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da Cortina de Pedra
Descrita por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens principais da aventura:
Os
Humanos: Magnus de Helm; Sigel O'Blound (Limiekki). Os
Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. O Halfling:
Bingo Playamundo. Participação Especial:
Storm Mão Argêntea.
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da Cortina de Pedra
Um
Novo Encontro
As
horas iam passando velozes para os que dormiam na nau voadora,
que servia de abrigo para o grupo de aventureiros conhecido
pela alcunha de Comitiva da Fé, menos para o elfo Kariel.
O arcano de cabelos azuis não havia conseguido descansar.
Ainda recuperava-se dos ferimentos que, graças à
dádiva de ser um dos Escolhidos pela Deusa Mystra,
curavam-se rapidamente. Porém, o que mais machucava
o mago era seu fracasso no combate com Orgoloth, clérigo
da Casa Oorthagos. Kariel levantou-se da sua cama, na parte
baixa do beliche que dividia com Arthos, que dormia profundamente,
e foi ao convés, na esperança que o vento frio
que corre pelas cavernas do Subterrâneo levasse embora
a dor de sua alma. Lá encontrou, depois de alguns minutos
de solidão, Storm Mão Argêntea, que notou
a expressão cabisbaixa do elfo e aproximou-se, ficando
ao lado dele no parapeito de madeira da borda do convés.
“O
que há, Kariel? Não consegue dormir?”,
perguntou a barda.
“Eu falhei, Storm!”,
disse em um sussurro desanimado. “Mystra me concedeu
os poderes de Escolhido, mas ainda assim falhei!”
“Falhou como?”,
perguntou a bela de cabelos prateados.
“Com todo meu conhecimento
sobre magia e as dádivas da Deusa, não fui páreo
para Orgoloth. Poderia ter morrido e comigo o sucesso da missão!
Às vezes me pergunto se fui digno da escolha de Mystra.”
“Você fala
em fracasso, Kariel, mas saiba que fracasso é quando
não se tenta lutar pelo que é certo. Se tentou,
se usou todas as suas capacidades e ainda assim foi sobrepujado,
é porque nem todos os problemas podem ser vencidos.
O que eu posso dizer-lhe é o seguinte: nunca esqueça
que, mesmo com seus poderes, mesmo que sua vida não
seja limitada pelo tempo, ainda pode morrer. Não somos
deuses, apesar de compartilhar uma fração do
poder de uma Deusa. Podemos sangrar e nem mesmo o grande Elminster
está livre desta possibilidade.”
“Agradeço
pelo conselho, mas sinto-me responsável pela segurança
de meus amigos. Se sou derrotado posso enfraquecê-los
perante os inimigos.”
“Bobagem... não
pense em derrota antes do combate. Encare o que lhe aconteceu
como uma aprendizagem. Todos os problemas que nos afligem
ou nos matam ou nos tornam mais fortes. Hoje, você é
mais forte do que ontem! Dentre os Escolhidos de Mystra somente
um fracassou. O nome dele era Sammaster, mas isto é
uma história que contarei a você em um outro
momento. Por agora, tente animar-se. E lembre-se sempre que,
apesar de seus poderes, ainda é um mortal!”
“Storm...”,
disse Kariel, agora com uma expressão serena, “...
obrigado por suas palavras de sabedoria. As guardarei em meu
coração.”
“Agora descanse
um pouco. Amanhã terá uma nova missão.”
E
assim o elfo retornou ao seu leito, e mesmo sem necessitar
dormir como os demais, cerrou os olhos e descansou o corpo.
A barda foi pouco depois. Levantaram depois de algumas horas,
tempo necessário para o corpo dos homens descansarem,
e mais uma vez reuniram-se, agora sentados em uma grande mesa
que havia na sala de reuniões, na parte inferior da
embarcação, abaixo do convés. Estavam
lá todos, a exceção de Arnilan, que se
encontrava na cabine de comando do barco voador.
O
assunto principal não havia sido ainda abordado e conversavam
um pouco entre si, sobre várias coisas. Arthos, porém,
falou mais alto algo que o angustiava.
“Acho
que falhamos ao deixar Kariel sozinho naquele lugar. Se Storm
não dispusesse dos meios para resgatá-lo a esta
hora ele estaria morto!”
As conversas paralelas
pararam. Limiekki então se manifestou.
“Arthos... isso
poderia acontecer a qualquer um de nós. Kariel sabia
bem dos riscos!”
“Sim...”,
colocou o elfo mago. “Se fossem ao meu resgate estariam
presos ou mortos também. Agradeço a sua preocupação,
meu bom amigo!”
“Mas não
me sinto bem por não ter ao menos tentado!”
“Arthos...”,
falou Mikhail, elfo de cabelos dourados, “... também
corríamos riscos lá embaixo. Kariel estava só,
mas às vezes, é melhor estar só para
executar determinadas tarefas!”
“Mikhail, de certa
forma, tem razão!’, disse o mago elfo. “Pelos
lugares por onde passei, somente quem possuísse habilidades
arcanas poderia prosseguir. Evitei confrontos com muitas estranhas
criaturas através de sortilégios!”
“O que Kariel disse
resume a situação!", falou Storm. "Devemos
ser leais e não abandonar nossos amigos, mas realmente
existem tarefas que são melhores executadas quando
estamos sozinhos! É preciso saber qual é a fronteira
das duas situações e ter o cuidado de não
desperdiçarmos nossas vidas em vão.” A
barda pausou sua fala, tomou no novo fôlego e prosseguiu
em seguida. “Vamos agora nos ater a nossa próxima
missão: o ataque a Casa Arcelt e ao Castelo Maerimydra!
Quais as perguntas que têm a fazer?”
