Reduto
Bestial
Descrita por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens principais da aventura:
Os
Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound
(Limiekki); Danicus Gaundeford; Klerf Maunader. Os Elfos:
Mikhail Velian; Kariel Elkandor; Arnilan Beldusyr.
O Halfling: Bingo Playamundo. Participação
Especial: Storm Mão Argêntea.
Reduto
Bestial
Um
Caminho para o Perigo
Os
aventureiros da Comitiva da Fé estavam na nau quando
o efeito do encanto de disfarce mais uma vez expirou. Ficariam
mais um dia embarcados até se reencontrarem no feudo
dos D´Vaer para o ataque decisivo contra a Casa Aercelt.
Como havia algum tempo, os errantes heróis da Comitiva
da Fé esperavam as horas passarem naquelas paragens
sombrias e rochosas. Em uma destas ocupações,
Kariel, o elfo mago da Comitiva, resolveu escrever mais palavras
no diário que sempre carregava consigo. Porém,
ao buscar pela pena, encontrou algo diferente em seu bolso,
algo que não lhe pertencia. Era um pedaço de
papel dobrado, que o arcano abriu com curiosidade. Estava
escrito em idioma drow e o término do encanto que lhe
dava a aparência de um elfo das sombras tirou-lhe também
a capacidade de ler as palavras escritas naquela difícil
língua. Porém possuía um outro sortilégio
para tal necessidade. Conjurou o feitiço e as palavras
tornaram-se claras, como se escritas em élfico. Então
leu:
“Há
um traidor na Casa D´Vaer. Preciso de ajuda para descobri-lo.
Minha senhora oferece uma recompensa. Leve seu grupo ao local
onde nos encontramos pela primeira vez daqui a doze horas.
N.”
Kariel
levantou-se do assento que ocupava e procurou logo Storm.
Mostrou-lhe o bilhete e repetiu-lhe a mensagem.
“Acha
que foi Non que escreveu isto?”, perguntou a Barda do
Vale das Sombras.
“Certamente. Foi
o primeiro drow que encontramos e a inicial confirma a suspeita.”,
respondeu Kariel.
“Se existe um traidor
e ele está transmitindo informações para
as demais Casas, nossos inimigos podem estar muitos passos
a nossa frente. O plano em conjunto poderá ser arruinado.
Fale com os demais, selecione um pequeno grupo e encontrem
Non.”
O
mago não perdeu tempo: foi imediatamente até
os outros e pediu-lhes a atenção. Leu novamente
a mensagem e transmitiu a ordem de Storm. Kariel chamou Limiekki,
Arthos e Mikhail para participarem do encontro e da missão
que se revelara.
“Tenho
receio que seja uma armadilha!”, disse Limiekki.
“Não temos
como saber... só nos resta ficarmos preparados!”,
falou Arthos.
“Então devemos
usar estas doze horas para isto! Vou preparar meus feitiços!”,
informou o mago, calmamente, retirando-se para um lugar isolado
onde pudesse se concentrar.
As
doze horas então se passaram. Os aventureiros haviam
se preparado e descansado e agora estavam novamente de pé,
mais uma vez sob o encanto de disfarce, conjurado por Storm,
e prestes a deixarem a nau voadora. Antes que partissem, a
Mestre Harpista deu a Mikhail uma varinha. Disse que nela
estavam contidos alguns encantamentos de cura, que poderiam
ser úteis em caso de emergências. Após
isto, o barco desceu novamente das alturas sombrias para depositar
quatro de seus passageiros no solo negro de pedra da caverna
imensa.
Kariel,
Limiekki, Arthos e Mikhail seguiram então para o ponto
de encontro. Temiam uma emboscada, mas não haviam detectado
sinal de inimigos. Chegaram no conjunto de ruínas,
em que haviam encontrado Non pela primeira vez, mas não
viram o drow. A cada instante que passava, crescia a apreensão.
Será que o encontro era verdadeiro ou um engodo, uma
emboscada? Teria sido Non interceptado? Ou seria mesmo ele
o traidor? Limiekki e Arthos resolveram vasculhar as proximidades
para assegurar que não estavam cercados. Foi quando
Kariel e Mikhail, que haviam permanecido no local marcado,
ouviram uma voz familiar.
“Podem
chamar os seus amigos de volta!”
Non
então deixou as sombras onde se ocultava e se aproximou
dos dois. Arthos e Limiekki vieram logo depois.
“Leram
meu bilhete?”, perguntou o drow da Casa D´Vaer.
“Sim. Lemos!”,
respondeu Kariel.
“Têm alguma
suspeita?”, questionou Non.
“Não conhecemos
sua Casa o suficiente para tecermos suspeitas.”, disse
Arthos.
“Tem razão.
Mas o fato é que alguns de nossa Casa têm sido
atacados de maneira muito estranha, o que nos leva a crer
que alguém pode estar repassando informações.
Participei de um grupo, em uma missão avançada
para descobrir informações sobre a Casa Oorthagos,
e fomos emboscados. Somente eu escapei.”
“Se há este
traidor, porque que a Casa que está sendo beneficiada
com estas informações não promove um
ataque contra os D´Vaer?”, quis saber Arthos.
“Não tenho
certeza. Talvez estejam esperando pelo momento correto, quem
sabe?”
“Poderíamos
preparar uma armadilha para este sujeito.”, sugeriu
Limiekki.
“Este espião
é bastante astuto. Se nos enganou até agora,
dificilmente conseguiríamos pegá-lo desta forma.
A matrona pensou em um outro plano. Se este traidor tem uma
relação com a Casa Oorthagos, como acreditamos,
pensamos em penetrar secretamente no território deles
e descobrir informações a respeito do infiltrado.
A matrona e eu gostaríamos de solicitar a colaboração
de vocês porque sabemos que são indivíduos
poderosos e capazes, e que realmente vieram de outra cidade,
não estando envolvidos com as demais Casas. Se nos
ajudarem nisto, minha senhora saberá recompensá-los.”
“Iremos colaborar,
caso contrário o ataque que planejamos poderá
ser sabotado.”, colocou Mikhail a posição
do grupo.
“E como iremos adentrar
o território inimigo?”, inquiriu Kariel.
“As defesas dos
Oorthagos são muito bem organizadas. Suas linhas são
praticamente inexpugnáveis. Porém, antes da
guerra, um amigo, de uma das casas de Lolth que foi destruída,
me indicou um local onde há uma passagem, uma galeria
subterrânea que nos levará por baixo das defesas
dos Oorthagos até o seu território. Porém
nunca explorei o lugar. Existem rumores de estranhos monstros
vivendo nos túneis.”
“É claro...
tem que haver algo... conheço bem esta história...”,
sorriu Arthos.
“Os Oorthagos são
adoradores de Ghaunadaur, um deus que preza as aberrações
e feras. Pode ser que os próprios devotos de Ghaunadaur
tenham escavado estes túneis no passado.”, informou
Non.
“Pode nos levar
até a passagem?”, perguntou Limiekki, que já
estava apreensivo pelo tempo em que ficavam parados, sujeitos
a um ataque ou à observação inimiga.
“Sim. Sigam-me.
Tenham o cuidado de se moverem usando as ruínas como
cobertura!”, advertiu o drow da Casa D´Vaer.
Seguiram
os cinco então, guiados por Non, caminhando por uma
rua estreita e depois por outra maior, uma grande via que
levava ao Castelo Maerimydra. Depois de percorrem alguns metros
se ocultando entre os edifícios às margens da
avenida, entraram por um caminho sinuoso e chegaram ao terreno
de uma casa, que um dia fora imponente, mas que naquele momento
se encontrava arruinada. Non mostrou-lhes uma fenda, cujo
fundo escuro escondia escombros e corpos e da qual exalava
o odor desagradável da morte.”
