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Histórias
 

A Retomada

Descrita por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.

Personagens principais da aventura:

Os Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound (Limiekki). Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. O Halfling: Bingo Playamundo.

A Retomada

O Despertar sob a Montanha

      Passaram-se oito horas desde que os aventureiros da Comitiva da Fé haviam resolvido descansar. Dormiram como puderam. As camas eram confortáveis, muito mais do que as que estavam acostumados, nas longas viagens e acampamentos. Aos poucos, começaram a levantar. O primeiro impulso era de entrevistar finalmente os homens que foram cativos, saber deles o que havia ocorrido, se ouviram algo dos drows, se eram realmente os Harpistas desaparecidos. Mas Mikhail, que conhecia muito sobre curas e injúrias do corpo, foi taxativo: aqueles homens demorariam ainda mais dois dias, até estarem plenamente alimentados e hidratados e assim poderem falar aqueles assuntos. Sendo assim, os despertos heróis procuraram outras coisas para fazer.

      Uma pequena reunião com alguns deles se formou nas proximidades do portal de pedra desativado. Estavam Kariel, Magnus, Mikhail e Limiekki. A conversa era sobre o destino daquela passagem mágica e Magnus segurava a grande e brilhante gema vermelha que, acreditava-se, seria, quando fixada em uma cavidade no ponto mais alto da moldura de pedra, a chave que acionaria a passagem.

      “Acho que deveríamos bloquear este portal!”, sugeriu Mikhail.
      “Bloquear?! Acho que devemos destrui-lo e junto com ele esta gema! Eu sinto maldade irradiando desta jóia!”
      “Não sei se é a melhor idéia, Magnus. Talvez possamos usar o portal como uma vantagem estratégica. Se um dia tivermos que fazer uma incursão ao território drow, podemos usar o portal como uma maneira de chegar até às suas cidades e confrontá-los em seu próprio covil!”, disse Kariel, formulando um estratagema.
      “Mas pode existir a possibilidade dos drows cruzarem o portal no sentido inverso e nos atacar!”, rebateu o paladino de Helm.
      “Podemos montar algumas barricadas e acionar o portal. Se saírem alguns destes drows de lá estaremos preparados!”
      “E se for um exército, Limiekki? Não teremos como contê-los!”, observou o mago elfo.
      “Então... destruímos ou não!?”

      Ante a pergunta do já impaciente Magnus, os demais fizeram um instante de silêncio, pensando e ponderando, até que Kariel novamente se pronunciou.

      “Acho que devemos aguardar Storm. Ela deve conhecer o funcionamento deste portal e poderá nos dar uma orientação mais adequada.”
      “Enquanto isto, poderei bloqueá-lo. Lerei uma prece especial e a rocha preencherá o vão. Acredito que assim não haverá como os drows passarem.”
      “Pode reverter o encanto se necessário?”
      “Sim, Magnus.”
      “Então o execute, Mikhail. Será nossa solução até a chegada de Storm.”, concluiu Kariel.

      Mikhail então gesticulou e recitou algumas palavras da prece divina. Após a última sílaba, uma camada de rocha, do mesmo tipo negro que formava o portal, estendeu-se das extremidades do arco até fechá-lo completamente. Com aquele assunto encerrado, pelo menos por enquanto, os heróis então decidiram por explorar melhor o lugar e partiram para pontos distintos do complexo cavernoso. Após algumas horas, se reencontrariam na sala de reunião para comunicar o resultado de seus esforços.

      Kariel andou alguns metros, até a outra extremidade, onde estava aportada a nau. Estava o mago curioso com os raios de luz que vinham do alto naquele ponto. O elfo arcano então lançou sobre si um sortilégio, através de palavras incompreensíveis e começou a levitar. Segurou nas paredes, tomou impulso nas rochas e foi subindo mais e mais. O teto fazia uma pequena curva e ao alto Kariel pode ver uma grande abertura para o céu. “Uma saída para nau!”, pensou em um primeiro momento. “Uma entrada para inimigos!”, pensou novamente, depois de exercitar sua prudência. Continuou subindo até os fortes raios de Selûne o cobrirem com sua iluminação prateada. Saiu Kariel das entranhas da montanha em direção as escarpas da rocha, quando teve uma outra surpresa. Do lado de fora, a cratera não podia ser vista. Simplesmente não existia. Uma magia, semelhante a usada na entrada do complexo, cobria a entrada com uma rocha ilusória. Kariel observou o monte, a floresta ao longe e as estrelas por alguns minutos e desceu novamente. Agora quis saber o elfo sobre o abismo que havia abaixo do ancoradouro da nau voadora. Lançou mão de outro encanto e suavemente desceu as escarpas da rocha, leve como uma pluma, com a luz da sua lâmina encantada acesa, emitindo o seu brilho azulado. Chegou ao fundo, vinte metros de decida depois. Fora o terreno difícil e extremamente pedregoso, não havia nada de incomum ou ameaçador. Caminhou mais um pouco e viu a estreita garganta, um corredor entre a rocha, por onde Torellan havia fugido. Quando a duração de seu encanto estava prestes a findar, resolveu subir novamente.

      Enquanto isso acontecia, Limiekki e Bingo procuravam minuciosamente por passagens, armadilhas ou portas que porventura houvessem ocultas nos cômodos construídos pelos drows. Examinaram atentamente cada parede, degrau, porta e piso, observando com o cuidado e o conhecimento, aperfeiçoados graças às muitas aventuras anteriores, onde se depararam com mecanismos escondidos. Após muito olharem por horas, nada encontraram. Ficaram aliviados. Não haveriam emboscadas ou surpresas desagradáveis. Enfim, parecia-lhes que o complexo estava seguro. Resolveram então fazer o levantamento dos pertences deixados pelos drows, a fim de apresentar mais informações aos colegas.

      Em suas horas de exploração, Mikhail decidiu checar a sala de reuniões e a biblioteca. O elfo dourado olhou e reolhou os documentos e mapas dispostos na mesa, procurando por uma figura, um contorno ou uma indicação que lhe fosse de alguma forma familiar, mas não obteve sucesso. Tentou então buscar algum volume na biblioteca que pudesse lhe ser útil, mas nada. Todos os livros que puxava da prateleira encontravam-se na difícil e obscura linguagem drow.

      Magnus e Sirius decidiram retornar para o portal que lhes intrigava. O paladino tinha dentro de si o forte desejo de destruir aquele artefato mágico, junto com a gema que o ativava. Somente ele podia sentir a energia maligna que emanava daquela pedra, que o incomodava bastante. “Se é maligno deveria ser destruído!”, era o que pensava o rapaz, que não entendia a preocupação dos outros em manter aquele objeto intacto. Não tomaria uma atitude isolada, mas queria se certificar que o arco de pedra poderia ser destruído caso fosse necessário. Coletou com o companheiro algumas ferramentas dos drows e examinou a dureza da rocha. Concluiu que juntos poderiam quebrá-la e derrubar abaixo o engenho mágico.

