A
Farsa de Eclavdra
Descrita
por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens
principais da aventura:
Os
Humanos: Arthos Fogo Negro [Torrellan
Millithor]; Magnus de Helm [Marckarius
Millithor]; Sigel O'Blound (Limiekki)
[Dariel Millithor]; Danicus Gaundeford [Glemoran Millithor]. Os
Elfos: Mikhail Velian [Narcélia Millithor]; Kariel
Elkandor [Karelist Millithor]. O Grimlock: Loft
Moft Toft Iskapoft. O
Halfling: Bingo Playamundo [Quertus
Millithor].
A Farsa de Eclavdra
O Combate
Prossegue
Os
heróis da Comitiva da Fé estavam exaustos
e feridos. Enfrentavam, naquele momento, soldados de elite
de duas Casas drows da cidade subterrânea de Undrek´Thoz:
Trun´Zoyl`Zl e Nanitarin. A situação
se desenrolava dramática: Mikhail estava bastante
ferido e afastou-se do confronto, temendo desabar com
o próximo golpe que o atingisse, e Magnus e Iskapoft
mal tinham forças para erguer suas armas. Os demais
estavam em melhores condições, porém
isto não significava que não estivessem
no limite de suas forças. No cenário de
batalha, cada um, naquele momento, confrontava um oponente
a exceção de Kariel e Magnus, que confrontavam
dois ao mesmo tempo.
O clérigo de
Mystra orou à sua deusa e ela concedeu-lhe de novo
a vitalidade: suas feridas se fecharam e ele sentiu as
forças retornarem para o seu corpo. Tais milagres
podiam ser concedidos pela Deusa poucas vezes ao dia.
Do local onde se retirou para curar-se, Mikhail pôde
ver a situação preocupante de Magnus. O
paladino, extremamente ferido, não suportou mais
os golpes e foi ao chão. Então o elfo dourado
em disfarce de sacerdotisa drow, com seu vigor renovado,
correu para socorrer o amigo antes que fosse tarde demais.
Chegou próximo ao corpo do colega. Felizmente,
os dois inimigos que o confrontavam o haviam abandonado,
para batalhar contra Arthos e Iskapoft. Mikhail ajoelhou-se
junto ao corpo ensangüentado do rapaz e viu que a
sua alma ainda não o havia abandonado. Com a prece
semelhante à feita minutos antes, Mikhail fez o
paladino novamente se recobrar. O jovem agradeceu, ergueu-se,
tomou novamente pelo cabo sua espada Hadrillys, e correu
até Arthos para auxiliá-lo.
Em meio ao combate
feroz, Kariel e Arthos conseguiram eliminar um de seus
oponentes, porém, mal o paladino de Helm levantou,
as fileiras da Comitiva se reduziram novamente. Iskapoft,
o grimlock, depois de partir a cabeça de um dos
drows, sentiu um profundo corte no abdômen, e foi
ao chão. Seu adversário, ao ver o êxito,
correu na direção de Limiekki para confrontá-lo.
Como se não bastasse, um novo drow inimigo aproximou-se
do cenário de batalha e o observava. Aqueles que
estavam próximos podiam reconhecê-lo. Era
o próprio Rizzen Nanitarin, Mestre das Armas da
Casa Nanitarin. Parecia satisfeito com o andamento da
contenda. Kariel, mago, mas que sabia usar a espada, lutava
contra um soldado, quando avistou Rizzen Nanitarin. Gritou
então o elfo.
“Rizzen! Não
se esforçou tanto para nos colocar em uma guerra?
Aqui está a sua maldita guerra!”.
Ao dizer isto, uma
rama elétrica partiu de suas mãos. Desta
vez, não recorreu a gestos ou palavras mágicas
preliminares. O fato de ser um dos Escolhidos da Deusa
da Magia permitia que dispensasse os rituais em algumas
ocasiões. O raio elétrico atingiu primeiro
o drow com o qual estava batalhando e este não
resistiu, tombando fumegante. Já Rizzen, recebeu
a carga e sentiu o aço da armadura esquentar, seus
músculos contraírem violentamente e a pele
queimar. Mas suportou o castigo. Passado o efeito, sacou
sua espada e correu ao encontro de Kariel. No meio do
cenário da batalha, Mikhail recitou nova prece.