“É
aqui. Aos olhos de todos, isto era penas um poço abandonado.
Vou primeiro. Vocês entrarão em uma passagem
na parede deste poço.”
O
drow então amarrou uma corda de seda branca em uma
dos antigos pilares de sustentação da velha
construção vizinha e desceu poço adentro.
O seguiram Arthos, Mikhail, Limiekki e Kariel. Todos encontraram
e passaram, com alguma dificuldade, por um buraco arredondado
na rocha do poço. Estavam agora em um corredor rochoso
bastante estreito, onde somente uma pessoa poderia passar
por vez. O caminho, depois de o percorrerem por alguns minutos,
alargou-se e os exploradores puderam andar mais confortavelmente.
“Dariel...”,
chamou Arthos o ranger, pelo seu nome de disfarce. “Poderia
nos dizer se este caminho têm sido usado com freqüência?”
O mateiro ajoelhou-se e olhou o chão a sua volta. Reparou
nas pedras, na poeira, na terra.
“Não. Não
vejo vestígios de rastros. Acredito que ninguém
passou por aqui, ou se passou faz muito tempo!”
Continuaram
e durante os minutos de caminhada, Arthos aproveitou para
conversar um pouco mais com o drow que liderava a exploração.
“Non...vocês
têm contato com outras cidades drows? O que acontece
com os seguidores de Lolth aqui pode estar acontecendo em
outros lugares!”
“Não conheço
outras cidades.”, disse-lhe simplesmente.
“E a superfície?
Possuem algum contato na superfície?”
“Superfície?
Você acredita que exista algo acima de nós? Lugares
abertos e extremamente claros, onde andam estranhas e diversas
criaturas. Isto é somente uma lenda!”
“Lenda? Já
estive lá! Existem outros de nós que conhecem
a superfície!”
“São apenas
contos... e, caro Torrellan, se não se importa, seria
melhor permanecermos em silêncio. Temos que estar alertas
para o que há aqui!”, disse o drow, afastando
a conversa que considerava tola.
O
caminho novamente estreitou-se e andaram pela galeria por
mais alguns minutos até que ela novamente alargasse.
A nova câmara possuía um ar pesado, quente e
úmido, e as rochas no chão eram cobertas por
um limo bastante escorregadio. Dentro do salão cavernoso,
havia uma cratera, preenchida aparentemente com água.
Arthos, o mais curioso e imprudente dentre os membros da Comitiva,
começou a se aproximar da poça, quando o amigo
Limiekki pôs-lhe a mão no ombro, advertindo-o:
“Arthos,
Arthos... não faça isto!”
Os
membros da Comitiva, ao ouvir a frase do mateiro, prenderam
a respiração. Havia o guerreiro pronunciado
o verdadeiro nome do herói da Comitiva, ao invés
de seu codinome drow . Uma desconfiança que fosse despertada
em Non poderia por seus disfarces a perder e comprometer a
missão maior do grupo.
“O
que disse, Dariel?”, perguntou Arthos, desejando que
o amigo encontrasse uma saída e se redimisse da falha.
“Artes... não
faça artes aqui!”, emendou com sucesso, aliviando
os colegas.
Kariel
segurava-se para não sorrir da cena, quando algo caiu
do teto sobre ele. Era uma grande massa amarelada, gelatinosa
e ácida, que quase o derrubou ao solo. Sentiu o ardor
de um líquido viscoso e corrosivo na pele e agitou-se,
conseguindo fazer com que a estranha criatura caísse
ao chão. O monstro ainda tentou envolvê-lo em
extensões que se projetavam de seu corpo, mas Kariel
esquivou-se delas com sucesso.
Os
seus companheiros preparavam-se para seguir em seu auxílio,
quando mais seis daquelas criaturas caíram do teto
para atacá-los. Duas delas cercaram Mikhail e mais
duas Non. Limiekki e Arthos se deparavam com uma cada e assim
o combate se generalizou.
Arthos
sacou o sabre e desferiu um golpe contra o adversário,
talhando seu corpo aquoso. No revide, o monstro tentou atingir
o espadachim com os seus ‘braços’ feitos
do mesmo material ácido que constituía seu corpo
viscoso, mas Arthos desviou-se deles. A mesma sorte não
tiveram Non e Mikhail. Os dois foram imobilizados, envolvidos
pela criatura. Apesar de sua matéria aparentemente
frágil, os monstros eram capazes de enrijecer a membrana
que lhes servia de pele, apertando os corpos dos dois. Limiekki
deu ataques rápidos com seu machado e sua adaga, cortando
também seu oponente. Kariel também, com sua
lâmina encantada, feriu o monstro contra o qual batalhava.
Alguns
poucos minutos depois, o primeiro dos seres gelatinosos tombou:
com uma investida poderosa de Limiekki, o monstro pereceu,
esparramando-se ao solo. Non forçou contra os braços
da criatura, conseguiu afastá-los e escapou. O mesmo
não aconteceu com Mikhail, ainda preso e sofrendo as
injúrias do ácido sobre a pele e a pressão
do ‘abraço’ do inimigo. Arthos havia conseguido
alguns sucessos, mas também havia sofrido alguns dos
ataques. Kariel lançou um encanto, que fez surgir de
suas mãos um leque de fogo, que feriu seu adversário
e alguns outros, que estavam na área de efeito do feitiço,
mas tal recurso não foi suficiente para matá-los.
Arthos
conseguiu por fim derrotar o inimigo contra o qual duelava
e correu em auxílio de Mikhail. Este último
havia conseguido libertar-se e, bastante ferido, lutava sozinho
contra dois monstros. Limiekki também se moveu para
auxiliar Non, na mesma situação do clérigo
de Mystra. Enquanto isso, Kariel eliminou, com investidas
de sua espada, o seu adversário e, em seguida, gritou
para os companheiros:
“Afastem-se
dos monstros!”
Os
colegas entenderam que o arcano planejava a conjuração
de uma magia destrutiva e se distanciaram do combate. Kariel
então executou o ritual. Gesticulou e proferiu algumas
palavras no estranho idioma em que os magos recitavam seus
comandos místicos. De suas mãos surgiu uma esfera
flamejante, que voou de encontro ao solo, onde as criaturas
se concentravam, e explodiu em fogo. Os monstros foram atingidos
e um deles morreu. Depois foi a vez de Mikhail, que aproveitou
a oportunidade e lançou em seguida um encanto divino
de seu repertório. Uma coluna de chamas surgiu entre
os inimigos e dois deles também sucumbiram. Restava
um, que foi abatido logo após, pela força conjunta
dos guerreiros.
Pararam
um instante para respirar. Mikhail bem que desejava curar
seus ferimentos e de seus companheiros, mas não podia
usar abertamente seus poderes na pele da sacerdotisa da deusa
Lolth, pois a deusa se calou e não mais cedia as magias
divinas aos seus crentes. Decidiram continuar. Andaram um
pouco mais pelos corredores rochosos e sinuosos e outra grande
câmara se revelou. À medida que avançavam
e que seus olhos de drow capazes de ver na escuridão
percebiam os detalhes, puderam ver um local sujo, com pedras,
poeiras, ossos e restos de animais. Não percebiam somente
com os olhos, mas com o olfato. O odor era quase insuportável.
Limiekki resolveu se aproximar, apesar de tudo. Analisou os
restos e retornou aos companheiros.