“Conhecemos pouco
o inimigo, Storm, mas através do deus que seguem podemos,
talvez, ter pistas do seu comportamento. Non disse-nos que
adoram à Vhaeraun. O que este deus prega?”, quis
saber Mikhail, clérigo de Mystra.
O
barbudo professor Danicus pôs um livro e anotações
em um pergaminho sobre a mesa e começou a falar.
“Pelo que li nos
registros de Ki´Willis e nos livros da biblioteca do
posto dos Millithor, Vhaeraun pertence a um panteão
drow com poucos deuses, banidos da morada das divindades élficas
por Corellon Larethian. Dizem que possui uma grande rivalidade
contra a deusa Lolth, por invejar a adoração
que a Rainha Aranha possui perante a maioria da raça
dos drows. Dizem que seus adoradores são evasivos,
trapaceiros, ambiciosos e assassinos furtivos, que gostam
de aproveitar as oportunidades.”
“São como
os adoradores de Cyric!”, disse Limiekki.
“Então podemos
esperar muitas armadilhas!”, supôs Arthos.
“Lembre-se: o nosso
objetivo é a destruição do portal e principalmente
da chave que o aciona! Não devem se envolver demais
nesta guerra. Assim que fizerem isto, retornem para a nau
e partiremos para o próximo destino.”, interveio
Storm. “Kariel, Arthos, Mikhail, Limiekki, Magnus e
Bingo farão parte do grupo. O restante estará
aqui para proteger a nau.”
“Onde vamos encontrar
os D´Vaer para nos juntarmos ao ataque?”, questionou
Kariel.
“Enquanto vocês
estavam em missão, enviei Sirius como mensageiro à
Casa D´Vaer. A matrona pediu-nos que esperássemos
por Non hoje, no local de costume, daqui a seis horas. Acredito
que novamente vão usar-nos como um tipo de grupo especial,
ainda mais agora que sabem que eliminamos Orgoloth. Sugiro
que façam seus preparativos. É possível
que esta seja nossa última batalha aqui! Kariel...”,
chamou Storm, ao mesmo tempo em que buscava algo em uma bolsa
na cintura.
“Sim?”
“Emprestar-lhe-ei
isto!”, disse, entregando um anel prateado ao mago.
“Este anel possui um encanto para tornar a pele de um
de vocês resistente aos ferimentos. Basta que Kariel
aponte e concentre-se! Só há uma carga do encanto,
então usem com sabedoria.”
“Também gostaria
de entregar algo!”, Kariel desafivelou as ornamentadas
braçadeiras encantadas, feitas de couro e pintadas
de branco e prata, que usava e as entregou a Limiekki. “Estas
braçadeiras oferecem alguma proteção
mágica ao usuário. Gostaria que ficasse com
elas por esta missão!”
“Isto não
vai enfraquecê-lo, Kariel?”, perguntou o mateiro.
“Tenho outros meios
para compensar a ausência delas, Limiekki. Faça
bom uso... apenas tente devolvê-las intactas. Foram
um presente do Conselho de Anciões de Evereska!”
“Deixe comigo!”,
falou o ranger, afivelando o belo objeto élfico em
seus braços.
Não
havendo mais questões, Storm encerrou a reunião
desejando boa sorte aos aventureiros. Seis horas depois, Arthos,
Kariel, Mikhail, Magnus e Bingo estavam no ponto de encontro,
sob o encanto que lhes davam a aparência de drows, mais
uma vez a espera de Non. Seriam, respectivamente, Torrellan,
Karelist, Narcélia, Marckarius. Bingo, estreante no
disfarce, adotaria a identidade de Quertus, um drow jovem,
de baixa estatura.
O
drow da Casa D´Vaer saiu da penumbra de uma rua próxima
e dirigiu-se à uma casa arruinada onde estavam os membros
da Comitiva e Non.
“Saudações!
Minha matrona manda-lhes os parabéns pela vitória
e enviou através de mim esta mensagem!”, disse
o recém-chegado drow, esguio e de cabelos brancos compridos,
entregando um papel à Mikhail, que representava a sacerdotisa
Narcélia Milithor. A mensagem, lida em voz alta para
todos, dizia:
“Saudações
à Casa Milithor.
A Casa D´Vaer
rende suas homenagens a vocês, forasteiros guerreiros
de Lolth. Suas habilidades e poderes nos surpreenderam e,
em nome da Deusa, peço-lhes novamente auxílio.
Os Aercelt estão enfrentando a guerra contra os escravos,
o que deixa seu castelo mais vulnerável. Prosseguindo
com nosso plano, acreditamos que agora temos uma oportunidade
de infiltração e de assassinato dos seus principais
líderes, o que desestabilizaria a organização
militar da Casa inimiga. Pedimos que, juntamente com Non,
invadam o castelo Maerimydra e executem a missão. Em
troca, ofertamos-lhes a metade da riqueza dos Aercelt, além
do acesso total ao castelo.
Ilivarra D´Vaer”
“Então?
O que me dizem? Vão comigo até o castelo?”,
perguntou Non.
“Sim. Mas que os
D´Vaer não esqueçam: metade do tesouro
e o acesso para recuperarmos o que é nosso e que está
no castelo Maerimydra!”, Mikhail respondeu a ele.
“Minha matrona tem
consciência dos seus objetivos e eles serão atendidos.
Fico feliz em que tenham aceitado!”, disse o drow, exibindo
um semblante satisfeito.
“Conhece o castelo?”,
quis saber Arthos. “Pode fazer-nos um mapa?”
“Não sei
se seria útil. O castelo possui sete níveis,
mas só conheço até o terceiro. Nestes
três primeiros existem apenas dormitórios, refeitórios
e sala de armas. Nada de grande importância. Existem
duas entradas: uma externa, que leva diretamente ao segundo
andar, mas que costuma ser guardada, e outra pelos fundos,
que leva ao primeiro nível.”
