Uma
Trama Inesperada
Descrita
por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ricardo
Costa.
Personagens
principais da aventura:
Os
Humanos: Arthos Fogo Negro;Magnus de Helm; Sigel O'Blound
(Limiekki); Danicus Gaundeford; Klerf Maunader. Os
Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. O Grimlock:
Loft Moft Toft Iskapoft. O Halfling: Bingo
Playamundo. Participação Especial:
Storm Mãe Argêntea.
Uma Trama Inesperada
A Votação
A
visão da fantástica cidade impressionou os aventureiros
da Comitiva. Após o impacto inicial, Bingo foi o primeiro
a agir. O pequeno de Luiren simplesmente correu, desenfreadamente,
em direção às árvores, pomares e relva, que circundavam
o perímetro de Imaskar das Profundezas. Valin correu atrás
dele, seguido da Comitiva.
“Volte
aqui, pequeno! Se entrar na cidade assim, os condestáveis
irão lhe prender!”
Mas
Bingo não atravessou a fronteira verde do bosque. O halfling
deitou-se e rolou na grama, feliz da vida, matando as
saudades do cheiro das plantas e da terra negra, que não
sentia desde que havia partido, há mais de uma semana,
para dentro do mundo de cavernas do Subterrâneo. Os companheiros
vieram atrás.
“Ufa!”,
suspirou Valin, “Não faça mais isso pequeno! Se
atravessasse o Cinto Verde iríamos ter problemas! Preciso
ainda conseguir uma autorização para que entrem na cidade!”
“Autorização?”,
quis saber mais Arthos.
“É claro! São
estrangeiros! Preciso informar as autoridades da presença
de vocês. Peço para esperarem aqui, enquanto eu faço isto.
Não devo demorar.”, disse o imaskari.
“Está bem, Valin.
Aguardaremos”, disse Magnus.
“Volto já! Não
entrem em nenhuma confusão!”, disse, despedindo-se
e tomando uma estrada pavimentada em placas de granito
negro, que cortava o bosque até a área urbana.
Os heróis descansaram
quarenta minutos, enquanto aguardavam Valin retornar.
Não era nada mal estar parado ali, na relva macia e a
beira de um pequeno riacho de águas frias e cristalinas.
Havia frutas por toda parte e Arthos e Bingo não se refutaram
a tomar e comer algumas. Limiekki, mateiro das florestas
do Norte, notou não ter ouvido nem visto nenhum animal,
mesmo insetos, naquele bosque, o que achou curioso. Então,
chegou o imaskari. Sua face demonstrava satisfação.
“Meus amigos!
O Alto Lorde Planejador concedeu-me uma permissão para
que entrem na cidade, porém devem se apresentar até o
final da noite na Torre do Planejador para uma audiência.
Ele deseja conhecê-los.”
“Nós iremos!”,
disse Magnus, pelo grupo.
“Está certo...
mas pode matar minha curiosidade? Porque aqui tem tantas
frutas? Algumas nunca vi na vida! E não há nem sinal de
animais por aqui!”, perguntou Limiekki.
“Esta floresta
foi plantada pelos nossos antepassados, selecionando e
adaptando espécies de vários locais. Não temos animais
aqui. Só nos alimentamos de vegetais”, explicou
Valin, que prestou atenção agora, a luz
do sol imaskari, nos rostos dos seus novos companheiros.
“Não havia notado, mas parecem realmente cansados.
Convido vocês para minha casa. Poderão comer e descansar.
Puxa! Minha irmã Hoxxa não vai acreditar quando vir vocês!
Sigam-me”.
A Comitiva aceitou
o oferecimento e seguiu Valin pela estreita estrada que
cortava o bosque até a área urbana. Adentraram a cidade,
que não continha muros, e avistaram seus prédios em forma
de bulbos, alguns impreessionantemente inclinados, além
de construções menores. A casa de Valin não era muito
distante e ele logo a anunciou, apontando. Porém era uma
construção tão pequenina que, aparentemente, mal comportaria
um único cômodo.
“Desculpe,
Valin... mas vai caber todo mundo aí dentro?”, disse
Arthos, meio sem jeito.
“Ora... claro
que sim!”, respondeu o imaskari, abrindo a porta.
“Vamos entrando!”.
Os
heróis então adentraram e novamente se espantaram. Por
dentro, a casa de Valin era uma mansão espaçosa. No cômodo
havia vários sofás e mesmo uma fonte de água no centro,
refrescava o ar ao redor. Corredores indicavam mais aposentos.
“Pelas
barbas de Elminster!”, exclamou Arthos.
“Do lado de
fora sua casa parecia tão pequena, mas aqui é tão grande!
Como pode ser isto?”, perguntou Limiekki.
“Os construtores
desta casa usaram uma magia que utiliza espaços extradimensionais
para conseguir estes efeitos”.
“E se derrubarmos
uma destas paredes? O que acontecerá?”, quis saber
Bingo.
“Não o aconselharia
a fazer isto, pequeno. Você poderia acabar perdido em
algum plano. Mas destruir uma parede destas não é nada
fácil! Mas, por favor, sentem-se! Tenho tantas perguntas
a fazer!”.
