A
Última Batalha em Undrek’Thoz
Descrita
por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens
principais da aventura:
Os
Humanos: Arthos Fogo Negro [Torrellan
Millithor]; Magnus de Helm [Marckarius
Millithor]; Sigel O'Blound (Limiekki)
[Dariel Millithor]; Danicus Gaundeford [Glemoran Millithor]. Os
Elfos: Mikhail Velian [Narcélia Millithor]; Kariel
Elkandor [Karelist Millithor]. O Grimlock: Loft
Moft Toft Iskapoft. O
Halfling: Bingo Playamundo [Quertus
Millithor].
A Última Batalha em
Undrek’Thoz
A Invocação
Inesperada
As
palavras arcanas sinistras ecoavam na sala. Eclavdra e
seu parceiro arcano conjuravam o feitiço para trazer
ao mundo alguém de outro plano, alguém que
lhes prometia poder ilimitado. O nome da desaparecida
deusa maligna Lolth passava pela cabeça dos heróis
integrantes da Comitiva da Fé que, desesperadamente,
corriam para evitar o pior. Queriam interromper o ritual,
antes que fosse tarde demais.
Kariel,
o mago elfo em disfarce de drow, era o companheiro da
Comitiva que estava adiante do grupo, mais próximo
dos dois inimigos, do portal e da gema mística
que brilhava e faiscava em um vermelho luminoso. Entre
ele e o objetivo, havia uma espécie de muralha
feita de energia, suspensa pelas artes místicas
do drow inimigo. Porém não sabia o arcano
perverso que o elfo era, por graça de Mystra, a
Deusa da Magia, imune a tal tipo de sortilégio.
Esperava Kariel atravessar a parede e destruir a pedra,
fonte de energia do ritual pernicioso.
Se
muitas vezes, o destino colaborou com a Comitiva, esta
não foi uma delas. As vozes de Eclavdra e do mago
desconhecido calaram-se e o portal, que parecia um disco
de energia ovalado aberto no nada, reluzente como um espelho,
tornou-se colorido como o arco-íris e deles saíram
duas figuras. Todos os presentes pararam por um instante
para observar uma mulher, de belas formas, roupas diminutas,
pele clara, cabelos negros, um rabo fino e comprido como
uma serpente, e grandes asas de um morcego que lhe saiam
das costas, deixar o portal. Uma outra figura, desta vez
masculina, seguiu-se a ela. Era um homem, de constituição
forte e grande estatura, vestido em belos trajes. Possuía
a pele cinzenta, olhos completamente brancos e cabelos
vermelhos como o fogo. Eles calmamente aproximaram-se
de Eclavdra e de seu companheiro.
“Conseguistes!
Tu nos libertaste!”, disse, sorrindo a mulher alada.
“Mas... o que
é isto? Que engodo é este? Onde está
Lolth?”, bradou a drow, surpresa e enfurecida.
“Lolth não
está conosco, tola. Ou nos segue, ou perecerás!”,
disse o homem, aproximando-se da sacerdotisa.
“Não!”,
gritou a elfa das sombras, sacando a espada da sua bainha
e investindo contra o recém chegado.
Chocante
foi então a cena. O homem desviou do golpe com
graça e com a mão direita agarrou o pulso
de Eclavdra. Tamanha foi a força, que a sacerdotisa
derrubou sua arma. Em seguida, foi erguida ao ar e, usando
apenas as mãos, o sinistro personagem arrancou-lhe
os braços, jogando-a, viva e sofrendo, por cima
do altar, derrubando-o e com ele a gema mágica,
que não mais brilhava. Em seguida, atirou seus
membros ao chão.
Diante
da grotesca visão, o mago drow que havia acompanhado
Eclavdra na invocação mal-sucedida, decidiu
que era hora de partir enquanto estava vivo. Com uma magia
oportuna, desapareceu do local. A atenção
dos dois seres voltou-se agora para os outros ocupantes
da sala, os aventureiros da Comitiva da Fé.
“Veja.
Parece que temos companhia, Naoc!”, disse o homem.
“Sim, Zarvur!”,
respondeu a mulher, que havia apanhado do chão
um dos braços ensangüentados de Eclavdra e
o mordia. “Parecem interessantes!”.
“O que são
vocês? O que querem!”, perguntou Arthos.
“São
demônios, Arthos!”, respondeu Magnus ao amigo.