“Estas
criaturas foram mortas com mordidas e dissolvidas em algum
tipo de ácido! É melhor saímos daqui!”
A
recomendação do mateiro foi acatada e os cinco
passaram a caminhar em marcha rápida atravessando o
salão cavernoso. Porém, a advertência
de Limiekki e os passos acelerados não foram suficientes
para evitar o que estava para ocorrer. À frente, de
uma depressão no piso da caverna, os exploradores viram
erguer-se um monstro tão horrendo que parecia ser fruto
de pesadelos. Possuía um corpo esférico, de
cinco metros de diâmetro, onde havia vários olhos
e partiam quatro tentáculos de dez metros de extensão,
que o sustentavam como se fossem patas. Existiam mais outros
três tentáculos, estes dotados de cabeças,
semelhantes à de um pequeno dragão, que se agitavam
como serpentes e emitiam um grito assustador. A visão
paralisou por alguns poucos segundos os cinco exploradores,
mas logo estes se recobraram para enfrentar o inimigo que,
não sabiam eles, era conhecido por alguns como flagelo
das profundezas.
Arthos
foi o primeiro a reagir. O espadachim correu em direção
a criatura e fez uma acrobacia. Dando várias piruetas,
projetou-se no ar e caiu no alto do corpo do enorme oponente.
Uma dos tentáculos serpentes tentou mordê-lo,
e feriu-lhe o braço. Ao mesmo tempo, Kariel saiu-se
com um encanto: das suas mãos partiu um relâmpago
que atingiu o flanco esquerdo da criatura, fazendo as suas
cabeças gritarem. Limiekki e Non recuaram e retiraram
suas armas de ataque a distância das costas. O primeiro,
um arco, o segundo, uma besta. Ambos prepararam e dispararam
seus projéteis, atingindo o adversário monstruoso.
Mikhail, que estava ainda bastante ferido do combate anterior,
decidiu evitar a luta franca, com receio de tombar.
A
criatura reagiu aos ataques e, com um rápido movimento
de um de seus tentáculos, envolveu o corpo de Kariel,
fazendo contra ele grande pressão. Assim que foi imobilizado,
duas cabeças do flagelo das profundezas atacaram rapidamente
suas pernas e o ombro do mago. As mordidas de suas mandíbulas
não foram profundas, mas suficientes para causar dor
e fazer escorrer filetes de sangue pelo seu corpo. A terceira
cabeça atacou Arthos, que ainda se mantinha equilibrado
sobre o corpo da criatura, causando-lhe um ferimento de raspão
na perna. O espadachim ainda recuperou-se para investir com
o sabre contra o tentáculo que imobilizava Kariel.
Acertou golpes, mas isto não foi o bastante para libertar
o amigo. Mais distantes, Limiekki e Non descarregaram mais
uma bateria de flechas e virotes.
Mesmo
imobilizado, Kariel pôde invocar um encanto: outro relâmpago
deixou o seu corpo e atingiu o monstro. Arthos também
feriu a couraça do flagelo das profundezas com sua
lâmina e novos projéteis foram encravados na
criatura hedionda por Limiekki e Non. Mikhail resolveu interferir
e, escondido da vista de Non, conjurou um encanto divino que
forneceu aos seus companheiros grande força física,
e conseqüentemente, maior potência em seus golpes.
O ser horrendo estava bastante ferido naquele momento, quando
algo lhe ocorreu. Uma tênue luminosidade azulada percorreu
seu corpo e parte de suas feridas se fecharam instantaneamente,
para a surpresa e decepção dos aventureiros.
Após renovar suas forças, apertou ainda mais
Kariel, fazendo-o gemer de dor e suas articulações
estalarem. Arthos continuava investindo contra o tentáculo
que esmagava o amigo e Limiekki, abandonou sua posição
de tiro e sacou o machado para ajudá-lo. Em um dos
golpes do mateiro, o grosso tentáculo rompeu-se, fazendo
livre o arcano da Comitiva da Fé que, combalido, decidiu
recuar. Non continuou atirando.
O
combate se desenrolou por mais alguns minutos naquela formação.
Arthos foi atacado por uma das cabeças, mas conseguiu
esquivar e, felizmente, encaixar um ataque com o sabre, decapitando-a.
Ainda atacou e cortou um dos tentáculos que serviam
de apoio. Limiekki também obteve sucesso: com seu machado
decepou as duas cabeças restantes. O monstro estava
finalmente morrendo. Aos poucos, moribundo, foi se encolhendo
na depressão de onde havia saído. Em sua retirada,
ainda tentou enroscar o pé de Arthos para levá-lo
junto consigo. O espadachim escapou. A criatura teria que
encontrar o seu destino final nas mãos da Comitiva
da Fé e a Limiekki coube o último golpe do combate,
que a levaria para o mundo dos mortos. Pulou no monstro e
deu-lhe uma machadada no corpo esférico e cheio de
olhos, que finalmente se fecharam para sempre. O mateiro caiu
junto com a criatura morta em seu covil, um buraco de cinco
metros de profundidade, cheio de ossos e podridão,
de onde foi resgatado pela corda de seda branca providencialmente
estendida por Non.
“Espero
que não haja mais destes!”, desejou Arthos.
“Devemos prosseguir
agora. Acredito que estejamos perto da saída da galeria!”,
informou Non.
“Espero que sim,
senão não vamos chegar vivos ao final!”,
colocou Limiekki.
Estavam
feridos, mas continuaram. Mikhail torturava-se em sua mente
por possuir poderes curativos, dádivas da sua divindade,
a Deusa da Magia, Mystra, que podiam aliviar o sofrimento
de seus companheiros, e por não poder utilizá-los.
Não na frente de Non. Limiekki, porém o auxiliou:
levou o drow da Casa D´Vaer para a dianteira do caminho,
afastando-o de Mikhail e possibilitando ao clérigo
lançar seus encantos e usar do poder da varinha dada
por Storm, curando parte de suas próprias feridas,
as de Kariel e de Arthos.
Caminharam
por mais alguns minutos. A sala onde jazia o flagelo das profundezas
ficou para trás, dando lugar a um corredor estreito
e em seguida a outra grande sala. Nesta, não havia
perigo aparente e nem outros caminhos para prosseguir. Parecia
ser finalmente o final da galeria. Foi Non quem olhou para
o alto e viu em uma das paredes rochosas uma pequena passagem
retangular, protegida por uma espécie de grade de metal.
“Ali!”,
apontou o drow. “Deve ser a passagem!”
“Vou verificar!”,
voluntariou-se Arthos.
O
espadachim escalou a parede com desenvoltura. A subida não
era tão íngreme ou sacrificante, portanto não
fez o aventureiro grande esforço. Alcançou a
grade e observou pelas suas frestas. Viu duas grandes torres
de pedra à frente e um pequeno e rústico anexo,
talvez um depósito. Dois soldados drows faziam sua
patrulha. Arthos testou a firmeza da grade e ela parecia bem
incrustada na rocha. Desceu então o espadachim e relatou
tudo que havia visto para os seus companheiros.
“Podemos
tentar retirar a grade com o meu martelo!”, sugeriu
Mikhail.
“Os sentinelas poderiam
ouvir!”, disse Arthos.
“Também teremos
que encontrar uma maneira deles não nos verem!”,
disse Arthos.
“É perigoso
irmos todos!”, advertiu Non. “Precisamos apenas
de uma informação. Quanto menos pessoas entrarem
naquela torre, maior serão as chances de passarmos
despercebidos! Me ofereço para ir, mas seria desejável
a ajuda de mais alguém.”
