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Histórias
 

Atrás da Cortina de Pedra

Descrita por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.

Personagens principais da aventura:

Os Humanos: Magnus de Helm; Sigel O'Blound (Limiekki). Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. O Halfling: Bingo Playamundo. Participação Especial: Storm Mão Argêntea.

Atrás da Cortina de Pedra

Um Novo Encontro

      As horas iam passando velozes para os que dormiam na nau voadora, que servia de abrigo para o grupo de aventureiros conhecido pela alcunha de Comitiva da Fé, menos para o elfo Kariel. O arcano de cabelos azuis não havia conseguido descansar. Ainda recuperava-se dos ferimentos que, graças à dádiva de ser um dos Escolhidos pela Deusa Mystra, curavam-se rapidamente. Porém, o que mais machucava o mago era seu fracasso no combate com Orgoloth, clérigo da Casa Oorthagos. Kariel levantou-se da sua cama, na parte baixa do beliche que dividia com Arthos, que dormia profundamente, e foi ao convés, na esperança que o vento frio que corre pelas cavernas do Subterrâneo levasse embora a dor de sua alma. Lá encontrou, depois de alguns minutos de solidão, Storm Mão Argêntea, que notou a expressão cabisbaixa do elfo e aproximou-se, ficando ao lado dele no parapeito de madeira da borda do convés.

      “O que há, Kariel? Não consegue dormir?”, perguntou a barda.
      “Eu falhei, Storm!”, disse em um sussurro desanimado. “Mystra me concedeu os poderes de Escolhido, mas ainda assim falhei!”
      “Falhou como?”, perguntou a bela de cabelos prateados.
      “Com todo meu conhecimento sobre magia e as dádivas da Deusa, não fui páreo para Orgoloth. Poderia ter morrido e comigo o sucesso da missão! Às vezes me pergunto se fui digno da escolha de Mystra.”
      “Você fala em fracasso, Kariel, mas saiba que fracasso é quando não se tenta lutar pelo que é certo. Se tentou, se usou todas as suas capacidades e ainda assim foi sobrepujado, é porque nem todos os problemas podem ser vencidos. O que eu posso dizer-lhe é o seguinte: nunca esqueça que, mesmo com seus poderes, mesmo que sua vida não seja limitada pelo tempo, ainda pode morrer. Não somos deuses, apesar de compartilhar uma fração do poder de uma Deusa. Podemos sangrar e nem mesmo o grande Elminster está livre desta possibilidade.”
      “Agradeço pelo conselho, mas sinto-me responsável pela segurança de meus amigos. Se sou derrotado posso enfraquecê-los perante os inimigos.”
      “Bobagem... não pense em derrota antes do combate. Encare o que lhe aconteceu como uma aprendizagem. Todos os problemas que nos afligem ou nos matam ou nos tornam mais fortes. Hoje, você é mais forte do que ontem! Dentre os Escolhidos de Mystra somente um fracassou. O nome dele era Sammaster, mas isto é uma história que contarei a você em um outro momento. Por agora, tente animar-se. E lembre-se sempre que, apesar de seus poderes, ainda é um mortal!”
      “Storm...”, disse Kariel, agora com uma expressão serena, “... obrigado por suas palavras de sabedoria. As guardarei em meu coração.”
      “Agora descanse um pouco. Amanhã terá uma nova missão.”

      E assim o elfo retornou ao seu leito, e mesmo sem necessitar dormir como os demais, cerrou os olhos e descansou o corpo. A barda foi pouco depois. Levantaram depois de algumas horas, tempo necessário para o corpo dos homens descansarem, e mais uma vez reuniram-se, agora sentados em uma grande mesa que havia na sala de reuniões, na parte inferior da embarcação, abaixo do convés. Estavam lá todos, a exceção de Arnilan, que se encontrava na cabine de comando do barco voador.

      O assunto principal não havia sido ainda abordado e conversavam um pouco entre si, sobre várias coisas. Arthos, porém, falou mais alto algo que o angustiava.

      “Acho que falhamos ao deixar Kariel sozinho naquele lugar. Se Storm não dispusesse dos meios para resgatá-lo a esta hora ele estaria morto!”
      As conversas paralelas pararam. Limiekki então se manifestou.
      “Arthos... isso poderia acontecer a qualquer um de nós. Kariel sabia bem dos riscos!”
      “Sim...”, colocou o elfo mago. “Se fossem ao meu resgate estariam presos ou mortos também. Agradeço a sua preocupação, meu bom amigo!”
      “Mas não me sinto bem por não ter ao menos tentado!”
      “Arthos...”, falou Mikhail, elfo de cabelos dourados, “... também corríamos riscos lá embaixo. Kariel estava só, mas às vezes, é melhor estar só para executar determinadas tarefas!”
      “Mikhail, de certa forma, tem razão!’, disse o mago elfo. “Pelos lugares por onde passei, somente quem possuísse habilidades arcanas poderia prosseguir. Evitei confrontos com muitas estranhas criaturas através de sortilégios!”
      “O que Kariel disse resume a situação!", falou Storm. "Devemos ser leais e não abandonar nossos amigos, mas realmente existem tarefas que são melhores executadas quando estamos sozinhos! É preciso saber qual é a fronteira das duas situações e ter o cuidado de não desperdiçarmos nossas vidas em vão.” A barda pausou sua fala, tomou no novo fôlego e prosseguiu em seguida. “Vamos agora nos ater a nossa próxima missão: o ataque a Casa Arcelt e ao Castelo Maerimydra! Quais as perguntas que têm a fazer?”
      “Conhecemos pouco o inimigo, Storm, mas através do deus que seguem podemos, talvez, ter pistas do seu comportamento. Non disse-nos que adoram à Vhaeraun. O que este deus prega?”, quis saber Mikhail, clérigo de Mystra.

