamar os colegas dele e fazer
um grande estrago!”, falou Arthos, eloqüente.
“Tenho uma
idéia!”, interveio Danicus. “Posso teleportá-lo
para longe daqui, para próximo do lugar onde os anões
nos abordaram.”.
“É uma saída,
professor, mas não há o risco dele ser teleportado para
o meio de um abismo ou para o alto de um túnel?”,
colocou Kariel.
“Sim, amigo
elfo, mas é um risco aceitável para resolver esta situação!”,
finalizou o Harpista.
“Concordo com
Danicus! O professor pode tentar isto. Mikhail deve ficar
e descansar. Precisaremos de seus encantos de cura para
restabelecer os feridos. Iskapoft e Klerf também devem
permanecer aqui, para oferecer mais alguma proteção, caso
a nau seja novamente ameaçada. Os demais formem um grupo
e explorem o entorno da nau e estabeleçam um perímetro
de segurança!”.
Os aventureiros assentiram
positivamente a determinação de sua líder e assim foram
executar as tarefas.
Uma inesperada
cidade
Limiekki,
Arthos, Bingo, Kariel e Magnus afastaram-se lentamente
da nau. O caminho era tenuemente iluminado pela emanação
azulada emitida pela espada de Kariel. Deslocavam-se devagar,
fazendo o máximo de silêncio possível.
Tudo parecia tranqüilo,
até que avistaram algo. Um corpo deitado ao chão. Parecia
estar amarrado e sacudia-se na esperança de se libertar.
“Quem está
ai?”, perguntou Magnus.
“Err... falam
língua comum? Meu nome é Valin, Valin Navalon!”,
disse o interlocutor, em um sotaque bastante carregado.
A Comitiva aproximou-se
e lançou mais um pouco de luz sobre o homem amarrado.
Parecia um humano, de cabelos negros e olhos levemente
orientais, mas a sua pela era branca e rajada, como a
textura de uma placa de mármore. Exóticos eram seus trajes,
em cor terra, cheios de adereços.
“De onde veio,
Valin?”, perguntou Limiekki.
“De Imaskar
das Profundezas! Espero que não sejam aliados dos duergares!
Espere...”, disse o homem fixando melhor os olhos
em seus interlocutores, “Superficiais! Não posso
acreditar! Fantástico!”, disse, espantado.
“Viemos da
Superfície, mas e você? A que raça pertence?”, quis
saber Kariel.
“Sou um imaskari,
elfo!”.
“E o que faz
aqui, todo amarrado?”, perguntou Bingo.
“Deixei a cidade
para colher cogumelos selvagens. Eu os adoro... mas acabei
encontrando duergares. Lutei contra eles, mas acabei perdendo.
Me deixaram por aqui, talvez viessem me levar depois.”
Arthos então aproximou-se
e cortou as marras que prendiam o imaskari. Ele então
levantou-se, revelando uma estatura elevada como a de
Magnus, mas era mais franzino do que a média entre os
homens. Parecia ter quase trinta anos de idade.
“Obrigado!”,
disse Valin, massageando os punhos, apertados pela corda.
“Incrível! Humanos, um elfo e um... o que é você,
pequeno?
“Um halfling!”,
respondeu Bingo.
“Interessante...
mas o que fazem aqui? Estão perdidos?”, continuou
Valin.
“Não. Estamos
em uma viagem!”, respondeu Arthos, sem mais detalhes.
“Lugar estranho
para se viajar, quando se vive na Superfície! Foi um enorme
prazer encontrá-los! Há quinhentos anos nenhum da minha
raça vê outro ser diferente de nós! Espero que tenham
sucesso em sua jornada! Estou retornando para minha cidade
agora”, inclinou-se o imaskari, para pegar uma cesta
de palha escura, cheia de cogumelos.
“Espere...
Não vá ainda!”, pediu Arthos. “Precisamos
de ajuda!”.
“Ajuda?! De
que tipo?”, perguntou o imaskari.
“Nossa nau
voadora está danificada!”, respondeu o espadachim.
“Na sua cidade não existe alguém que possa nos ajudar?”.
“Nau voadora!
Vocês são de Netheril?”, Valin perguntou espantado.
“Arthos! Você
fala demais!”, reclamou Magnus, repreendendo o amigo.
“Não somos nethereses, mas temos uma embarcação
mágica netherese que precisa de reparos!”.
“Meu povo tem
grande conhecimento arcano e certamente devem existir
aqueles que estudam as artes de Netheril, porém não posso
levá-los a minha cidade sem saber o que precisam ou sem
conhecer as suas intenções”, informou Valin.
“Então peço
que nos acompanhe! Vamos levá-los aos nossos outros companheiros”,
disse Kariel. “Não se preocupe. Não iremos fazer-lhe
mal!”.