“Não podemos
escalar as paredes externas do castelo?”, questionou
Arthos, que entendia um pouco de entradas furtivas.
“Não. Todas
as janelas são gradeadas e algumas criaturas aladas
protegem o alto do castelo. Os únicos acessos são
as entradas que mencionei. Mas antes de chegarmos nelas, teremos
que superar a muralha alta que cerca o castelo. Vocês
possuem, por acaso, algum meio mágico para fazermos
isto?”, argüiu Non.
“Posso me transportar
através de magia para dentro da área interna,
juntamente com mais três pessoas, mas somos em número
de sete.”, colocou Kariel as suas possibilidades.
“Karelist... você
tem um encanto que possa nos tornar invisíveis? Poderíamos
escalar a parede em segurança desta forma.”,
perguntou Limiekki.
“Sim, mas posso
fazer somente um de vocês invisível. E quanto
aos outros dois?”
“Pode emprestar
seu elmo encantado para um de nós. Seremos dois invisíveis!”,
adicionou Arthos, formatando o esboço de um plano.
“Bom... mas ainda
falta uma pessoa nesta conta.”
“Já sei!”,
disse Bingo. “Eu sou o menor de todos. Posso me segurar
nas costas de Dariel enquanto ele estiver invisível
e jogar a capa dele por cima de mim para me esconder!”
Disse o pequeno referindo-se a Limiekki.
“Então parece
que temos um plano: Karelist usará sua magia para transportar
a mim, Marckarius, Non e ele próprio para o pátio
do castelo. Torrellan, Dariel e Quertus, que são os
mais leves e furtivos, irão escalar o muro e nos encontrarão
lá dentro.”, sintetizou Mikhail.
Todos
concordaram com aquele esquema. Era o que podiam fazer com
os recursos que possuíam. Assim foram pelas ruas escuras,
rumo às cercanias do castelo, atentos á movimentação.
Tinham sorte que os conflitos que os Aercelts enfrentavam
ocorriam a algumas ruas de onde pretendiam chegar. Não
encontraram drows, bugbears, gigantes, nem qualquer outro
tipo de criatura ou obstáculo. Chegaram, então,
até algumas ruínas, de onde se podia observar,
a cerca de trinta metros de distância, o alto castelo,
com duas torres que se comunicavam no alto, cercado por uma
muralha alta e negra, construído sobre um platô
rochoso.
Observaram
por alguns minutos o muro e o distante portão, que
se abria de vez em quando para a passagem de tropas que iam
para a batalha.
"Então
vamos! Karelist... conjure os encantos necessários!",
falou Mikhail, interpretando Narcélia.
"Sim, minha senhora!",
respondeu Kariel, encenando a tradicional obediência
às fêmeas, característica dos drows devotos
da Rainha Aranha.
Kariel
entregou seu elmo encantado para Arthos e logo depois começou
seus rituais de magia, gesticulando e pronunciando palavras
na língua somente conhecida pelos arcanos. Após
uma pausa, o mago anunciou que, se desejassem enviar uma mensagem
para alguém no grupo, bastaria identificar o destinatário
e sussurrar, que as palavras iriam, não importava a
distância, ser ouvidas. Continuou e realizou novo sortilégio.
Desta vez, Limiekki desapareceu das vistas de todos. Em um
último encanto, abriu uma porta mística, que
conectava o espaço onde estavam com o pátio
interior do castelo.
"Boa
sorte! Nos encontramos nas proximidades da entrada nos fundos!”,
combinou Mikhail.
Em
seguida, entraram na porta Non, Mikhail, Magnus e, por fim,
Kariel. Então ela fechou-se e desapareceu.
A Invasão
Bingo
procurava Limiekki e este o tocou com a ponta da capa para
que o pequeno o pudesse localizar.
"Vamos...
suba nas minhas costas!", disse o mateiro.
Bingo
atendeu, com um pouco de dificuldade por não enxergar,
colocando a capa sobre si e desaparecendo. No mesmo momento,
Arthos pôs o elmo de Kariel na cabeça. A princípio
não ficou invisível, mas depois se concentrou
desejando tal efeito e enfim desapareceu. Andaram vagarosamente
os vários metros de distância que haviam das
ruínas até a muralha que protegia o castelo.
Notaram que haviam trincheiras escavadas, mas não havia
soldados naquele momento. O muro de rocha negra era bastante
irregular, como as próprias paredes da caverna e, para
a felicidade dos três, havia muitas cavidades naturais
que facilitavam a escalada. Como não existiam guardas
a vista, o ambiente oferecia pouca visibilidade e o peso atrapalhava
os movimentos, Limiekki resolveu que Bingo poderia sair debaixo
de sua capa e tentar galgar as paredes. O halfling na pele
de drow então subiu o muro, com certa desenvoltura,
juntamente com os seus companheiros invisíveis.
Não
esperavam por isto, mas enquanto estavam quase alcançando
o topo, uma patrulha com quatro drows surgiu e passou bem
abaixo do trecho que escalavam. Como se a sorte tivesse os
abandonado, uma pequena pedra soltou-se da parede no trecho
que Bingo escalava, caindo ao chão e propagando um
pequeno ruído oco, suficiente para sensibilizar a audição
de um dos soldados.
"Ouviu
algo? Um barulho...", comentou o militar.
"Você deve
ter escutado algum dos sons da guerra... não fique
tão impressionado ou muito menos temeroso. Os conflitos
estão distantes do castelo!", respondeu o líder
da patrulha, não dando muita importância para
observação feita. E então continuaram,
para alívio dos três invasores.
Limiekki,
Arthos e Bingo chegaram ao topo, desceram a parede interna
e finalmente pisaram no chão pedregoso. Arthos, então,
sussurrou:
"Karelist...
chegamos no pátio!"