Orou a Mystra e pediu que ela fechasse os ferimentos de
seus amigos. A deusa atendeu e parte dos cortes sofridos
pelos heróis se fechou e um pouco mais de vigor
preencheu seus músculos. Iskapoft, graças
ao efeito do encanto, recobrou a consciência e retomou
o machado de lâmina de pedra nas mãos, porém
ainda estava ferido.
Naquele momento, o
vento da batalha repentinamente pareceu soprar a favor
da Comitiva. Limiekki eliminou o oponente contra o qual
lutava e Iskapoft bateu-se contra aquele que havia sido
seu carrasco e que se aproximava para confrontar o mateiro.
Novamente o grimlock parecia insano, dominado pela fúria
da batalha: partiu a cabeça do inimigo e continuava
golpeando o drow, mesmo morto, transformando em uma massa
de carne ensangüentada. Arthos também derrubou
seu adversário, com um golpe preciso do seu sabre
encantado no ventre do soldado Nanitarin. O drow que lutava
Leosanar, ao ver a derrota de seus companheiros e a perda
da vantagem, ajoelhou-se e largou a arma no chão.
O que combatia com Chessintra foi menos honrado. Virou-se
para trás e pôs-se a correr desabaladamente.
O único que restou era Rizzen, que enfrentava Kariel,
alheio a derrota dos seus companheiros.
O mago da Comitiva
tentava conter os golpes do guerreiro. Apesar de mais
habilidoso com a lâmina do que muitos dos estudiosos
das artes místicas, o elfo em pele de drow não
era páreo para um Mestre das Armas e rapidamente
sentia o peso dos golpes e a lâmina a cortar suas
vestes e, vez em quando, sua carne. Magnus, amigo de Kariel
e guerreiro mais experimentado e habilidoso, aproximou-se
do combate. Pensava o jovem paladino que faltava justiça
na contenda de um guerreiro contra um mago, ambos usando
uma lâmina.
“Lute comigo!”,
bradou Magnus.
O pedido do jovem
quebrou a concentração do drow, que voltou
o olhar para o cenário ao redor. Agora seus guerreiros
estavam mortos e havia um cativo, dominado pela lâmina
de Leosanar. Ele deixou a posição de ataque
e abaixou a arma.
“Malditos! São
excelentes guerreiros. Porque se aliaram aos Trun´Zoyl´Zl?
Não vêem que esta Casa nada faz por Undrek´Thoz.
Em breve outros cairão como os Drezz'Lynur. Será
que não percebem isto?”, disse o Mestre das
Armas.
“Não
temos interesse em suas guerras ou lutas. Somos forasteiros
e temos nossos próprios assuntos!”, disse
Kariel.
“O que vieram
fazer aqui?”, perguntou Rizzen.
“Isto diz respeito
apenas a nós! Deponha a sua arma!”, respondeu
Arthos.
“Não!”,
negou o drow, sorrindo e levantando a espada. “Morrerei
lutando. Talvez me deixem terminar a luta contra o mago!
Um duelo!”.
“Não
haverá duelos! Você irá morrer agora!”,
disse partiu Limiekki com suas armas nas mãos.
“Esta luta já demorou tempo demais!”.
O mateiro investiu
violentamente contra o guerreiro drow. Arthos chegou a
se aproximar do amigo, para auxiliá-lo, porém
foi detido pelo paladino, que segurou seu braço.
O equilíbrio do combate significava honra naquele
caso, conceito prezado por Magnus. Limiekki cortou com
seu pequeno machado o ombro de Rizzen, que retribui em
um golpe que atingiu superficialmente a perna do homem
de Forte Zenthil. Junto com a dor do corte, o aventureiro
sentiu algo mais: um frio intenso tomou conta da região,
indicando que a lâmina de aço negro do drow
possuía alguma espécie de encanto. Limiekki
investiu novamente, porém o guerreiro era hábil
e desviou do golpe, jogando o seu corpo para trás.