Saindo de um cômodo,
surgiu na sala uma jovem mulher imaskari. Segurava uma
jarra de cerâmica, que deixou cair imediatamente ao ver
aquelas incomuns visitas:
“Essa é Hoxxa,
minha irmã!”, apresentou, um tanto desconcertado,
Valin.
“Valin! Quem
são esses seres!”, disse a moça, no idioma roushom,
aflita. “Quem você trouxe para nossa casa!?”
“Calma, Hoxxa!”,
tentou tranqüilizar. “Eles salvaram minha vida!
São pessoas da Superfície, que estão com problemas para
continuar sua viagem pelo Subterrâneo. Vamos tentar ajudá-los.
Consegui uma audiência com o Alto Lorde Planejador!”.
“Peço desculpas!”,
disse a mulher, dirigindo a uma Comitiva confusa. Estava
falando agora o mesmo idioma comum, que soava antigo e
estranho, que Valin. “Não estamos acostumados a
receber estrangeiros!”, disse, abaixando para coletar
os pedaços da jarra derrubada.
“Não se preocupe,
senhorita!”, disse Arthos. “Compreendemos...
sou Arthos. Estes são Magnus de Helm, Bingo Playamundo,
Limiekki, Mikhail e Kariel! Somos conhecidos como a Comitiva
da Fé”, apresentou.
“Elfos! São
elfos?”, perguntou Hoxxa, olhando para Mikhail e
Kariel. “E este pequeno aqui? O que é?”.
“Somos elfos
sim!”, respondeu Mikhail. “E esse nosso companheiro
é chamado de hobbit,
halfling ou pequeno.”.
“São todos de
um único reino? Na Superfície os povos vivem juntos?”,
perguntou novamente Hoxxa.
“Não... não
é assim. Somos de lugares diferentes, mas nos unimos por
laços de amizade e de dever!”, respondeu Magnus.
“Hoxxa... pare
de perguntar um pouco. Talvez eles também queiram saber
um pouco sobre nós!”, interferiu Valin. “Podem
perguntar. Sou um historiador... creio que posso responder
algumas coisas!”.
“Quem são vocês?
São nativos do Subterrâneo? E esse Alto Lorde Planejador
é o rei de vocês?”, disparou Arthos.
“Opa... quantas
perguntas...”, sorriu Valin. “Somos os imaskaris
das profundezas. Nosso povo viveu na Superfície, há alguns
milênios atrás. Éramos uma nação de humanos, poderosos
magos, chamada Império Imaskar. Um certo dia, os deuses
dos escravos dos nossos antepassados atenderam suas súplicas
e, em forma de poderosos avatares, confrontaram os imaskaris,
em uma guerra terrível. Fugindo da aniquilação, um grupo
de imaskaris, liderados por Ilphemon, dirigiu-se ao Subterrâneo
e fez dele seu lar. Somos seus descendentes e a nossa
aparência diversa é fruto das adaptações mágicas feitas
através dos séculos. Ilphemon fundou uma dinastia, que
foi derrubada por um grupo de necromantes, que instauraram
um período de terror. Uma heroína, chamada Chaschara,
e seus aliados, derrotaram os necromantes e instituíram
o atual sistema de governo. Temos um Conselho de Magos
e o governo é dividido em três figuras: o Alto Lorde Planejador,
que define as políticas da cidade, o Lorde Executor, que
aplica as leis e faz cumprir as decisões do governo e
o Lorde Mantenedor, que assegura que tudo funcione adequadamente.
O nosso Alto Lorde Planejador é Illis Khendarhine, nosso
mago mais brilhante. A Dama Executora é Furyma Selovan,
e o Lorde Mantenedor chama-se Ebrul Naramixa. Acho que
dei-lhes um bom resumo!”
“Valin... disse
que faz quinhentos anos que seu povo não vêem visitantes.
Não possuem contatos com outras culturas do Subterrâneo?”,
quis saber Kariel.
“Não”,
respondeu Valin. “Imaskar das Profundezas é isolada
dos outros povos e completamente auto-suficiente. Vocês
devem ter visto o Grande Selo, um grande círculo composto
de runas, pintado na parede norte. Ele nos protege de
espionagem mágica e intrusão, porém todos que deixam a
cidade, por mais de seis quilômetros, esquecem o caminho
de volta e não podem mais retornar. O selo nos protege
e nos isola. E, por sinal, vocês chegaram em um momento
em que se decide o destino do selo e, conseqüentemente,
de nossa cidade”.
“Sim! Hoje e
amanhã acontecem os debates no Palácio dos Lordes. A magia
do selo está enfraquecendo e haverá uma votação entre
os três lordes para decidir se a renovaremos e permaneceremos
isolados ou se rompemos o selo, retomando o contato com
outros povos ou mesmo se poderemos retornar, aos poucos
a Superfície!”, completou Hoxxa, que apresentava
vivos olhos azuis.
“Gostaria de
participar! Acho que podemos contribuir, dando algumas
informações da Superfície”, pediu Kariel.
“Vocês estarão
com o Alto Lorde. Poderão solicitar isto diretamente a
ele!”, falou Valin.
“Disse que são
magos... são fiéis a Deusa da Magia, Mystra?”, quis
saber Mikhail, clérigo da deusa.
“Não. Não somos
devotos dos deuses. Nossa cultura nos ensinou que eles
foram inúteis no passado e não mais acreditamos nisto.