      Oito horas se passaram. Lá fora, o céu estava azul novamente e o sol ainda subia. Finalmente todos estava na sala de reuniões, discutindo seus achados. Kariel, o mago elfo, foi o primeiro a descrever o que havia descoberto. Falou sobre a cratera no topo da montanha, oculta por uma ilusão, do fundo do abismo que percorreu e da estreita passagem, por onde fugiu o drow Torrellan.

      Após isto, foi a vez do pequeno Bingo e de Limiekki, o mateiro, fazerem suas observações. O ranger disse-lhes que havia procurado junto com o halfling por armadilhas e portas secretas, mas que nada haviam descoberto. Porém, as revelações mais impressionantes vieram quando começaram a descrever o que haviam encontrado nos aposentos daquele lugar. Haviam jóias, moedas, estatuas de ouro e marfim, braceletes, mochilas, cordas, roupas, livros, mapas, armaduras, escudos, espadas, adagas... muitas coisas úteis e valiosas. Limiekki depositou sobre a mesa de reuniões alguns destes objetos. Eram armas, belíssimas capas e vestidos das sacerdotisas mortas.

      “Estes itens emanam magia.”, avaliou Kariel, após espalmar a mão sobre os pertences negros.
      “E eu sinto o mal que irradia deles”, completou Magnus paladino, usando um dos seus dons divinos.

      Após tais verificações, decidiram que aqueles pertences deveriam ser destruídos, afim de evitar alguma influência nefasta. Bingo também colocou na mesa outros objetos. Era um pequeno saco de couro e duas mochilas encontradas nas masmorras, de confecção humana. Os heróis, a princípio relutaram, mas as abriram e verificaram os conteúdos. Havia cantis, penas e tinta, um diário e um grimório. O saquinho foi aberto e revelou uma surpresa: haviam dentro dois pingentes de Harpista e alguns anéis, um deles mágico, avaliou o mago novamente.

      “Parece que encontramos enfim os Harpistas desaparecidos!”, disse Mikhail

      Arthos sorrateiramente, recolheu o diário, escondido dos amigos, pois sabia que seria imediatamente repreendido, e leu alguns trechos. Não haviam grandes revelações, mas foi possível entender que os dois homens vieram por conta própria até Cachoeiras da Adaga, perseguindo rumores de estranhas movimentações na floresta. Guardaram novamente os bens dos Harpistas nas mochilas e as jóias mágicas no pequeno saco de couro e a reunião prosseguiu com a voz altiva e firme do jovem paladino Magnus.

      “Nós verificamos o portal e ele é de pedra comum e pode ser destruído. O problema é esta gema mágica.”, disse Magnus, mostrando a peça vermelha e facetada.

      Kariel ergueu a mão espalmada na direção da pedra e ficou assim por cinco segundos. O elfo então comunicou aos amigos que a magia que emanava da pedra era do mesmo tipo da que os magos se valiam para realizar encantos de teleportes e portais. O mago então sugeriu novamente que aguardassem a vinda de Storm Mão Argêntea, também arcana e sábia das coisas místicas, para uma melhor avaliação, antes que se tomasse qualquer atitude mais drástica sobre o destino da jóia mágica. A idéia foi acatada, ainda que houvesse um receio de que o portal de pedra, mesmo sem a sua gema e bloqueado pelo efeito da prece de Mikhail, pudesse ainda servir como rota de invasão dos drows.

      Terminados os relatórios de inspeção, parecia ser aquela caverna o lugar perfeito para que a Comitiva da Fé fizesse sua base. Havia de tudo: acomodações suficientes, armas, transporte, mesmo laboratório, santuário e biblioteca.

      “Enfim, parece que encontramos um local ideal para nós. Só precisaríamos de pequenas reformas.”, colocou Arthos.
      “Podíamos contratar alguém para fazer este serviço.”, sugeriu Limiekki
      “Mas, quem? Anões são muito bons em trabalhar com pedras...”
      “Mikhail... não conheço muitos anões para contratarmos. Vivi por anos aqui em Cachoeiras da Adaga e vi poucos anões. Eu mesmo só conheço um.”, disse Limiekki.
      “Bem... deixemos os anões de lado.”, disse Kariel, que achava os anões um tanto impulsivos e rudes. Coisa de elfo. Em seguida fez uma proposta. “Levarei os Harpistas daqui para o Vale das Sombras. De lá irei àquela pequena vila de gnomos, Stormpenhauer. Aqueles pequenos são inventivos e hábeis e certamente poderiam fazer um bom trabalho adaptando esta caverna para nosso uso.”
      “Excelente idéia”, disse Arthos.
      “Irei com você, Kariel.”, ofereceu-se Sirius.
      “Enquanto isto, vou a Cachoeiras da Adaga. Informarei a Lorde Randal sobre o acontecido aqui e aguardarei o retorno de Storm, para guiá-la até aqui. Tenho que também levar o orc que prendemos, para que ele pague perante a justiça pelo seus atos. Partirei ainda hoje”, falou o decidido Magnus.
      “Bem... Enquanto os Harpistas se recuperam, acho por bem organizarmos um pouco este lugar. Temos algumas tarefas para fazer e corpos para sepultar!”, lembrou Limiekki

      A reunião então acabou e os participantes mais uma vez se dispersaram e nada de grande importância aconteceu nos próximos dois dias, em que os combalidos homens se fortaleciam e recuperavam-se dos maus tratos dos drows. Os corpos dos inimigos mortos foram levados por Magnus e Sirius para a floresta e enterrados em uma vala, embaixo de um freixo frondoso. Em seguida, o paladino partiu, rumo a Cachoeiras da Adaga. A comida da despensa e a água foram vistoriadas por Limiekki e Bingo, e todos fizeram boas refeições com elas (principalmente o pequeno, deve-se dizer). O mago Kariel estudou os livros de magia que encontrou e anotou algumas delas em seu próprio grimório. Mikhail limpou e preparou o santuário, que pretendia dedicar a sua divindade e as dos demais amigos. Já Arthos, barbeou-se pela primeira vez na vida. Tarefa banal para os homens, era muito estranha para ele, que ainda se acostumava em não ser mais um elfo. Experimentou também as belas roupas e sabre que pertenciam a Torellan e examinou a nau voadora, veículo que sempre havia sido objeto de seus desejos. E assim caíram as areias do tempo naqueles dias.