Ágil, emendou um contra-golpe, que atingiu o flanco
esquerdo do mateiro. Limiekki, ferido, então tombou,
incapacitado.
“Maldito! Renda-se!”,
bradou Kariel.
“Não
terei nada a ganhar me rendendo. Morrerei lutando!”,
respondeu o Mestre das Armas.
“Pois que assim
seja!”, partiu Arthos para o ataque, com o sabre
apontado.
Arthos então
atacou com dois rápidos golpes, que graças
à agilidade do drow de armas cortaram o ar sibilantes,
mas inofensivos. O metal negro e frio empunhado por Rizzen
revidou, mais preciso, e atingiu o espadachim da Comitiva,
perfurando-o na altura do ombro, fazendo brotar um filete
de sangue. Porém, Arthos resistiu e também
era bastante hábil. Defendeu-se dos ataques e conseguiu,
após algumas tentativas, encaixar alguns ataques
de sucesso. Um deles penetrou em uma pequena brecha entre
as faixas de couro negras da armadura do drow e encontrou
o seu coração. Rizzen ajoelhou e então
tombou. Sua alma foi à procura de sua deusa sombria.
“Imbecil!”,
praguejou Arthos, chutando o corpo sem vida do drow, e
levando a mão ao ombro machucado.
“Onde está
o prisioneiro?”, quis saber Kariel.
“Eu já o executei”,
respondeu Leosanar. “Ele era um assassino que veio
nos matar e atrapalharia nossa missão. Não
havia serventia em tê-lo conosco”.
Os heróis silenciaram
por um rápido segundo ante as palavras do drow,
que feriam seus princípios. Afinal era um inimigo
dominado. Porém aceitaram a lógica pura
e cruel daquela atitude, que se adequava perfeitamente
à situação e ao local onde se encontravam.
Decidiram, então, esquecer aqueles pensamentos
e arrastar e esconder os corpos dos inimigos em uma vala,
ocultando assim as evidências do conflito. Os símbolos
e os trajes da Casa Nanitarin foram removidos, pois poderiam
ser úteis em um disfarce, porém a espada
negra de Rizzen, obviamente imbuída de magia, não
foi levada pelos aventureiros. Magnus, o paladino, a considerou
uma arma alinhada com a perversidade de seu antigo dono
e ela foi abandonada nas reentrâncias de uma pedra,
para nunca mais ser encontrada. Enquanto faziam isto,
Mikhail, clérigo de Mystra, usava novamente a varinha
de madeira fina e negra, que possuía o poder de
curar. Girou-a ao ar e tocou em Limiekki e em Arthos,
fazendo suas feridas se fecharem. Após estes trabalhos,
aguardaram por poucos minutos pela chegada de Bingo e
Danicus, que encontraram o grupo sentado nas pedras, refazendo-se
do cansaço da batalha. Os semblantes dos dois recém
chegados não inspiravam triunfo, mas tensão
e nervosismo.
“Já estávamos
ficando preocupados! Tiveram sucesso? Acharam a pedra?”,
perguntou Arthos.
“Um truque.
Uma falsificação!”, disse Danicus,
decepcionado. “Ao sair do quartel general do Jalavar
Lynnur examinei a pedra. Não percebi magia nela”.
Bingo retirou da capa
a grande pedra amarelada. Kariel pediu e a tomou nas mãos.
O Harpista veterano não havia se enganado. O arcano
da Comitiva, que podia sentir as emanações
mágicas a um simples olhar, nada sentia da poderosa
magia das jóias que ativavam os portais. Aquela
não era nada mais do que uma cópia.
“Tem razão.
É um engodo!”, confirmou Kariel, analisando
a pedra sem valor.
“Eclavdra. Ela
deve ter enganado o Jalavar Lynnur e ficado com a pedra!”,
supôs Mikhail.
“De fato. Mas
qual será o propósito dela em manter esta
tal jóia consigo?”, perguntou Chessintra,
a drow de cabelos longos e prateados.
“Ela pode querer
criar o seu próprio portal!”, disse Arthos
em uma hipótese.
“Ou pode utilizá-la
para outra coisa, Arthos”, interferiu Kariel. “A
magia da pedra é poderosa e Eclavdra pode tentar
canalizá-la para algum propósito desconhecido”.