“Posso nos transportar
por meios mágicos, sem que seja necessário remover
a grade!”, colocou Kariel . “Irei com você,
Non!”
“Então aguardem
aqui. Não corram riscos desnecessários!”,
falou o drow da Casa D´Vaer.
Ele
e Kariel então subiram e se colocaram próximos
à passagem.
“Non,
toque a minha capa! Conjurarei o feitiço e apareceremos
naquela construção ao lado da torre! Em seguida,
estarei invisível, mas não me distanciarei!”
“Sim, Karelist.
Estou pronto!”
Então
Kariel conjurou o feitiço. Após um rápido
brilho, desapareceram os dois dos olhos dos colegas, em direção
ao feudo dos Oorthagos, para começar a arriscada missão
de espionagem.
A Infiltração
Kariel
e Non reapareceram à frente da pequena construção
de pedra, na verdade um posto de sentinelas que estava vazio.
Os soldados caminhavam pelo território murado onde
ficavam as duas torres dos Oorthagos, que se erguiam e se
comunicavam através de um tipo de passarela, que ligava
as duas paredes bem ao alto. Estavam bem próximos de
uma das torres. Kariel tocou o elmo que usava e desapareceu.
Non aproveitou a ausência dos guardas e espreitou até
a entrada, seguido do companheiro o qual não podia
enxergar.
Havia
um portão levadiço de ferro negro, mas este
estava erguido, facilitando a passagem dos espiões.
Também não havia inimigos naquele momento. Descobriram
uma pequena ante-sala, de formato bastante irregular, logo
após o portão. Era vazia de tudo: não
existam móveis nem pessoas, mas ela dava acesso a uma
outra. Sem resistência, continuaram, sorrateiros, Kariel
na frente.
Na
próxima sala, havia algum movimento. Kariel pôde
observar que no cômodo, de formato retangular, havia
uma mesa de madeira ao centro, onde alguns drows, de mantos
púrpuras e armaduras, bebiam e comiam. Outras portas
deixavam aquele aposento, mas, para explorá-las, precisariam
passar pelo local de refeição. O mago retornou
e foi sussurrar aos ouvidos de Non.
“Non.
Aguarde e oculte-se como puder. Existem soldados em frente.
Tentarei explorar o local aproveitando minha invisibilidade.”
O
drow entendeu e ocultou-se, encolhido, em uma das reentrâncias
da ante-sala. Já o mago avançou, vagarosamente
e em silêncio, margeando as paredes.
O
mago ouvia conversas corriqueiras. Nada que o ajudasse a descobrir
aquilo pelo que arriscavam suas vidas agora: a identidade
do traidor dos D´Vaer. Alcançou então
uma primeira porta, que estava entreaberta. Viu Kariel o que
parecia ser um dormitório, onde havia alguns drows
deitados em beliches de pedra e outros que se trocavam e conversavam.
A intenção de Kariel era furtar um traje dos
Oorthagos e entregá-lo a Non, para que este, disfarçado,
pudesse circular com maior segurança. Em uma das paredes
havia ganchos onde algumas das vestes estavam penduradas.
Então passou o mago a aguardar pelo melhor momento,
quando os drows se distraíssem, para subtrair uma daquelas
roupas.
O
tempo passou e como a oportunidade não surgia, o elfo
foi explorar outros cômodos. Encontrou uma espécie
de cozinha, de onde vinha um bom cheiro. Como não estava
interessado em nada naquele lugar, retornou a sala de jantar
e foi até outra porta que dela partia. Encontrou outro
dormitório, semelhante ao primeiro. Kariel, invisível,
ao entrar, quase esbarrou em um drow que deixava o lugar,
mas por sorte conseguiu desvencilhar-se. O lugar estava menos
movimentado do que o outro cômodo e, então, Kariel
resolveu tentar novamente retirar um dos trajes pendurados
em uma das paredes. Não teve sorte. Quando ia retirá-lo,
o deixou cair no chão, atraindo alguns olhares. Resolveu
desistir e retornou a sala de jantar. Somente havia um lugar
a investigar agora, um grande nicho circular de onde subia
uma escada em espiral. Kariel então se encaminhou para
ela. Iria explorar os andares superiores. Ao começar
a subir as escadas viu Non. O drow estava atento e subia devagar
e agachado os degraus negros. Então o elfo em pele
de drow disse para o companheiro.
“Sou
eu. Irei à frente.”
E
assim subiu o mago, seguido do drow da Casa D´Vaer.
O primeiro patamar da escada levava a uma sala, semelhante
à térrea, duas portas nas paredes e uma incomum
mesa de rocha negra, de formato irregular. Havia sobre ela
estranhas peças de pedra e alguns desenhos.
“O que devem representar
estas coisas?”, questionou Non.
“Presumo que seja
uma espécie de planejamento tático para batalhas.”,
disse Kariel que, em um passado já distante, havia
sido líder de um destacamento do exército de
Forte Zhentil.
Repentinamente
ouviu-se o ruído de aço se chocando. Non escondeu-se
atrás da mesa e Kariel ficou ao seu lado.
“E
isto agora? Parece uma espécie de combate.”,
disse o drow, em voz baixa.
“Espere um pouco...
vou verificar!”, colocou o mago invisível, indo
até uma porta entreaberta de onde parecia partir os
ruídos.
Encontrou
um amplo salão, decorado com armas nas paredes, onde
alguns drows eram instruídos e treinados nas artes
dos combates. Retornou então ao salão principal
e tentou a última porta que dele saía que, para
sua frustração, estava trancada. Foi ao local
onde Non estava escondido. Contou-lhe sobre a sala de treino
e disse-lhe que continuaria a exploração, subindo
mais um nível na escadaria.
Non
e Kariel então, pés ante pés, galgaram
os degraus da escada. À medida que subiram, notavam
que o ambiente estava cada vez mais úmido, o piso escorregadio
e coberto com um limo viscoso. Kariel, que foi à frente,
olhou as paredes, também sujas com aquele muco nojento.
Algo mais repugnante provocou asco no elfo de Kand... uma
criatura, que parecia ser composta do mesmo material que se
espalhava pela escada acima, movia-se lentamente pela parede.
“Non...”,
falou Kariel, quase sussurrando. “Existe uma criatura
na parede à frente.”
“Deixe-me me ver...”,
disse o drow, subindo um degrau.
“Tente não
fazer barulho.”, advertiu o mago.
Non
subiu somente o suficiente para enxergar o monstro e desceu
novamente.
“Estes
seres vivem nas paredes das cavernas... os seguidores de Guanadaur
os adoram. Não se aproxime deles. São altamente
venenosos... dizem que alguns deles são vulneráveis
a fogo ou frio, infelizmente não posso confirmar!”
“Vou tentar algum
recurso com magia. Aguarde-me aqui!”
Kariel
não enxergava seu próprio corpo, mas mesmo assim
executou com perfeição os gestos necessários
e pronunciou as palavras arcanas corretas. A invisibilidade
que o ocultava foi substituída pelo novo encanto. Agora
estava visível, mas era como um fantasma. Seu corpo
estava translúcido e espectral. O mago subiu então
as escadas. Boa foi a sua providência, pois a criatura
que se movia na parede, assim que o mago passou no degrau
abaixo do lugar onde estava, se encolheu e em seguida expeliu
uma nuvem de esporos venenosos, que passaram inofensivamente
pelo corpo gasoso de Kariel.
O
mago então chegou, finalmente ao terceiro piso da torre.
Era estranho. Amplo, mas rústico e sem móveis,
parecia o ambiente cavernoso que existia do lado de fora.
