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Viagens na Superfície
Descrita por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens principais da aventura:
Os
Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound
(Limiekki). Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor.
O Halfling: Bingo Playamundo. Participação
Especial: Storm Mão Argêntea e os gnomos
da vila Stormpenhauer.
Últimas Viagens na Superfície
Gnomos
na Caverna da Comitiva
Era
manhã e o sol mal começara a subir rumo ao zênite,
quando Kariel, que deixava a casa do amigo Kelta e estava
no início da estrada para o Norte, onde encontrou seus
companheiros William Magnus, o paladino de Helm, e o guerreiro
Sirius, que vinham logo atrás, com onze gnomos, de
cerca de um metro de altura, carregados de mochilas e apetrechos
diversos. Foi uma sorte, pois mais agradável é
a viagem que se pode fazer com companhia. A jornada foi mais
lenta, pois não haviam cavalos para todos os pequenos,
mas nem por isto foi mais penosa. Conversaram e se divertiram
com os diminutos e alegres trabalhadores, que, vez em quando,
cantavam músicas engraçadas e contavam piadas.
Assim,
de maneira tranqüila, venceram as horas e ao final da
tarde, quando a primeira estrela começava a brilhar,
chegaram à entrada secreta do Monte da Adaga.
Enquanto o trio se aproximava,
lá, dentro da caverna, estava Arthos, diante da cabine
de comando da nau voadora. Admirava o estranho e empoeirado
capacete que jazia sobre uma das poltronas de controle. Sentou-se
e, como não tinha muita prudência, experimentou
o equipamento. Da grande janela de vidro, que ficava a frente
e que mostrava a proa da embarcação, Arthos
pode ver tudo, como se fosse em plena luz do dia. A escuridão
foi totalmente afastada. Não conseguia distinguir as
cores, tudo que via era em tons de cinza, mas não deixava
de ser fantástico o efeito que experimentava naquele
momento. Retirou o capacete. Tentou bisbilhotar um pouco mais
para ver se conseguia algum modo de fazer a embarcação
se mover, mas não conseguiu nada. Desistindo, temporariamente,
de seu “brinquedo”, Arthos foi até a cozinha,
onde Bingo preparava uma sopa.
“E então
Bingo? E esta comida? Sai ou não sai?”
“Podia sair mais
rápido se você me ajudasse. Só aparece
por aqui quando sua barriga começa a reclamar!”
“Não diga
isso, pequeno. Eu vim aqui para...”
Arthos interrompeu sua
fala ao ouvir um barulho. Pareciam passos e vozes, muitas
vozes. Junto com Bingo deixaram a cozinha e atentos foram
para a grande sala que dava acesso aos quartos. Viram Limiekki,
com uma espada nas mãos, esperando por quem fosse cruzar
o corredor, preparado para o ataque.
Logo viram Kariel, Sirius
e Magnus, e os onze diminutos trabalhadores da vila de Stormpenhauer.
“Sejam bem vindos!”,
saudou Limiekki. “Chegaram bem na hora em que a sopa
de Bingo começou a cheirar!”
“Amigos! Este são
os nossos habilidosos trabalhadores de Stormpenhauer: Madarn,
que já conhecemos, Smoul, Tharvin, Melvrith, Antenion,
Erbaren, Gwidow, Strompa, Aldo, Boras e Obinus ”, disse
Sirius, apresentando os pequenos.
Os gnomos retiraram suas
mochilas, assim como dezenas de ferramentas e objetos para
construção, e colocaram no chão. Arthos
então aproximou-se de Madarn, com o qual fez amizade
quando estiveram na Floresta das Aranhas.
“E aí, Madarn?
Quando é que podemos beber juntos novamente?”,
disse batendo, apertando a mão do robusto gnomo.
“Quando quiser!”,
respondeu o pequeno, sem sequer perceber que Arthos havia
se transformado de elfo para homem.
Não demorou muito
e estavam Madarn, Arthos, Sirius e Limiekki, sentados em volta
de uma mesa, com cartas de jogo e um garrafão de vinho.
O gnomo, por sinal, levantava uma caneca maior do que as do
demais, quase do seu próprio tamanho, que havia retirado
de sua mochila.
Enquanto estes despreocupados
jogadores se divertiam, Kariel e Magnus levavam os demais
gnomos pelos cômodos do complexo cavernoso. Tharvin,
que parecia ser o chefe daqueles construtores, pedia por sugestões
aos dois aventureiros da Comitiva da Fé e aqueles que
eram seus dois auxiliares, o jovem e ruivo Aldo, e o bigodudo
Erbaren, anotavam imediatamente cada palavra proferida em
resposta. O mago e o paladino sugeriram a construção
de portões que isolassem a saída em direção
ao Subterrâneo pelo porto e a entrada principal da caverna,
algum tipo de sistema que levasse água do poço
às casas de banho e que fosse feito alguma mudança
que tornasse aquela caverna menos escura, coisa que incomodava
particularmente Kariel, que detestava viver longe da luz do
dia e distante das árvores da floresta.
Uma hora depois, estavam
todos reunidos no salão central, pelo quem se dava
acesso aos quartos e cômodos. Tharvin ainda recolhia
dos outros membros da Comitiva todas idéias que tinham
sobre as modificações a serem realizadas naquele
local. Entre muitas propostas, escreveu a descrição
de Mikhail sobre o templo que dedicaria aos diversos deuses
da Comitiva, enquanto Sirius lhe sugeriu uma escada esculpida
em pedra, que os levasse ao topo da montanha. Foi quando chegou
a janta.
Não haviam cadeiras
para tantas pessoas (e de tamanhos tão variados), e
muitos sentaram nos degraus para experimentar um pouco da
boa comida do pequeno Bingo, que havia preparado um cozido
e sopas diversas. Após comerem, a Comitiva levou Madarn
e Tharvin, que estava com seus dois ajudantes, para a mesa
da sala de reuniões.
“Anotei as sugestões
de vocês e acredito que possamos fazer boas coisas aqui.