Preferimos crer apenas em nossas próprias capacidades!”,
respondeu o historiador.
“Lamento dizer,
Valin, mas isto é um erro. Temos experiências concretas
de que os deuses existem e não crer pode ser uma escolha
perigosa, sobretudo no pós-morte”, disse Magnus,
paladino do Deus Guardião Helm.
“É sim... já
lutamos contra deuses e eles já nos ajudaram diretamente!
Eles existem sim! Juro por Yondalla!”, disse o pequeno
Bingo.
“Bem... não
quero parecer grosseiro, mas é difícil de acreditar”,
comentou Valin, ao mesmo tempo em que uma grande bandeja
flutuante, repleta das mais variadas formas de comida
vegetariana, pousou na mesa da sala onde conversavam,
para surpresa dos recém-chegados. “Comam e descansem!
Não vou perturbar-lhes mais. Precisam se refazer para
a audiência mais tarde!”.
“Quando acabarem,
mostrar-lhes-ei um quarto onde podem descansar!”,
disse Hoxxa.
Então a Comitiva comeu
até se fartar. Depois Valin mostrou uma terma que possuía
dentro de sua casa e eles tomaram um revigorante banho
quente e, depois, foram dormir em um cômodo grande, cheio
de almofadas, improvisado em quarto coletivo. Foi o repouso
mais agradável que tiveram em dias. Mais de oito horas
haviam se passado, quando Valin bateu a porta.
“Vamos amigos!
O horário da audiência se aproxima, mas ainda há tempo
para mostrar-lhes a cidade!”.
A Comitiva então despertou
e refez-se, colocando-se de pé, equipando-se e arrumando-se
como possível. Momentos depois, deixaram a curiosa casa
do imaskari, rumo as ruas estreitas da cidade de prédios
brancos, de formas semelhantes a tubérculos. Alguns deles
eram tão inclinados que a Comitiva não consegia
explicar como estavam de pé. O céu artificial dos
imaskaris havia mudado. O sol fora substituído por uma
lua e o manto azul estendido no teto da caverna estava
negro e algumas estrelas brilhavam nele. Tão impressionante
era a cidade para os aventureiros como eles para a cidade:
os imaskaris os olhavam com curiosidade e, alguns, com
desconfiança.
Valin era um bom guia.
Contava as histórias das ruas e dos pontos principais
da cidade. Levou os heróis a uma enorme estátua feminina,
de dez metros de altura, que dominava uma praça. Explicou-lhes
se tratar de uma representação da heroína Chaschara, a
libertadora. Depois lhes apresentou uma torre delgada,
ainda mais alta. Disse-lhes que ela abrigava um tomo mágico
especial, o Terceiro Imaskarcana, uma relíquia dos tempos
do Império Imaskar que, diziam, podia responder a qualquer
pergunta. Em seguida, passaram pelo Grande Selo, um círculo
gigantesco, pintado em uma parede da câmara cavernosa
onde se localizava a cidade, que era preenchido de coloridas
runas e inscrições arcanas. Diversos estudiosos imaskaris
flutuavam e examinavam de perto os desenhos. Por fim,
Valin levou a Comitiva para uma praça grande, onde havia
três construções: uma circular e baixa, ladeada por duas
torres. A do centro era o prédio do Conselho dos Lordes
e também palácio do Alto Lorde. As duas torres eram os
edifícios do Lorde Mantenedor e da Dama Executora. Valin
então subiu com eles os lances de escada até a entrada
do prédio central e identificou-se aos condestáveis, estes
que, podiam ver os aventureiros, não usavam armas de nenhum
tipo. Foram autorizados e entraram no prédio.
“Valin...”,
chamou a atenção Magnus. “Vocês não usam armas?”.
“Não, Magnus.
Nossa arma é a magia. Como disse, somos todos iniciados
na Arte!”, respondeu. “Agora devemos nos apressar!
O nosso passeio tornou o tempo bastante curto e não é
educado que nos atrasemos!”.
Valin então foi a
passos rápidos, prédio adentro. Percorreram corredores
e salões amplos (assim como a casa do historiador imaskari,
por dentro a construção era bem maior, possibilitando
cômodos grandes) e decorados com esculturas e relevos
mostrando heróis, figuras do passado e magias sendo conjuradas.
Foram, enfim, até a porta de uma sala, guardada por quatro
imaskaris de uniforme verde. Valin identificou-se e foram
conduzidos para dentro. Por trás de uma mesa de pedra,
em uma cadeira de espaldar alto, sentava-se um imaskari
ancião, de barbas brancas, trajado em um rico robe vermelho.
Um outro, mais jovem, cabelos negros e expressão serena,
estava de pé ao seu lado. Quando a Comitiva entrou, o
Alto Lorde olhou-os durante alguns segundos, com extrema
curiosidade.
“Saudações,
visitantes da Superfície! Para mim é uma grande surpresa
vê-los. Sou o Alto Lorde Illis Khendarhine, o mais alto
representante do governo e este é o meu secretário, Radatan
Mahederin. Desejo saber quem são, o que querem e que governo
representam.”
“Senhor Lorde...”,
iniciou Kariel, que por sua formação nobre possuía alguma
afinidade com diplomacia. “Na verdade, não representamos
nenhum reino em particular. Sou Kariel Elkendor e estes
são meus companheiros Arthos, Mikhail, Bingo e Magnus.