      O barbudo professor Danicus pôs um livro e anotações em um pergaminho sobre a mesa e começou a falar.
      “Pelo que li nos registros de Ki´Willis e nos livros da biblioteca do posto dos Millithor, Vhaeraun pertence a um panteão drow com poucos deuses, banidos da morada das divindades élficas por Corellon Larethian. Dizem que possui uma grande rivalidade contra a deusa Lolth, por invejar a adoração que a Rainha Aranha possui perante a maioria da raça dos drows. Dizem que seus adoradores são evasivos, trapaceiros, ambiciosos e assassinos furtivos, que gostam de aproveitar as oportunidades.”
      “São como os adoradores de Cyric!”, disse Limiekki.
      “Então podemos esperar muitas armadilhas!”, supôs Arthos.
      “Lembre-se: o nosso objetivo é a destruição do portal e principalmente da chave que o aciona! Não devem se envolver demais nesta guerra. Assim que fizerem isto, retornem para a nau e partiremos para o próximo destino.”, interveio Storm. “Kariel, Arthos, Mikhail, Limiekki, Magnus e Bingo farão parte do grupo. O restante estará aqui para proteger a nau.”
      “Onde vamos encontrar os D´Vaer para nos juntarmos ao ataque?”, questionou Kariel.
      “Enquanto vocês estavam em missão, enviei Sirius como mensageiro à Casa D´Vaer. A matrona pediu-nos que esperássemos por Non hoje, no local de costume, daqui a seis horas. Acredito que novamente vão usar-nos como um tipo de grupo especial, ainda mais agora que sabem que eliminamos Orgoloth. Sugiro que façam seus preparativos. É possível que esta seja nossa última batalha aqui! Kariel...”, chamou Storm, ao mesmo tempo em que buscava algo em uma bolsa na cintura.
      “Sim?”
      “Emprestar-lhe-ei isto!”, disse, entregando um anel prateado ao mago. “Este anel possui um encanto para tornar a pele de um de vocês resistente aos ferimentos. Basta que Kariel aponte e concentre-se! Só há uma carga do encanto, então usem com sabedoria.”
      “Também gostaria de entregar algo!”, Kariel desafivelou as ornamentadas braçadeiras encantadas, feitas de couro e pintadas de branco e prata, que usava e as entregou a Limiekki. “Estas braçadeiras oferecem alguma proteção mágica ao usuário. Gostaria que ficasse com elas por esta missão!”
      “Isto não vai enfraquecê-lo, Kariel?”, perguntou o mateiro.
      “Tenho outros meios para compensar a ausência delas, Limiekki. Faça bom uso... apenas tente devolvê-las intactas. Foram um presente do Conselho de Anciões de Evereska!”
      “Deixe comigo!”, falou o ranger, afivelando o belo objeto élfico em seus braços.

      Não havendo mais questões, Storm encerrou a reunião desejando boa sorte aos aventureiros. Seis horas depois, Arthos, Kariel, Mikhail, Magnus e Bingo estavam no ponto de encontro, sob o encanto que lhes davam a aparência de drows, mais uma vez a espera de Non. Seriam, respectivamente, Torrellan, Karelist, Narcélia, Marckarius. Bingo, estreante no disfarce, adotaria a identidade de Quertus, um drow jovem, de baixa estatura.

      O drow da Casa D´Vaer saiu da penumbra de uma rua próxima e dirigiu-se à uma casa arruinada onde estavam os membros da Comitiva e Non.

      “Saudações! Minha matrona manda-lhes os parabéns pela vitória e enviou através de mim esta mensagem!”, disse o recém-chegado drow, esguio e de cabelos brancos compridos, entregando um papel à Mikhail, que representava a sacerdotisa Narcélia Milithor. A mensagem, lida em voz alta para todos, dizia:

      “Saudações à Casa Milithor.

A Casa D´Vaer rende suas homenagens a vocês, forasteiros guerreiros de Lolth. Suas habilidades e poderes nos surpreenderam e, em nome da Deusa, peço-lhes novamente auxílio. Os Aercelt estão enfrentando a guerra contra os escravos, o que deixa seu castelo mais vulnerável. Prosseguindo com nosso plano, acreditamos que agora temos uma oportunidade de infiltração e de assassinato dos seus principais líderes, o que desestabilizaria a organização militar da Casa inimiga. Pedimos que, juntamente com Non, invadam o castelo Maerimydra e executem a missão. Em troca, ofertamos-lhes a metade da riqueza dos Aercelt, além do acesso total ao castelo.

Ilivarra D´Vaer”      