Porém temos que realizar alguns cálculos, algumas
análises sobre do que precisamos para realizar a obra.
Amanhã apresentaremos o orçamento.”, disse
Tharvin.
“Aproveito para
avisá-los que estamos de partida. Em breve teremos
que seguir em uma missão, mas os deixaremos aqui para
prosseguirem na reforma. Proveremos vocês do que precisarem!”,
disse Kariel.
“Ninguém
ficará aqui?”, perguntou Tharvin.
“Kariel... não
poderíamos deixar algum antigo membro da Comitiva aqui
para acompanhá-los? Que tal aquele seu amigo Kelta,
de que falam em tantas aventuras?”, sugeriu Limiekki.
“Kelta?! Coral o
mataria e a mim também se ele aceitasse uma sugestão
destas!”, disse Kariel, sorrindo, afastando a hipótese
de convocar o aventureiro aposentado.
“Talvez Lorde Randal
possa oferecer alguma segurança.”, colocou Arthos.
“Sim. Esta é
uma boa idéia! Estamos em terras do Vale da Adaga e
quando estivemos com Randal Morn ele nos ofereceu colaboração.
Acho que podemos contar com uma ajuda nisto.”, comentou
Magnus, apoiando a idéia do ruivo amigo.
“Então vamos
dormir, meus companheiros! Meu estômago está
pesado e o vinho está fazendo efeito. Amanhã
conversamos mais!”, disse Madarn.
Resolveram terminar esta
reunião com esta frase, e assim foram para os seus
quartos, descansar enquanto a noite passava.
Pela manhã, estavam
todos fazendo seu desjejum matinal. Felizmente, Magnus, Kariel
e Sirius haviam trazido mantimentos de sua viagem, em adição
a comida que os drows haviam deixado na despensa, e Bingo,
que mostrava a habilidade de um bom cozinheiro, pôde
preparar uma refeição saborosa. Comeram um tipo
de bolinho halfling, beberam chá e suco de framboesa,
e comeram batatas cozidas com manteiga. Naquele dia, os elfos
(e também Arthos) relembraram o sabor dos mágicos
pães élficos, e desejaram comer novamente daquela
especial iguaria. Tharvin, que comia sentado em um dos degraus
do salão, bem próximo a onde a Comitiva estava
sentada, fez uma pequena pausa e olhando para as anotações,
disse:
“Senhores... analisando
o tamanho do ambiente, a estrutura dos cômodos, as superfícies,
as modificações sugeridas, o material adequado...
enfim... fiz uma estimativa dos custos. Para aumentar a iluminação
desta caverna, revestiremos o piso e as paredes uma pedra
de cor clara e resistente. Sugiro granito branco. Precisaremos
de no mínimo mil metros quadrados. Isto sairia no mínimo
por 12.000 peças de ouro e...”
“Doze mil?”,
espantou-se Arthos.
“...continuando”,
cerca de 1.300 peças de ouro em madeira, 6.200 peças
de ouro em argamassa e umas 3.000 em ferro.”
Alguns da Comitiva, especialmente
Sirius, Bingo e Limiekki, nunca haviam visto tanto dinheiro
e uma quantia daquelas soava como completamente absurda. Deixaram
até o apetite de lado, somente para imaginar tal soma.
A Comitiva então parou e fez as contas. Graças
ao espólio dos drows, tinham recursos suficientes e
poderiam pagar pela reforma. Apesar do aparentemente grande
valor, Magnus, que entendia um pouco de construções
por ter iniciado a edificação de uma catedral
dedicada ao seu deus, Helm, no Vale das Sombras, considerou
o preço justo, dado a grandiosidade da tarefa dos gnomos.
“E o pagamento pelo
serviço de vocês?”, quis saber Mikhail.
“Bom... isto eu
não calculei ainda.”, respondeu Tharvin, antes
de morder uma batata, “mas...”
O gnomo fez então
uma misteriosa pausa:
“Err... mas o quê?”,
perguntou Sirius.
“Vocês são
aventureiros e viajam por muitos lugares. Se, por acaso, me
conseguirem o Manual Definitivo da Construção,
posso fazer tudo sem cobrar por nossa mão de obra!”
“E onde encontramos
tal manual?”, falou Limiekki, apressado.
“Sei que ele existe
nas terras de Lantan, bem ao sul de Faerûn! Sempre quis
viajar para lá, mas nunca tive chance.”
“Pelas barbas de
Elminster! Conheço um gnomo de Lantan. Chama-se Gilbert.
Ele é escritor e andou comigo em uma aventura que tivemos
em Cormyr. Hoje ele é um dos guardiões do jovem
Azoun V. Talvez ele tenha tal livro!”, lembrou-se Arthos
do amigo.
“Para transportar
este material todo com rapidez e conseguir este livro, acho
que só mesmo com a nau voadora.”
“Sim, Mikhail!”,
bradou Sirius mais alto, “Mas, pelos deuses, lembre-se
que ninguém sabe pilotar aquela coisa!”
“Um instante...”,
interrompeu Tharvin. “Que negócio é este
de que estão falando? Nau voadora?”
“Sim. É uma
embarcação especial, que voa movida por magia,
que temos no porto que serve a este complexo. Infelizmente
não temos o conhecimento necessário para utilizá-la.”,
explicou Kariel.
Os olhos de Tharvin e
de seus inseparáveis ajudantes arregalaram-se.
“Uma nau voadora!
Podemos vê-la?”
“Claro que sim!
Vamos até lá!”, respondeu Arthos.
E assim foram Tharvin,
Aldo e Erbaren, juntamente com os demais membros da Comitiva,
exceto Bingo, que continuou comendo. Assim que chegaram no
porto, ficaram boquiabertos e soltaram coletivamente uma interjeição
de espanto. Assim, maravilhados como estavam, somente Arthos
havia ficado.
“Que linda! Podemos
entrar? Queremos examiná-la!”, pediu Tharvin.
“Por favor!”,
respondeu Arthos, mostrando com um curvar de braços
a rampa de entrada da embarcação.