“Isto não
mudará nossa situação. Temos que
tomar esta pedra o mais rápido possível.”,
falou Magnus, resoluto. “Onde viram Eclavdra pela
última vez?”.
“No Distrito
de Phandalkuzan, na Cúpula dos Desafios”,
lembrou Leosanar.
“Cúpula
dos Desafios? O que é isso?”, quis saber
Bingo, curioso como sempre.
“É uma
arena de magos, Bingo”, explicou Arthos. “Eclavdra
estava lá para se encontrar com alguém...
um tal cujo nome esqueci!”.
“Divolgh!”,
completou Chessintra. “Talvez eles estejam planejando
algo juntos!”.
“Então
não devemos perder tempo. Até porque os
Trun'Zoyl'Zl, ou os Nanitarin podem enviar mais soldados!”,
advertiu Magnus.
“Mais soldados?”,
perguntou Danicus. “Houve um combate?”.
“Sim. As duas
Casas já estão em nosso rastro, professor”,
confirmou Limiekki. “É melhor fazer o que
Magnus disse: colocarmos sebo nas canelas e irmos para
esta tal arena!”.
“Peço
que aguardem um momento. Prometi algo ao drow do Jalavar
que capturamos! Retornarei em breve!”, disse Kariel,
afastando-se do grupo, em direção ao cativo.
O sentinela preso
jazia em uma reentrância, tal como uma pequena gruta,
que o ocultava, a alguns metros do local onde os aventureiros
se encontravam. O elfo arcano aproximou do drow e retirou-lhe
a mordaça.
“Vi o combate
ao longe. São realmente poderosos. Creio que chegou
a minha vez de perecer!”, disse o drow.
Kariel desembainhou
a sua espada, e apontou para o prisioneiro, porém
o seu alvo foram as cordas que amarravam seus pulsos e
pernas. O drow rebelde, agora livre, então levantou
e olhou para o mago, um tanto perplexo.
“Vai me libertar?”,
perguntou, sem acreditar.
“Você
falou a verdade sobre a jóia e estou cumprindo
a promessa que fizemos. Tome-a de volta. Eclavdra enganou
a nós e o Jalavar Lynnur. Esta pedra não
tem valor!”, disse o mago, arremessando a gema,
agarrada no ar pelo drow. “E isto é para
o caso de você ter que fugir por ter nos ajudado!”,
jogou em seguida um pequeno saco com algumas moedas.
“Comportamento
incomum o de vocês...”, comentou o guerreiro,
refletindo sobre a atitude honrada de cumprir o prometido,
ainda mais a um inimigo indefeso, algo completamente avesso
à cultura drow. “Sejam quem forem, o Jalavar
Lynnur não terá interesse em perseguí-los.
Não fazemos inimigos gratuitos, ainda mais com
o poder que demonstraram nesta batalha. Porém,
evitem aproximarem-se daqui novamente!”.
Dito isto, o drow
virou as costas e partiu pelos ermos escuros e pedregosos.
Kariel fez o mesmo, para o lado oposto, na direção
de seus companheiros.
O Destino
da Pedra Mística
Os
heróis da Comitiva da Fé estavam reunidos.
Antes de partirem no caminho de retorno ao Distrito da
Magia da cidade de Undrek´Thoz, havia arranjos a
serem feitos. Muitos no grupo estavam feridos e Mikhail
estava a proferir suas preces curativas e a usar a varinha
negra encantada para fechar os cortes, consertar os ossos
e eliminar os hematomas. Após os encantos administrados,
era a vez dos arcanos. Danicus e Kariel usaram novamente
a magia de disfarce sobre todos os companheiros, renovando
o período de duração daquele sortilégio.
Porém, desta vez, adotaram outras aparências
e as roupas e insígnias dos Nanitarin. Mikhail
sentiu-se mais confortável em sua nova forma, agora
na pele de um drow macho. Também adotaram novos
nomes, caso fosse necessário usá-los em
uma conversação. Chessintra e Leosanar os
ajudaram a escolher: Mikhail, Arthos, Kariel, Limiekki,
Danicus, Magnus, Bingo, Iskapoft, Leosanar e Chessintra
seriam, porquanto durasse o disfarce, chamados, respectivamente,
de Chafzmir, Filifar, Hiluan, Coborel, Masoj, Argit, Xilthy,
Kalannar, Lyme e Drisinyl.