“A lâmina de Hadryllis brilha intensamente!”.
“Um bando com
homens, drows e dois elfos! Dois elfos! Que sorte a minha
hoje!”, falou o sombrio homem cinzento que conseguia,
de alguma forma, ver além dos disfarces mágicos
usados pela Comitiva. Zarvur também percebeu a
gema caída ao chão e agachou-se para apanhá-la.
“Isto nos pertence!
Devolva-nos esta gema!”, bradou Mikhail.
“Hum... Se tu
desejas tanto, então isto deve possuir algum valor!
Terás de vir tirá-la de mim!”, respondeu
o estranho a Mikhail, enquanto tocava a parede de energia,
criada minutos atrás, dissipando-a imediatamente.
“Já íamos
embora, mas vós, criaturinhas, já nos incomodaram
muito para serem deixadas sem uma lição!”,
disse a mulher demônio, olhando para o seu companheiro,
como se já tivessem combinado em suas mentes o
que iam fazer em seguida.
Os
demônios pronunciaram algumas palavras e gesticularam.
Uma nuvem cinzenta tomou conta da câmara, e ouviu-se
dela grasnados horríveis. A fumaça dissipou-se
rapidamente, revelando seis horrendas criaturas. Pareciam
um imenso e bizarro misto de homem e abutre, com mais
de dois metros de altura. Sua raça demoníaca
era chamada de vrock.
Os
vrocks espalharam-se e encaravam ferozmente os aventureiros,
enquanto se aproximavam. Limiekki foi, dentre os companheiros
da Comitiva, quem primeiro reagiu. Um golpe de seu pequeno
machado tentou encontrar um dos braços desproporcionais
da criatura, mas o vrock grasnou e deu um pequeno pulo
para trás. Ainda assim, cortou-lhe levemente a
asa. Mikhail também desferiu um golpe com seu martelo
mágico, mas não logrou êxito. O homem-abutre
demoníaco esquivou-se do ataque do clérigo.
Danicus, o veterano Harpista, acadêmico que realizava
seus sonhos de aventuras com a Comitiva da Fé,
foi mais efetivo usando seus conhecimentos como mago.
Após pronunciar algumas palavras místicas
e realizar gestos rápidos, partiu de suas mãos
um raio multicolorido, que ricocheteou nos vrocks, causando-lhes
vários efeitos. Três deles sentiram o corpo
cobrir-se de ácido e outros dois de chamas, que
se extinguiram rapidamente, deixando-os feridos, mas ainda
vivos. Um outro desapareceu completamente sob o efeito
do raio, que o devolveu ao plano abissal de onde era originário.
Magnus
usou sua Hadryllis no demônio que dele havia se
aproximado. O paladino sentia a espada mágica investir
quase como se comandasse a sua mão, tamanha era
a vontade que a mesma golpeava o vrock. Hadryllis havia
sido forjada para combater seres demoníacos e quando
os encontrava brilhava em um vermelho incandescente. Chessintra
recuou do combate para realizar uma oração
a Eilistraee, prece esta que concedeu aos seus aliados
maior precisão nos ataques. Leosanar usava sua
lâmina para defender-se das garras afiadas do oponente.
O mesmo fazia Kariel que, como havia utilizado muito de
seu repertório mágico, possuía poucas
opções além de sua espada élfica.
Já Arthos... Arthos, imprudente, correu em direção
de Zarvur e Naoc que, até o momento, somente observavam
o combate, como se assistissem a um jogo.
Alguns
poucos e demorados minutos se passaram. A Comitiva da
Fé, já enfraquecida pelos combates anteriores
contra os drows, tentava desesperadamente conter os ataques
dos demônios. O combate não poderia durar
muito mais, pois sabiam eles que a morte se aproximava
e poderia levar alguns de seus companheiros consigo. No
momento, apenas um vrock havia sucumbido, diante de um
poderoso ataque da espada Hadryllis e havia outro imobilizado
por tentáculos negros, brotados do solo por conseqüência
de uma magia conjurada pelo professor Danicus. Limiekki,
encolhido em um canto da sala, gritava de terror: um medo
terrível e incontrolável foi posto em sua
mente por uma arte mágica do demônio Zarfur.
Os demais lutavam contra os vrocks, enquanto Arthos batia-se
contra Naoc e Zarfur, em um combate sem muita esperança.