Os gnomos embarcaram e
então olhavam atentos. Bateram na madeira para descobrir
sua densidade, tocaram no tecido das velas para perceber a
textura, procuraram por algum mecanismo e até pularam
no convés, testando o balanço e equilíbrio
do barco.
“É realmente
maravilhosa!”, disse Tharvin, voltando-se para os aventureiros
que assistiam a euforia dos gnomos, de pé, no convés.
“É tão bem construída! Deve ter
sido obra de um gnomo! Como conseguiram isto?”
“Pertencia aos nossos
inimigos, os drows.”, respondeu Kariel.
“Estes drows são
bem ardilosos mesmo! Bem... se pudéssemos usar este
barco, poderíamos buscar tudo que precisamos e até
ir a Lantan!”
“Aguardamos alguém,
uma heroína chamada Storm Mão Argêntea.
Ela virá com um condutor para o barco. Se tivermos
algum tempo, poderemos usar a nau para esta finalidade.”
“Espero que sim!
Quem sabe assim poderia dar um passeio nesta beleza!”
Depois de admirarem por
mais um tempo (e colocarem o capacete de comando, que permitia
ver na escuridão, a pedido de Arthos), os três
gnomos voltaram ao salão, acompanhados da Comitiva.
Lá ficaram fazendo mais cálculos e desenhos
sobre as obras, enquanto os demais arrumavam as coisas e exploravam
os cômodos da caverna. E assim passou o dia, até
que, do lado de fora da caverna, o céu ficou escuro
e estrelado.
A Nau se Move
O
manto negro da noite trouxe consigo um ruído de passos.
A Comitiva preparou-se novamente para o pior. Felizmente,
novo alarme falso. Conheciam bem a invasora, Storm Mão
Argêntea. Vinha a barda do Vale das Sombras com o professor
Danicus e seu auxiliar Klerf, e um desconhecido elfo de trajes
nas cores negra e dourada, cabelos louros e compridos, à
altura do ombro. Tinha um semblante altivo e sério.
“Saudações,
Comitiva! Vim o mais rápido que pude.”, Storm
virou-se para o elfo, de feições sérias,
“Senhores, este é Arnilan Beldusyr, um dos melhores
pilotos de Evereska!”
A
Comitiva saudou o novo companheiro e deu-lhes as boas vindas.
“Gostaria
de agradecer-lhes pelo que fizeram em minha cidade. Vim como
voluntário e darei minha vida se necessário!”
“Agradecemos
sua dedicação!”, respondeu Kariel.
“E
então, Arnilan?”, disse Arthos, “Sabe pilotar
naus voadoras?”
“Sim.
Já pilotei vários modelos.”
“E
um modelo drow? Já andou em um deles também?”,
continuou o ex-elfo.
“Não,
na verdade não. Mas acredito que posso tentar. Peço
que levem-me até a embarcação.”
“Depois,
retornem, por favor!”, pediu Storm. “Temos que
assuntos a discutir.”
E
se foi novamente a Comitiva em direção ao porto,
a fim de mostrar a nau para o esperado condutor, a exceção
de Bingo, que permanecia comendo, de Magnus, que acompanhou
Storm e de Limiekki, que preferia ficar com os pés
no chão. Apesar de já terem feito o mesmo percurso
na manhã com os gnomos, desta vez havia muito mais
curiosidade e satisfação no ar. Esperavam finalmente
ver aquele veículo flutuante se mover. Ao chegar no
ancoradouro iluminado por tochas, Arthos , que estava a frente,
levou Arnilan para o convés. Diferente dos gnomos,
o elfo não esboçou nenhuma sensação
de espanto ou euforia. Apenas ajoelhou-se, observou as emendas
das tábuas e tocou a madeira empoeirada. Ergueu-se
e olhou as velas barbatanas e parou um instante.
“E
então? Esta nau drow é muito diferente das que
você está acostumado?”, quis saber Arthos.
“Esta
não é uma embarcação drow. Provavelmente
é trabalho de mãos humanas. Ouvi dizer que os
humanos de Halruaa ainda fazem estas naus. Pode ser também
um antigo modelo netherese. Dizem que neste extinto reino
humano também se fabricavam tais embarcações.”
“Poderia
satisfazer minha curiosidade... como se faz para mover esta
nau?”, perguntou Mikhail ao seu conterrâneo e
também um elfo dourado.
“Através
de controle mental. O piloto deve aprender a se vincular com
a magia que existe neste navio. Lhes mostrarei.”, disse
Arnilan, dirigindo-se para uma das duas grandes poltronas
que ficavam na cabine de comando, seguido pela Comitiva. Sentou-se
e colocou o capacete. “Este dispositivo é netherese,
sem dúvida.”, avaliou.
Em
seguida, procurando com as mãos sob o acento da poltrona,
encontrou uma pequena alavanca. Puxou-a. Na proa da nau, no
alto do seu casco, abriu-se um compartimento, revelando uma
gema que emitia uma forte luz amarela, que iluminou o espaço
em frente por dezenas de metros, como um farol. A Comitiva
estava impressionada.
“Sabem
como os drows conseguiram esta nau?”, perguntou Arnilan.
“Não.
Estava aqui quando chegamos. Havia também outra, bem
menor e diferente, em forma de aranha, na qual fugiu um de
nossos inimigos.”, informou Kariel.
“Se
os drows têm esta tecnologia, é provável
que tenham, no passado, encontrado as naus nethereses e descoberto
como construí-las.”
Arnilan
encontrou um compartimento no recosto do braço da poltrona
em que estava e o abriu. Dentro dele, uma pequenina alavanca.
Acionou-a e parte do piso, a frente da poltrona vazia ao seu
lado, abriu-se. De baixo veio subindo um timão, que
parou bem no lugar adequado para o manuseio de um segundo
condutor.
“Este
é o direcionamento do leme da embarcação.
Precisarei de um co-piloto.”, falou Arnilan.