      A certa hora da manhã, Mikhail, o clérigo de Mystra, ouviu ruídos no quarto onde convalescia um dos Harpistas e abriu a porta. O mais jovem deles que lá estava deitado, um ruivo, perguntou as óbvias questões dos desorientados:

      “Quem é você? Onde estamos?”, disse agitadamente, sobressaltado.
      “Acalme-se. Chamo-me Mikhail Velian. Vocês estão sobre o Monte da Adaga”.
      “Os drows?! Onde estão os drows?”
      “Eles não são mais ameaça. Nós os derrotamos. Você está seguro.”
      “Minha cabeça ainda gira...”, colocou os dedos da mão direita sobre a fronte. “Onde está Danicus? E você? O que faz aqui?”
      “Seu colega está se recuperando em um quarto próximo. Enquanto a mim, faço parte de um grupo chamado Comitiva da Fé. Viemos aqui para investigar alguns desaparecimentos e acabamos por encontrar os orcs e drows. Felizmente os encontramos com vida.”

      O jovem cerrou levemente os olhos e fez uma estranha pergunta

      “O senhor toca a Harpa!?”
      “Sei de que Harpa fala. Não. Não a toco, mas entre nós há um que a toca.”
      “Ótimo. Desculpe minha rudeza. Fiz tantas perguntas mas não agradeci. Sou Klerf Maunader. Obrigado por ter nos salvado.”, disse enquanto levantava da cama, em passos inseguros. “Pode me levar até Danicus?”
      “Sim. É claro.”, respondeu Mikhail amparando o homem.

      Mikhail levou Klerf até o quarto de Danicus, que dormia.

      “Danicus?!”, chamou o Harpista o colega, um senhor de meia idade e barba levemente grisalhas, que abriu os olhos. Naquele momento, chegou também Arthos.
      “Klerf?!”, disse olhando em volta do quarto. “Quem são vocês? Um grupo de apoio?. Por quanto tempo ficamos aqui?”.
      “Viemos procurar por vocês e por outros desaparecidos. Estão sob nossos cuidados há três dias!”
      “Precisamos nos apressar!”, disse o homem, nervoso. “Faerûn corre perigo! Escutei coisas... um plano maligno dos drows!”

      Outro membro da Comitiva chegou naquele instante. Era Kariel, que passava por perto e fora atraído pelo som das vozes, que conseguia captar com sua audição apurada de elfo. Bingo também o encontrou e o seguiu. Disse logo o mago, após adentrar a porta e ver os dois Harpistas e os colegas Mikhail e Arthos:

      “Boa Tymora! Bom vê-los bem novamente!”, disse com um leve sorriso. Em seguida, pôs a mão na bolsa que levava presa na cintura e dela retirou um saco de couro e entregou ao homem deitado. “Acho que isto pertence a vocês, colegas!”

      Danicus despejou o conteúdo sobre a palma da mão: um anel e dois pingentes em forma de harpa, em uma corrente dourada. Penduraram sobre o pescoço e perceberam que aquele elfo de cabelos azuis também usava um do mesmo tipo.

      “É bom ver que temos um de nós entre vocês. Quem os enviou? O comando de Berdusk?”, questionou Danicus.
      “Não. Recebemos a missão de Storm Mão Argêntea.”, comunicou Kariel.
      “Storm Mão Argêntea? Ela os enviou? Perdoem-me, mas quem são vocês para conhecerem a senhora Storm?”
      “Nos conhecem por Comitiva da Fé. Há mais três de nós em nosso grupo que não estão nesta sala.”, respondeu Arthos.
      “A Comitiva da Fé? Do Vale das Sombras? Os pupilos de Elminster, o Sábio? Os que combateram até mesmo a Bane em pessoa, o Deus do Conflito e da Tirania? Não posso acreditar!”

      Os aventureiros sorriram. Não estavam acostumados a serem reconhecidos pelos seus feitos, ainda mais de maneira tão eloqüente. A resposta, simples, foi dita por Arthos.

      “Err... Sim. Somos nós!”
      “Então Tymora nos deu uma grande sorte, pois acho que os Reinos precisam muito de vocês. Precisamos evitar o que está para acontecer!”
      “O que há de tão grave?”, perguntou Kariel.
      “Meu jovem elfo, deixe contar-lhe do início. Chegaram aos nossos ouvidos, em Berdusk, rumores que batedores drows haviam sido vistos por esta região. Não é comum vermos drows na superfície e por isto fiquei intrigado. Infelizmente, os Harpistas não possuíam condições no momento de realizar uma investigação, então eu mesmo me propus a fazê-la, junto com meu colega Klerf. Eu estava também cansado de lecionar e, decidi empreender esta viagem para obter mais do conhecimento vivo que está fora dos livros.”

      Klerf complementou o relato do seu acadêmico amigo, enquanto este fez uma pausa para ajeitar-se melhor na cama.

      “Chegamos aqui há alguns meses, creio. Não estou bem certo pois perdemos a noção do tempo. Investigávamos na floresta, onde montamos um posto avançado, na verdade, uma pequena cabana. Um certo dia, enquanto caminhávamos próximos a esta montanha, fomos surpreendidos por encantos e acordamos na prisão em que nos encontraram.”
      “O que os nossos captores não sabiam, porém, é que conheço um encantamento que me permite entender a língua drow.”, retomou Danicus. “Ouvi muitas coisas... Existe um plano em curso, ao qual chamam A Retomada. Consiste na construção de diversos portais entre o Subterrâneo e os Reinos. Os drows querem iniciar uma invasão à superfície e retomar os lugares, que em tempos ancestrais, os pertenciam.”
      “Li algo a respeito em mapas e planos deixados na biblioteca deste complexo.”, comentou Kariel, que também conhecia o encanto usado por Danicus.

      Bingo, que havia saído por alguns minutos durante a conversa, voltou com uma bandeja e duas xícaras de chá, que ofereceu aos hóspedes da Comitiva.

      “Precisamos descobrir mais sobre isto o quanto antes. Precisamos saber se esta invasão já está acontecendo. Devemos avisar os Harpistas...”, disse Danicus, enquanto tentava se levantar. Porém, não era jovem como seu companheiro Klerf e as pernas, sem a energia necessária, fraquejaram e o devolveram à cama.
      “Calma, senhor”, Mikhail se aproximou. “Ficou muito tempo desacordado e ainda não se recuperou. Aguarde um pouco mais.”
      “Sim. Storm deverá estar aqui em breve. Poderemos decifrar juntos tais planos.”, falou Kariel
      “E em relação aos outros desaparecidos? Os do Vale da Adaga? Têm alguma notícia deles?”, quis saber Arthos.
      “Não sei ao certo, mas temo que estejam mortos.”, disse Klerf.

      Lembraram então do altar de Lolth e do sangue que encontraram. Os infelizes cativos deveriam certamente ter encontrado a morte para honrar a Deusa Aranha.