      “Então? O que me dizem? Vão comigo até o castelo?”, perguntou Non.
      “Sim. Mas que os D´Vaer não esqueçam: metade do tesouro e o acesso para recuperarmos o que é nosso e que está no castelo Maerimydra!”, Mikhail respondeu a ele.
      “Minha matrona tem consciência dos seus objetivos e eles serão atendidos. Fico feliz em que tenham aceitado!”, disse o drow, exibindo um semblante satisfeito.
      “Conhece o castelo?”, quis saber Arthos. “Pode fazer-nos um mapa?”
      “Não sei se seria útil. O castelo possui sete níveis, mas só conheço até o terceiro. Nestes três primeiros existem apenas dormitórios, refeitórios e sala de armas. Nada de grande importância. Existem duas entradas: uma externa, que leva diretamente ao segundo andar, mas que costuma ser guardada, e outra pelos fundos, que leva ao primeiro nível.”
      “Não podemos escalar as paredes externas do castelo?”, questionou Arthos, que entendia um pouco de entradas furtivas.
      “Não. Todas as janelas são gradeadas e algumas criaturas aladas protegem o alto do castelo. Os únicos acessos são as entradas que mencionei. Mas antes de chegarmos nelas, teremos que superar a muralha alta que cerca o castelo. Vocês possuem, por acaso, algum meio mágico para fazermos isto?”, argüiu Non.
      “Posso me transportar através de magia para dentro da área interna, juntamente com mais três pessoas, mas somos em número de sete.”, colocou Kariel as suas possibilidades.
      “Karelist... você tem um encanto que possa nos tornar invisíveis? Poderíamos escalar a parede em segurança desta forma.”, perguntou Limiekki.
      “Sim, mas posso fazer somente um de vocês invisível. E quanto aos outros dois?”
      “Pode emprestar seu elmo encantado para um de nós. Seremos dois invisíveis!”, adicionou Arthos, formatando o esboço de um plano.
      “Bom... mas ainda falta uma pessoa nesta conta.”
      “Já sei!”, disse Bingo. “Eu sou o menor de todos. Posso me segurar nas costas de Dariel enquanto ele estiver invisível e jogar a capa dele por cima de mim para me esconder!” Disse o pequeno referindo-se a Limiekki.
      “Então parece que temos um plano: Karelist usará sua magia para transportar a mim, Marckarius, Non e ele próprio para o pátio do castelo. Torrellan, Dariel e Quertus, que são os mais leves e furtivos, irão escalar o muro e nos encontrarão lá dentro.”, sintetizou Mikhail.

      Todos concordaram com aquele esquema. Era o que podiam fazer com os recursos que possuíam. Assim foram pelas ruas escuras, rumo às cercanias do castelo, atentos á movimentação. Tinham sorte que os conflitos que os Aercelts enfrentavam ocorriam a algumas ruas de onde pretendiam chegar. Não encontraram drows, bugbears, gigantes, nem qualquer outro tipo de criatura ou obstáculo. Chegaram, então, até algumas ruínas, de onde se podia observar, a cerca de trinta metros de distância, o alto castelo, com duas torres que se comunicavam no alto, cercado por uma muralha alta e negra, construído sobre um platô rochoso.

      Observaram por alguns minutos o muro e o distante portão, que se abria de vez em quando para a passagem de tropas que iam para a batalha.

      "Então vamos! Karelist... conjure os encantos necessários!", falou Mikhail, interpretando Narcélia.
      "Sim, minha senhora!", respondeu Kariel, encenando a tradicional obediência às fêmeas, característica dos drows devotos da Rainha Aranha.

      Kariel entregou seu elmo encantado para Arthos e logo depois começou seus rituais de magia, gesticulando e pronunciando palavras na língua somente conhecida pelos arcanos. Após uma pausa, o mago anunciou que, se desejassem enviar uma mensagem para alguém no grupo, bastaria identificar o destinatário e sussurrar, que as palavras iriam, não importava a distância, ser ouvidas. Continuou e realizou novo sortilégio. Desta vez, Limiekki desapareceu das vistas de todos. Em um último encanto, abriu uma porta mística, que conectava o espaço onde estavam com o pátio interior do castelo.

      "Boa sorte! Nos encontramos nas proximidades da entrada nos fundos!”, combinou Mikhail.

      Em seguida, entraram na porta Non, Mikhail, Magnus e, por fim, Kariel. Então ela fechou-se e desapareceu.

A Invasão

      Bingo procurava Limiekki e este o tocou com a ponta da capa para que o pequeno o pudesse localizar.

      "Vamos... suba nas minhas costas!", disse o mateiro.

      Bingo atendeu, com um pouco de dificuldade por não enxergar, colocando a capa sobre si e desaparecendo. No mesmo momento, Arthos pôs o elmo de Kariel na cabeça. A princípio não ficou invisível, mas depois se concentrou desejando tal efeito e enfim desapareceu. Andaram vagarosamente os vários metros de distância que haviam das ruínas até a muralha que protegia o castelo. Notaram que haviam trincheiras escavadas, mas não havia soldados naquele momento. O muro de rocha negra era bastante irregular, como as próprias paredes da caverna e, para a felicidade dos três, havia muitas cavidades naturais que facilitavam a escalada. Como não existiam guardas a vista, o ambiente oferecia pouca visibilidade e o peso atrapalhava os movimentos, Limiekki resolveu que Bingo poderia sair debaixo de sua capa e tentar galgar as paredes. O halfling na pele de drow então subiu o muro, com certa desenvoltura, juntamente com os seus companheiros invisíveis.

      Não esperavam por isto, mas enquanto estavam quase alcançando o topo, uma patrulha com quatro drows surgiu e passou bem abaixo do trecho que escalavam. Como se a sorte tivesse os abandonado, uma pequena pedra soltou-se da parede no trecho que Bingo escalava, caindo ao chão e propagando um pequeno ruído oco, suficiente para sensibilizar a audição de um dos soldados.

      "Ouviu algo? Um barulho...", comentou o militar.
      "Você deve ter escutado algum dos sons da guerra... não fique tão impressionado ou muito menos temeroso. Os conflitos estão distantes do castelo!", respondeu o líder da patrulha, não dando muita importância para observação feita. E então continuaram, para alívio dos três invasores.

      Limiekki, Arthos e Bingo chegaram ao topo, desceram a parede interna e finalmente pisaram no chão pedregoso. Arthos, então, sussurrou:

      "Karelist... chegamos no pátio!"
      Kariel ouviu as palavras ecoarem em sua mente, graças ao encanto que havia invocado minutos atrás.
      "Estamos próximos à escada, agachados em um desnível do terreno, na parte dos fundos."