“Eu...
eu!”, disse Arthos, logo sentando na poltrona e segurando
nos manches do timão.
“Está
certo. Você dará a direção. Aguarde!”
O
elfo de Evereska olhou para um ponto fixo e concentrou sua
mente. A embarcação começou a se mover
para o alto. Arnilan, após subir, manobrou a nau um
pouco para trás, até estar sob a cratera que
existia acima da caverna. Os passageiros olharam as estrelas
e forma se aproximando, até que estavam completamente
no céu e acima do Monte da Adaga. O piloto fez a nave
acelerar e esta desenvolvia boa velocidade. Pediu para que
Arthos colocasse o timão para a direita e, assim, aos
poucos, foram contornando a montanha, até chegarem
ao mesmo ponto onde partiram.
“Acho
prudente descermos agora. Deixemos os testes para depois.
Temos uma reunião com Storm.”, lembrou Kariel.
“Mas...
por Corellon! Onde está a entrada por onde passamos?
Ela desapareceu completamente!”, espantou-se Arnilan.
“Entre
aquelas rochas!”, apontou Kariel. “A passagem
está lá, oculta por uma ilusão!”
Arnilan
e Arthos então colocaram a nau onde Kariel havia indicado
e começaram a descer. Os menos acostumados com encantos
ficaram temerosos quando a embarcação se aproximava
perigosamente da rocha, mas aliviaram seus temores quando
passaram através da ilusão, e puderam ver o
porto iluminado por tochas abaixo de si. Manobras feitas,
estavam novamente do ponto de partida.
“Quanto
tempo se leva para aprender a pilotar?”, perguntou Sirius
a Arnilan, ao desembarcar.
“Alguns
meses!”, respondeu o elfo.
“Você
poderia nos ensinar a pilotar!”, pediu Mikhail.
“Seria
uma honra, depois do que a Comitiva da Fé fez por Evereska.”
Deixaram
então o porto e subiram as escadas para a parte superior
do complexo, e rumo à sala de reuniões. Lá
estavam Limiekki, Magnus, Bingo, Storm, Danicus e Klerf e
a eles se juntaram o restante da Comitiva e o piloto evereskano.
Sentaram em volta da mesa redonda e negra de pedra. Após
todos estarem acomodados, Storm começou a dizer:
“Estivemos
em Berdusk, em uma reunião. Os Harpistas ouviram nossos
argumentos e deram autorização para realizar
esta missão. Irei pessoalmente com vocês, juntamente
com o professor Danicus e Klerf. Nosso plano será o
seguinte...”, disse Storm, apontando para um grande
mapa do Subterrâneo, posto na parede daquela sala. “...faremos
o caminho oposto dos Millithor e tentaremos descobrir os contatos
que eles possuíam, conseguir alguma informação
e tentar impedir que estes portais sejam usados. Pelo tempo,
eles já deviam estar prontos. Me intriga saber porquê
que não foram ainda acionados.”, disse Storm,
pensativa.
“Provavelmente
os drows estão preparando a parte militar da operação.”,
supôs Kariel.
“Ou
alguma das chaves ainda não foi entregue em seu destino.
Seja como for, teremos que agir. Os Harpistas irão
advertir outras células espalhadas por Faerûn
nos Reinos sobre a possibilidade de uma invasão, mas
a informação será sigilosa, para evitar
pânico ou especulações.”. Storm
fez uma pausa e olhou nos olhos daqueles aventureiros que
passou a admirar pela coragem e fez-lhes uma pergunta, cuja
resposta, em seu íntimo, já conhecia: “Gostaria
de saber se alguém entre vocês não deseja
partir conosco. Não tenham medo de se manifestar. A
missão será muito arriscada e não posso
garantir que voltemos a salvo.”
Houve
o silêncio por alguns segundos. Todos da Comitiva estavam
com o semblante sério, determinados em executar aquele
plano, pelo bem dos povos da superfície, de seus Reinos,
de suas famílias.
“Ótimo.
Não esperava diferente de vocês, amigos! Antes
de partirmos, teremos alguns preparativos. Primeiro, Kariel
deve aprender comigo o encanto de disfarce, que mudará
nossa aparência quando nos aproximarmos das cidades
do Subterrâneo e nos tornará capazes de compreender
o idioma drow. Além disso, o professor Danicus irá
instruí-los sobre aspectos da cultura e dos modos da
civilização dos elfos negros, para que melhor
representem o papel. Acredito que quatro dias serão
suficientes para isto.”
“Quatro
dias! Podíamos usar este período para resolver
a questão dos gnomos...”, lembrou Sirius.
“Que
questão dos gnomos?”, perguntou Storm.
“Estamos
projetando uma reforma nesta caverna.”, explicou Mikhail.
“Poderíamos usar este tempo para conseguirmos
o material que os gnomos precisam para realizá-la!”
“Acho
que o meio mais rápido para isto seria usar a nau,
agora que temos um piloto!”, sugeriu Arthos.
“Mas
se algum de nós deixar o complexo, perderá a
oportunidade de aprender mais com o professor Danicus.”,
colocou Magnus.
“Não
precisam deixar de empreender essa tarefa por isto, meu jovem.”,
disse o Harpista veterano. “Podem ir. Passarei a vocês
o que puder quando retornarem e durante a viagem. Enquanto
isto, estudarei mais sobre o assunto.”
“Bem,
estamos de acordo. Estaremos aqui antes dos quatro dias se
passarem. Quem irá conosco?”, perguntou Arthos.
Kariel
não ergueu a mão. Teria que ficar para aprender
o útil encanto. Magnus também decidiu permanecer
para ajudar a guarnecer o local e Bingo queria auxiliar os
recém-chegados gnomos no que precisassem. Além
de Arthos, Mikhail, Sirius, e Limiekki (o ranger ainda não
gostava de voar, mas sentia que seu conhecimento da natureza
poderia ser útil) decidiram viajar em busca dos materiais
solicitados por Tharvin.