Todo o chão e teto parecia preenchido com a substância
gosmenta e viscosa, que se anunciava nos últimos degraus,
e havia várias criaturas, como aquela encontrada na
parede da escada, a se moverem por todos os cantos. Havia
um caminho bifurcado ao longe.
Duas
criaturas se precipitaram do alto sobre o mago para atacá-lo,
mas, graças a sua forma intangível, passaram
através do seu corpo, como quem tenta golpear a neblina
da madrugada. Os monstros ainda tentaram mais uma vez ferir
Kariel, usando pseudopódes que brotaram de seus corpos,
mas não conseguiram o seu intento. A magia que protegia
o arcano, também lhe fornecia outra faculdade: permitia
que pudesse flutuar e mover-se, tal qual um fantasma pelo
ar e assim ele fez, indo em direção do caminho
bifurcado que enxergava ao longe, passando pelos obstáculos
e contemplando um dos ambientes mais estranhos que já
havia visto, onde tudo parecia pulsar e mover-se.
Escolheu
Kariel o caminho da direita. Ao penetrar alguns metros, viu
uma câmara, onde havia um imenso cubo gelatinoso. Dentro
do seu corpo transparente, haviam ossos e restos de objetos.
Supôs acertadamente o elfo que deveria se tratar de
mais uma das estranhas criaturas que habitavam o lugar. Voou
um pouco mais e pôde enxergar um outro flagelo das profundezas,
como aquele que, juntamente com seus companheiros, havia eliminado.
Não querendo desperdiçar o tempo de duração
de sua magia, voltou e decidiu percorrer o outro caminho,
desejando ter melhor sorte e encontrar algo que valesse a
pena.
Percorreu
um corredor estreito. Aos poucos, a superfície pegajosa
ia sendo substituída pela visão de um caminho
mais limpo e regular. Parecia que estava saindo daquele criatório
de estranhas criaturas. Ao chegar mais perto viu um corredor,
iluminado por algumas tochas de fogo púrpura, que retomava
a aparência civilizada dos andares inferiores. Havia
uma esquina no corredor e logo nela uma porta. Outras portas
existiam nas paredes, porém estavam mais distantes.
Kariel, verificando que não havia inimigos por perto,
dobrou a esquina e dirigiu-se então a porta próxima
e usou sua forma gasosa para passar por uma fresta entre a
madeira e o chão, recompondo seu corpo dentro de um
espaçoso, luxuoso e vazio dormitório, onde havia
estantes com livros e cristais de cores exóticas e
alguns pequenos limos, versões menores dos monstros
que havia visto momentos atrás, que passeavam pela
parede. Havia uma outra porta do aposento e Kariel passou
por baixo dela novamente, como se fosse fumaça.
Kariel
então viu que havia saído bem no meio do corredor
onde estava, próximo à entrada de outro aposento,
de onde saíam brumas azuladas. O mago foi aproximando-se,
flutuando, quase encostado no teto. Quando chegou a entrada
sem portas, desceu do ar e colocou a cabeça para dentro.
A primeira vista, viu que havia muita fumaça, mas era
possível ver vultos... havia drows no lugar.
Quando
a fumaça diminuiu, Kariel viu uma cena que o chocou.
Cerca de quinze drows, machos e fêmeas, participavam
de uma orgia sexual. O mago olhou com espanto, curiosidade
e ao mesmo tempo repulsa. Em sua sociedade, o sexo estava
intimamente ligado ao amor e o que viu aqui foi meramente
animal. Observou o elfo também em um dos cantos do
grande salão, cujo piso ostentava um desenho de círculo
púrpura com um olho solitário aberto, uma face
familiar: ladeado de duas drows de belos corpos, estava Jyslin,
o mago da Casa D´Vaer. O traidor estava revelado afinal.
Kariel deu um leve sorriso e voltava-se para retornar, mas
alguém estava à frente da porta. Era um drow
com um robe ricamente adornado em púrpura e negro,
com um símbolo, como o que existia no chão da
sala, bordado na altura do peito. A gola do robe se elevava
até o nariz cobrindo assim metade de sua face. Possuía
o cabelo curto e pontudo, segurava nas mãos um mangual
e olhava fixamente para ele.
“Adorador
de Lolth... porque não se junta a nós, como
seu colega Jyslin?”
Problemas na Caverna
Kariel
e Non haviam partido e os três membros da Comitiva estavam
próximos à grade que dava acesso ao território
dos Oorthagos. O objetivo do trio era remover o gradil da
pedra, com o mínimo de ruído possível.
Pensavam que deveriam liberar o espaço, vislumbrando
uma rota de fuga para os colegas de missão que partiram
avançados. Limiekki estava com um pino para escala
nas mãos e um pequeno martelo. Batia nas bordas da
grade, tentando desprender o ferro da pedra, ao mesmo tempo
em que prestava atenção nas rondas dos sentinelas.
“Não
adianta... os soldados, se estiverem próximos o bastante,
poderão ouvir as batidas!”, disse o mateiro,
parando o serviço.
“Tenho um encanto
para nos ajudar. Tente ser rápido depois que eu completá-lo!”,
disse Mikhail.
O
clérigo então recitou uma prece a deusa Mystra
e em seguida gesticulou para Limiekki para que este continuasse
a tentativa de desprender o gradil. O mateiro quis perguntar
se o encanto estava ativo, mas não ouviu o som de sua
própria voz. Somente havia o silêncio absoluto.
Então percebeu o efeito da prece, e começou
a bater novamente com o martelo sobre o pino de aço,
nos limites onde o ferro encontrava a pedra, sem que nenhum
ruído fosse ouvido. Alguns minutos depois, conseguiu
finalmente retirar a armação da rocha.
“Ufff!
Finalmente!”, suspirou o ranger após mover a
grade, logo depois do encanto expirar.
“Com esta passagem,
poderemos entrar em caso de problemas com os dois!”,
comentou Mikhail.
“Íamos chamar
muita atenção! Deixem que Kariel é ardiloso,
como todo mago... em breve deverá estar de volta!”,
respondeu Limiekki.
“Humpft! Em todos
os momentos meus na Comitiva nunca vi uma infiltração
que não fosse descoberta. Não duvido que dentro
em breve ouçamos o ruído de magias explodindo!”,
disse Arthos, achando que as coisas nunca são fáceis.
“Kariel será
prudente! Espero em Mystra que nada lhe aconteça!”,
Mikhail desejou.
A
conversa do trio foi breve, mas, infelizmente, suficiente
para levar ruídos para os ouvidos de um dos drows que
faziam a ronda nas proximidades das torres dos Oorthagos.
Limiekki percebeu a aproximação e então
recolocou a grade, calçando-a na pedra com o pino de
ferro. Em seguida, os três afastaram-se da passagem.
O
drow do lado de fora se aproximou da grade e forçou
suas barras, testando sua a firmeza. O pino segurou a armação,
mas o sentinela percebeu que a proteção estava
um tanto solta. Talvez não fosse nada demais, pensou,
ou... talvez não. Então chamou seu companheiro
de ronda.
“Rivelyn!
Venha até aqui!”
“Sim?”, respondeu
o soldado, aproximando-se do gradil.
“Este gradil está
quase solto... veja... está amparado somente por um
pino metálico.”, disse, mostrando.
“Vou pegar algumas
ferramentas... é melhor verificar!”, falou Rivelyn,
deixando o colega no local.