Kariel e Danicus buscaram se afastar da luta franca, tempo
suficiente para utilizarem uma magia poderosa. O elfo
arcano sacou de um de seus bolsos a varinha negra de madeira
imbuída de magia e a girou no ar, apontando para
a área onde dois dos vrocks se concentravam. Uma
bola de chamas então surgiu do instrumento mágico,
explodindo e atingindo os demônios. Danicus utilizou
o mesmo sortilégio, contra os mesmos oponentes,
porém o fez sem nenhum instrumento, valendo-se
da energia mística que ainda lhe restava para conjurar
tal magia. Os abutres humanóides sentiram o calor
que queimou-lhes a pele e preencheu a sala com o nauseabundo
odor das penas chamuscadas, e grasnaram horrivelmente.
Os
sortilégios dos magos da Comitiva forneceram tempo
suficiente para Arthos e Leosanar deixarem o combate e
aproximarem-se de Mikhail. Os dois primeiros estavam bastante
feridos e sabiam que o clérigo de Mystra poderia
ajudá-los. E assim fez o elfo dourado de Evereska.
Solicitou a sua deusa que curasse parte dos ferimentos
dos companheiros, que voltaram para a peleja. Magnus,
que já havia sido o carrasco de um dos demônios,
derrubou outro. Parecia que naquele dia, Hadryllis estava
feroz, ainda que o paladino que a empunhava estivesse
no limite das suas forças. Leosanar que, mesmo
com o auxilio divino de Mikhail, ainda estava ferido,
atingiu com seu sabre o vrock contra o qual lutava, em
um golpe também fatal. Parecia que a Comitiva da
Fé começava a mudar o seu destino, porém
o sangue dos aventureiros derramado no chão colocava
dúvidas sobre o desfecho da batalha.
Kariel
e Danicus novamente conjuraram magias. Do primeiro partiram
luzes coloridas de energia que explodiram em um dos demônios
e do segundo, outra esfera flamejante. Tais feitiços
decretaram o fim de mais um dos abutres do Abismo. Apenas
restava um, que em desespero, atacou Magnus, procurando
vingança pela morte dos seus aliados. Com uma garra
afiada como uma adaga, provocou um talho profundo no pescoço
do paladino, que desabou no chão, ainda respirando.
O vrock preparava uma investida mortal, quando Limiekki,
que estava próximo, colocou-se na frente do amigo
e desferiu um golpe de machado que abriu a cabeça
do monstro. Todos os demônios abutres estavam mortos.
Mikhail aproximou-se imediatamente do paladino caído,
e administrou sobre ele uma prece curativa, fazendo o
jovem recuperar-se e novamente pôr-se de pé.
Danicus também auxiliou Magnus: lançou sobre
ele uma magia que fazia, momentaneamente, sua pele mais
rígida e resistente contra cortes.
Naoc
e Zarzur ainda observavam e, ironicamente, sorriam. Estavam
surpresos por aqueles seres terem vencido os vrocks, mas
não os consideravam grande desafio. Zarfur, ainda
com a gema mística em uma das mãos, falou.
“Parabéns!
Vamos ver como vós lutais conosco!”.
Kariel
foi quem primeiro partiu e atacou Zarfur. Sua espada élfica
atingiu o demônio no flanco direito, mas a retribuição
fora bem pior. As mãos da criatura do Abismo, garras
afiadas, rasgaram a carne do elfo, fazendo-o cambalear.
O demônio, de maneira selvagem, ainda mordeu o ombro
do mago da Comitiva, exibindo seus dentes afiados. Kariel,
então, foi jogado ao longe, desacordado.
Arthos
correu em seguida, com sua Lâmina das Rosas nas
mãos, mas ao fitar a bela Naoc, deteu seu avanço
e, de olhos vidrados, começou a caminhar lentamente
na direção da mulher demoníaca, cuja
raça, nos planos infernais, era chamada súcubo.
Tentando evitar um destino trágico para Arthos,
Danicus usou um dos poucos sortilégios que ainda
lhe restavam, na intenção de anular o transe
que se abatia sobre o espadachim. Conjurou uma magia capaz
de dissipar os efeitos mágicos na área onde
estava Arthos. No entanto, não conseguiu o efeito
desejado. Arthos continuava em transe, mas havia ilusões
ativas e elas desapareceram. Arthos, que estava disfarçado
como um drow, voltou a ser um homem e, surpreendentemente,
a forma quase humana de Zarfur também desapareceu,
mostrando em seu lugar uma aparência bem mais aterradora.