Kariel ouviu as palavras
ecoarem em sua mente, graças ao encanto que havia invocado
minutos atrás.
"Estamos próximos
à escada, agachados em um desnível do terreno,
na parte dos fundos."
Os
três então começaram a contornar o castelo.
Chegaram mesmo a passar em frente da escada principal, que,
segundo Non, levava ao segundo pavimento. Era uma escada que
subia serpenteando a parede. Prosseguiram, sem serem notados,
até verem a pequena escada dos fundos. Existiam dois
drows mascarados que atuavam como sentinelas nas laterais
do portão. Imediatamente, pensaram em livrarem-se deles,
aproveitando-se da condição de invisibilidade.
"Karelist...
Vamos eliminar os sentinelas!", avisou Limiekki, em voz
baixa.
"Vão, mas
tomem cuidado: ao atacarem ficarão visíveis!",
alertou o mago da Comitiva.
Bingo
foi orientado a esconder-se, coisa que o pequeno fazia muito
bem. E então avançaram Limiekki e Arthos, pisando
com cuidado, a fim de evitarem ruídos. Aproximaram-se
dos drows, um de cada lado, e desferiram golpes mortais: as
lâminas cortaram os pescoços dos dois infelizes
habitantes do Subterrâneo, que caíram ao solo
sem nem mesmo gritarem de dor. Ficaram visíveis imediatamente
após os ataques. Os dois arrastaram os corpos até
o declive escuro, próximo ao muro, onde os outros companheiros
estavam escondidos. Fizeram uma rápida revista e encontraram
uma chave entre os pertences de um dos mortos, grande o suficiente
para ser a que abria o portão maciço de madeira
negra que guardavam. Tomaram também a capa e a máscara
púrpura que os inimigos usavam, a fim de compor um
disfarce. Neste momento, Arthos também devolveu o elmo
encantado à Kariel.
“Onde
está Quertus?”, perguntou Magnus, que não
viu Bingo junto com os dois colegas.
“Aqui!”, disse
o pequeno, aparecendo do nada, como se fosse um fantasma.
“Vamos invadir agora!
Quanto mais rápido formos, menores são as chances
de sermos vistos!”, colocou Non.
Os
sete deixaram a posição entrincheirada e correram
para a entrada. Testaram a chave e ela serviu perfeitamente.
A giraram na fechadura e abriram a porta com cuidado. Revelou-se
uma ante-sala, sem móveis ou decorações,
apenas com tochas que emitiam um fogo púrpura e a iluminavam
tenuemente. Dela partia uma porta. Arthos e Bingo aproximaram-se.
O primeiro colocou a orelha encostada na folha de madeira
da porta e o segundo repetiu a mesma ação.
“Vozes!”,
disse Arthos. “Ouvi vozes... parecem que existem alguns
inimigos na próxima sala!”
“Ouvi também
barulho de pratos e talheres!”, informou Bingo.
“Parece que não
teremos mais o elemento surpresa!”, disse Mikhail.
“Como eu estou com
a capa e a máscara, talvez não chame muito a
atenção. Vou tentar fazer um reconhecimento
da área e retornarei!”, falou Limiekki, aproximando-se
da porta.
“Aguardaremos e
entraremos se houver problemas.”, falou Magnus, após
balançar a cabeça positivamente.
O
mateiro puxou o trinco da porta destrancada e entrou. Era
uma sala retangular, de boa dimensão. Dela saíam
várias portas. No centro do cômodo, uma mesa
de pedra em que se serviam da janta seis drows. Limiekki não
os fitou nos olhos daqueles soldados. Apenas dirigiu-se para
uma daquelas portas, a fim de explorar um outro lugar. Tinha
a capa, tinha a máscara, mas as vestes negras dos Millithor
eram de um padrão levemente diferente, que certamente
passaria despercebido por mentes distraídas. Porém,
sentado em uma das cadeiras da mesa negra, um dos drows o
observou com atenção e percebeu a diferença.
“Que
roupas são estas? E quem é você?”,
perguntou em voz alta, atraindo a atenção dos
demais.
“Não devia
se preocupar tanto comigo!”, respondeu Limiekki, sacando
sua espada, escondida atrás da capa púrpura.
“Preocupe-se com eles!”
Da
porta de entrada então surgiram seus companheiros,
de armas nas mãos. Os drows ergueram-se das cadeiras
e sacaram suas rapieiras, iniciando a batalha.
O
primeiro a atacar foi Non, que disparou um virote de besta
na direção de um dos inimigos, que agilmente
esquivou-se, evitando qualquer injúria. Em seguida
agiu Arthos. O homem, outrora elfo e hoje drow, com suas maneiras
audaciosas e pouco prudentes, correu em direção
ao centro da sala e deu um salto, caindo de pé no centro
da mesa, em meio aos pratos e a refeição de
cogumelos, sopa e um assado de uma criatura desconhecida.
Limiekki, por estar mais avançado, foi quem primeiro
engajou-se em um combate franco. Trocou alguns golpes com
um soldado de cabelos curtos que estava bastante próximo.
Aparou, com sua lâmina, dois golpes do adversário
e contra-atacou de maneira fulminante, encravando a espada
no peito do inimigo, que caiu inerte. Da porta, uma flecha
voadora acertou o braço de um inimigo. Bingo a havia
disparado. Magnus entrou na sala em seguida, mas não
atacou, aguardando a aproximação do adversário.
Kariel também entrou, mas não atacou. Conjurou
sobre si um sortilégio, que fez sua pele tornar-se
resistente como pedra. Mikhail permaneceu na ante-sala, distante
dos demais. Queria aproveitar que estava longe de Non para
lançar um de seus encantos sobre si mesmo. Recitou
as palavras de uma rápida prece e recebeu uma benção
de sua Deusa, que lhe conferiu uma proteção
especial.