Demorou
alguns minutos e o drow retornou. Trouxe um martelo e uma
haste de ferro. Aproximou-se da grade e golpeou a base do
pino colocado por Limiekki. A grade soltou facilmente. Colocou
a cabeça para dentro da galeria, mas não enxergou
nada. Os heróis já estavam escondidos na câmara
anterior, onde haviam lutado contra o flagelo das profundezas.
“Vamos
descer para averiguar, Kasmodan... estou achando isto estranho!”
“É mesmo
necessário? Temos nossa fera lá embaixo! Não
poderíamos ver daqui mesmo!”, disse o drow relutante,
lembrando do monstro que lá vivia.
“Lembre-se que estamos
em guerra! Todo cuidado é pouco!”, respondeu
o soldado, já entrando passagem adentro.
Os
dois caminharam com cuidado e não encontraram nenhum
vestígio de intrusos, mas o drow Rivelyn quis prosseguir
até a câmara seguinte. Quando se aproximaram
da entrada, por um segundo perceberam que não ouviam
mais nenhum som, nem mesmo o de seus passos. Tentaram falar,
mas nenhuma sílaba deixava suas bocas! Mikhail havia
conjurado um encanto que impedia a propagação
do som, como já havia feito antes! Foi a senha para
a Comitiva atacar!
Arthos
se precipitou primeiro. Das sombras, surgiu rápido
e com o seu sabre desferiu um golpe preciso na garganta do
surpreso Rivelyn, que pôs as mãos no pescoço
e caiu em seguida, entregando sua alma ao seu deus sombrio.
Kasmodan ainda sacou sua espada e aparou, em um reflexo, um
dos golpes do machado de Limiekki, mas o mateiro era mais
experiente: conseguiu dar um golpe tão poderoso na
arma do adversário que a fez cair no chão e
em seguida finalizou o combate, levando embora o espírito
do drow.
Mal
terminara o embate e outras vozes vindas da câmara anterior
eram ouvidas. Gritavam o nome de Rivelyn e Kasmodan. Por certo
eram seus companheiros que os procuravam. Não tardaria,
sabiam os espiões da Comitiva, para uma patrulha seguir
o caminho dos dois desafortunados drows que acabaram de sucumbir.
Arquitetaram rapidamente um plano. Arthos despojaria um dos
inimigos mortos e vestiria seus trajes, fazendo como se estivesse
ferido, atraindo então a atenção da patrulha,
enquanto seus companheiros, escondidos, tentariam um ataque
surpresa. Então, assim fizeram.
Eram
quatro drows. Enxergaram Arthos e vieram acudi-lo. Eis que
Mikhail entrou em ação. Orou à sua deusa
e o efeito do encanto divino se processou: colunas de chamas
partiram do solo, envolvendo os inimigos, que morreram instantaneamente.
O perigo passara... pelo menos por enquanto.
Uma Batalha Perdida
Kariel
não havia percebido que num canto obscuro da sala estava
um trono, e nele repousava o senhor da casa, Orgoloth Oorthagos.
Ele se levantou e bloqueou a saída ao qual Kariel pretendia
passar. Orgoloth fez uma proposta e encarou Kariel. Seus olhos
exigiam uma resposta do convite que havia feito. Kariel foi
pego de surpresa. Era metódico e planejador. Não
era muito afeito a improvisos, mas teria que responder.
“O
que ganho eu em ser um traidor?”
“Prazer e liberdade.
Não servirá mais a sua matrona e deusa estúpida!
Aqui libertará o animal que existe em você! Não
será mais subordinado. Fará o que quiser na
hora que quiser!”
“Está bem.
Ficarei aqui e abandonarei a minha casa!”, disse Kariel,
que na verdade queria apenas ganhar tempo para fugir. Contudo
Orgoloth não era nem um pouco ingênuo, percebeu
ele rapidamente que o elfo disfarçado de drow tentou
enganá-lo, pois sabia ele que ninguém abandonaria
um deus tão rápido. Porém queria ele
intimidar mais um pouco o intruso.
“Então cancele
o encanto!”, pediu Orgoloth, se referindo ao feitiço
que tornava Kariel intangível.
Kariel
então cancelou o encanto, mesmo receoso do que isto
poderia acarretar.
“Ótimo!
Agora abra sua mente para mim. Meu relacionamento com os demais
é baseado na verdade, por isso terei que sondar você!
Não lhe farei mal.”
Orgoloth
começou, suavemente, a gesticular e proferir estranhas
palavras. Kariel então temeu pela verdade revelada.
Não somente o fato de ser um espião, mas também
de não ser um drow, ou pior, do inimigo descobrir o
verdadeiro motivo pelo qual ele e seus companheiros resolveram
arriscar suas vidas no sinistro mundo do Subterrâneo.
Então, resolveu fugir. O sacerdote de Ghaunadaur virou-se,
enquanto o mago se afastava.
“Não
devia ter feito isto!”, disse enquanto apontou o dedo
para o mago fugitivo.
De
suas mãos partiu um raio púrpura que atingiu
Kariel, mas que não lhe causou nenhuma injúria.
O mago da Comitiva sabia, graças aos seus estudos das
artes mágicas, que aquele encanto lançado sobre
ele não permitiria que deixasse aquele lugar através
de meios místicos. O ataque do clérigo iniciou
então uma fantástica batalha de magia, disputada
lance a lance, como se fosse um jogo de xadrez.
Kariel
revidou em um feitiço, que fez sair das suas mãos
uma descarga elétrica que atingiu o adversário
e que, em seguida, ricocheteou até encontrar o corpo
de alguns drows que estavam no salão, que caíram
desacordados. O clérigo sentiu o choque elétrico,
mas este não lhe causou nenhum dano grave. Foi a vez
do revide: lançou um encanto no intuito de imobilizar
o mago, mas Kariel resistiu e nada aconteceu. A resposta do
elfo foi a conjuração de um relâmpago,
que atingiu o seguidor de Ghaunadaur, desta vez causando alguns
ferimentos. E em seguida, Kariel acionou o seu elmo da invisibilidade,
desaparecendo e deslocando-se rumo ao corredor que antecedia
a sala.
Rápido,
Orgoloth lançou outro encanto e colunas de chamas,
semelhantes as que eram invocadas por Mikhail, rodearam a
área onde Kariel estava, pouco antes de desaparecer.
O mago feriu-se, mas prosseguiu. Kariel criou com um feitiço
uma muralha de fogo para isolar-se do adversário, o
que o fez ficar novamente visível, e seu oponente criou
outra, de pedra, que bloqueou a passagem para a sala onde
habitavam as feras gelatinosas. Havia no caminho uma porta,
para o aposento que havia vistoriado pouco antes. Kariel deu
um forte chute na altura da fechadura, arrombou-a e entrou
no quarto. O clérigo o seguiu.
Assim
que o inimigo apontou no aposento, um projétil de fogo
criado pela magia do arcano da Comitiva partiu para explodir
em chamas sobre o seu oponente, que sentiu dores e ferimentos,
mas continuava de pé. Devolveu, conjurando uma nuvem
de gafanhotos que comandou em direção a Kariel.
Este gerou imediatamente um círculo de fogo em volta
de si, incinerando os insetos invocados. O rosto do drow da
Casa Oorthagos mostrou descontentamento por ver seus ataques
respondidos pelo intruso. Assim como Kariel, o sacerdote estava
ferido, mas possuía um trunfo que o mago da Comitiva
da fé não dispunha. Executou um encanto e a
maioria dos seus ferimentos se fechou, depois de ser percorrida
por uma tênue luz azulada. Kariel percebia sua clara
desvantagem, Já havia utilizado grande parte de seu
arsenal de encantos e os ferimentos começavam a drenar
suas forças. Tudo que queria agora era ganhar tempo
até que o pernicioso encanto que o prendia àquele
lugar expirasse. Assim poderia teletransportar-se dali com
a preciosa informação. Então tentou e
conseguiu por abaixo outra porta que havia no cômodo
e assim que o deixou, rumo ao corredor, tocou novamente seu
elmo da invisibilidade, desaparecendo mais uma vez. Kariel
então ficou imóvel, tentando não fazer
nenhum tipo de ruído, escondendo-se do seu perseguidor.