      Os três então começaram a contornar o castelo. Chegaram mesmo a passar em frente da escada principal, que, segundo Non, levava ao segundo pavimento. Era uma escada que subia serpenteando a parede. Prosseguiram, sem serem notados, até verem a pequena escada dos fundos. Existiam dois drows mascarados que atuavam como sentinelas nas laterais do portão. Imediatamente, pensaram em livrarem-se deles, aproveitando-se da condição de invisibilidade.

      "Karelist... Vamos eliminar os sentinelas!", avisou Limiekki, em voz baixa.
      "Vão, mas tomem cuidado: ao atacarem ficarão visíveis!", alertou o mago da Comitiva.

      Bingo foi orientado a esconder-se, coisa que o pequeno fazia muito bem. E então avançaram Limiekki e Arthos, pisando com cuidado, a fim de evitarem ruídos. Aproximaram-se dos drows, um de cada lado, e desferiram golpes mortais: as lâminas cortaram os pescoços dos dois infelizes habitantes do Subterrâneo, que caíram ao solo sem nem mesmo gritarem de dor. Ficaram visíveis imediatamente após os ataques. Os dois arrastaram os corpos até o declive escuro, próximo ao muro, onde os outros companheiros estavam escondidos. Fizeram uma rápida revista e encontraram uma chave entre os pertences de um dos mortos, grande o suficiente para ser a que abria o portão maciço de madeira negra que guardavam. Tomaram também a capa e a máscara púrpura que os inimigos usavam, a fim de compor um disfarce. Neste momento, Arthos também devolveu o elmo encantado à Kariel.

      “Onde está Quertus?”, perguntou Magnus, que não viu Bingo junto com os dois colegas.
      “Aqui!”, disse o pequeno, aparecendo do nada, como se fosse um fantasma.
      “Vamos invadir agora! Quanto mais rápido formos, menores são as chances de sermos vistos!”, colocou Non.

      Os sete deixaram a posição entrincheirada e correram para a entrada. Testaram a chave e ela serviu perfeitamente. A giraram na fechadura e abriram a porta com cuidado. Revelou-se uma ante-sala, sem móveis ou decorações, apenas com tochas que emitiam um fogo púrpura e a iluminavam tenuemente. Dela partia uma porta. Arthos e Bingo aproximaram-se. O primeiro colocou a orelha encostada na folha de madeira da porta e o segundo repetiu a mesma ação.

      “Vozes!”, disse Arthos. “Ouvi vozes... parecem que existem alguns inimigos na próxima sala!”
      “Ouvi também barulho de pratos e talheres!”, informou Bingo.
      “Parece que não teremos mais o elemento surpresa!”, disse Mikhail.
      “Como eu estou com a capa e a máscara, talvez não chame muito a atenção. Vou tentar fazer um reconhecimento da área e retornarei!”, falou Limiekki, aproximando-se da porta.
      “Aguardaremos e entraremos se houver problemas.”, falou Magnus, após balançar a cabeça positivamente.

      O mateiro puxou o trinco da porta destrancada e entrou. Era uma sala retangular, de boa dimensão. Dela saíam várias portas. No centro do cômodo, uma mesa de pedra em que se serviam da janta seis drows. Limiekki não os fitou nos olhos daqueles soldados. Apenas dirigiu-se para uma daquelas portas, a fim de explorar um outro lugar. Tinha a capa, tinha a máscara, mas as vestes negras dos Millithor eram de um padrão levemente diferente, que certamente passaria despercebido por mentes distraídas. Porém, sentado em uma das cadeiras da mesa negra, um dos drows o observou com atenção e percebeu a diferença.

      “Que roupas são estas? E quem é você?”, perguntou em voz alta, atraindo a atenção dos demais.
      “Não devia se preocupar tanto comigo!”, respondeu Limiekki, sacando sua espada, escondida atrás da capa púrpura. “Preocupe-se com eles!”

      Da porta de entrada então surgiram seus companheiros, de armas nas mãos. Os drows ergueram-se das cadeiras e sacaram suas rapieiras, iniciando a batalha.

      O primeiro a atacar foi Non, que disparou um virote de besta na direção de um dos inimigos, que agilmente esquivou-se, evitando qualquer injúria. Em seguida agiu Arthos. O homem, outrora elfo e hoje drow, com suas maneiras audaciosas e pouco prudentes, correu em direção ao centro da sala e deu um salto, caindo de pé no centro da mesa, em meio aos pratos e a refeição de cogumelos, sopa e um assado de uma criatura desconhecida. Limiekki, por estar mais avançado, foi quem primeiro engajou-se em um combate franco. Trocou alguns golpes com um soldado de cabelos curtos que estava bastante próximo. Aparou, com sua lâmina, dois golpes do adversário e contra-atacou de maneira fulminante, encravando a espada no peito do inimigo, que caiu inerte. Da porta, uma flecha voadora acertou o braço de um inimigo. Bingo a havia disparado. Magnus entrou na sala em seguida, mas não atacou, aguardando a aproximação do adversário. Kariel também entrou, mas não atacou. Conjurou sobre si um sortilégio, que fez sua pele tornar-se resistente como pedra. Mikhail permaneceu na ante-sala, distante dos demais. Queria aproveitar que estava longe de Non para lançar um de seus encantos sobre si mesmo. Recitou as palavras de uma rápida prece e recebeu uma benção de sua Deusa, que lhe conferiu uma proteção especial.