Depois da administração
das magias, os aventureiros rumaram de volta, pelos caminhos
escuros das cavernas, na direção de Phandalkuzan.
Podiam ter os heróis se valido de meios arcanos
para chegarem mais rápido e evitar o desconforto
de andarem quase uma hora escalando pedras e contornando
estalagmites e outros obstáculos, porém
os magos resolveram que deveriam poupar seus recursos
para momentos de maior precisão. Assim, chegaram
um tanto cansados aos portões da cidade. Porém,
como não havia tempo a perder, dirigiram-se imediatamente
à Cúpula dos Desafios.
A arena, o enorme anfiteatro coberto com uma redoma negra
, estava vazia. Não havia jogos naquele momento
porém, entre os portões gradeados que o
circundavam, podiam-se ver guarnições de
soldados, aliás, um número grande deles
para se guardar um local vazio, o que despertou a curiosidade
de Arthos.
“Por que estes
guardas? O que eles protegem, se parece não haver
ninguém aqui?”.
“O dinheiro
das apostas, Arthos”, respondeu Leosanar. “Abaixo
das arquibancadas existe um cofre onde está guardado
o dinheiro arrecadado nos jogos”, explicou Leosanar.
“Então
deve ser bem difícil entrar aí!”,
colocou Limiekki.
“Em parte! Nosso
alvo não é o cofre e sim a jóia”,
esclareceu Chessintra. “Se ela não estiver
no cofre, provavelmente não teremos que passar
por muitos guardas, proteções mágicas
ou armadilhas para pegá-la.”.
“Se supomos
que Eclavdra tem a jóia, temos que localizá-la.
Tenho um sortilégio que poderá me dizer
onde ela está!”, disse Danicus.
Em seguida, o mago
Harpista fechou os olhos, concentrou-se, recitou palavras
na estranha língua dos magos e gesticulou. Segundos
após, abriu os olhos novamente, anunciando.
“Sinto a presença
dela a cerca de noventa metros à frente”.
“Isto deve ser
mais ou menos na área das arquibancadas ou das
tribunas, bem próximo à Arena!”, concluiu
Leosanar.
“Usando esta
distância como parâmetro, posso preparar uma
magia para nos transportar até lá. No entanto,
como não pude descansar para renovar minhas energias
místicas, só poderei levar três de
vocês comigo, caso contrário não poderei
conjurar outra vez para nos trazer de volta!”, disse
o mago Kariel.
“Eu poderei
levar mais três comigo. Sobrarão dois de
nós!”, completou Danicus.
“Eu fico!”,
ofereceu-se Bingo. “Não quero atrapalhar
e vou aproveitar para comprar comida e comer também.
Esperarei vocês do lado de fora das muralhas da
cidade”.
“Pode ficar
com Iskapoft?”, perguntou Magnus ao halfling.
“Está
bem. Fico com ele por lá! Deixem comigo. Boa sorte
pra vocês!”.
Bingo e Iskapoft então
deixaram os companheiros. Os aventureiros procuravam um
local ermo entre as ruas estreitas da cidade, que agora
estava menos movimentada, para a conjuração
mágica. Tendo encontrado um beco deserto, Kariel
e Danicus iniciaram o rápido ritual de gestos e
palavras. Em segundos, a Comitiva da Fé desapareceu
completamente, surgindo em uma sala de paredes de tijolos
de pedra grandes e cinzentos, com diversos armários
de madeira negra, uma escada em espiral feita de pedra
que partia para cima e uma porta de madeira e ferro. Tudo
era iluminado por uma fraca chama mágica de cor
púrpura, pendurada em uma das paredes.
“Curioso. Ela
deveria estar aqui, pelos meus cálculos!”,
estranhou Danicus.
“Vou procurar
lá em cima. Vejam o que podem encontrar aqui!”,
disse Leosanar em voz baixa, subindo em seguida, silenciosamente,
a escada em espiral.