Orgoloth
deixou o quarto, que por sinal era o seu próprio dormitório,
olhou para os lados e não viu o mago drow que procurava.
Andou vagarosamente, girando seu mangual. Viu alguns outros
drows, que haviam deixado a sala enfumaçada e observavam
no corredor a luta que acontecia.
“Ajudem-me.
O intruso está invisível!”
Os
outros começaram a vasculhar. Não levaria muito
tempo até que o mago fosse encontrado. Então
Kariel sacou sua espada Goliath e partiu para atacar o inimigo,
em um combate corpo a corpo. Era o que lhe restava.
O
primeiro golpe projetado para decapitar o oponente feriu-lhe
apenas na altura do ombro. Talvez fosse fatal, se o astuto
drow não houvesse percebido o ruído do deslocamento
repentino de Kariel. Então trocaram ataques. Espada
versus mangual. O sacerdote de Ghaunadaur fez valer sua superioridade,
e fez cair a espada do enfraquecido mago da Comitiva da Fé.
“Você
foi superior!”, disse Kariel, admitindo sua derrota.
“Seu idiota. Ofereci
minha sinceridade e você a negou. Agora irá sofrer!”
Orgoloth
girou os cravos de seu mangual e aplicou um poderoso golpe
na cabeça de Kariel. Os cravos penetraram em sua pele
e a força do golpe o fez perder vários dentes.
O mago caiu inerte no chão ensangüentado, só
não morto por milagre de sua deusa, talvez. Os drows
que auxiliavam o clérigo vencedor arrastaram o corpo
do inconsciente arcano para um local ignorado.
Fuga Inglória
Arthos,
Limiekki e Mikhail já aguardavam por quarenta longos
minutos, receosos. Limiekki quebrou o silêncio.
“Já
faz muito tempo que se foram. Será que foram capturados
ou mortos? Neste caso, temos que sair... não temos
como resgatá-los.”
“Não podemos
deixar Kariel aqui!”, disse Arthos.
“Estou preocupado
com ele também, mas temos que admitir que Limiekki
tem razão. Kariel possui meios de deixar este lugar
e se mais tropas chegarem não teremos como vencê-las!”,
ponderou Mikhail.
“Vamos aguardar
um pouco mais!”, pediu Arthos e seus amigos concordaram.
Passou-se
mais uma hora e a situação começou a
ficar insustentável. Não havia nenhum sinal
de Kariel ou Non, e parecia que uma movimentação
militar mais intensa acontecia na saída daquele subterrâneo.
“Não
podemos mais aguardar. Morreremos se tivermos que enfrentar
todo o exército da Casa Oorthagos!”, colocou
Limiekki.
“E há a possibilidade
de nos cercarem no ponto de entrada deste complexo. Temos
que sair, ou pereceremos em vão!”, completou
Mikhail.
“Está certo!
Vamos retornar e depois planejaremos um resgate!”, teve
Arthos que concordar com o óbvio.
Os
três então começaram a retornar, de volta
para o poço de onde tinham entrado naquela galeria
de cavernas. A decisão foi tomada na hora exata: ainda
puderam ver oito drows entrando pela passagem quando deixavam
a câmara.
“E
agora? Parece que vamos ter que lutar novamente!”, falou
Limiekki, já no salão anterior.
“Tenho um encanto!
Escondam-se e não olhem para mim!”
Limiekki
e Arthos não questionaram o amigo, que ficou parado,
incompreensivelmente, no centro da sala. O primeiro dos soldados
da Casa Oorthagos avistou Mikhail e chamou seus pares. Os
oito correram então na direção do imóvel
clérigo de Mystra com suas espadas e maças nas
mãos. Mikhail apontou-lhes o seu martelo, o lendário
Destruidor de Tempestades da cultura anã, e concentrou-se.
Um raio de luz tão intenso que iluminou toda a galeria
cavernosa onde estavam seguiu na direção dos
soldados. A luz intensa feriu os olhos sensíveis dos
drows, que gritaram. Dos oitos, seis ficaram cegos e desmaiaram.
Dois conseguiram proteger-se a tempo. Os últimos partiram
para o ataque, investindo com velocidade na direção
de Mikhail. Mal sabiam, porém, que o clérigo
não estava sozinho: Arthos e Limiekki saíram
das sombras e os atacaram com a vantagem da surpresa. Não
houve troca de golpes desta vez. Os dois caíram mortos.
Os heróis da Comitiva então executaram os drows
cegos e partiram o mais rápido que puderam para o poço
por onde haviam entrado.
Depois
de alguns minutos, chegaram em fim nas proximidades da passagem
aberta na parede do antigo poço. Porém, o receio
de Mikhail se tornou realidade.Uma corda balançava
e ouviam-se o ruído de vozes. Havia drows preparando-se
para descer e investigar os desaparecimentos. Os companheiros
da Comitiva decidiram enfrentar os inimigos do lado de fora
e assim Arthos pulou para corda e subiu. Nas ruínas,
acima do poço, viu, pela graça de Tymora, que
havia apenas dois soldados da Casa Oorthagos.
“Ei!?
Quem é você!?”, questionou um dos drows,
olhando desconfiado para Arthos.
O
espadachim não disse nada. Apenas atacou com seu sabre.
Executou um golpe perfeito e matou o drow que ainda preparava-se
para sacar a espada da bainha. O outro trocou golpes com Arthos,
enquanto Limiekki e Mikhail subiam também para se juntar
ao companheiro. Com o auxílio do mateiro, o inimigo
foi eliminado. Puseram-se a correr, na direção
onde se encontrava oculta a nau voadora. Ansiavam agora para
falar com Storm sobre o insucesso daquela missão e
do desaparecimento de Kariel.
Chegaram
próximo ao local e olharam para o alto. Não
era possível ver a embarcação. Como fariam
para chamar a nau? Nas demais vezes, o elo mental de Kariel
com Storm havia solucionado a questão, mas o mago não
estava mais presente. Limiekki resolveu acender uma tocha
e sinalizar. Por sorte, o pequeno Bingo olhava para baixo
naquele momento e comunicou a Storm. Momentos depois, a nau
desceu do negro e alto teto da caverna e os três embarcaram.
Storm os recebeu, demonstrando grande preocupação.
“Onde
está Kariel?”, perguntou a Barda do Vale das
Sombras.
“Ele penetrou junto
com Non em uma torre dos Oorthagos e não retornou mais.
Ficamos aguardando, mas a situação se complicou
e tivemos que retornar!”, relatou Limiekki.
“Lutamos contra
vários drows. Se ficássemos, morreríamos!”,
completou Arthos.
“Mas ele não
deu nenhuma notícia, nenhum sinal? O disfarce mágico
terminará em oito horas!”, quis saber novamente
a mulher de cabelos prateados.
“Não. Lamento
dizer isto, mas é possível que ele esteja morto!”,
falou o Limiekki.
Tais
palavras provocaram um silêncio de tristeza naqueles
que tinham o elfo como um bom e leal amigo, além de
companheiro de aventuras. Silêncio quebrado pelo brado
do pequeno Bingo.