      Rapidamente, os guardas aproximaram-se dos outros invasores na sala de jantar. Três deles vieram contra Magnus. Enquanto um aguardava, dois resolveram investir contra o guerreiro paladino de Helm. O primeiro desferiu um golpe lateral, visando o flanco direito, mas Magnus esquivou-se para esquerda, fazendo o golpe cair no vazio. O segundo tentou estocá-lo, Magnus deu um passo atrás. Arthos, em cima da mesa, chutou um prato de sopa, fazendo o líquido morno cair no rosto de soldado próximo. Irritado, o drow tentou decepar as pernas do inconseqüente espadachim da Comitiva, golpeando pouco acima do tampo de pedra, mas este, ágil como um gato, deu um salto, e a lâmina da rapieira sibilou por baixo dele, inofensivamente, para o ódio ainda maior do militar da Casa Aercelt. Em seguida, Arthos pulou da mesa ao chão e emendou dois rápidos golpes contra o adversário, que foi ao solo, segurando o ventre cortado. Faltavam agora quatro.

      O único dos inimigos que não havia se engajado no combate corpo a corpo foi um que havia ocupado a cadeira mais distante na mesa, e que tinha sido ferido pela flecha de Bingo. Mas já se aproximava de Limiekki, para vingar o companheiro abatido. Talvez conseguisse seu intento, se fosse mais hábil e experiente que o mateiro, mas o que sabia no uso da lâmina e nas técnicas de combate deu-lhe apenas a oportunidade de trocar alguns golpes sem êxito, por alguns intensos segundos. O triunfo viria de novo para o experiente aventureiro, sobre a forma de um golpe no abdômen do drow, que perfurou sua armadura e carne e o levou para o mundo dos mortos. Restavam três, e eles estavam junto a Magnus.

      O formidável guerreiro da Comitiva desferiu um poderoso golpe com sua belíssima espada encantada. A lâmina cortou profundamente o ventre de um dos oponentes do paladino e a força do golpe o fez cair para o lado. Ainda tentou levantar, mas por fim a dor superou a consciência e o inimigo caiu de uma vez por todas. Magnus ainda tentou um ataque contra um segundo drow, mas ele conseguiu desviar a tempo. Kariel, que havia se aproximado de Magnus, não usou de sua magia como de costume. Preferiu sacar sua espada élfica e ajudar o amigo. Porém o paladino não precisava de auxílio, pelo menos não contra aqueles inimigos, soldados de baixa patente da Casa Aercelt. O campeão encaixou um outro golpe perfeito e decapitou o oponente. Restava apenas um e, contra este, Kariel conseguiu sua apontar lâmina na altura do pescoço.

      “Acho que devia considerar se render!”, disse o mago com seriedade.

      O drow, sozinho e acuado, sob o impacto da fulminante e rápida vitória dos invasores soltou sua arma e ergueu os braços. Mas a batalha, surpreendentemente, não havia terminado. Uma das portas, ao fundo da sala, se abriu e delas saíram quatro outros soldados.

      A recepção foi feita por Non, que disparou um virote de besta certeiro, derrubando um dos atacantes. Limiekki e Arthos eram quem estavam mais próximos dos novos oponentes. O primeiro agora estava lutando contra dois, espada na mão direita e o pequeno machado na mão esquerda. Aparou um golpe, mudando a trajetória da lâmina inimiga com o machado e depois desferiu dois ataques rápidos. No primeiro, forçou o drow a erguer a espada para impedir a investida com o machado e, com o segundo, atingiu o flanco aberto para perfurar e matar o oponente. A manobra, apesar de muito rápida, deu margem suficiente para que o outro soldado contra qual lutava, tirasse sangue de seu braço. Arthos combatia o seu oponente com a elegância e perícia do espadachim que era, cuja habilidade havia sido desenvolvida nas batalhas anteriores, especialmente contra os piratas do Mar das Estrelas Cadentes. O drow não lhe era páreo e morreu com a lâmina no coração. O último inimigo surgido morreu quase simultaneamente, vítima do machado de Limiekki.

      Assim que a batalha cessou, Limiekki foi averiguar a sala de onde haviam saído os drows. Era um cômodo pequeno, com algumas prateleiras e cadeiras. Arrastaram os corpos para dentro do lugar e fecharam a porta. Arthos abriu uma outra porta e encontrou a cozinha, sem nada além de armários, um fogão, outra mesa, muitas panelas e alguns mantimentos acomodados desordenadamente. Duas portas saíam da cozinha. O curioso espadachim abriu uma delas e encontrou um despensa. Seguiu para a próxima e descobriu um grande cômodo retangular vazio, com algumas portas para outros lugares, com um estranho buraco circular ao centro, de onde emanava uma iluminação azulada. Arthos ainda pôs os olhos para ver o que havia embaixo, mas a luz sensibilizou muito seus olhos de drow. Ele ainda olhou para cima e viu que, bem acima do local do poço, no teto, existia uma espécie porta de metal, com o mesmo formato circular, mas não era possível alcançá-la. A distância entre o solo e o teto era de aproximadamente três metros de altura.

      Enquanto o espadachim explorava a sala à frente e os demais arrastavam os corpos. Kariel levou o drow rendido para a ante-sala, distante dos olhares e ouvidos dos companheiros. O mago olhou fixamente para os olhos vermelhos do drow, ergueu sua mão esquerda em sua direção e murmurou palavras místicas. Repentinamente, os olhos do drow ficaram vidrados e seu rosto assumiu uma expressão vazia e paralisada.