      “Você falou a respeito de uma biblioteca com mapas e livros. Poderíamos vê-la? Talvez nos dê algumas informações.”

      Kariel concordou, mas Mikhail sugeriu que fossem mais tarde, após a refeição do meio-dia, afinal Danicus precisava ainda recuperar mais de suas energias. E assim, poucas horas depois, estavam todos na sala, em torno da grande mesa de pedra escura. Danicus havia lançado sobre si o encantamento que lhe permitia ler a escrita drow e estava debruçado sobre o imenso mapa. Apontou uma marca esverdeada e falou:

      “Pelo que entendi, é um mapa do Subterrâneo. Estamos aqui”, disse mostrando. “Está escrito ‘Casa dos Millithor’! Existem também indicações sobre algo que não conheço, lugares chamados ‘faerzress’. Estão marcados também outros pontos onde existem portais. O lugar mais próximo, a alguns dias daqui, chama-se Maerimydra. Um outro chamado Undrek’Toz é o seguinte. São ao todo oito portais e o percurso termina em um local do qual já ouvi falar: uma cidade drow chamada Menzoberranzan, onde fica o último deles.”
      “Talvez deste portal possa se partir para os demais. Pode ser que esta Menzoberranzan seja o ponto central.”, supôs Mikhail.
      “Temos que desativar estes portais e impedir esta invasão. Porém não sei como poderemos nos mover nestes corredores do Subterrâneo.”, colocou Klerf.
      “Em um nível mais abaixo neste complexo, temos um porto e nele uma nau voadora que os drows que viviam aqui usavam. Não sabemos como controlá-la, mas através dela poderíamos percorrer uma passagem que encontramos e que segue por dentro destas cavernas.”
      “Uma nau voadora?! Que interessante. Como a magia drow pode ser versátil! Nunca poderia imaginar que usariam uma nau voadora para percorrer o Subterrâneo! Este é um lugar misterioso que eu sempre quis conhecer, acho que chegou a hora. Gostaria de ver o portal. Podem-me levar até ele?”, pediu Danicus.

      A Comitiva prontamente atendeu e em poucos minutos estavam diante do portal. Danicus conjurou um encanto e leu as runas. Em seguida examinou a pedra mística. Gastou um quarto de hora, até que finalmente disse:

      “Este é um portal de mão dupla e a gema colocada no orifício o faz funcionar. Está desativado, mas nada impede que esta ou outra pedra seja inserida novamente e o ative.”
      “Mesmo com o encanto que coloquei sobre ele?”, perguntou Mikhail, sobre a parede de rocha que fez surgir no vão do arco de pedra.
      “O encanto que habilmente executou, infelizmente pode ser sobrepujado por algum outro.”, respondeu Danicus.
      “Então a destruição do portal é a nossa única segurança, correto?”
      “Sim, jovem elfo.”, respondeu o professor Harpista, desta vez à Kariel.
      “Ah... então deixe-me fazer uma coisa!”, disse Sirius, em um ímpeto.

      Pegou um martelo, ferramenta deixada pelos drows, e a jóia. Rapidamente, antes que os colegas pudessem reagir, desferiu um poderoso golpe. A pedra explodiu em fragmentos e a energia liberada por ela fez cair longe o guerreiro.

      “Sirius, inconseqüente!”, Kariel admoestou o amigo. “Não se destrói um artefato mágico desta forma!”
      “Poderia ter se matado e a nós!”, completou Mikhail, o clérigo da Deusa da Magia.
      “Ufff!”, Sirius só pode responder isto, levantando-se do chão.
      “Vamos nos concentrar em destruir o portal! Ele é de pedra. E pedra pode ser partida!”, Colocou Limiekki, pegando uma marreta.

      Ficaram então Limiekki, Sirius e Klerf batendo e despedaçando a rocha negra que compunha aos arcos do portal. Arthos então pediu ao sábio Danicus para que fosse examinar a nau voadora e assim foram, acompanhados dos membros restantes da Comitiva. O homem se maravilhou com a bela embarcação e nela entrou. Percebeu magia em uma poltrona e em um capacete que encontrou na cabina. Mas sua sabedoria, infelizmente, não abrangia os conhecimentos que Arthos tanto gostaria de aprender.

      “Companheiros. Infelizmente não sei como pilotar esta nau. Talvez a senhora Storm, que já viveu em Evereska, um reino élfico que existe ao oeste e em que se usa tais transportes, possa dar alguma contribuição!”
      “Sou evereskano...”, disse Mikhail, elfo de cabelos dourados, “... mas não entendo como manejar esta nau. Espero que Storm tenha melhor sorte.”
      “Evereskano! Incrível. Sempre quis visitar tal lugar. Será que me conseguiria uma autorização?”, pediu Danicus.
      “Não posso garantir. Meu povo não é muito tolerante com outras raças.”, respondeu Mikhail.
      “É... eu é que não vou mais naquele lugar!”, bradou Arthos.
Sorriram Kariel e Mikhail
      “Não se preocupe, amigo. Você não chegaria nem a cem metros dos portões de Evereska!”, disse Mikhail.
      “Não entendi!”, exclamou Danicus. “Porquê?”
      “Não queira saber. É uma longa história!”, falou Kariel. “Só nos resta aguardar Storm de qualquer forma.”
      “Sugiro retornarmos às nossas atividades e investigações na biblioteca! Assim ganharemos conhecimento enquanto aguardamos.”, colocou Danicus.

      E assim foram os membros da Comitiva e o professor, enquanto os outros destruíam o portal. Kariel e Danicus ficaram mais tempo lendo, por possuírem a dádiva de poderem conjurar o sortilégio decifrador de línguas. O professor encontrou um livro e descobriu o que eram os ‘faerzress’. Segundo a pesquisa, o faerzress é um ponto natural, uma fonte que irradia uma forte magia, que faz que os encantos conjurados em sua área sejam mais poderosos ou adquiram comportamentos imprevisíveis. Ficaram por mais uma hora, quando receberam uma esperada visita. Vinha com ela o paladino Magnus, Bingo e Limiekki.

      “Professor Danicus! Graças a Mystra está vivo! Sempre tive muitas esperanças de revê-lo.”, disse Storm Mão Argêntea.
      “Também fico feliz em vê-la!”, Danicus retrucou em uma vênia com a cabeça.
      “Kariel... pode me informar melhor o que aconteceu?”
      “Estamos em um complexo drow, provavelmente um posto, que era ocupado pelo clã Millithor, o responsável pelos desaparecimentos. Encontramos alguns planos de uma operação chamada de ‘A Retomada’. Ao que parece, é uma grande investida drow contra a superfície.”, respondeu o elfo.
      “Minha senhora, deixe-me alertá-la para a gravidade do que está acontecendo. Existe um plano dos drows para um deslocamento em massa para superfície, através de portais. Estou tentando coletar dados o mais rápido que posso. Sugiro que façamos uma reunião com os Harpistas e estabeleçamos uma estratégia!”
      “Concordo, Danicus, mas para convencer os Harpistas da necessidade de uma grande operação, teremos que ter mais conhecimento. Sugiro que estudemos mais. Irei ajudá-lo, mas antes gostaria de saber da Comitiva se existe mais alguma coisa que precisa ser informada.”