“Não
diga bobagens! Ele está vivo em algum lugar por lá!”
“Sim! E vamos resgatá-lo,
de qualquer forma!”, falou Arthos.
“Vamos eu, Arthos,
Mikhail e Bingo... poderíamos usar a nau para passar
pelas defesas!”, disse Mikhail.
“Esperem... talvez
haja uma maneira! Aguardem aqui por favor!”, pediu Storm,
que chamou Danicus e fechou-se na cabine do barco voador.
O Despertar
Kariel
novamente via a grande árvore edhelborn, de flores
e frutos dourados, plantada no centro do pequeno reino do
qual era príncipe. Estava lá seu pai, sua irmã,
seu filho e amigos. Finalmente sentia o vento, o canto dos
pássaros e estava em paz. Porém, de repente,
sentiu na face o frio de um líquido arremessado em
seu corpo e abriu os olhos, despertando do sonho.
Vivia,
por pequena margem, e sentia muitas dores. Estava preso a
parede de uma pequena e escura sala pelos braços e
pelas mãos. Em sua frente, três drows: um desconhecido,
que havia lhe atirado água e ainda estava com um balde
nas mãos, Jyslin, o mago traidor dos D´Vaer,
e Orgoloth. Então este último falou:
“Estranho,
você não está morto porque deve explicar
algo sobre os seus pertences. Alguns deles emanam uma energia
poderosa e desconfortável. Quero que explique a origem
deles e que aura é esta que eles possuem. É
um seguidor de Eilistraee?”, disse exibindo os objetos
de Kariel, postos em uma mesa.
Kariel
queria falar, não para responder ao clérigo,
mas para comunicar à Storm, através de sua ligação
telepática de Escolhido, o nome do traidor e completar
a missão, mas não conseguiu falar nada, só
conseguia tossir. Jyslin ambicionou a espada de Kariel e segurou
sua empunhadura. Um grande erro: a espada provocou uma exaustão
imediata no arcano drow, como se tivesse roubado um pouco
de sua energia vital. O mago, ofegante, então deixou
a espada na mesa e não mais se atreveu a tocá-la.
Dois
soldados entraram e trouxeram Non, desacordado e bastante
ferido. O acorrentaram ao lado de Kariel e partiram em seguida.
O
drow que havia molhado Kariel agora segurava algumas estranhas
e pontiagudas ferramentas. Segurou firme em uma das mãos
do Escolhido de Mystra e introduziu uma fina lâmina
sob a pele de seus dedos, fazendo-lhe gritar.
“Diga,
intruso! Que itens são estes? Quem é você
realmente?”
Naquele
instante, algo aconteceu. Um repentino e silencioso brilho
dourado surgiu dentro da sala e, quando se foi, deixou cinco
drows, na verdade, Storm, Magnus, Mikhail, Arthos e Limiekki.
Assim que apareceu, Storm conjurou um sortilégio sobre
Orgoloth e ele sentiu imediatamente que magia nenhuma o protegia
mais. Magnus partiu para atacar Jyslin. O poderoso paladino
atingiu o mago com duríssimos golpes, antes que este
pudesse invocar qualquer feitiço, e destroçou
seu corpo fazendo-o em pedaços. Arthos fez o mesmo
com o torturador e o aniquilou, perfurando seu coração
com a Lâmina das Rosas. Já Limiekki e Mikhail,
trocaram golpes com Orgoloth. O adversário, que já
havia gastado seu repertório de encantos na recente
luta contra Kariel e conservava alguns ferimentos, ofereceu
pouca alguma resistência com seu mangual, mas foi o
machado de Limiekki que selou o seu destino, o decapitando.
Retiraram
então Kariel e Non das correntes. Mikhail ministrou
sua cura divina, recuperando uma parte da vitalidade do amigo,
fazendo-o recobrar-se.
“Vocês
vieram!? Mas como!?, perguntou Kariel, que conseguiu de volta
a capacidade de falar.
“Isto não
importa agora! Temos que sair daqui imediatamente!”,
respondeu Storm. “Criarei
um teleporte para retornar à nau. Kariel, faça
o mesmo para sair deste lugar e levem o drow desacordado com
vocês!”, orientou a barda.
Em
seguida, Storm gesticulou e pronunciou as palavras mágicas
do feitiço e, assim como chegaram, partiram ela e Magnus.
Kariel pegou seus pertences e vestiu seu traje de mago. Recitou
o mesmo sortilégio e desapareceu junto com Mikhail,
Arthos, Limiekki e Non.
Os
quatro últimos foram para o ponto onde haviam encontrado
o drow da Casa D´Vaer, algumas horas atrás. Non
recebeu um pouco da cura divina de Mikhail e, após
algum tempo, despertou.
“O
que aconteceu? Onde estamos!”, perguntou, ainda desorientado.
“Estamos no ponto
de encontro. Resgatamos você e Karelist do feudo dos
Oorthagos!”, respondeu Limiekki.
“E o traidor!?”,
quis saber.
“Jyslin está
morto!”, disse Kariel.
“Aquele maldito!”,
praguejou o drow enquanto levantava-se. “Tenho que avisar
minha senhora. Orgoloth poderá preparar um ataque em
represália!”
“Se Orgoloth for
o clérigo com ares de chefe, ele também está
morto!”, acrescentou Arthos.
“Como?! Mataram
Orgoloth, o líder dos Oorthagos? Vocês três?”,
falou, incrédulo, Non.
“Sim. Vocês
demoraram de sair e então invadimos o lugar!”,
mentiu Limiekki, intimamente divertindo-se.
“Por Lolth! Subestimei
o poder de vocês! São incríveis assassinos!
De qualquer forma, agradeço. Tenho que ir. Devo contar
à matrona o que aconteceu e deixar a Casa preparada
para uma eventual represália. Nos veremos novamente!”,
disse o drow, acenando com a mão direita e desaparecendo
nas sombras das ruas escuras.
Algumas
horas mais tarde, os heróis da Comitiva da Fé
estavam reunidos na nau voadora, a maioria deitada em suas
camas, descansando. Estavam em suas aparências normais
e mais uma vez eram elfos e humanos. Curas haviam sido administradas
e os ossos e dentes partidos de Kariel, por conta dos poderes
concedidos a ele pela deusa Mystra, voltavam aos poucos a
se regenerar. Porém sua maior ferida não estava
no corpo, mas na alma. A derrota fez-lhe menos confiante em
suas capacidades e o entristeceu profundamente. O elfo, ainda
que não se sentisse bem consigo mesmo, deslocou-se
até Storm Mão Argêntea, que estava pensativa
em uma poltrona. Queria perguntar-lhe algo.
“Como
me encontrou?”
Storm apontou para uma bacia cheia d´agua e sorriu.
“Não compreendo?!”
Então a barda explicou-lhe.
Momentos após receber a notícia do desaparecimento
de Kariel, ela e o professor Danicus trancaram-se na cabine
da nau. O acadêmico, que também tinha dons místicos,
encheu uma tina e sobre ela conjurou um feitiço. O
espelho d´água mostrou a imagem do elfo acorrentado
e da sala onde estava. Storm observou atentamente, chamou
alguns companheiros e realizou um teletransporte, enquanto
mentalizava as imagens vistas, orando a Mystra para tivessem
a graça de chegarem realmente ao lugar certo. Tiveram
muita sorte, afinal. Os deuses lhes foram bondosos, pelo menos,
por hoje.
Então
todos deitaram e dormiram. Havia um ataque planejado para
o dia seguinte, desta vez, a Casa Aercelt seria o alvo.
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