Estamos cumprindo uma missão, em nome da segurança dos
povos da Superfície. Descobrimos um plano dos drows para
deslocar exércitos de suas cidades, através de portais,
para atacar nossos reinos. Tentamos aqui impedir que isto
aconteça, destruindo estas passagens. Infelizmente, porém,
a nau voadora que usamos para nos deslocar pelas cavernas
do Subterrâneo foi danificada em um ataque de duergares.
Precisamos saber se há aqui alguém com conhecimento sobre
as antigas naus nethereses que possa repará-la, já que
Valin nos disse que são grandes magos!”.
“Senhores. Apesar
de ser um mago com alguns recursos, nada sei sobre os
artefatos de Netheril, mas é bem possível quem alguém
os conheça entre nós. Posso investigar isto para os senhores,
mas terão que aguardar um pouco. Chegaram num momento
muito delicado para nossa sociedade. Não sei se sabem,
mas nossa cidade é isolada do mundo exterior pelo nosso
Grande Selo mágico. Hoje e amanhã haverá debates e votações
entre os Lordes, para decidirmos se continuaremos sob
o Selo ou se o abandonaremos para iniciar a exploração
de novos lugares e o contato com outros povos. Há muita
divisão e os ânimos estão bastante acirrados!”.
“Compreendemos
e queremos, caso permitam, ajudá-los. Podemos fornecer
informações sobre os reinos, povos, aliados e perigos
da Superfície”, ofereceu-se Kariel.
“Sem dúvida,
senhor elfo, é desejável. Pedirei a Radatan que os leve
até o auditório, onde acontecerá a votação. E, poderão
pernoitar aqui. Temos aposentos suficientes para todos
e será um prazer recepcionar visitas, já que temos tão
poucas. Tentarei fornecer-lhes respostas amanhã, ou mesmo
antes, se for possível. Agora devo me retirar, pois serei
o primeiro a me pronunciar”.
“Agradecemos
ao senhor”, disse o arcano da Comitiva, em reverência.
Illis Khendarhine retirou-se
primeiro. Em seguida, o seu secretário, o magro imaskari
de cabelos negros e olhos profundos pediu para que os
heróis o seguissem. Foram levados até um amplo auditório,
que estava repleto de mais de mil imaskaris. Uma imagem
ilusória e ampliada do palco pairava ao alto para que
todos pudessem ver perfeitamente o que se passava. Foram
conduzidos a cadeiras em uma fila próxima ao palco, sob
olhares curiosos e murmúrios de surpresa. Receberam também
objetos pequenos, feitos com uma madeira macia como cortiça,
menores que um dedal. Radatan sinalizou que deviam pô-los
nos ouvidos.
“Agora podem
entender e falar o idioma roushom!”, disse o secretário.
“Devolvam isto na saída!”.
Sentaram e observaram
um imaskari sair dos bastidores e ir ao centro do palco.
Sua voz era magicamente amplificada:
“Senhores. Estamos
aqui para ouvir a votação preliminar dos três governantes
de Imaskar das Profundezas, sobre o destino do povo e
da cidade, após o enfraquecimento do Selo. Registro a
presença dos superficiais da Comitiva da Fé, os primeiros
visitantes da Superfície em centenas de anos”.
Uma
mistura de vozes se seguiu, enquanto a imagem dos membros
da Comitiva era reproduzida na ilusão acima das cadeiras.
Em seguida, continua o mestre de cerimônias:
“Chamo
para fornecer o seu parecer o Alto Lorde Planejador Illis
Khendarhine”.
Surgiu
no palco o mesmo imaskari idoso, que recebeu a Comitiva,
poucos minutos atrás. A platéia se levantou, em demonstração
de respeito, sentando-se em seguida, quando a sua fala
começou.
“Senhores.
Após refletir bastante, considero que a cidade de Imaskar
das Profundezas deve continuar com o estilo de vida dos
últimos séculos. Não precisamos dos habitantes da superfície,
ou de outros lugares. Vivemos em uma sociedade onde não
há falta de alimento ou guerras. Nossa criminalidade é
rara e controlada. Não precisamos de nada do exterior.
Os superficiais, com o perdão dos aqui presentes, são
geralmente violentos e gananciosos, como um dia já fomos.
Não devemos regredir. Penso que como estamos, estamos
melhor. Meu voto é para que não haja abertura e que todos
os futuros contatos com o mundo exterior sejam proibidos
para preservar nossas tradições e segurança”.
Metade da platéia
aplaude, mostrando uma clara divisão. O Alto Lorde deixa
o palco e retorna o mestre de cerimônias.
“Chamo para
fornecer o seu parecer o Lorde Mantenedor Ebrul Naramixa”.
Veio um imaskari meia idade e cabelos grisalhos, também
trajando vermelho, que era a cor exclusiva dos Lordes
Governantes. Ele tomou sua posição ao centro do palco
e começou sua fala.
“Caros presentes.