“Boa
viagem para vocês então. Tenham cuidado e não
se atrasem. Partiremos em quatro dias. Que Mystra nos ilumine.”,
disse Storm, finalizando a reunião.
A Primeira Viagem
da Nau
Assim
que a reunião acabou, os voluntários da Comitiva
para a busca pelos materiais de construção se
encontraram novamente, desta vez para definir os rumos daquela
pequena jornada. Chamaram representantes dos gnomos, que poderiam
melhor verificar as qualidades dos materiais a serem conseguidos.
Tharvin e Madarn foram os escolhidos pelos seus pares. Também
estava presente o condutor Arnilan Beldusyr, que trouxe consigo
alguns mapas.
O
trabalho seria pesado. Afinal teriam que extrair e transportar
grande quantidade de materiais. Isto exigiria, além
da conhecida perícia técnica dos gnomos, muita
força física. Limiekki deu a idéia de
convocar alguns ogros, que viviam na Aldeia do Amanhecer,
refúgio que conhecia muito bem e onde possuía
boas relações, antes de voarem até as
jazidas de pedra e madeira, conhecidas por Limiekki. A sugestão
foi acatada e o mateiro subiu, junto com os demais na nau
voadora. Sentou-se, como os outros companheiros, em alguns
bancos colocados na cabine, mas amarrou, por algum tipo precaução,
uma corda atrelando-se ao recosto de seu assento. Arthos e
Arnilan sentaram em suas poltronas de controle e a nau ultrapassou
a caverna, ganhando novamente o céu estrelado.
A
viagem foi rápida, de alguns minutos, pois a Aldeia
do Amanhecer ficava a poucos quilômetros ao norte do
Monte da Adaga. Desceram em uma clareira e foram a pé
para o conjunto de casa simples, onde viviam muitos e diferentes
seres, de homens a orcs, de goblins a gnolls, todos em uma
harmonia única nos Reinos. Aqui viviam longe das perseguições
e da violência. Conheciam a Comitiva e receberam bem
os aventureiros. Os únicos que estavam realmente desconfortáveis
eram os gnomos. Tharvin e Madarn normalmente viam os orcs,
goblins, kobolds e outros destes seres freqüentemente
como inimigos. Nunca haviam visto seres destas raças
que fossem amistosos. Ficaram desconfiados e atentos. Limiekki
procurou pelos dois ogros que conhecia e os encontrou em torno
de uma fogueira. Os cumprimentou e perguntou se podiam ajudar
com sua força a carregar materiais para a Comitiva,
nos próximos quatro dias, se necessário. Os
ogros pensaram um pouco e aceitaram o convite, em retribuição
à amizade dispensada pelos heróis àquela
aldeia. Visitaram também Pukto, o goblin que haviam
recentemente integrado àquela comunidade. O pequeno
estava ensinando alguns orcs e humanos a ler e escrever o
idioma comum. Não demoraram muito na cabana de Pukto
e retornaram em direção da nau.
Os
ogros, que tinham cada um dois metros e meio de altura, se
chamavam Sertis e Grub e, ao verem a embarcação
no solo, estranharam.
“Limiekki...
como nós vai entrar neste barco, se num tem rio, nem
mar? Tá fazendo brincadeira com nós?”,
perguntou o enorme Sertis, que não falava lá
muito corretamente.
“Não
há rio, nem mar, mas este barco navega o ar. Entrem
e confiem em nós!”
Entraram
e a nau ganhou os céus novamente. Os grandes corações
dos ogros batiam a grande velocidade: tinham medo das alturas.
Por isto, seguraram firme nos cordames e no mastro que havia
no convés, próximo da popa. O destino agora
eram umas jazidas de granito branco localizadas no arredores
das Montanhas da Boca do Deserto, conhecidas por Limiekki.
A nau rumou a oeste, quando o gnomo avistou pela vidraça
da cabine de comando a montanha de onde a pedra seria extraída.
Arnilan e Arthos manobraram e a nau desceu mais uma vez, no
sopé do monte.
Tharvin
e Madarn então foram para uma encosta da montanha,
onde a rocha branca estava exposta. Analisaram e depois buscaram
ferramentas especiais. Tharvin tirou de seus bolsos um pequeno
bastão, com ele o gnomo se concentrou focando-se nos
paredões de rocha. Depois de alguns momentos surgiram
rachaduras naturais. Elas eram de forma regular, assim blocos
imensos de pedra começaram a ser destacados da parede
e posteriormente foram empilhados. Mikhail logo notou que
o instrumento de Tharvin era um incrível bastão
mágico que afetava a natureza das rochas. Então
foi a vez dos ogros usarem sua força para carregá-los.
Mikhail, como auxílio, proferiu uma de suas preces
e, logo após, os músculos dos ogros tornaram-se
ainda mais rijos e potentes. Os gigantescos carregadores levaram
as pedras até as proximidades da nau e com a ajuda
do guindaste que havia no alto do mastro da popa do navio,
içaram as cargas, que entraram por um alçapão
aberto no convés que levava até o compartimento
de cargas, na parte inferior da embarcação.
Fizeram isto com oito blocos de granito branco e tudo demorou
duas horas, uma operação relativamente rápida
para a dificuldade da tarefa.
Retornaram
ao Monte da Adaga e descarregaram no porto as pedras.
“E
agora? Para onde vamos? Falta a madeira!”, lembrou Sirius.
“Se
for possível, no sul de Faerûn, em Thindol, próximo
às terras de Lantan. Sei que lá existem florestas
de zalantar. Podíamos trazê-las!”, sugeriu
Tharvin.
“Zalantar?”,
estranhou Limiekki, que conhecia muito de florestas e de árvores,
mas nunca tinha ouvido falar naquela espécie.
“Talvez
vocês a conheçam mais como madeira negra. É
uma arvore robusta que possui vários troncos que brotam
de sua raiz. Sua madeira, depois de cortada e tratada, é
bem mais resistente que a madeira comum!”, respondeu
o engenheiro gnomo.
“E
quanto tempo levaríamos para chegar até lá?”,
perguntou Arthos.