Os heróis examinaram
os armários. A maioria deles tinha as portas destrancadas
e somente continham trajes. Kariel não percebeu
magia alguma agindo naquele local. Passaram então
para a porta que, felizmente estava aberta. Um corredor
estreito que terminava em outra porta foi revelado. Arthos
foi à frente, pois a nova porta possuía
uma pequena grade. Queria ver o espadachim o que havia
além. Pôs então seus olhos na abertura.
“Daqui dá
para ver as arquibancadas e a arena! Não há
outras salas”.
“Vamos procurar
aqui mesmo. Pode haver algo oculto!”, disse Mikhail.
Os aventureiros então
esquadrinharam a sala e o corredor. Já conheciam
muito sobre passagens secretas e mecanismos ocultos para
não desistirem por conta de uma sala vazia. Após
alguns minutos, Chessintra gesticulou para os colegas.
Havia encontrado algo no corredor.
“Este tijolo.
A sua superfície está mais destacada da
parede do que a dos demais e há um pouco de terra
logo abaixo dele. Acho que encontramos!”, disse,
empurrando o bloco.
A pedra entrou na
parede, em um arrastar ruidoso. Logo após, um trecho
da parede recuou, revelando uma passagem. Um corredor
íngreme, que descia. Neste momento, Leosanar retornava
de sua exploração, integrando-se ao grupo.
“Não
há nada lá em cima, ao não ser uma
mesa e cadeiras. Mas parece que já acharam o caminho
que devemos seguir!”, disse o rastreador, após
perceber a porta secreta perante a qual aglomeravam-se
seus companheiros.
Desceram em silêncio.
Seus corações estavam acelerados e as mãos
seguravam firmemente os cabos das armas. Kariel interrompeu
aqueles minutos angustiantes, com um sussurro, que levava
palavras preocupantes.
“Atenção.
Sinto uma poderosa energia mágica à frente!”.
O caminho estreito
esculpido em meio às rochas chegava ao seu final,
no momento em que se ouviam palavras arcanas, pronunciadas
como um mantra sinistro. Outra voz, desta vez feminina,
ecoava sobrenatural pelo aposento: “Falta apenas
mais pouco! Libertem-me e poderei salvar todos os drows!
Eu retornarei ao Plano Material!”.
Os heróis,
cautelosamente, entraram na câmara. Era um salão
vazio de rocha irregular, escavado na pedra, conectado
a uma sala menor, ao fundo. Neste último cômodo,
viram, em um altar de mármore negro, a gema tão
procurada. A pedra mística brilhava e faiscava
fortemente em uma emanação avermelhada.
À frente delas, estavam duas figuras: uma era Eclavdra
e outra era a de um drow, com um robe de mago. Conduziam,
concentrados, um ritual místico e estavam voltados
para um portal feito de energia, de onde escapava uma
fumaça de cor azul.
“Por Mystra!
Estão usando a energia da pedra para convocar algum
aliado!”, exclamou Kariel.
“A hora é
agora! Vamos!”, bradou Mikhail, martelo na mão,
seguido pelos companheiros, que se puseram a correr na
direção dos dois arcanos.
O mago que acompanhava
Eclavdra, ao perceber a chegada dos intrusos, levantou a
mão e pronunciou palavras de comando. Uma barreira
de energia foi erguida entre os dois aposentos, o que
deteve momentaneamente os heróis, a exceção
de Kariel, que continuava se deslocando. Ia o mago da
Comitiva de encontro à muralha mágica.
A voz sombria que
vinha do portal gritava mais alto: “Falta pouco!
Libertem-me!”. Os magos drows somente precisavam
de mais tempo. Acreditavam que, se aquele ser invocado por final conseguisse
ultrapassar o portal, os seus inimigos iriam indubitavelmente
perecer. A mente de alguns companheiros da Comitiva questionava
se o ritual possuía alguma relação
com o desaparecimento da deusa Lolth. Oravam aos seus
deuses que o seu retorno não fosse o objetivo de
tal cerimônia, ou tudo estaria perdido para eles
e, talvez, para o povo que habitava a superfície
de Faerûn.
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