      “Procuro um arco feito de pedra e uma jóia encantada, do tamanho de um punho fechado. Sabe onde posso localizá-los neste castelo?”, perguntou Kariel.
      “Não vi nenhum arco e nenhuma jóia como esta, apesar de possuirmos várias jóias menores!”, respondeu o drow encantado.
      “Onde fica o aposento do seu líder, Welveryn Malakar?”
      “Nos níveis superiores, mas não sei dizer-lhe ao certo. Só possuo permissão para caminhar nos três primeiros níveis.”
      “Como faremos então para chegar aos níveis superiores?”, continuou o mago o interrogatório.
      “Existem duas escadas próximas que levam ao próximo piso.”
      “E estão guardadas?”
      “Não. Não há mais guardas neste nível do castelo!”

      Kariel havia feito as perguntas que acreditava serem importantes. Resolveu usar o encanto de comunicação para falar com os outros.

      “Companheiros. Estou interrogando o prisioneiro. Existe algo que queiram perguntar?”
      “Estou em uma sala vazia, com um poço estranho de onde emana uma luz azulada... pergunte-lhe o que é isto.”, pediu Arthos.
      Kariel então transmitiu a questão para o inimigo fascinado, que respondeu:
      “Não é um poço! É um local de levitação, que pode nos levar aos níveis superiores. Serve para transportarmos materiais.”

      Após proferir estas palavras, o feitiço de Kariel perdeu a força e a expressão vidrada do drow foi substituída por outra, bastante cansada. Nenhuma pergunta adicional poderia seria feita. Kariel trouxe novamente o prisioneiro para a sala de jantar, amarrou suas mãos e o deixou sentado em uma cadeira. Em seguida foi até o cômodo onde Arthos estava. Queria ver o estranho poço que o amigo descrevera.

      “Karelist!”, disse Arthos invocando o codinome do colega, já que Non estava presente. “Pode me dizer o que é isto?”
      “O prisioneiro disse-me que serve para levitar. Levavam materiais para os andares superiores.”
      “E como funciona?”, quis saber o espadachim.
      “Vamos descobrir!”

      Kariel então se aproximou da borda do poço, concentrou-se e pôs um pé no vazio. Notou que não estava caindo e então pôs o outro pé. Desejou subir e, imediatamente, seu corpo começou a levitar em direção ao teto.

      “Verifique esta grade. Talvez possamos passar por ela para os outros andares.”, pediu Arthos.

      Kariel testou a firmeza da grade, puxando-a com força. Tentou abrir o trinco, mas nada conseguiu.

      “Chame Quertus, Torrellan! Ele é o especialista em burlar trancas. Talvez ele consiga!”, disse o mago, enquanto descia.
      “E ele vai conseguir subir aí? Ele não é nenhum mago!”, respondeu.
      “Não se preocupe. Se aqueles soldados conseguiam subir, Quertus não terá dificuldades. Basta somente concentração e desejar levitar!”

      Arthos chamou Bingo e, minutos depois, lá estava ele diante do poço. Deu o primeiro passo de olhos fechados, com muito medo de cair, mas ficou flutuando e então se tranqüilizou. Concentrou-se e começou a subir. Então, quando chegou próximo à grade no teto, tentou abrir a fechadura, usando algumas pequenas ferramentas de metal que retirou de uma bolsa em seu cinto, mas não parecia ter sucesso. Em seguida, desceu pelo ar e pisou no chão firme novamente.

      “Lamento, mas está travada!”, disse Bingo.
      “Então? Vamos nos espalhar e procurar em outros lugares, até achar a escada!”, falou Arthos, já abrindo uma das três portas que deixavam a sala. Os outros concordaram e passaram a abrir também as portas. Arthos encontrou um dormitório, Bingo e Magnus descobriram um depósito onde havia algumas armas. A terceira e maior das portas, explorada por Limiekki, levou a um grande salão vazio e com diversos acessos. Kariel havia retornado para a sala de jantar e levava o prisioneiro para a pequena dispensa, onde pretendia prendê-lo. Non estava próximo dele e o questionou:

      “Porque irá prendê-lo? Porque não o mata?”

      No seu modo de agir, não convinha a Kariel matar um inimigo indefeso e desarmado. Não seria honrado. Mas esta não era a maneira de um drow, em cuja sociedade a piedade era, longe de ser considerada uma virtude, uma fraqueza. Então, o arcano da Comitiva tentou se justificar com outros argumentos.

      “Sou um mago! Para mim, usar a espada é um tanto indigno e usar um encanto neste fracassado será um desperdício!”, disse, fingindo arrogância. “Se quiser matá-lo, que o faça você, guerreiro!”

      Non olhou para Kariel, de maneira séria, e sacou rapidamente sua espada, decapitando o inimigo e partindo logo em seguida para a sala do levitador.

      Procuraram um pouco mais, até que Limiekki anunciou ter encontrado o aposento onde estava a escada. Reuniram-se e decidiram que Kariel e Arthos iram explorar inicialmente os próximos aposentos e em seguida os outros os acompanhariam. Assim, o mago tocou em seu elmo da invisibilidade e desapareceu. Arthos veio logo atrás, cautelosamente.

      Após subirem os degraus, encontraram uma pequena ante-sala e uma porta dupla que dava acesso ao restante do nível. Kariel aproximou-se e viu que o acesso não estava trancado. Empurrou a folha de madeira e entrou. Viu uma espécie de corredor largo, com uma porta a esquerda, outra a direita e uma ao fundo.

      “Não existem inimigos aqui, por enquanto, Torrellan!”, sussurrou, enviando a mensagem para a mente de seu amigo utilizando, seu nome drow. “Porém, acho prudente esperar um pouco mais!”