“Vocês me libertaram.
Têm um crédito comigo. Irei com vocês!”.
Os seis então percorreram
o caminho de retorno a nau. Do lado de fora, encontraram
Storm, Mikhail e Danicus, que olhavam para a embarcação,
pensativos. Os três voltaram-se para os companheiros recém-chegados,
curiosos com o novo personagem que os acompanhava.
“Storm, Mikhail,
Professor Danicus, ...”, iniciou Magnus. “Encontramos
este rapaz amarrado a alguns metros daqui. Chama-se Valin
Navalon e diz ser da cidade de Imaskar das Profundezas.
Segundo ele, o seu povo pode possuir conhecimentos para
nos ajudar a reparar a nau!”.
Storm ergueu a palma
da mão e disse.
“Sinto em você
a ação de algumas magias!”.
“Sim, minha
senhora. Possuo alguns itens arcanos. Isto é algo muito
comum em nossa cultura!”, respondeu o rapaz de tez
de mármore.
“São arcanos
os seus conterrâneos? Eles crêem em Mystra?”, perguntou
Mikhail, clérigo que era da Deusa da Magia.
“Todos nós
somos arcanos em algum grau, além de outras habilidades.
Eu sou um arcano, mas sou um historiador também. Não somos
devotos de nenhum deus e nunca ouvi falar da deusa a qual
você se refere. A antiga deusa da magia chamava-se Mistryl,
salvo engano!”.
Iskapoft, neste momento,
deixou a cabine e veio ver o movimento do lado de fora.
“Waaa! O que
é isto?”, assustou-se o imaskari.
“Não se preocupe.
É um grimlock. Chama-se Iskapoft e é um de nossos companheiros
de viagem!”.
“Valin... pode
nos ajudar a seguir viagem? Viemos em uma missão importante
e precisamos continuar”, perguntou Storm.
“Não conheço
ninguém que estude as naus nethereses, mas posso tentar
localizar alguém que possua estes conhecimentos. Vocês
me parecem sinceros. Posso levá-los a minha cidade, desde
que mantenham suas armas lacradas ou dentro de suas mochilas.
Não quero assustar meu povo!”, respondeu Valin.
“Agradeço a
ajuda”, disse Storm ao imaskari. “Precisarei
manter um grupo aqui comigo, para o caso de alguma ameaça
atingir a nave, quando vocês estiverem fora. Klerf, Iskapoft
e Danicus poderiam ficar e os outros irão com Valin”.
“Mas Storm...
é uma cidade de magos! Gostaria muito de ir! Por favor,
permita-me...”, pedia Danicus, quando Storm o interrompeu.
“Danicus...
sei da sua curiosidade, mas deve pensar além de seus desejos
pessoais. Preciso que fique conosco!”, disse a Barda.
“Está bem!”,
resignou-se o mago veterano a mulher que era sua líder
na organização Harpista, um tanto chateado.
“Então... podemos
ir?”, perguntou Valin.
“Sim! Vamos
logo!”, disse o ansioso Bingo.
“Boa sorte
a todos!”, desejou Storm.
Os heróis da Comitiva
ocultaram suas armas, cobrindo-as com panos ou guardando
as menores nas mochilas. Seguiram Valin por alguns metros
além da nau. O imaskari aproximou-se de uma rocha e a
atravessou, revelando uma ilusão que ocultava uma estreita
entrada. Logo após ele, seguiram-se os integrantes da
Comitiva. Estes, ao atravessar a passagem viram uma paisagem
difícil de conceber nas regiões áridas e escuras das cavernas
do Subterrâneo.
Primeiro foi a luz
fulgurante como a do sol que iluminava toda a imensa câmara
onde haviam acabado de entrar. A luminosidade partia do
teto da caverna, inteiramente forrado com um tecido mágico.
Nele havia estampada a imagem de um sol estilizado, que
emanava uma forte luz, sob um fundo azul onde imagens
de nuvens deslocavam-se lentamente. Após isto, voltaram
seus olhares para frente e viram uma cidade de prédios
em formato de bulbos, alguns deles tão inclinados que
desafiavam flagrantemente a lei da gravidade. Toda a cidade
era circundada de um cinturão formado de grandes árvores,
arbustos e vegetais diversos, tal qual um bosque, cortados
por riachos. Atrás da cidade, pintado em uma das paredes,
havia um grande círculo colorido, repleto de runas, que
servia de moldura para os prédios. O silêncio se fez por
alguns minutos, até Valin o interromper.
“Senhores...
Bem vindo a Imaskar das Profundezas!”.
(*) – A
música de Storm é uma tradução livre da canção Home Again,
homenagem ao grupo de folk Blackmore’s Night.
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