Um demônio com mais de quatro metros de altura,
corpo musculoso e pele avermelhada, uma cabeça
canina dotada de chifres e quatro braços, dois
semelhantes ao de um homem e outros dois terminados em
poderosas tenazes se apresentou diante da Comitiva. Tal
medonha criatura era conhecida nos recantos abissais como
glabrezu.
“Gostaria
de mostrar minha real aparência em um momento mais
apoteótico, mas já que resolvestes revelá-la,
fico feliz em saber que conhecereis a verdadeira face
de vosso carrasco!”, anunciou com uma voz grave
e inumana.
Nesse
momento, Arthos aproximou-se da súcubo e a atraente
demônio agarrou-lhe e deu-lhe um ardente beijo.
Aos poucos, Arthos, impotente, sentia a vida se esvair
de seu corpo. Chessintra aproximou-se de Kariel. O elfo
estava morrendo, mas a drow sacerdotisa de Eilistraee
ainda podia realizar preces curativas. Pediu a sua deusa
e ela restaurou alguns ferimentos do mago, trazendo-o
a consciência. Magnus correu com a brilhante Hadryllis
nas mãos na direção do gigantesco
adversário. O jovem guerreiro desferiu dois poderosos
golpes no abdômen do glabrezu, que retribuiu o ataque
com suas garras, cortando o paladino. Uma das tenazes
do demônio agarrou Magnus pela cintura e tentava
esmagá-lo, mas as mãos do guerreiro do deus
Helm ainda estavam livres. Quando Zarfur tentou erguer
o aventureiro, inadvertidamente permitiu que este desferisse
um único ataque de Hadryllis. A espada sagrada
penetrou fundo no corpo da criatura infernal. O que se
viu depois foi uma explosão surda, que transformou
o glabrezu em uma pilha de carne mal cheirosa. Magnus
caiu do alto e soltou-se, assim, da garra sem vida do
monstro. A gema mística agora estava novamente
no chão.
Naoc percebeu o fim de seu aliado e, horrorizada com a
possibilidade de ter o mesmo destino, libertou o pálido
e indefeso Arthos. Com um rápido gesto arcano,
abriu um portal luminoso e por ele passou, deixando seus
inimigos para trás. Limieeki, refeito do medo colocado
sobre si pelo demônio, imediatamente fitou a gema
mística que jazia no chão. Reuniu suas forças
em um golpe poderoso de seu machado, estilhaçando
a pedra e liberando uma energia mágica que o empurrou
metros para trás. A Comitiva, debilitada, podia
agora se refazer.
Adeus a Undrek’Thoz
A
Comitiva permaneceu alguns minutos na sala. Mikhail e
Chessintra aproveitaram o tempo para administrar os últimos
encantamentos de cura que possuíam. Dentre todos,
Arthos era que mais preocupava. O espadachim estava pálido
e fraco. Estava de pé, mas não conseguia
andar ou falar. Seus olhos pareciam fitar um horizonte
distante. O professor Danicus interrompeu o pequeno descanso
com palavras rápidas e urgentes:
“Encontrei
uma porta aqui!”, disse o mateiro Limiekki. “Ela
leva a uma escada!”.
“Temos que sair
daqui agora mesmo. O mago que estava com Eclavdra fugiu.
Se ele retornar, ou pior, se vier com reforços,
penso que não sairemos daqui com vida!”
“Mas enquanto a Arthos,
professor!?”, retrucou Kariel, “Ele mal consegue
caminhar!”
“Então
terá que ser carregado! Não podemos esperar
que ele se recupere!”
“O senhor está
certo, professor!”, colocou Magnus, o paladino de
Helm. “Eu o levarei!”.
A Comitiva então rumou passagem acima. As escadas,
iluminadas pela luz azulada emitida da espada mágica
de Kariel, conduziam a um alçapão trancado
por um cadeado. O mateiro Limiekki golpeou a tranca com
seu machado e empurrou a tampa de madeira. Estavam em
uma sala pequena, vazia de móveis. Dela partia
outra porta.
“É melhor ficarem aqui por enquanto!”,
sugeriu Limiekki. “Será mais fácil
investigar a saída daqui se continuar sozinho!”.
“Irei com você!”,
ofereceu-se Kariel. “Estarei invisível!”.