      Os aventureiros então comentaram sobre seu desejo de tornar aquela caverna em uma base de operações da Comitiva da Fé e, eventualmente, dos próprios Harpistas, após algumas alterações. A Mestre Harpista também foi informada do estranho cessar dos poderes da sacerdotisa drow e de seu suicídio, coisa que Storm considerou estranha. Depois disto, voltaram Kariel, Danicus e Storm aos estudos e os outros aos seus treinamentos e afazeres dentro da caverna.. Assim, mais duas luas e dois sóis passaram por sobre a Montanha da Adaga.

      Durante este período, muito se aprendeu sobre a cultura drow e sobre os seus planos de dominação. Os drows, segundo estudaram, viviam em uma sociedade matriarcal, violenta e militarista, dividida por clãs, onde a supremacia de uma Casa sobre a outra se constituía no principal motor social. Sobre os esquemas dos elfos da escuridão, leram o diário da sacerdotisa Ki’Willis. Encontraram uma menção sobre uma reunião entre as mais poderosas Casas drows, adoradoras da deusa Lolth. A Casa Millithor estava entre elas, porém em uma posição de pouco prestígio. Havia uma ordem de poder entre os clãs e o da sacerdotisa Ki’Willis estava na vigésima segunda posição, ameaçado de ser ultrapassado, destruído ou absorvido por outras Casas, segundo o costume drow. Um plano audacioso foi apresentado naquele dia, nas cavernas escuras de Menzoberanzan: exércitos partiriam através de portais, das principais cidades do Subterrâneo, para a superfície e iniciaram assim a Retomada. Para tanto, acordos teriam que ser feitos entre as cidades, os portais teriam que ser construídos e as chaves, gemas imbuídas de poder mágico, deveriam ser entregues em cada um destes lugares. A Casa Milithor ofereceu-se para a última missão e para construir um posto avançado nos Vales. Porém isto obrigaria os principais membros do clã a deixarem o Subterrâneo e perderem o status de Casa e, consequentemente, seu exército e grande parte de sua riqueza, que seriam apoderados por outros clãs. Era uma decisão difícil e arriscada, mas a matrona dos Millithor pensava em adquirir mais prestígio e que, com o sucesso do esquema, pudesse ascender novamente, dominar a região dos Vales e mesmo estabelecer um reino. Tal sacrifício, indesejado pelas demais casas, fez com que os Millithor conseguissem a aprovação de seu pedido.

      E assim partiram, com as jóias místicas e instruções para construção dos portais, que segundo recomendações dos magos dos clãs, deveriam ser construídos próximos aos faerzress, com vistas a maximizar o seu poder. De Menzoberranzan foram à cidade de Ch’Chitl, esta á única cidade do acordo habitada não por drows, mas por outros seres conhecidos como ilítides, dos quais Storm e Danicus apenas conheciam rumores. Seguiram com sua missão por Ched Nasad, depois por Sshamath, a maior das cidades drow, e de lá para T’Lindhet, um pequeno povoamento, quase que uma fortaleza, e por fim para Undrek’Toz e Maerimydra, ponto mais próximo do Monte da Adaga. Segundo contaram as palavras escritas em tinta negra, a missão teve sucesso, a cerca de cem anos passados.

      A apreensão tomou conta dos que sentavam nas cadeiras da sala de reuniões do complexo. Se o plano de invasão havia começado a tanto tempo, poderiam estes portais estarem sendo terminados ou mesmo estar concluídos. Poderiam os drows estar somente esperando o momento certo para levar a morte e a guerra pela superfície. Storm chamou os outros membros da Comitiva, contou-lhes sobre a pesquisa e disse-lhes:

      “A situação é bastante séria, pelo que lemos. Deveremos avisar sobre esta ameaça e tentar evitá-la. Enquanto li, esbocei um plano. Temos o transporte e os mapas. Poderemos seguir o caminho dos Milithor, disfarçados como eles, e ir a cada uma destas cidades, tentar provocar a destruição ou a inutilização dos portais.”
      “Mas quanto ao tal Torrellan? Ele fugiu e pode nos denunciar!”, preocupou-se Mikhail.
      “E tem quase uma semana de vantagem sobre nós!”, acrescentou Limiekki.
      “Segundo vocês me relataram, ele fugiu em uma pequena nau. Não acredito que tenha autonomia suficiente para chegar até a cidade drow mais próxima, ou mesmo que este fugitivo consiga chegar ao seu destino em segurança, devido aos perigos do percurso. Porém não temos muitas escolhas. Gostariam que todos vissem o mapa.”, disse a mulher, de cabelos prateados, desenrolando o mapa drow já decifrado.

      Apontou o local onde estavam, perto de um dos chamados faerzress. A cidade de Maerimydra era a mais próxima. Mostrou as demais cidades, corredores, lagos, os símbolos indicando os portais, além de regiões de anões e outros seres, como por exemplo, os hostis duegares, e monstros desconhecidos.

      “Parece que vai ser uma viagem e tanto!”, exclamou Arthos.
      “Senhora Storm. Não sou eu um aventureiro como estes da famosa Comitiva da Fé, mas, como professor desejoso de conhecimento, peço para ir com vocês nesta empreitada.”, pediu Danicus.
      “Danicus... meu voto é seu, mas temos que consultar outros.”, respondeu Storm.       “Comitiva, partiremos eu, o professor Danicus e Klerf imediatamente para Berdusk, onde falaremos com as autoridades Harpistas. Peço-lhes que fiquem aqui e tentem aprender o que for possível dos costumes drows e se habituar com estas cavernas, pois serão nosso habitat durante muito tempo. Se desejarem entrar em contato com os gnomos, como me disseram, sugiro que o façam agora, aproveitando nossa partida, pois quando voltarmos não haverá mais tempo.”
      “Enquanto a nau? Como iremos pilotá-la?”, perguntou Mikhail, oportuno.
      “Depois de Berdusk, iremos à Evereska. Lá encontraremos um condutor para ir conosco.”
      “Acredito que devemos avisar ao Lorde Randal sobre o que está acontecendo, já que estamos em suas terras!”, opinou Magnus, paladino de Helm.
      “Podemos ir juntos, eu você e Sirius, até Cachoeiras da Adaga e de lá rumamos para Stormpenhauer”, sugeriu Kariel.
      “Certo! Vamos partir logo, então. Existem alguns cavalos nos estábulos próximos à entrada da caverna!”, disse Sirius.
      “Nos encontramos aqui. Que Mystra nos guie!”, desejou Storm.