Meu voto é pelo fim do isolamento de nossa cidade. Acredito
que a abertura para o exterior é o melhor caminho para
nosso povo. Ela trará intercâmbios benéficos para nossa
cultura, nossa magia, nossa compreensão do mundo. Aprendemos
com os erros do passado e creio que temos condições de
retornar, no futuro, ao nosso lugar entre as nações civilizadas
de Faerûn. Hoje, graças ao desejo do destino, temos a
presença de superficiais. Como não acredito que tudo que
haja na Superfície seja motivo de temor, convidado os
visitantes a virem a esta tribuna e explicarem um pouco
o que prezam no mundo da Superfície.”, finalizou
o Lorde, estendendo a mão em convite, na direção dos assentos
da Comitiva.
Os
heróis se olharam. Kariel levantou-se e Arthos em seguida.
Deixaram sua fileira de cadeiras e subiram as escadas
que levavam ao palco. O elfo arcano de cabelos azuis dirigiu-se
ao público. Sua fala era traduzida simultaneamente pelo
mestre de cerimônias:
“Chamo-me
Kariel Elkendor, sou príncipe de um pequeno reino élfico
chamado Kand. Somos descendentes dos reinos de Myth Drannor
e de Illefarn, este talvez esteja presente em seus livros
de história. Este é o meu amigo, Arthos Fogo Negro, companheiro
de missão. Estamos aqui por um acaso e solicitamos ao
Alto Lorde auxílio para que possamos prosseguir em nossa
viagem. Sobre o pedido do Lorde, de que comentemos sobre
nossas experiências na Superfície, digo-lhes que já viajei
por muitos reinos e que sua cidade possui realizações
que ofuscam muitos deles. Porém, apesar do grande sucesso
de seus feitos, o isolamento pode lhes trazer problemas,
caso sejam alvo de civilizações beligerantes e ambiciosas,
como a dos drows, por exemplo. Talvez, possuir aliados,
interagir com outros, possa desenvolver sua cultura e
mantê-los preparados para defender tudo o que conquistaram.”
Após
a pausa de Kariel, Arthos também se manifestou.
“Senhores.
Posso dizer que venho de dois mundos, o dos elfos e dos
humanos. E o que pude perceber ao viver entre os homens
é que estes dominam a maior parte dos reinos de Faerûn
pela sua habilidade de se adaptar, conviver com várias
raças e aprender com elas. Também deviam ir a Superfície
pelas riquezas e belezas que ela possui. Vocês vêem um
sol, uma lua, um céu artificial... são bonitos, mas não
se comparam aos originais. Não viram o mar, as florestas,
as montanhas... estão se privando de um espetáculo, isolados
aqui!”.
O
Lorde Mantenedor, após Arthos, tomou a palavra.
“A
fala destes Superficiais só reforçam o que tenho dito.
Agradeço aos visitantes pela sua colaboração”.
A
Comitiva retornou às suas cadeiras e o Lorde aos bastidores.
Também foram aplaudidos, porém, mais uma vez, a platéia
estava dividida. O imaskari mestre de cerimônias entrou
novamente:
“Chamo
para fornecer o seu parecer a Dama Executora Furyma Selovan.”.
Uma mulher imaskari,
trajando um vestido vermelho, aparentando quarenta anos,
de boa forma e longos cabelos negros, entrou em cena.
“Senhores
presentes. Não estou certa pelas opções que ora se apresentam.
Precisarei de mais tempo para pesar os argumentos e tomar
uma decisão ponderada. Uso, portanto, do direito que me
assiste as regras da votação e fornecerei amanhã, neste
horário, meu parecer definitivo, após analisar melhor
as alternativas.”
A
platéia murmurou, lamentando manter o suspense daquela
importante decisão por mais um dia. A mulher de vermelho
se retirou e o mestre de cerimônias veio novamente à frente,
para encerrar a sessão e convocar novo encontro para a
noite seguinte. Aos poucos, os presentes começaram a se
levantar e deixar o grande auditório. Um oficial dos condestáveis
aproximou-se da Comitiva. Pediu que devolvessem os tradutores
e disse-lhes.
“Estou
aqui para levarem os senhores até os seus aposentos!”.
A
Comitiva levantou-se e seguiu o imaskari até a porta de
um cômodo. A porta foi aberta, revelando um quarto muito
amplo e luxuoso, com camas e uma terma circular. Da porta,
despediu-se Valin. O historiador iria dormir em sua própria
casa e , no outro dia, retornaria para reencontrar seus
mais recentes amigos. Os heróis experimentaram as camas
e um jantar os esperava, em uma mesa feita de vidro. Comeram
e beberam e, por fim, deitaram-se.
Aranhas
Os
heróis estavam nas camas há algumas horas, quando se ouviram
batidas na porta. Kariel levantou-se a abriu. Lá estavam
o secretário do Alto Lorde, Radatan Mahederin e dois guardas.
O imaskari de cabelos negros cortados à altura do ombro
pediu permissão para entrar, imediatamente concedida pelo
mago, que despertou seus companheiros que dormiam.
“Peço-vos
perdão por interromperem o vosso sono, mas surgiu uma
oportunidade de proporcionar o reparo de vossa embarcação
mágica”, disse o Secretário. “O Alto Lorde
conseguiu uma autorização para levar-vos ao refúgio de
Artelau Hamamurti, um mago estudioso das naus mágicas
nethereses. Ele é um grande admirador da Superfície e
está recluso por tentar romper o Grande Selo. Creio que
ireis convencê-lo e ele irá ajudar-vos. Se desejardes,
sereis levados imediatamente até ele”.
“Devemos ir.