“Bem...
estamos muito longe de lá. Realmente, na velocidade
com que podemos ir nesta nau, levaríamos de certo algumas
semanas!”, disse Tharvin.
“Mas
partiremos em quatro dias!”, lembrou Sirius.
“Existe
uma maneira de irmos mais rápido.”, interferiu
Arnilan. “Posso pilotar a nau através do vácuo
e chegaremos em algumas horas!”
“Através
do vácuo? O que é vácuo?”, perguntou
Arthos.
“É
o que existe além do céu!”, disse o piloto.
“Como
assim ‘além do céu’?”, Limiekki
questionou intrigado.
“Além
do céu e do ar, existe um espaço onde é
sempre noite. Lá podemos ver que Toril, nosso mundo,
é uma esfera. E existem outras delas espalhadas pelo
vácuo.”
Sirius,
Limiekki e Arthos sorriram.
“Esfera?
O mundo é plano! Senão escorregaríamos
e cairíamos! Ahahahah! Quer brincar com a gente, elfo!?”,
falou Sirius gargalhando.
“Quando
estivermos lá, você mudará de idéia.”,
respondeu Arnilan, com um pequeno e misterioso sorriso.
“Bem...
e neste tal vácuo... poderemos chegar a tempo?”,
questionou Mikhail.
“Sim.
Fora da influência do ar, alcançaremos grandes
velocidades. Conheço sobre mapas. Chegaremos ao Sul
em menos de um dia.”, explicou o piloto.
“Podemos
aproveitar e ver se conseguimos um exemplar do Manual
Definitivo da Construção em Lantan!”,
lembrou Tharvin, bastante esperançoso.
“É
mesmo. Podemos tentar!”, falou animadamente Limiekki,
que se recordou também que, se conseguisse tal livro,
economizariam uma boa quantidade de dinheiro.
Decidido
o próximo passo, os aventureiros foram falar com Storm,
para avisá-la de mais esta viagem. A barda não
se opôs, mas pediu que fossem rápidos e não
desperdiçassem tempo desnecessariamente. Voltaram então
à nau, e novamente embarcaram. Arnilan e Arthos manobraram
e assim deixaram mais uma vez o Monte da Adaga.
Lá
fora, o céu já estava azul e a noite já
havia ido embora. Não haviam dormido, mas estavam agitados
demais para isto. O barco flutuante foi subindo cada vez mais
e, das janelas da cabine, puderam vê-lo superar a altura
das nuvens. Demorou algumas horas, mas o céu, aos poucos,
de azul passou à violeta, de violeta à negro.
E as estrelas voltaram a aparecer. Enquanto subiam, sentiram
seus corpos ficarem mais leves e ficaram com receio de estarem
sob o efeito de algum tipo de magia. Porém logo depois,
os seus corpos retornaram ao estado normal.
“O
que está aconteceu? Algum encanto?”, perguntou
Limiekki.
“Os
corpos ficam mais leves à medida que nos aproximamos
do vácuo, mas a magia da nave nos protege deste e de
outros de seus efeitos. Sugiro que vão ao convés
por alguns minutos, antes que eu retorne aos céus de
Toril.”
Então
saíram e foram para a borda do convés. Olharam
para cima e observaram o mais estrelado e belo céu
de suas vidas. Selûne estava enorme, como nunca haviam
visto antes. E abaixo, viram uma imensa esfera azulada e branca.
Era o planeta Toril.
“Por
Mystra!”, exclamou Mikhail.
“Não
é que o nosso mundo é redondo mesmo!”,
exclamou Limiekki.
“Puxa...
todos estes anos sempre pensei que Toril fosse uma plataforma!”
“Caramba!
Ei, Limiekki! Sabe o que lembrei? Finalmente sabemos muito
mais sobre alguma coisa do que Kariel.”, falou Arthos.
“Hehehe.”,
sorriu o mateiro. “Quero ver a cara dele quando contarmos
isto tudo!”
Em
relação aos outros passageiros, pode-se contar
que os gnomos estavam também completamente maravilhados.
Tharvin viu a possibilidade de novos estudos e Madarn queria
saber onde era a Floresta das Aranhas naquele globo, mas não
conseguiu descobrir. Já os ogros... os grandalhões
se abraçavam e diziam que queriam voltar para casa!
Depois de mais alguns minutos, Arnilan pediu que voltassem
à cabine. Iriam retornar a Toril.
A
descida foi um pouco mais veloz, mas ainda assim poucas horas
se passaram. Tempo em que a maioria aproveitou para dormir.
Mesmo Arthos foi liberado por Arnilan para descansar um pouco.
Tharvin e o piloto de Evereska localizaram no mapa de Toril
o local procurado e logo estavam sobrevoando imensas florestas
das terras do sudoeste de Faerûn, perto da região
exótica de Chult. O destino deles era Thindol, um lugar
de clima tropical e povoado por humanos de cor muito bronzeada.
Chegaram, então, às florestas de madeiras negras
e avistaram uma serraria, que ficava às margens de
um rio. Pousaram a nau na água, alguns metros depois,
e através de uma rampa desceram na margem, a exceção
de Arnilan, que preferiu ficar na embarcação
e os dois ogros, que sem dúvida, assustariam os vendedores.
Caminharam
e chegaram à serraria, formada de dois grandes galpões
de madeira. Em um, os troncos, que eram cortados rio acima
e trazidos pelas águas, eram armazenados e no outro
as toras eram cortadas e feitas em tábuas grossas,
pelos fortes braços dos homens que ali trabalhavam.
Quando foram avistados, um senhor robusto de pele escura,
com barbas castanhas e calvo se aproximou. Estava suado, com
as mangas arregaçadas, e portava um machado.
“Salve!
Vieram pela madeira, certo?. Sou Targinal e temos as melhores
madeiras de Toril.”
“Sim.
Precisamos de algumas delas. Nosso barco está parado
alguns metros rio abaixo.”, disse Arthos. “Nosso
mestre construtor, Tharvin, irá dar-lhe as informações
sobre o que precisamos.”