Rapidamente,
os guardas aproximaram-se dos outros invasores na sala de
jantar. Três deles vieram contra Magnus. Enquanto um
aguardava, dois resolveram investir contra o guerreiro paladino
de Helm. O primeiro desferiu um golpe lateral, visando o flanco
direito, mas Magnus esquivou-se para esquerda, fazendo o golpe
cair no vazio. O segundo tentou estocá-lo, Magnus deu
um passo atrás. Arthos, em cima da mesa, chutou um
prato de sopa, fazendo o líquido morno cair no rosto
de soldado próximo. Irritado, o drow tentou decepar
as pernas do inconseqüente espadachim da Comitiva, golpeando
pouco acima do tampo de pedra, mas este, ágil como
um gato, deu um salto, e a lâmina da rapieira sibilou
por baixo dele, inofensivamente, para o ódio ainda
maior do militar da Casa Aercelt. Em seguida, Arthos pulou
da mesa ao chão e emendou dois rápidos golpes
contra o adversário, que foi ao solo, segurando o ventre
cortado. Faltavam agora quatro.
O
único dos inimigos que não havia se engajado
no combate corpo a corpo foi um que havia ocupado a cadeira
mais distante na mesa, e que tinha sido ferido pela flecha
de Bingo. Mas já se aproximava de Limiekki, para vingar
o companheiro abatido. Talvez conseguisse seu intento, se
fosse mais hábil e experiente que o mateiro, mas o
que sabia no uso da lâmina e nas técnicas de
combate deu-lhe apenas a oportunidade de trocar alguns golpes
sem êxito, por alguns intensos segundos. O triunfo viria
de novo para o experiente aventureiro, sobre a forma de um
golpe no abdômen do drow, que perfurou sua armadura
e carne e o levou para o mundo dos mortos. Restavam três,
e eles estavam junto a Magnus.
O
formidável guerreiro da Comitiva desferiu um poderoso
golpe com sua belíssima espada encantada. A lâmina
cortou profundamente o ventre de um dos oponentes do paladino
e a força do golpe o fez cair para o lado. Ainda tentou
levantar, mas por fim a dor superou a consciência e
o inimigo caiu de uma vez por todas. Magnus ainda tentou um
ataque contra um segundo drow, mas ele conseguiu desviar a
tempo. Kariel, que havia se aproximado de Magnus, não
usou de sua magia como de costume. Preferiu sacar sua espada
élfica e ajudar o amigo. Porém o paladino não
precisava de auxílio, pelo menos não contra
aqueles inimigos, soldados de baixa patente da Casa Aercelt.
O campeão encaixou um outro golpe perfeito e decapitou
o oponente. Restava apenas um e, contra este, Kariel conseguiu
sua apontar lâmina na altura do pescoço.
“Acho
que devia considerar se render!”, disse o mago com seriedade.
O
drow, sozinho e acuado, sob o impacto da fulminante e rápida
vitória dos invasores soltou sua arma e ergueu os braços.
Mas a batalha, surpreendentemente, não havia terminado.
Uma das portas, ao fundo da sala, se abriu e delas saíram
quatro outros soldados.
A
recepção foi feita por Non, que disparou um
virote de besta certeiro, derrubando um dos atacantes. Limiekki
e Arthos eram quem estavam mais próximos dos novos
oponentes. O primeiro agora estava lutando contra dois, espada
na mão direita e o pequeno machado na mão esquerda.
Aparou um golpe, mudando a trajetória da lâmina
inimiga com o machado e depois desferiu dois ataques rápidos.
No primeiro, forçou o drow a erguer a espada para impedir
a investida com o machado e, com o segundo, atingiu o flanco
aberto para perfurar e matar o oponente. A manobra, apesar
de muito rápida, deu margem suficiente para que o outro
soldado contra qual lutava, tirasse sangue de seu braço.
Arthos combatia o seu oponente com a elegância e perícia
do espadachim que era, cuja habilidade havia sido desenvolvida
nas batalhas anteriores, especialmente contra os piratas do
Mar das Estrelas Cadentes. O drow não lhe era páreo
e morreu com a lâmina no coração. O último
inimigo surgido morreu quase simultaneamente, vítima
do machado de Limiekki.
Assim
que a batalha cessou, Limiekki foi averiguar a sala de onde
haviam saído os drows. Era um cômodo pequeno,
com algumas prateleiras e cadeiras. Arrastaram os corpos para
dentro do lugar e fecharam a porta. Arthos abriu uma outra
porta e encontrou a cozinha, sem nada além de armários,
um fogão, outra mesa, muitas panelas e alguns mantimentos
acomodados desordenadamente. Duas portas saíam da cozinha.
O curioso espadachim abriu uma delas e encontrou um despensa.
Seguiu para a próxima e descobriu um grande cômodo
retangular vazio, com algumas portas para outros lugares,
com um estranho buraco circular ao centro, de onde emanava
uma iluminação azulada. Arthos ainda pôs
os olhos para ver o que havia embaixo, mas a luz sensibilizou
muito seus olhos de drow. Ele ainda olhou para cima e viu
que, bem acima do local do poço, no teto, existia uma
espécie porta de metal, com o mesmo formato circular,
mas não era possível alcançá-la.
A distância entre o solo e o teto era de aproximadamente
três metros de altura.
Enquanto
o espadachim explorava a sala à frente e os demais
arrastavam os corpos. Kariel levou o drow rendido para a ante-sala,
distante dos olhares e ouvidos dos companheiros. O mago olhou
fixamente para os olhos vermelhos do drow, ergueu sua mão
esquerda em sua direção e murmurou palavras
místicas. Repentinamente, os olhos do drow ficaram
vidrados e seu rosto assumiu uma expressão vazia e
paralisada.