      Mas Arthos estava ansioso e decidiu entrar, passando pela porta dupla. Por infeliz azar, dois drows, entraram também na sala, só que pela porta da direita, quase ao mesmo tempo que o aventureiro. Um possuía cabelos compridos e outro exibia um corte militar. Trajavam cotas de malha escuras, escudos de aço e espadas longas embainhadas na cintura. O de cabelos curtos, que possuía um uniforme um pouco mais vistoso, foi logo voltando-se para o estranho.

      “Quem é você?”, perguntou olhando para Arthos, que ainda trajava uma máscara e a capa púrpura retirada do sentinela da entrada. “Por acaso, tem patente o suficiente para estar neste andar?”, completou.
      “Vocês não sabem?”, começou Arthos um improviso.
      “Não sabemos o quê, idiota?”, disse o outro, impaciente.
      “Invasores. Prendemos alguns invasores no nível inferior!”
      “Verdade? Então leve-nos até eles!”, ordenou um dos inimigos.
      “Com prazer!”, disse Arthos, dando um sorriso disfarçado.
      “Espere. Epidrax, chame os seus colegas para irem conosco.”

      O soldado entrou novamente na sala da direita e, quando saiu, havia mais quatro com ele, portanto as mesmas armas.

      Kariel, que assistia a tudo invisível, usou novamente o encanto de comunicação para falar com os outros companheiros.

      “Atenção todos! Torrellan está levando seis inimigos para o andar inferior. Escondam-se e preparem uma emboscada!”, sussurrou o mago diretamente para a mente de seus aliados.
      “Torrellan, Karelist... estaremos preparados na sala anexa à escada”, respondeu Mikhail.

      Arthos desceu os degraus, junto com os soldados drows e encaminhou-se para a porta dupla que levava a um cômodo retangular, pelo qual havia passado antes de alcançar a escadaria. Abriu a porta, revelando a sala aparentemente vazia, e caminhou para o centro do aposento enquanto dizia:

      “Os prisioneiros contaram uma história muito estranha...”
      “O que disseram?”, perguntou o chamado Epidrax.
      “Que eram forasteiros de um lugar distante e que vieram destruir todos da Casa Aercelt!”
      “Bobagem!”, exclamou o que parecia ser um tipo de oficial.
      “Não... o pior é que eles estão certos!”, respondeu em voz alta o espadachim, sacando o sabre e virando-se para os inimigos. No mesmo instante, pelas portas que havia na sala, entraram Limiekki, Magnus, Bingo, Non e Mikhail, que partiram, armas em punho, contra os adversários pegos de surpresa.

      Bingo foi o primeiro a atacar: disparou com velocidade duas flechas. Uma cravou no braço de um inimigo e a outra foi defletida pelo seu escudo. Magnus avançou com Hadryllis nas mãos. Deu dois golpes poderosos no guerreiro que estava mais próximo, o primeiro atingiu o flanco direito, rompendo os elos metálicos da armadura e rasgando a carne do inimigo. O segundo, e último, atingiu o pescoço, derrubando o infeliz adversário, que mal teve tempo de desferir um golpe sequer. Arthos atacou, com o seu sabre, dois que estavam em sua frente. Matou um deles, com uma perfuração no peito, mas, quando tentou fazer o mesmo com o inimigo que estava ao lado, este ergueu o escudo com habilidade. Limiekki, sempre com o machado pequeno na mão esquerda e a espada na direita, tentou atingir um adversário, mas este esquivou-se e os golpes caíram no vazio. Mikhail se aproximou, mas ainda estava distante para engajar-se em um combate.

      Os quatro soldados da Casa Aercelt estavam agora em desvantagem, mas não cogitavam rendição. Estavam furiosos por terem sido enganados por aqueles invasores e lutariam até as últimas forças para acabar com seus inimigos. Um tentou acertar Bingo por duas vezes com sua espada longa, mas, habilmente, o pequeno em forma de drow desviou, pulando para trás. Mais sorte teve o soldado, que conseguiu acertar Magnus, ainda que superficialmente, na altura do ombro. Non entrou em ação, em meio às sombras de um dos cantos da sala, e disparou dois virotes de besta. As pontas metálicas atingiram as costas do inimigo, que já estava espetado com a flecha de Bingo. O acerto de Non revelou-se fatal, e o inimigo caiu morto. Curiosamente, restaram no combate os dois inimigos que haviam interpelado Arthos no andar superior, o soldado chamado Epidrax e o capitão de cabelos curtos, cujo nome nenhum membro da Comitiva invasora iria conhecer. O primeiro aproximou-se de Mikhail e tentou rasgar-lhe o peito, em um corte longitudinal. O clérigo, que vestia a aparência da sacerdotisa Narcélia, desviou a lâmina, forçando-a lateralmente com o seu martelo. Em seguida, Arthos atacou o soldado, dando-lhe dois rápidos e fatais golpes. O oficial decidiu gastar suas últimas forças enfrentando Magnus, o mais extraordinário guerreiro daquele grupo. Desferiu golpes que combinavam força, ódio e desespero, fazendo mesmo que o paladino desse um passo para trás. Mas, onde a força e o desespero comandam, a sabedoria e a técnica costumam ficar esquecidas. Aproveitando-se da guarda excessivamente aberta do adversário, Magnus aplicou-lhe o golpe final, cortando-lhe a carne, na altura do peito, encerrando o combate.

      Enquanto a batalha estava se desenrolando, Kariel seguia no andar superior. O mago, invisível, abriu uma porta e encontrou o próximo lance de escada, rumo ao terceiro piso.