Limiekki
aceitou a companhia e Kariel tocou o elmo que o fazia
desaparecer. A nova porta estava destrancada e eles avançaram
para um outro cômodo. Era uma sala, pouco maior
do que o quarto anterior. Nela havia duas portas. Kariel
e Limiekki encostaram os ouvidos nas folhas de madeira,
para tentar ouvir algo. O mateiro foi quem conseguiu alguma
coisa. Escutou uma conversa, aparentemente de duas pessoas.
Informou suas suspeitas através de gestos ao arcano
da Comitiva. Kariel então lançou sobre Limiekki
um sortilégio que permitia que pudesse se comunicar
à distância com o amigo através de
sussurros, e disse-lhe.
“Vou
investigar! Se houver problemas, falarei a você!”.
“Está
bem! Aguardo aqui!”, respondeu Limiekki.
Kariel
então abriu a porta discretamente e colocou-se
no novo cômodo, um corredor longo que acompanhava
o traçado ovalado da arena. Havia dois soldados
a poucos metros de onde estavam. Conversavam algo que
Kariel não pôde distinguir. O elfo caminhou
um pouco mais e aproximou-se dos drows o suficiente para
ouvi-los. Um deles, porém, mudou a conversa, olhando
para a porta de onde o arcano viera, que estava entreaberta.
“Aquela
porta não deveria estar fechada?”, disse
o soldado ao companheiro.
“Alguém
deve ter esquecido de trancar! Vou averiguar e volto!”.
Enquanto
o drow caminhava para a porta, o mago sussurrou para o
amigo:
“Limiekki...
um drow se encaminha para a sua direção!
Fique preparado!”.
A
mensagem ecoou na mente do mateiro, que se ocultou logo
atrás da porta. O sentinela adentrou o aposento,
deu alguns passos e, como olhava para frente, não
viu quando Limiekki atacou-lhe pelas costas, segurando
sua boca e ameaçando, com a lâmina do seu
machado. Mas o soldado, com uma cotovelada rápida,
conseguiu se desvencilhar. Sacou a espada e investiu contra
o mateiro de Forte Zenthil. Limiekki trocou alguns golpes
com o inimigo, mas foi uma lâmina traiçoeira
que encerrou o combate. Leosanar, pelas costas, atravessou
o adversário com o seu sabre, fazendo-o cair morto
ao chão.
Enquanto
isto acontecia, no corredor onde estava Kariel, invisível,
o sentinela restante estranhou a demora do companheiro
e resolveu encaminhar para a porta. Kariel o seguiu e
o golpeou com sua lâmina pelas costas, ataque que
fez com que reaparecesse. O drow gritou de dor, mas ainda
vivia por conta da armadura negra de couro que vestia.
Sacou a espada e passou a duelar com o arcano. Kariel, além do treinamento militar que havia recebido
em sua terra natal, o pequeno reino élfico de Kand,
e em Forte Zenthil, contava naquele momento também
com a sorte. Após desviar-se com sucesso de uma
investida, cravou sua lâmina no peito do adversário,
matando-o. Investigou, em seguida, os bolsos do drow.
Encontrou um molho de chaves grandes e ornamentadas.
Neste
tempo, chegaram até a porta o restante da Comitiva.
Arthos já andava por conta própria, mas
sua mente estava confusa e ele não conseguia enxergar
muito. Com o seu disfarce de drow fora embora também
a habilidade de ver na escuridão. Percorreram o
corredor e encontraram um portão. Kariel testou
as chaves encontradas e um clique desejado fez abrir a
grade negra. Estavam fora da Cúpula do Desafio,
nas ruas, agora pouco movimentadas, de Phandalkusan.
Após
esconderem precariamente a aparência humana de Arthos
com uma capa, a Comitiva rumou rapidamente para fora do
Distrito. Iriam para os ermos selvagens que rodeavam as
muralhas da cidade, para unirem-se em segurança
a Bingo e Iskapoft e então partirem. Foi quando
ouviram alguém que os seguia chamar:
“Psiu!
Esperem por nós!”, era Bingo.
“Pensei que
estavam aguardando fora da cidade!”, disse Magnus,
dirigindo-se para o pequenino.
“E ficar sozinhos
naquele lugar sombrio!? Não, não... mas
não se preocupe. Não nos metemos em confusão
e nem fomos seguidos!”.
“Graças
a Mystra! Mas temos que sair daqui o mais rápido
possível. Não é seguro permanecermos
nesta cidade! Vamos!”, apressou Mikhail.