“Procuro
um arco feito de pedra e uma jóia encantada, do tamanho
de um punho fechado. Sabe onde posso localizá-los neste
castelo?”, perguntou Kariel.
“Não vi nenhum
arco e nenhuma jóia como esta, apesar de possuirmos
várias jóias menores!”, respondeu o drow
encantado.
“Onde fica o aposento
do seu líder, Welveryn Malakar?”
“Nos níveis
superiores, mas não sei dizer-lhe ao certo. Só
possuo permissão para caminhar nos três primeiros
níveis.”
“Como faremos então
para chegar aos níveis superiores?”, continuou
o mago o interrogatório.
“Existem duas escadas
próximas que levam ao próximo piso.”
“E estão
guardadas?”
“Não. Não
há mais guardas neste nível do castelo!”
Kariel
havia feito as perguntas que acreditava serem importantes.
Resolveu usar o encanto de comunicação para
falar com os outros.
“Companheiros.
Estou interrogando o prisioneiro. Existe algo que queiram
perguntar?”
“Estou em uma sala
vazia, com um poço estranho de onde emana uma luz azulada...
pergunte-lhe o que é isto.”, pediu Arthos.
Kariel então transmitiu
a questão para o inimigo fascinado, que respondeu:
“Não é
um poço! É um local de levitação,
que pode nos levar aos níveis superiores. Serve para
transportarmos materiais.”
Após
proferir estas palavras, o feitiço de Kariel perdeu
a força e a expressão vidrada do drow foi substituída
por outra, bastante cansada. Nenhuma pergunta adicional poderia
seria feita. Kariel trouxe novamente o prisioneiro para a
sala de jantar, amarrou suas mãos e o deixou sentado
em uma cadeira. Em seguida foi até o cômodo onde
Arthos estava. Queria ver o estranho poço que o amigo
descrevera.
“Karelist!”,
disse Arthos invocando o codinome do colega, já que
Non estava presente. “Pode me dizer o que é isto?”
“O prisioneiro disse-me
que serve para levitar. Levavam materiais para os andares
superiores.”
“E como funciona?”,
quis saber o espadachim.
“Vamos descobrir!”
Kariel
então se aproximou da borda do poço, concentrou-se
e pôs um pé no vazio. Notou que não estava
caindo e então pôs o outro pé. Desejou
subir e, imediatamente, seu corpo começou a levitar
em direção ao teto.
“Verifique
esta grade. Talvez possamos passar por ela para os outros
andares.”, pediu Arthos.
Kariel
testou a firmeza da grade, puxando-a com força. Tentou
abrir o trinco, mas nada conseguiu.
“Chame
Quertus, Torrellan! Ele é o especialista em burlar
trancas. Talvez ele consiga!”, disse o mago, enquanto
descia.
“E ele vai conseguir
subir aí? Ele não é nenhum mago!”,
respondeu.
“Não se preocupe.
Se aqueles soldados conseguiam subir, Quertus não terá
dificuldades. Basta somente concentração e desejar
levitar!”
Arthos
chamou Bingo e, minutos depois, lá estava ele diante
do poço. Deu o primeiro passo de olhos fechados, com
muito medo de cair, mas ficou flutuando e então se
tranqüilizou. Concentrou-se e começou a subir.
Então, quando chegou próximo à grade
no teto, tentou abrir a fechadura, usando algumas pequenas
ferramentas de metal que retirou de uma bolsa em seu cinto,
mas não parecia ter sucesso. Em seguida, desceu pelo
ar e pisou no chão firme novamente.
“Lamento,
mas está travada!”, disse Bingo.
“Então? Vamos
nos espalhar e procurar em outros lugares, até achar
a escada!”, falou Arthos, já abrindo uma das
três portas que deixavam a sala. Os outros concordaram
e passaram a abrir também as portas. Arthos encontrou
um dormitório, Bingo e Magnus descobriram um depósito
onde havia algumas armas. A terceira e maior das portas, explorada
por Limiekki, levou a um grande salão vazio e com diversos
acessos. Kariel havia retornado para a sala de jantar e levava
o prisioneiro para a pequena dispensa, onde pretendia prendê-lo.
Non estava próximo dele e o questionou:
“Porque
irá prendê-lo? Porque não o mata?”
No
seu modo de agir, não convinha a Kariel matar um inimigo
indefeso e desarmado. Não seria honrado. Mas esta não
era a maneira de um drow, em cuja sociedade a piedade era,
longe de ser considerada uma virtude, uma fraqueza. Então,
o arcano da Comitiva tentou se justificar com outros argumentos.
“Sou
um mago! Para mim, usar a espada é um tanto indigno
e usar um encanto neste fracassado será um desperdício!”,
disse, fingindo arrogância. “Se quiser matá-lo,
que o faça você, guerreiro!”
Non
olhou para Kariel, de maneira séria, e sacou rapidamente
sua espada, decapitando o inimigo e partindo logo em seguida
para a sala do levitador.
Procuraram
um pouco mais, até que Limiekki anunciou ter encontrado
o aposento onde estava a escada. Reuniram-se e decidiram que
Kariel e Arthos iram explorar inicialmente os próximos
aposentos e em seguida os outros os acompanhariam. Assim,
o mago tocou em seu elmo da invisibilidade e desapareceu.
Arthos veio logo atrás, cautelosamente.
Após
subirem os degraus, encontraram uma pequena ante-sala e uma
porta dupla que dava acesso ao restante do nível. Kariel
aproximou-se e viu que o acesso não estava trancado.
Empurrou a folha de madeira e entrou. Viu uma espécie
de corredor largo, com uma porta a esquerda, outra a direita
e uma ao fundo.
“Não
existem inimigos aqui, por enquanto, Torrellan!”, sussurrou,
enviando a mensagem para a mente de seu amigo utilizando,
seu nome drow. “Porém, acho prudente esperar
um pouco mais!”