O
gnomo então passou a conversar com o homem, mostrar
as suas anotações e a analisar os troncos do
depósito. Em seguida, os dois se aproximaram dos demais.
“Temos
toda a madeira necessária.”, falou Targinal.
“O preço será de 2.500 peças de
ouro!”
“Duas
mil e quinhentas! Mas isto é muito caro! Não
poderia nos dar algum desconto?”, pechinchou o ruivo
Arthos.
“É
a melhor madeira do mundo e vocês estão no lugar
mais barato para comprá-la. Se estivessem em Portal
de Baldur, pagariam quatro ou cinco vezes mais! Considere
este preço como um valor com desconto.”, respondeu
Targinal, um tanto mal-humorado.
No
final das contas, o dinheiro foi entregue e as tábuas,
colocadas em carroças, foram levadas até a nau.
Depois de duas horas e algumas viagens, o carregamento estava
completamente embarcado. Tão logo os homens se afastaram,
ergueram o veículo mágico do rio e rumaram até
a ilha de Lantan. Pousaram mais uma vez nas águas e
se aproximaram do porto. Naquele lugar, habitado predominantemente
pelos gnomos, estrangeiros, principalmente de outras raças
não eram bem vindos, pelo menos, não sem uma
autorização oficial e a Comitiva não
possuía nenhuma. Havia mesmo alguns gnomos, de lanças
nas mãos, e outros com estranhas e desconhecidas armas,
fruto da engenhosidade lendária de seus inventores,
que guardavam o porto e olhavam desconfiadamente para barco
de incomum aparência. Tharvin então recomendou
aos demais que permanecessem no barco, enquanto iria até
as lojas da cidade, em busca do Manual da Construção
Definitiva. A Comitiva, por intermédio de Mikhail,
deu-lhe o dinheiro necessário.
Duas
horas se passaram, e a idéia de sair para procurar
o diminuto engenheiro já inquietava Arthos, quando
o vêem, correndo e arfando, vindo até a não
com um grosso e largo volume nas mãos.
“Porque
demorou tanto?”, perguntou o ruivo espadachim da Comitiva.
“Tive
muito trabalho para encontrá-lo. Mas veja que maravilha!”
Tharvin,
ansioso como uma criança que ganha seu primeiro brinquedo,
abriu as folhas de pergaminho branco e exibiu os textos, desenhos
e gráficos, bastante detalhados, de materiais, etapas
de construções e estilos arquitetônicos
existentes nos Reinos.
“Esse
livro nos ajudará na reforma?”, perguntou, prático,
Sirius.
“Sim!
Vamos poder economizar materiais e tempo!”, respondeu,
feliz.
“Excelente.
Mas, agora acho melhor irmos, ou chegaremos depois do prazo
dado por Storm!”, lembrou Mikhail.
Assim,
afastaram-se do porto e puseram-se novamente a flutuar, agora
em direção ao espaço. Neste tempo, finalmente
descansaram da jornada e dormiram um pouco. Horas depois,
despertos, estavam na região estrelada, acima da circunferência
do mundo.
“Ainda
temos algum tempo. Acho que gostariam de dar um passeio por
Selûne.”, sugeriu Arnilan.
“É
claro!”, respondeu Arthos.
E
assim a nau desenvolveu uma velocidade incrivelmente maior
e aos poucos aproximou-se do satélite prateado. A medida
que aquele astro branco se aproximava, puderam ver Toril ainda
mais distante e azul. Sobrevoando a lua, viram inacreditáveis
construções sobre sua superfície.
“O
que é aquilo? Uma cidade?”, perguntou Arthos.
“Sim,
mas não podemos nos aproximar. Dizem que este lugar
era protegido por uma deusa chamada Leira, mas ela se foi
e com ela a ilusão que ocultava o lugar. Existem relatos
que habitantes hostis ainda vivem por lá!”, explicou
Arnilan.
“Qual
é o nome dela? Quem vive por lá.”, indagou
Mikhail.
“Aquele
lugar é chamado Centro Comercial e dizem que humanos
o habitam!”
“Incrível!”,
admirou-se Tharvin.
“Maravilhoso!”,
fez coro Mikhail.
“Podemos
ir embora!”, murmurou Limiekki, do lado dos ogros que
se abraçavam.
“Arnilan...
você disse que nossos corpos ficam mais leves no vácuo,
mas que a magia da nau nos protege deste efeito. Pode nos
mostrar como seria?”, quis experimentar Arthos.
O
elfo evereskano concordou e anulou o efeito que mantinha a
gravidade em torno do navio e os passageiros começaram
a flutuar. Divertiam-se com a novidade, mas a brincadeira
terminou quando Sirius sentiu-se enjoado e vomitou, para desgosto
dos outros.
Rápido,
voltaram ao peso normal e a nau contornou o satélite
e retornaram à Toril. Arnilan e Arthos manobraram a
nave e desceram novamente ao céu e, orientado pelos
mapas e por uma bússola, chegaram aos Vales. Levaram
os ogros, que juraram nunca mais subir numa ‘coisa’
como aquela, de volta à Aldeia do Amanhecer e finalmente
retornaram até o porto do Monte da Adaga, nas últimas
horas da tarde do segundo dia desde que haviam partido. Foram
recebidos pelos gnomos e por Kariel. Os pequenos ficaram eufóricos
quando souberam que Tharvin possuía nas mãos
um exemplar do Manual Definitivo da Construção
e cantaram uma música em homenagem ao feito do mestre
engenheiro. Kariel foi saudar os amigos.
“Ainda
bem que voltaram. Começava a me preocupar!”,
disse o elfo.
Arthos deu um sorrisinho e bateu no ombro do amigo
“Kariel...
deixe-me iluminar um pouco o seu saber. Você sabe o
que é vácuo?”
“Como!?”,
estranhou o elfo.
“Você
sabia que Toril é redondo?”, completou Limiekki,
entrando na brincadeira de Arthos.