      “Companheiros... como estão vocês?”, o mago fez ecoar as palavras nas mentes dos seus colegas. “Encontrei a escada para o próximo nível!”
      “Estamos bem, Karelist... iremos nos reunir na sala onde encontramos os soldados.”, respondeu Arthos.

      Minutos depois, estavam na sala, que parecia vazia. Porém, Kariel já estava lá, a espera deles, ainda que não o pudessem ver. O mago aproximou-se de Mikhail.

      “Sou eu!”, disse a voz saindo do nada. “A porta que leva a escada é a que está no centro, ao final da sala. Cheguei a subir os degraus. Depois do patamar no alto, existe uma porta, mas decidi aguardar por vocês antes de abri-la.”
      “Certo! Vamos até lá!”, disse Mikhail.

      Kariel foi à frente, seguido de seus companheiros. Rapidamente, subiram os degraus e estavam concentrados no patamar da escada, já no terceiro nível do castelo Maerimydra e diante de uma porta que levava ao restante do complexo.

      “Deixem-me ir... minha invisibilidade será minha vantagem.”, disse o mago.
      “E a porta? Não está trancada?”, quis saber Magnus.
      “Não. Já testei. Esta apenas encostada!”, respondeu Kariel.
      “Então vá! Avise-nos em caso de problemas!”, pediu Mikhail.

      Então, delicadamente, Kariel abriu a porta e entrou na nova sala, de onde partiam mais três outras portas, como no andar inferior: uma na parede esquerda, outra na direita e outra no centro, ao fundo da sala. Mas havia um drow no cômodo, e ele havia observado a porta abrir e fechar, misteriosamente, sem que ninguém aparentemente houvesse entrado. Fitou a entrada por alguns segundos e rapidamente deixou o local, entrando pela porta ao fundo da sala.

      “Colegas... havia um soldado nesta sala. Ele observou a porta abrir e entrou em um cômodo ao fundo. Talvez tenha se assustado, ou tenha ido buscar reforços.”
      “Vamos até esta sala. Se o soldado ainda estiver sozinho, podemos surpreendê-lo antes que ele alerte mais inimigos!”, disse o paladino do deus Helm.

      Então os infiltrados ignoraram as duas portas laterais e foram para a entrada ao fundo. Era uma porta de folha dupla e estava trancada, talvez uma prevenção do drow desconfiado. Bingo aproximou-se da tranca e testou suas habilidades com as pequenas ferramentas. A porta destrancou e revelou um salão quadrangular, com três novas portas, na mesma distribuição da sala anterior. Não havia inimigos no local.

      “E agora? Aonde ele foi?”, perguntou Bingo.
      “Acho melhor nos dividirmos e buscarmos a escada para chegarmos logo no próximo nível! Não deve haver nada de importante nestes primeiros três andares e ainda restam quatro níveis para procurarmos.”, sugeriu Arthos.
      “Concordo... temos que ser rápidos!”, disse Mikhail.
      “Então vamos explorar as salas o mais rápido que pudermos. Se encontrarem algo, avisem através do encantamento de Karelist!”, planejou Magnus.

      Dividiram-se em três grupos: Bingo e Magnus e Mikhail foram na direção da sala a direita. Non e Limiekki foram abrir a porta da parede central e Kariel e Arthos foram até a porta que havia em um canto da sala, à esquerda.

      Bingo havia aberto a porta da direita e os três percorriam um corredor longo, estreito e curvo. Na porta do centro, Non não conseguia abrir a tranca, e ainda tentava fazê-lo antes de tomar uma iniciativa menos refinada. Mas foram Kariel e Arthos que obtiveram mais sucesso em sua exploração naqueles primeiros minutos. Descobriram um estreito corredor. Havia uma porta logo à esquerda de quem entrava e duas à frente, na lateral da passagem, que se estendia até desaparecer na penumbra. O espadachim já foi logo se posicionando diante da frente da tranca. Estava um tanto enferrujado por falta de prática, mas conseguiu abrir a fechadura. Era um dormitório. Não era um aposento luxuoso, mas não era rústico tampouco. Havia uma bela cama, uma estante com livros e uma túnica feminina pendurada em um tipo de cabideiro. Uma flâmula, com a máscara símbolo de Vhaeraun. adornava a parede. Se fosse adivinhar, Arthos diria que se tratava do aposento de uma sacerdotisa. Não havia nada mais o que perceber e então Arthos deixou o aposento. Enquanto descobria o quarto, seu companheiro Kariel encontrou na próxima porta, que estava destrancada, uma espécie de sala de banhos, com uma grande tina de pedra no centro, cheia de água que emanava vapor.

      Havia uma porta mais adiante na parede e Arthos seguiu a frente para alcançá-la. Os passos que deu avançando no corredor, mostrou que ele se abria em uma sala maior. O que o espadachim não havia percebido era que nela havia três soldados e uma sacerdotisa da Casa Aercelt. Quando os viu era tarde. A drow de belo corpo e cabelos brancos que vinham até a cintura, gesticulou e pronunciou uma prece desconhecida. Arthos paralisou-se, tal qual uma estátua. E então o estático Arthos pode ver os três soldados, de escudos e espadas longas preparadas, indo em sua direção. Indefeso, desejava que seu amigo Kariel se aproximasse logo, talvez com algum sortilégio útil, ou aqueles demorados segundos seriam os últimos de sua agitada vida. Fechou os olhos, esperando a dor dos golpes e a possível viagem para estar novamente com Kelemvor, homem a quem conhecera na época chamada Tempo das Perturbações e que hoje era o Deus da Morte.

Esta história é uma descrição em teor literário dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé em Salvador sob o sistema de RPG Dungeons & Dragons, Edição 3.5.

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