      Storm, Danicus e Klerf pegaram seus pertences e a mulher conjurou um encanto e assim suas figuras esmaeceram e desapareceram da sala. Kariel, Sirius e Magnus também apressaram-se a ir recolher suas coisas e equipar os cavalos disponíveis para a curta viagem que fariam. Pediram aos demais que seguissem as orientações de Storm e que já preparassem a nau, enchendo seus porões com os suprimentos que fossem necessários e disponíveis.

Uma Pequena Viagem

      Era o início do dia quando os três cavalos partiram. Chegaram no castelo do Lorde Randal Morn duas horas depois. Explicaram tudo que sabiam sobre o plano dos drows, em tempo que também solicitaram sigilo. Estas informações, em ouvidos errados, poderiam se transformar em perigo ou mesmo pânico. Os três também deram a triste notícia de que não nutriam mais esperanças de encontrar os desaparecidos. Randal lamentou, mas agradeceu à Comitiva pelo empenho. Desejou também boa sorte e colocou-se e o seu Vale à disposição da Comitiva, caso algo fosse necessário para sua perigosa missão. Os três então partiram, encerrando a curta estada. Não queriam desperdiçar tempo e nem permanecer à noite no meio da Floresta das Aranhas, local cujo nome não é de bom agouro.

      Passaram próximo ao Vale das Sombras e desejaram ficar um pouco mais, conversar com velhos amigos e ver lugares conhecidos, mas talvez tivessem tempo no retorno, pois era lá onde planejavam dormir antes de voltar. Então foram em frente, descendo estrada ao sul. Entraram na floresta, procurando lembrar do caminho. Foram apreensivos por conta dos perigos, mas por sorte de Tymora, não somente evitaram qualquer criatura hostil, como encontraram a pequena, bela e ao mesmo tempo curiosa vila de Stormpenhauer. Foram recebidos pelos pequenos gnomos, de lanças na mão. Porém, o chefe daqueles sentinelas era conhecido da Comitiva. Chamava-se Madarn. Recebeu os três com abraços (o que custou um pouco aos seus narizes, já que Madarn não era o que se poderia chamar de um adepto religioso dos banhos) e logo as lanças e a cautela foram substituídas por uma gritaria de pequenos gnomos crianças, do tamanho da canela de um homem, que brincavam e se empurravam, querendo ver os “grandões” que chegavam. Os viajantes pediram para ir até a cabana de Telimas Tecedor de Sonhos, líder daquele povoado.

      “Amigos da Comitiva! Sejam bem-vindos de novo!”, disse o gnomo gordinho, narigudo e barbudo, que fumava em um cachimbo bem comprido uma erva de cheiro doce e agradável. “O que os trazem até aqui?”

      Madarn, note-se, ia enquanto isto na despensa da casa do chefe, pelo qual tinha grande amizade e afeição, mas nenhum espírito de hierarquia, e pegou por sua conta chá, vinho e biscoitos e serviu aos recém chegados.

      “Precisamos de suas habilidades, amigos gnomos. Encontramos mais ao norte, nas terras do Vale da Adaga, uma caverna dentro de um monte. Era uma base de operações de inimigos que tomamos para nós. Gostaríamos que vocês a tornassem, com sua engenhosidade e criatividade, em um lugar mais confortável e útil.”
Telimas sorriu e tragou um pouco de seu cachimbo.
      “Nós gostamos muito de construir coisas. Acho que será muito bom e divertido reformar este lugar. Mas nosso povo precisa de alimentos e dinheiro. E precisaremos comprar madeira, fazer cordas, martelos, pranchetas, polias, correias, esquadros, cunhas...”
      “Não se preocupe!”, falou Kariel, interrompendo a interminável seqüência de itens.       “Vocês serão muito bem recompensados e terão o necessário para fazer o que acharem por bem.”
      “Viu, Telimas! Eles têm dinheiro, não se preocupe. Err...vocês têm, não têm?”, perguntou Madarn.
      “Temos. Moedas de ouro, prata e cobre, estátuas e gemas.”, respondeu Sirius.
      “Mas existe um problema!”, colocou Telimas. “Se deslocarmos uma boa quantidade de gnomos para trabalhar fora daqui, nossa vila ficará indefesa. Sabem que nós moramos em uma floresta infestada de aranhas e temos que ficar de prontidão para repelir qualquer destas criaturas.”
      “Só sei que eu vou!”, bradou Madarn.
      “Mas Madarn... você é o líder dos guardas aqui. Se for, como vamos fazer no caso de aparecer alguma aranha?”
      “Pô, Telimas... já ensinei todo que sei... esses trouxas sabem o que fazer!”, respondeu contrariado o gnomo, que estava ávido por uma aventura.
      “Não sei... ainda acho muito perigoso. Vocês têm alguma idéia?”
      “Tenho uma.”, colocou Magnus. “Podemos contratar mercenários. Existem alguns anões que ficam de vez quando perambulando na taverna O Velho Crânio, no Vale das Sombras, em busca de serviço. Poderíamos pagá-los para ficarem aqui, protegendo a vila, enquanto os gnomos trabalham.”
      “Então podemos ir ao Vale das Sombras, retornamos com estes mercenários e iremos com os gnomos até o Monte da Adaga.”, sintetizou Kariel os próximos movimentos.
      “O que acha, senhor Telimas?”, perguntou o paladino.
      “Concordo. Se garantirem proteção e pagamento justo, garanto os trabalhadores.”, falou o líder dos gnomos de Stormpenhauer, selando assim o acordo.

      Os três aventureiros então retornaram, em direção do Vale das Sombras. Após cavalgarem por cinco horas, chegaram, próximo ao crepúsculo, ao Vale que chamavam de lar. Encontraram aquela familiar cidade de casas de argamassa e madeira, nas cores branca e negra. A construção da muralha que deveria cercar a cidade estava ainda no princípio, e talvez durasse ainda muitos meses ou mesmo anos. Tomaram a via em que levava ao Velho Crânio, a mais conhecida taverna deste Vale, que ficava no sopé de uma rocha de mesmo nome. Entraram no movimentado ambiente, onde bebiam camponeses, trabalhadores do comércio, soldados, aventureiros, viajantes e, é claro, mercenários. Mas não era um lugar sujo e barulhento, com brigas e arruaças, como muitas pelos Reinos. A Velho Crânio conseguia manter-se respeitável e tranqüila, graças ao esforço do proprietário, dos homens de bem e dos soldados do Vale das Sombras, que costumavam impedir os excessos e afastar eventuais malfeitores. O trio dirigiu-se ao balcão onde estava o taverneiro, Cowel Lorier, um homem gordo, careca e barbudo, conhecedor de muitas histórias sobre a região dos Vales. Já o conheciam, pois quando permaneciam mais tempo na cidade, vez ou outra apareciam por lá, seja para conversar e provar da cerveja escura e encorpada, como para saber de notícias e rumores.