Não poderemos desperdiçar a oportunidade e nem perder
tempo!”, comentou Mikhail.
“Excelente!”,
respondeu Radatan. “Estes condestáveis vos levarão
até lá!”.
Os
heróis se arrumaram e o Secretário Mahederin despediu-se
deles com um desejo de boa sorte. Seguiram os guardas
pelos corredores do edifício até a saída, percorreram
as ruas vazias da cidade, ultrapassaram o perímetro urbano,
caminharam pelo Cinto Verde e o deixaram, para galgarem
as rochas e o pó comum do Subterrâneo. Longe da luz provida
pela iluminação da cidade e do céu imaskari, os condestáveis
sacaram pequenos bastões de vidro, que se acendiam como
uma tocha. A Comitiva não se sentia a vontade, indo por
aqueles ermos. Já haviam andado por quarenta minutos.
Eis que, em uma parede, os imaskaris pararam. Estavam
em frente a um portão de ferro, com aparência tão antiga
que poderia ter séculos de idade. Um dos guardas retirou
uma chave, de aparência igualmente antiga, e destrancou
o portão. Surgiu então um corredor estreito, coberto de
teias e de pó. Dez minutos depois, uma outra porta, desta
vez de pedra. Uma palavra em roushom foi pronunciada e
a maciça porta ergueu-se, revelando uma nova câmara.
“No
centro desta câmara, existe um sino, usado para chamar
o sábio Artelau Hamamurti. Toquem-no e ele virá. Estaremos
do lado de fora, caso seja preciso”, disse um dos
condestáveis.
“Obrigado. Espero
que não tenhamos problemas com ele!”, disse Mikhail.
“Vocês não terão!”,
completou o imaskari. “Até breve e boa sorte!”.
Os
imaskaris deixaram a Comitiva na câmara e saíram, fechando
novamente a pesada porta de pedra. A Comitiva, que iluminava
seus caminhos com a luz emitida pela lâmina mágica da
espada de Kariel, avançava em direção ao centro do salão,
quando o arcano encontrou algo diferente das pedras de
costume. Agachou-se e apanhou do chão o item.
“Um
osso! Parece compatível com o de um humanóide! Fiquem
em alerta!”, disse.
Os
heróis, pouco depois avistaram um velho e enferrujado
sino, pendurado em uma haste de ferro. Kariel puxou a
corrente que nele havia, fazendo-o badalar e ecoar pelas
paredes de pedra. Após alguns minutos de silêncio, Kariel
tocou novamente. Arthos gritou:
“Hamamurtiiiiiii!”.
Uma
aranha, do tamanho de um cão, surgiu na área iluminada.
“Uai!
Que aranha enorme!”, surpreendeu-se Bingo.
“Pssst!”,
pediu silêncio o mateiro Limiekki. “Ouvi algo. Não
estamos sozinhos aqui!”.
Mal
o homem de Forte Zenthil advertiu, pularam do teto da
caverna para o chão em torno da Comitiva três aranhas
gigantescas, grandes como elefantes, que possuíam, diferentemente
das outras já vistas pelos aventureiros, dois poderosos
tenazes nas duas patas dianteiras.
“Armaram
contra nós!”, exclamou Limiekki as últimas palavras,
antes de começar o combate.
Um
dos monstruosos aracnídeos tentou capturar Bingo com suas
pinças, mas o pequeno deu um pulo, no momento certo, desviando-se
do ataque. O monstro virou-se para Magnus e atacou com
uma de suas patas peludas e cheias de espinhos. O paladino
rebateu a investida com a sua espada. Com outra aranha,
estavam Mikhail e Limiekki. Estes conseguiram atacar antes
do inimigo: Mikhail golpeou pesadamente com seu martelo
de guerra uma das patas da aranha, que estalou, indicando
o dano em seu exoesqueleto. Limiekki, com sua faca e machadinha,
abriu uma ferida larga no abdômen, de onde espirrou um
líquido esverdeado e malcheiroso. Contra a terceira, lutavam
Kariel e Arthos. O mago estava de espada nas mãos e tentou
cortar uma das pernas do aracnídeo medonho, mas seu golpe
passou no vazio. Arthos tentou uma de suas ousadias: subiu
em uma pedra alta e deu um salto, ficando montado no corpo
do inimigo. De cima, cravava-lhe o sabre.
Magnus
havia ferido a aranha com um poderoso golpe, mas isto
não impediu que esta atacasse Bingo. Com um jato rápido
de teia, saindo do abdômen, cobriu todo o corpo do halfling
disfarçado de drow, o imobilizando completamente.
O
combate seguiu feroz, porém a Comitiva mostrava-se mais
poderosa do que seus oponentes bestiais e a primeira das
aranhas caiu: com os golpes de Arthos e uma magia conjurada
por Kariel, que fez partir um jato de chamas de suas mãos,
o monstro tombou. Mikhail havia se ferido superficialmente,
mas ele e Limiekki ainda lutavam. O pequeno Bingo havia
conseguido cortar o casulo de teias e se libertar. Auxiliava
Magnus, quando este, com sua poderosa Hadryllis, conseguiu
perfurar a cabeça do aracnídeo, matando-o. Havia apenas
uma, que foi eliminada com a força conjunta de todos os
aventureiros. Viram os corpos dos monstros estranhamente
borbulharem e se dissolverem ao solo, deixando como resquício
uma gosma verde gelatinosa e alguns pedaços. Sentaram
e respiraram fundo.