“Bem...
Kelta me falou algo a respeito, mas..”
“Você
sabia que existe uma cidade em Selûne?”, interrompeu
Sirius.
“Cidade
em Selûne... vocês querem brincar comigo?”
“E
que as pessoas flutuam no vácuo?”, continuou
Limiekki.
“Arnilan!”,
chamou o mago o piloto. “Eles beberam durante o vôo?”
“Não
que eu saiba”, disse o evereskano.
“Pelo
que estão falando, com certeza o fizeram. Volto quando
estiverem sóbrios novamente!”, disse Kariel,
saindo do porto, com muitas dúvidas na cabeça.
“Espere,
Kariel... tem muito mais!”, ainda gritou o gozador Arthos.
Depois
das risadas foram dormir. Estavam exaustos da viagem e do
esforço e somente acordaram na manhã seguinte,
quando havia uma reunião, convocada por Storm, logo
após o desejum. Duas horas depois de abrirem os olhos,
já estavam em volta da mesa negra novamente e ouviam
a barda do Vale das Sombras fazer a sua preleção.
“Embarcaremos
em breve rumo ao Subterrâneo. Ao encontrarmos as cidades,
eu e Kariel estaremos aptos a lançarem um encanto que
nos permitirá ficar com a aparência similar aos
membros da casa Millithor, e que também nos permitirá
a comunicação em língua drow. Quando
estivermos sob este disfarce, defini que cada um assumirá
a identidade de um membro do clã que possua habilidades
semelhantes as de seu intérprete. Eu, que sou capaz
de conjurar alguns encantos, assumirei a aparência da
sacerdotisa Ki´Willis, Magnus, a do guerreiro Marckarius,
Kariel, a do mago Karelist, Limiekki a do furtivo Dariel,
Arthos será o espadachim Torrellan e Mikhail...espero
que não se ofenda, mas deverá assumir a aparência
da sacerdotisa Narcélia.”
Sirius,
Limiekki e Arthos imediatamente caíram em uma gargalhada
descontrolada. Mesmo Kariel, Storm e Danicus acabaram sorrindo.
Mikhail, desconfortável, respondeu.
“Isto
é um tanto estranho e desconfortável, mas pela
necessidade e para o bem da missão, aceito a demanda.
Mas espero não ser alvo de piadinhas durante a viagem
toda!”
“Advirto
que tal comportamento pode levar tudo a perder.”, colocou
Storm, agora séria mais uma vez. “Aqueles que
não personificarem o núcleo principal do clã
Millithor assumirão a aparência de drows comuns,
que serão tidos como soldados. Arranjaremos para estes
nomes adequados.”
“Storm...
se os drows puderem detectar em nós a bondade da alma,
como, por exemplo, Magnus pode fazer quanto a maldade? Sabemos
que os drows são em sua maioria violentos e cruéis.
Se nos descobrirem com este tipo de artifício estaremos
em apuros.”, observou Mikhail.
“Para
isto trouxe-lhes algo!”, Storm retira um saco de veludo
e despeja sobre a mesa pequenos broches, com o símbolo
da casa Millithor, um círculo menor rodeado por relâmpagos
dentro de outro círculo maior. “Estes broches
são chamados pelos drows de insígnias, são
objetos que identificam os integrantes das casas drow. Nós
reaproveitaremos estas insígnias com o diferencial
de que nelas estão pequenos cristais usados por nós
harpistas para missões muito arriscadas de infiltração.
Os cristais são mágicos, eles ocultarão
nossa verdadeira natureza e quem tentar descobrir a índole
de vocês enquanto usarem isto terá um resultado
semelhante a índole média dos drows. Além
também de nos conceder a habilidade de enxergar no
escuro até uma determinada distância.”
Os
aventureiros coletaram os broches e guardaram cada um consigo,
para o momento em que fossem transformados pela magia de Storm
e de Kariel.
“Agora
e até a noite, terão aulas com o professor Danicus,
sobre o comportamento e sociedade dos drows, em um resumo
sobre tudo que ele recolheu nos livros. Amanhã cedo
partiremos.”
A
reunião propriamente terminou ali e começou
o pequeno curso sobre cultura drow do professor Danicus, que
durou até a noite, parando somente para as refeições.
O acadêmico falou sobre algumas leis, sobre a hierarquia
entre os membros dos clãs, da liderança e o
respeito dedicados às sacerdotisas. Treinaram maneiras
também e foram informados sobre a sociedade militar
e fria daqueles habitantes do Subterrâneo. Depois, tarde
da noite, foram para suas camas. Alguns sonharam com a nova
aventura, outros com o que ficaria para trás.
Quando
a noite deu lugar ao dia, e depois de fazerem a última
refeição na caverna, despediram-se dos gnomos.
Kariel deixou com Tharvin uma carta, endereçada ao
Lorde Randal Morn, para que fosse providenciada uma escolta
ou guarda, caso precisassem. Na nau voadora, todos os materiais
de construção já haviam sido retirado
e estavam empilhados bem perto ao porto. No porão havia
agora comida, água, roupas, equipamentos e armas. Embarcaram
e foram até a cabina, onde os gnomos haviam montado
confortáveis cadeiras para todos. Os pequenos também
haviam instalados camas e mesas nos pisos inferiores. O passageiros
daquela arriscada missão, Storm, Kariel, Arthos, Mikhail,
Magnus, Bingo, Sirius, Limiekki, Danicus, Klerf, e Arnilan
tomaram seus lugares. Este último sentou-se na poltrona
chamada também de leme da nau voadora e, com Arthos,
fez com que aos poucos a embarcação começasse
a mover-se mais uma vez, desta vez em direção
da garganta entre as rochas, que levava a um corredor cavernoso,
escuro e silencioso rumo a escuridão.
Kariel,
que estava desde o amanhecer calado e pensativo, quebrou o
silêncio e perguntou algo que incomodou sua mente durante
um dia inteiro.
“Arthos...,
por Tymora, o que é este tal de vácuo?!”
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