      “Elfo, está sumido do Vale das Sombras!”, falou à Kariel.
      “Salve Cowel. Sim, é verdade. E temo que ficarei mais tempo distante resolvendo uns assuntos.”
      “Uma missão, certo. Com a Comitiva, não é?”
      “Sim. Isto mesmo!”
      “Magnus e Sirius... é um prazer revê-los também. Por favor, sentem-se.”, disse, saindo do balcão e oferecendo uma mesa. Os aventureiros não chegaram a sentar, pois pretendiam abreviar a conversa. Cowel então perguntou: “O que posso fazer por vocês?”
      “Precisamos de alguns braços armados, Cowel.”, respondeu Sirius.
      “Vão atrás do dragão?”
      “Dragão?! Que dragão!?”, perguntou, curioso, Magnus.
      “Parece que existe um dragão incomodando na floresta. Querem reunir um exército para acabar com ele! É por isto que estão aqui, não?”
      “Não, Cowel. Precisamos de homens para defender uma aldeia de gnomos, ao sul daqui, na Floresta das Aranhas.”, colocou Kariel. “Não sabemos desta história sobre um dragão, e infelizmente nada poderemos fazer a respeito.”
      “Humm... você fala da vila de Stropi... Strospem... Stomperraun...”
      “Stormpenhauer!”, completou o elfo de cabelos azuis. “Precisamos deslocar alguns gnomos para prestar-nos um serviço e para não deixar a sua vila desguarnecida, precisamos contratar alguns mercenários para proteger o lugar.”
      “Pensei em alguns anões, que geralmente possuem bons relacionamentos com os gnomos e são confiáveis. Por acaso conhecem alguns que possam nos ajudar?”, questionou Magnus.
      “Conheço muitos mercenários, mas os melhores e mais confiáveis são aqueles que querem entrar para a guarda da cidade. Eles ganhariam de duas à seis peças de prata por dia, dependendo da experiência e habilidade o valor pode aumentar! Se puderem pagar bem, acredito que irão com vocês!”

      Os três conversaram e negociaram com Cowel. Como tinham dinheiro, decidiram contratar os melhores e ter os melhores não custava barato: teriam dez contratados; nove guerreiros, cinco deles anões e quatro homens, e um clérigo de Tempus, também humano, o que lhes custariam ao todo doze peças de ouro e uma de prata por dia de trabalho. Deram também, a título de gratificação pela intermediação, cinco peças de outro a Cowel, que enviou por um garoto de recados o pedido para que os mercenários comparecessem, prontos, à taverna. Demoraram cerca de quarenta minutos e lá estavam todos, trajados e armados, na porta da Velho Crânio. O líder do grupo era um anão chamado Clarinak Barba de Fogo.

      “Pronto. Compraremos alguns mantimentos e podemos retornar à Stormpenhauer.”
      “Magnus, se importaria de ir à frente? Gostaria de rever meu filho antes de partir.”, pediu Kariel.

      Magnus entendeu a preocupação do amigo. Afinal, a Comitiva viajava por meses e cada missão poderia ser a derradeira. Nestas horas, ficava aliviado de não ter uma esposa que pudesse ser sua viúva ou um filho que pudesse vir a ser seu órfão. O paladino pôs a mão coberta pela luva de ferro polido no ombro do amigo e disse-lhe.

      “Veja seu filho, Kariel. Nos encontraremos no Monte da Adaga!”

      Cumprimentaram-se e desejaram-se votos de boa sorte. E assim, o pequeno destacamento partiu para o sul, ao encontro dos gnomos, enquanto Selûne, cheia e radiante, revelava-se no céu já escuro.

Um Reencontro

      Kariel então rumou para a igreja de Mystra, pequeno templo erguido pelo seu grande amigo e ex-companheiro de aventuras, o mago Kelta Westingale, de quem sentia falta. Era tarde, mas talvez ainda o encontrasse, quem sabe ensinando um pouco dos ofícios místicos aos jovens do Vale ou ajudando a curar algum doente com seu conhecimento sobre ervas. Kelta era também o tutor do seu filho, e por isto encontrá-lo era também uma dupla alegria. Chegou a igreja de pedra, de janelas altas e mosaicos de vidro. Uma folha de seu portão duplo estava aberta e as velas e tochas iluminavam a nave da igreja. Kariel viu novamente os bancos de madeira e a bela e grande figura de Mystra, esculpida em rocha, cuja imagem, jurava Kelta, era a perfeita semelhança da deusa, que conhecera em uma de suas maiores aventuras. Entrou e foi até uma sala, anexa ao local do culto e de lá subiu uma escada. No andar superior, encontrou Wondyr, um clérigo da Deusa, e quatro adolescentes, sentados em uma mesa de madeira, com livros abertos.

      “Com licença!”
O sacerdote levantou-se. Mirou a face do recém-chegado e lembrou do elfo que conhecera meses atrás.
      “Salve, Kariel.”, respondeu cordialmente o homem. “Alunos... este é Kariel, poderoso mago da Comitiva da Fé. Ele foi escolhido por nossa própria Deusa para ser um de seus discípulos!”

      Os jovens olharam com espanto e admiração e saudaram o elfo, que estava um tanto desconcertado com a apresentação.

      “Wondyr... procuro meu amigo Kelta.”
      “Kelta já deixou a igreja. Deve estar em casa a esta hora!”
      “Muito obrigado e desculpe-me a interrupção. Adeus e que Mystra os guie em seus estudos.”, disse o mago elfo de cabelos azuis, despedindo-se.

      Quase uma hora a cavalo Kariel chegara numa floresta ao qual era protegida pelos deuses da natureza. Sua natureza mágica impedia a entrada de seres com má índole. Era conhecida por Bosque dos Druidas, lugar este habitado por um círculo de sacerdotes da natureza, alguns camponeses e criaturas silvestres. Tomou um caminho e ao longe conseguia ver seu objetivo.

      A casa de Kelta, que possuía dois andares e era feita de pedra e rodeada por uma varanda. O próprio Kariel tinha lá uma pequena torre, a algumas dezenas de metros da casa do amigo, que se encontrava trancada devido a sua ausência.

      O elfo bateu na porta de madeira e um menino de cabelos negros, pele muito clara, olhos intensamente azuis e orelhas levemente pontudas, abriu a porta. Era Zender, seu filho e da druida Ênia. O belo menino aparentava sete anos de idade, apesar de ter doze, conseqüência de sua herança élfica, que o faria viver bem mais do que todos os seus amigos humanos.