“Que
aranhas são essas? Os corpos... estão desaparecendo!”,
exclamou Limiekki.
“Talvez tenham
sido frutos de experiências mágicas ou trazidas de outro
plano!”, conjecturou Kariel.
“Fomos enganados...”,
disse Limiekki. “Esse tal sábio não deve nem sequer
existir!”.
“Também acho!
Mas porquê nos queriam mortos?”, concordou Mikhail.
“Não sei, mas
vou recolher este sino e vestígios das aranhas. Se conseguirmos
sair daqui pode servir como prova de que tentaram nos
matar!”, falou Magnus.
“Estarei na
entrada, procurando um meio de passar por aquela porta.
Bingo, você poderia me ajudar?”, pediu Kariel.
“Claro!”,
concordou o pequeno, virando-se para pegar seu estojo
de ferramentas na mochila.
“Vou investigar
o restante da caverna. Pode existir uma saída alternativa!”,
colocou Arthos.
“Eu irei com
você!”, ofereceu-se Limiekki.
“Ficarei com
Kariel e Bingo. Tenham cuidado e sejam discretos!”,
pediu Mikhail, o elfo dourado clérigo da deusa Mystra.
Então
a Comitiva se dividiu. Arthos e Limiekki acenderam uma
tocha e andaram, o mais devagar e silenciosamente possível,
caverna adentro. Pouco à frente, encontraram um esqueleto
humanóide, em vestes esfarrapadas. Limiekki parou para
verificar:
“Este
esqueleto está aqui há muito tempo. Meu palpite é que
é aqui que os imaskaris jogam seus prisioneiros”.
“Você deve ter
razão, mas vamos continuar. Essa caverna não é confortável
e não quero ficar como nosso amigo aqui!”, disse
Arthos.
O
salão, à medida que avançavam, se afunilava em um corredor
estreito e repleto de pedras de enormes dimensões, resultado,
talvez, de antigos desabamentos do teto. Os dois escalaram-nas
até que pudessem observar o que existia adiante. Era um
novo salão, iluminados pelos cogumelos fluorescentes,
comuns em algumas partes do Subterrâneo. A fraca luz esverdeada
revelava mais que pedra e poeira. Havia dezenas, talvez
mais de uma centena de aranhas gigantescas, em um emaranhado
de teias. O sangue dos dois aventureiros gelou, pois sabiam
que não poderiam enfrentar com sucesso tantos oponentes.
Assim, retornaram, para reencontrar os amigos e dar-lhes
a tenebrosa notícia.
Do lado oposto, Kariel
e Bingo observavam a porta de pedra. O pequeno já havia
olhado por vários ângulos e cutucado as rachaduras da
parede em volta com suas ferramentas.
“Puxa,
Kariel. A porta não tem fechadura e não achei o mecanismo
que a faz abrir!”.
“É minha vez,
então!”.
O
arcano proferiu palavras mágicas e seu corpo ficou insubstancial
como fumaça. O mago então flutuou e tentou se infiltrar
pelas bordas entre a porta e a parede de pedra. Não conseguiu
e voltou a sua forma habitual.
“A
porta encaixa-se na parede de uma maneira perfeita. Acredito
de ter sido projetada para impedir a fuga arcana”,
completou o elfo.
“E através de
um teleporte, Kariel?”, perguntou Mikhail.
“Se eles prendiam
magos aqui, o ambiente deve possuir algum tipo de proteção
que impeça o uso seguro desta magia. Só deveremos usá-la
como último expediente!”.
“Posso tentar
erguer a porta!”, apareceu Magnus, já com o sino
arrancado nas mãos.
O
forte guerreiro retirou a armadura para aliviar-se do
peso e pôs suas mãos nos relevos da porta, forçando-a
para cima. Exigiu o máximo dos poderosos músculos, mas
nada foi eficaz.
“Ela
nem sequer se move. Deve pesar toneladas!”, disse
o paladino, suado.
“Vamos esperar
Arthos e Limiekki e desejar que Tymora lhes tenha dado
melhor sorte!”, disse Kariel.
Não
demorou muito para que o os dois chegassem, mas as notícias
não eram boas.
“E
agora? O que vamos fazer!”, Bingo perguntou aos
outros, quando se ouviu a porta de pedra tremer.
“Escondam-se!
Devem ser os guardas para checar se realmente morremos!
Pode ser a nossa chance!”, disse Limiekki.
A
Comitiva desativou suas fontes de luz e ocultou-se nas
proximidades da porta. O bloco de pedra moveu-se e saiu
de dentro do corredor um encapuzado, segurando um bastão
luminoso. Ele caminhou lentamente, com ouvidos atentos,
até a proximidade do loal onde ficava o sino.
“Comitiva
da Fé? Vocês estão aí?”.
A
voz era familiar e Arthos a reconheceu. Deslocou-se furtivamente
por trás do recém chegado e, de repente, disse:
“Buuuu!”
“Waa!”,
gritou o imaskari, deixando cair o bastão luminoso. Era
Valin. “Que susto! Ainda bem que estão bem. Pensei
que já estivessem mortos!”.