Mas
Arthos estava ansioso e decidiu entrar, passando pela porta
dupla. Por infeliz azar, dois drows, entraram também
na sala, só que pela porta da direita, quase ao mesmo
tempo que o aventureiro. Um possuía cabelos compridos
e outro exibia um corte militar. Trajavam cotas de malha escuras,
escudos de aço e espadas longas embainhadas na cintura.
O de cabelos curtos, que possuía um uniforme um pouco
mais vistoso, foi logo voltando-se para o estranho.
“Quem
é você?”, perguntou olhando para Arthos,
que ainda trajava uma máscara e a capa púrpura
retirada do sentinela da entrada. “Por acaso, tem patente
o suficiente para estar neste andar?”, completou.
“Vocês não
sabem?”, começou Arthos um improviso.
“Não sabemos
o quê, idiota?”, disse o outro, impaciente.
“Invasores. Prendemos
alguns invasores no nível inferior!”
“Verdade? Então
leve-nos até eles!”, ordenou um dos inimigos.
“Com prazer!”,
disse Arthos, dando um sorriso disfarçado.
“Espere. Epidrax,
chame os seus colegas para irem conosco.”
O
soldado entrou novamente na sala da direita e, quando saiu,
havia mais quatro com ele, portanto as mesmas armas.
Kariel,
que assistia a tudo invisível, usou novamente o encanto
de comunicação para falar com os outros companheiros.
“Atenção
todos! Torrellan está levando seis inimigos para o
andar inferior. Escondam-se e preparem uma emboscada!”,
sussurrou o mago diretamente para a mente de seus aliados.
“Torrellan, Karelist...
estaremos preparados na sala anexa à escada”,
respondeu Mikhail.
Arthos
desceu os degraus, junto com os soldados drows e encaminhou-se
para a porta dupla que levava a um cômodo retangular,
pelo qual havia passado antes de alcançar a escadaria.
Abriu a porta, revelando a sala aparentemente vazia, e caminhou
para o centro do aposento enquanto dizia:
“Os
prisioneiros contaram uma história muito estranha...”
“O que disseram?”,
perguntou o chamado Epidrax.
“Que eram forasteiros
de um lugar distante e que vieram destruir todos da Casa Aercelt!”
“Bobagem!”,
exclamou o que parecia ser um tipo de oficial.
“Não... o
pior é que eles estão certos!”, respondeu
em voz alta o espadachim, sacando o sabre e virando-se para
os inimigos. No mesmo instante, pelas portas que havia na
sala, entraram Limiekki, Magnus, Bingo, Non e Mikhail, que
partiram, armas em punho, contra os adversários pegos
de surpresa.
Bingo
foi o primeiro a atacar: disparou com velocidade duas flechas.
Uma cravou no braço de um inimigo e a outra foi defletida
pelo seu escudo. Magnus avançou com Hadryllis nas mãos.
Deu dois golpes poderosos no guerreiro que estava mais próximo,
o primeiro atingiu o flanco direito, rompendo os elos metálicos
da armadura e rasgando a carne do inimigo. O segundo, e último,
atingiu o pescoço, derrubando o infeliz adversário,
que mal teve tempo de desferir um golpe sequer. Arthos atacou,
com o seu sabre, dois que estavam em sua frente. Matou um
deles, com uma perfuração no peito, mas, quando
tentou fazer o mesmo com o inimigo que estava ao lado, este
ergueu o escudo com habilidade. Limiekki, sempre com o machado
pequeno na mão esquerda e a espada na direita, tentou
atingir um adversário, mas este esquivou-se e os golpes
caíram no vazio. Mikhail se aproximou, mas ainda estava
distante para engajar-se em um combate.
Os
quatro soldados da Casa Aercelt estavam agora em desvantagem,
mas não cogitavam rendição. Estavam furiosos
por terem sido enganados por aqueles invasores e lutariam
até as últimas forças para acabar com
seus inimigos. Um tentou acertar Bingo por duas vezes com
sua espada longa, mas, habilmente, o pequeno em forma de drow
desviou, pulando para trás. Mais sorte teve o soldado,
que conseguiu acertar Magnus, ainda que superficialmente,
na altura do ombro. Non entrou em ação, em meio
às sombras de um dos cantos da sala, e disparou dois
virotes de besta. As pontas metálicas atingiram as
costas do inimigo, que já estava espetado com a flecha
de Bingo. O acerto de Non revelou-se fatal, e o inimigo caiu
morto. Curiosamente, restaram no combate os dois inimigos
que haviam interpelado Arthos no andar superior, o soldado
chamado Epidrax e o capitão de cabelos curtos, cujo
nome nenhum membro da Comitiva invasora iria conhecer. O primeiro
aproximou-se de Mikhail e tentou rasgar-lhe o peito, em um
corte longitudinal. O clérigo, que vestia a aparência
da sacerdotisa Narcélia, desviou a lâmina, forçando-a
lateralmente com o seu martelo. Em seguida, Arthos atacou
o soldado, dando-lhe dois rápidos e fatais golpes.
O oficial decidiu gastar suas últimas forças
enfrentando Magnus, o mais extraordinário guerreiro
daquele grupo. Desferiu golpes que combinavam força,
ódio e desespero, fazendo mesmo que o paladino desse
um passo para trás. Mas, onde a força e o desespero
comandam, a sabedoria e a técnica costumam ficar esquecidas.
Aproveitando-se da guarda excessivamente aberta do adversário,
Magnus aplicou-lhe o golpe final, cortando-lhe a carne, na
altura do peito, encerrando o combate.
Enquanto
a batalha estava se desenrolando, Kariel seguia no andar superior.
O mago, invisível, abriu uma porta e encontrou o próximo
lance de escada, rumo ao terceiro piso.