      “Como está, filho? Tem se comportado?”
      “Estou bem, pai! Sou comportado. Pode perguntar a meu tio! Estava com saudades!”

      Zender abriu um sorriso, abraçou Kariel, que o ergueu por alguns eternos minutos, enquanto também sorria. Depois o pôs no chão e o garoto saiu correndo para dentro da casa.

      “Tio Kelta! Tio Kelta! Venha ver quem está aqui!”

      Kelta, um homem maduro, alto e de compridos cabelos negros, chegou a porta e viu o velho amigo.

      “Kariel! Seja bem vindo!”, disse, dando-lhe um cordial abraço. “Por favor, entre!”

      Kariel foi conduzido até a sala e sentou com o companheiro de muitas viagens ao redor de uma mesa.

      “É muito bom revê-los.”
      “Como vai você, Kariel? Faz muito tempo não o vejo! E os outros... onde estão?”
      “Estou bem e os demais também. Estão fazendo alguns preparativos para nossa próxima missão. Temo que ficará sem nos ver por mais um bom tempo. Tive sorte de poder vir aqui e reencontrá-los.”
      “No que estão envolvidos? Conte-me!”, quis saber, curioso, o homem.

      Neste instante chegou a sala Coral, esposa de Kelta. Cumprimentou Kariel e ficou de longe observando a conversa dos dois. Tinha receio de que o marido pudesse, de repente, largar sua aposentadoria dos tempos de aventuras e meter-se novamente em perigos.

      “Descobrimos um esquema dos drows para invadir a superfície. Iremos percorrer um local chamado Subterrâneo, uma rede imensa de cavernas e túneis, para tentar frustar estes planos.”
      “Vocês vão para o Subterrâneo!?”
      “Sim... conhece algo a respeito?”
      “Elminster uma vez me falou que o Subterrâneo é um mundo que existe debaixo do nosso mundo e que também é conhecido como o Submundo das Trevas. É onde ficam as cidades drow. Devo avisá-lo de que isto é muito perigoso. Não gostaria de ir lá novamente.”

      Kelta e Kariel não perceberam, mas Coral suspirou e um pequeno sorriso repuxou seus lábios ao ouvir as últimas palavras do marido.

      “Eu sei, amigo, mas a Comitiva não tem muitas escolhas. Tymora nos coloca o destino e nós temos que seguí-lo. Storm irá conosco.”
      “Isto me tranqüiliza um pouco. Storm é uma poderosa aliada.”
      “Diga-me... como é este Subterrâneo? Devemos percorrê-lo usando uma nau voadora que encontramos! Aliás, sabe como pilotar uma delas, Kelta?”
      “Não. Quem possuía este conhecimento não está mais entre nós. Era o nosso falecido amigo Feargal. Você não vai acreditar como ele aprendeu. Foi numa viagem que fizemos em uma destas embarcações. Fomos além de Toril, pelas estrelas, conduzidos por um ser chamado Blotamus, encontramos outros seres e outros mundos. Você sabia que os mundos, quando vistos pelas estrelas, são esféricos como Selûne que brilha na noite de hoje?”
      “Sempre pensei que os mundos fossem planos!”, admirou-se o elfo. “Amigo... você retornou no tempo, conheceu Deuses, viajou pelo espaço! Gostaria de ter estado nestas aventuras!”
      “Bem... agora será a sua vez de continuá-las! Ah... lembrei-me de que encontrei uma criatura conhecida como devoradores de mentes neste período. Elas existem no Subterrâneo.”
      “São chamados, por acaso, dueagares ou ilítides? Storm leu o nome destas criaturas nos planos que encontramos.”
      “São os ilítides. Não se aproxime deles. Eles têm uma força incomum e podem segurar suas vítimas com quatro tentáculos que possuem na altura da boca e depois absorver seu cérebro. Já os dueagares são um tipo monstruoso de anões. São para os anões o que os drows são para os elfos . Tenha muito cuidado com os dois.”
      “Criaturas com quatro tentáculos na altura da boca...”, enquanto repetia, a mente de Kariel fazia conexões com uma descoberta que haviam feito meses atrás.       “Encontramos ruínas muito antigas, e nelas haviam inscrições contando que seres de quatro línguas, que vieram das estrelas e trouxeram o segredo do uso da magia para Toril. Será que se referiam aos tais ilítides?”
      “É provável. Se vocês encontraram a indicação da origem do conhecimento sobre magia em nosso mundo nestas ruínas, talvez esta seja uma das maiores descobertas arqueológicas de todos os tempos! Contou isto para alguém?”
      “O Coronal Eltargrim, dos elfos de Cormanthor e Khelben sabem. A propósito, ele disse que não vai cobrar sobre a destruição que fez na torre dele.”, disse sorrindo, lembrando que, há muitos anos, o amigo havia posto fogo na torre do Arquimago de Águas Profundas.
      “Pelo menos isto mostra que ele esqueceu aquilo!”, comentou Kelta, também achando graça.
      “Existe algo mais que deve saber para que não se surpreenda: nosso amigo Arthos, em uma de nossas andanças, cometeu um grave crime em Evereska...”
      “Ele está morto?! Não me diga isto!”
      “Não, mas ele foi transformado em um humano como castigo!”

      Kelta imediatamente gargalhou.

      “Não ria, Kelta. Isto é sério!”, protestou Kariel, sem, contudo, se aborrecer.
      “Me perdoe, Kariel!”, disse Kelta se refazendo. “Mas isto é uma grande ironia... Arthos nunca foi um modelo de elfo e foi condenado a ser aquilo que sempre foi por dentro.” Kelta lembrou-se de algo e suas feições tornaram-se mais sérias. “Enquanto a Diana? Ele já superou o que aconteceu em Águas Profundas?”
      “Certamente não, mas atualmente parece melhor. Acho que as transformações de ser um humano devem estar ocupando sua mente. Devo ir agora...”, disse Kariel levantando-se.
      “Fique. Não pode viajar agora a noite. Deixe para ir pela manhã.”

      Kariel ponderou e resolveu ficar. Magnus também só chegaria no Monte da Adaga no dia seguinte. Permaneceu então na casa de Kelta naquela noite, onde os dois amigos conversaram sobre suas vidas e aventuras. Ainda contou uma história, uma antiga fábula élfica ao seu filho, antes dele fechar os olhos. De manhã cedo, ao raiar do dia brumoso e frio do Vale, Kariel partiu para o Monte, para reencontrar seus companheiros, no início daquela nova e difícil aventura.

Esta história é uma descrição em teor literário dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé em Salvador sob o sistema de RPG Dungeons & Dragons, Edição 3.5.

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