“O que aconteceu?”,
perguntou Limiekki, saindo das sombras com os demais companheiros.
“O Lorde Mantenedor
Ebrul Naramixa desapareceu. O secretário Mahederin pôs
a culpa em vocês. Disse que os viu fugirem do palácio
e que são espiões que vieram roubar nossos segredos sobre
magia!”.
“Isto é um absurdo,
Valin!”, exclamou Mikhail. “Nós fomos atraídos
aqui e presos com algumas aranhas gigantescas!”.
“Meu instinto
dizia isto. Localizei vocês através do colar que dei a
Arthos. Minha irmã, Hoxxa, também desapareceu e as autoridades
devem estar a minha procura também! Temos que provar a
inocência de vocês!”, disse o imaskari, visivelmente
nervoso.
“Porque não
nos apresentamos e relatamos os fatos?”, sugeriu
Kariel. “Se sua justiça funcionar, poderíamos ser
inocentados!”.
“Senhor elfo...
até que teria razão em condições normais, mas foram acusados
por um alto membro do governo, em um período que os ânimos
estão acirrados. Muitos desconfiam de vocês pelo simples
fato de serem estrangeiros da Superfície. Serão presos,
desarmados e quem sabe o que os verdadeiros responsáveis
podem fazer para manter o segredo deles a salvo, enquanto
estiverem detidos?”, disse o alto e franzino historiador.
“Talvez ele
tenha razão. Seríamos os bodes expiatórios deste desaparecimento
e estaríamos indefesos!”, concordou Arthos.
“E há mais...”,
completou Valin. “Existe rumores da atuação de uma
sociedade secreta, a Casa dos Mestres da Retribuição,
também conhecida como os Portadores da Vingança. São justiceiros
poderosos que juraram agir quando um crime se abater sobre
a cidade. Eles podem estar em nosso encalço agora mesmo!”.
“E o que sugere?”,
perguntou Kariel.
“Existe uma
pequena gruta, que apenas eu e minha irmã costumávamos
freqüentar quando crianças. Vamos nos esconder lá e nos
disfarçaremos. Procuraremos pela cidade por algum tipo
de evidência!”.
“Valin está
certo! Vamos fazer isto!”, disse Magnus, que obteve
a concordância da Comitiva.
O
imaskari então tomou de volta seu bastão luminoso e ia
saindo da caverna, quando o pequeno Bingo perguntou.
“Sei
que não devia ser tão curioso, mas como conseguiu entrar?”.
“Essa caverna
era um instrumento de punição para criminosos, no tempo
dos Necromantes. Tenho um antigo livro sobre o tema que
indicava as palavras usadas para abrir a porta de pedra”.
“E a grade?”,
perguntou o pequeno.
“Passei por
elas usando magia, mas espero que vocês consigam abri-la!”.
A
Comitiva retornou pelo corredor e, chegando ao velho gradil
enferrujado, Bingo retirou suas ferramentas. Depois de
algum tempo, a tranca se abriu e os aventureiros deixaram
o lugar para a orla árida que circundava as imediações
de Imaskar das Profundezas. Valin os conduzia por entre
as pedras e os heróis olhavam cuidadosos ao redor, mas,
tudo indicava, não estavam sendo seguidos.
Entraram
então em uma gruta apertada, de onde se podia ver a cidade
e seu entorno florestal.
“Tentarei
conseguir algumas roupas para disfarçar vocês”,
disse Valin. “O problema será a cor da pele...”.
“Não é necessário,
Valin. Tenho uma magia que pode nos disfarçar a todos!”,
colocou Kariel.
“Então sugiro
que a conjure imediatamente”, solicitou o imaskari.
“Temos que localizar os culpados antes do debate
final. Estas acusações podem influenciar na votação da
Dama Executora e nos destinos de nossa nação!”.
“Está certo!
Farei o que me pede”, disse o príncipe mago, antes
de conjurar o encanto e fazer todos semelhantes aos imaskaris.
Porém havia um detalhe.
“Infelizmente,
devem retirar armaduras e armas que não puderem disfarçar.
Não usamos nada disto e se alguém nos vir com estas coisas,
seremos facilmente identificados!”, lembrou Valin.
“Podem deixar seus pertences aqui!”.
A
Comitiva concordou, mesmo não gostando da idéia de enfrentar
uma situação hostil sem suas proteções e algumas de suas
armas maiores, como os arcos. As outras, enroladas em
tecidos, foram escondidas por trás das mochilas. Valin
então lhes deu a idéia de ir até as proximidades da residência
do secretário Radatan Mahederin, a fim de descobrir alguém
suspeito. Deixaram a gruta, rumo ao Cinto Verde, o círculo
de árvores e plantas que contornava a cidade, e de lá
para a zona urbana. Repentinamente, Valin gritou: uma
rede surgiu aos seus pés e o ergueu, preso, em uma armadilha.
A Comitiva olhou ao redor e viu-se cercada, pelo alto,
por seis imaskaris mascarados. Os corpos indicavam serem
dois homens e quatro mulheres, que flutuavam. Uma lhes
disse:
“Estrangeiros!
Penetraram a cidade de Imaskar das Profundezas e cometeram
um crime contra a nação e a Justiça. O seu companheiro
imaskari é inocente, mas vocês devem pagar! Perecerão
nas mãos dos Portadores da Vingança!”.
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