E assim a Comitiva deixou as ruas e prédios do
Distrito da Magia, passando pelo grande portão
de suas muralhas e parando em um ermo pedregoso, a alguns
metros da estrada que o cortava.
“Parece que agora podemos partir!”, disse
Danicus.
“Partir?...
o que... o que aconteceu?!”, falou Arthos, recobrando
a lucidez. “Minha cabeça está doendo
tanto... parece que há um sino badalando dentro
dela!”.
“Você
foi vítima de um ataque daquela mulher-demônio,
Arthos! Mas ela fugiu e conseguimos alcançar nosso
objetivo. A gema foi destruída”, explicou
Mikhail.
“Agora estamos
prontos. Eu e o professor poderemos nos tirar daqui através
de magia, mas enquanto a vocês, Leosanar e Chessintra?
Podem sair daqui pelos seus próprios meios? Podemos
fazer algo por vocês?”, perguntou Kariel.
“Não
se preocupe! Podemos nos virar!”, disse Chessintra
sorrindo. “Kariel e membros da Comitiva. Acho que
falo por mim e pelos outros membros do Fogo Lunar quando
digo que já fizeram muito. Nos dois últimos
ciclos, realizaram feitos impressionantes e nós
tivemos a honra de auxiliá-los. Devem ser grandes
heróis no lugar de onde vieram”.
“Não
tanto quanto vocês, Chessintra!”, respondeu
Limiekki. “São tão poucos e lutam
por uma causa tão difícil em uma cidade
repleta de inimigos. Vocês são os verdadeiros
heróis!”.
“Espero que
um dia possamos nos reencontrar na Superfície.
No dia em que nossos objetivos forem alcançados
e os drows puderem compartilhar pacificamente do mundo
acima de nós!”, continuou a sacerdotisa de
Eilistraee.
“Nunca foram
a Superfície?”, perguntou Kariel.
“Não!
Mas esperamos viver para conhecê-la!”, respondeu
Leosanar.
“Então
lhes mostrarei a Superfície!”, disse o arcano
da Comitiva, já preparando os gestos místicos.
Kariel
executou o ritual mágico e surgiu em meio aos aventureiros
a ilusão de uma grande janela. Através dela,
paisagens extraídas das memórias do elfo
passeavam. O céu claro, com nuvens tal qual algodão,
o correr ruidoso do rio do Unicórnio, as florestas,
o revoar de pássaros, as ruas do Vale das Sombras
e seus habitantes a andar, a noite estrelada, as belas
casas de Kand. À medida que as imagens eram exibidas,
mais maravilhados ficavam Leosanar e Chessintra. As belezas
da Superfície eram muito mais impressionantes do
que podiam contar os livros de história. Por fim,
a ilusão terminou, deixando como conseqüência
um sorriso nos semblantes dos drows e uma determinação
ainda maior de seguir com sua luta.
“Isto
foi lindo! Obrigado por nos mostrar, Kariel!”, agradeceu
Chessintra. “Tome!”, disse a sacerdotisa retirando
um colar que usava. “Este colar possui o símbolo
do Fogo Lunar. Se encontrarem outra célula de nosso
grupo, apresente-o a eles e diga-lhes que eu lhes dei
isto!”.
“Obrigado! Temos
que ir! Que os deuses lhes favoreçam, amigos!”,
desejou Kariel, enquanto guardava consigo o colar.
“Adeus, companheiros!
Boa sorte!”, despediu-se, derradeiramente, Leosanar.
Danicus
e Kariel então executaram o ritual mágico
de teletransportação. Com as últimas
palavras arcanas, o grupo desapareceu, ressurgindo em
um amplo platô rochoso, a alguns quilômetros
de distância, próximo ao local onde foram
deixados pela nau voadora. Kariel então chamou
por Storm e, minutos depois, os aventureiros viram descer
das sombras no alto da caverna a embarcação
netherese, que os conduziriam para outra paragem, para
outra de suas aventuras fantásticas.
Nota:
Esta foi a última aventura mestrada pelo amigo
Ivan Lira, que passou o bastão de Mestre para mim,
Ricardo Costa, e agora integra novamente o grupo de jogadores.
Obrigado Ivan, pelos anos de aventuras, dedicação
e surpresas. Farei o possível para proporcionar
a você e aos nossos amigos a mesma diversão!
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