“Companheiros...
como estão vocês?”, o mago fez ecoar as
palavras nas mentes dos seus colegas. “Encontrei a escada
para o próximo nível!”
“Estamos bem, Karelist...
iremos nos reunir na sala onde encontramos os soldados.”,
respondeu Arthos.
Minutos
depois, estavam na sala, que parecia vazia. Porém,
Kariel já estava lá, a espera deles, ainda que
não o pudessem ver. O mago aproximou-se de Mikhail.
“Sou
eu!”, disse a voz saindo do nada. “A porta que
leva a escada é a que está no centro, ao final
da sala. Cheguei a subir os degraus. Depois do patamar no
alto, existe uma porta, mas decidi aguardar por vocês
antes de abri-la.”
“Certo! Vamos até
lá!”, disse Mikhail.
Kariel
foi à frente, seguido de seus companheiros. Rapidamente,
subiram os degraus e estavam concentrados no patamar da escada,
já no terceiro nível do castelo Maerimydra e
diante de uma porta que levava ao restante do complexo.
“Deixem-me
ir... minha invisibilidade será minha vantagem.”,
disse o mago.
“E a porta? Não
está trancada?”, quis saber Magnus.
“Não. Já
testei. Esta apenas encostada!”, respondeu Kariel.
“Então vá!
Avise-nos em caso de problemas!”, pediu Mikhail.
Então,
delicadamente, Kariel abriu a porta e entrou na nova sala,
de onde partiam mais três outras portas, como no andar
inferior: uma na parede esquerda, outra na direita e outra
no centro, ao fundo da sala. Mas havia um drow no cômodo,
e ele havia observado a porta abrir e fechar, misteriosamente,
sem que ninguém aparentemente houvesse entrado. Fitou
a entrada por alguns segundos e rapidamente deixou o local,
entrando pela porta ao fundo da sala.
“Colegas...
havia um soldado nesta sala. Ele observou a porta abrir e
entrou em um cômodo ao fundo. Talvez tenha se assustado,
ou tenha ido buscar reforços.”
“Vamos até
esta sala. Se o soldado ainda estiver sozinho, podemos surpreendê-lo
antes que ele alerte mais inimigos!”, disse o paladino
do deus Helm.
Então
os infiltrados ignoraram as duas portas laterais e foram para
a entrada ao fundo. Era uma porta de folha dupla e estava
trancada, talvez uma prevenção do drow desconfiado.
Bingo aproximou-se da tranca e testou suas habilidades com
as pequenas ferramentas. A porta destrancou e revelou um salão
quadrangular, com três novas portas, na mesma distribuição
da sala anterior. Não havia inimigos no local.
“E
agora? Aonde ele foi?”, perguntou Bingo.
“Acho melhor nos
dividirmos e buscarmos a escada para chegarmos logo no próximo
nível! Não deve haver nada de importante nestes
primeiros três andares e ainda restam quatro níveis
para procurarmos.”, sugeriu Arthos.
“Concordo... temos
que ser rápidos!”, disse Mikhail.
“Então vamos
explorar as salas o mais rápido que pudermos. Se encontrarem
algo, avisem através do encantamento de Karelist!”,
planejou Magnus.
Dividiram-se
em três grupos: Bingo e Magnus e Mikhail foram na direção
da sala a direita. Non e Limiekki foram abrir a porta da parede
central e Kariel e Arthos foram até a porta que havia
em um canto da sala, à esquerda.
Bingo
havia aberto a porta da direita e os três percorriam
um corredor longo, estreito e curvo. Na porta do centro, Non
não conseguia abrir a tranca, e ainda tentava fazê-lo
antes de tomar uma iniciativa menos refinada. Mas foram Kariel
e Arthos que obtiveram mais sucesso em sua exploração
naqueles primeiros minutos. Descobriram um estreito corredor.
Havia uma porta logo à esquerda de quem entrava e duas
à frente, na lateral da passagem, que se estendia até
desaparecer na penumbra. O espadachim já foi logo se
posicionando diante da frente da tranca. Estava um tanto enferrujado
por falta de prática, mas conseguiu abrir a fechadura.
Era um dormitório. Não era um aposento luxuoso,
mas não era rústico tampouco. Havia uma bela
cama, uma estante com livros e uma túnica feminina
pendurada em um tipo de cabideiro. Uma flâmula, com
a máscara símbolo de Vhaeraun. adornava a parede.
Se fosse adivinhar, Arthos diria que se tratava do aposento
de uma sacerdotisa. Não havia nada mais o que perceber
e então Arthos deixou o aposento. Enquanto descobria
o quarto, seu companheiro Kariel encontrou na próxima
porta, que estava destrancada, uma espécie de sala
de banhos, com uma grande tina de pedra no centro, cheia de
água que emanava vapor.
Havia
uma porta mais adiante na parede e Arthos seguiu a frente
para alcançá-la. Os passos que deu avançando
no corredor, mostrou que ele se abria em uma sala maior. O
que o espadachim não havia percebido era que nela havia
três soldados e uma sacerdotisa da Casa Aercelt. Quando
os viu era tarde. A drow de belo corpo e cabelos brancos que
vinham até a cintura, gesticulou e pronunciou uma prece
desconhecida. Arthos paralisou-se, tal qual uma estátua.
E então o estático Arthos pode ver os três
soldados, de escudos e espadas longas preparadas, indo em
sua direção. Indefeso, desejava que seu amigo
Kariel se aproximasse logo, talvez com algum sortilégio
útil, ou aqueles demorados segundos seriam os últimos
de sua agitada vida. Fechou os olhos, esperando a dor dos
golpes e a possível viagem para estar novamente com
Kelemvor, homem a quem conhecera na época chamada Tempo
das Perturbações e que hoje era o Deus da Morte.
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