O
Monte da Adaga
Descrita por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens principais da aventura:
Os
Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound
(Limiekki). Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor.
O Halfling: Bingo Playamundo. Participação
Especial: Storm Mão Argêntea e Randal Morn.
O Monte da Adaga
Prólogo
Meses
atrás, foi o grupo de heróis, conhecido por
alguns por a Comitiva da Fé, ao Vale da Adaga, em busca
da solução de misteriosos desaparecimentos,
a pedido do Lorde local, Randal Morn. Entre os desaparecidos,
dois membros dos Harpistas, organização secreta
cujo princípio está em promover a ordem, combatendo
a tirania e vilania em Faerûn. Lutaram contra um exército
invasor, uma bruxa, vampiros. Resgataram alguns seqüestrados,
mas não chegaram a encontrar os Harpistas.
Logo o destino os colocou
também no centro de outro evento, de maior dimensão
e conseqüências, e juntamente com o auxílio
de alguns dos seres mais poderosos de Faerûn, afastaram
a ameaça milenar dos phaerimns, criaturas monstruosas,
devoradoras de magia e vida, que haviam sido libertadas de
sua prisão mística e poderiam destruir todos
os Reinos. Como se tal proeza não fosse o suficiente,
impediram também os planos de Telamont Tanthul e da
raça dos vultos, descendentes de um enclave perdido
da hoje extinta nação de magos chamada Netheril.
Mas esta fantástica aventura não seria a última
da Comitiva e estas são as próximas páginas
de sua história.
O Retorno à
Cachoeiras da Adaga
Na floresta, nos arredores
da cidade de Cachoeiras da Adaga, uma cena inusitada para
muitos estava para ocorrer. Repentinamente, um grande círculo
de energia e luz dourada surgiu no ar. Os magos, conhecedores
da obscura arte dos encantamentos, reconheceriam tal efeito:
era um portal que se abria, uma brecha mágica na realidade
que ligaria, por alguns momentos, a densa floresta na Terra
dos Vales com as distantes paragens rochosas próximas
a cidade de Evereska, a Fortaleza Élfica e último
cenário de aventuras dos viajantes conhecidos como
a Comitiva da Fé.
Do círculo brilhante,
saiu uma perna de mulher e depois viu-se emergir a afamada
aventureira Storm Mão Argêntea, poderosa maga
e guerreira. Em seguida, um por um, saíram os membros
da Comitiva, a saber: o paladino do Deus Helm, Magnus, e seu
amigo Bingo Playamundo, um valente da raça dos pequenos
ou halflings; o guerreiro Sirius Lusbel; o mateiro ranger
Siegel O'Blound (que era mais conhecido sob a alcunha de Limiekki),
o espadachim que fora outrora elfo e hoje é um recém
chegado à raça humana, Arthos Fogo Negro, e
os elfos Mikhail Velian, clérigo da Deusa da Magia
Mystra, que veio com seu corcel falante Burgos, e Kariel Elkandor,
mago e Escolhido pela mesma Deusa como um de seus representantes.
Por último, ainda veio um goblin, raça em geral
desprezada e temida por sua tendência natural à
violência e crueldade. Porém este, chamado Pukto,
era uma exceção. Havia sido trazido para se
abrigar em um refúgio onde pudesse viver em paz, longe
das perseguições e do modo de vida de sua espécie.
Quando todos passaram,
a luz do portal esvaneceu e desapareceu, e a bela mulher começou
a falar.
“Estamos próximos
de Cachoeiras da Adaga, meus amigos. Daqui partiremos para
a cidade e falaremos com Lorde Randal Morn. No castelo, ele
e a meia-elfa amiga de vocês, Elen Laurë, certamente
nos esperam com algumas informações que podem
nos levar aos dois Harpistas desaparecidos.", disse Storm.
“Se me permite,
Storm...”, interferiu Limiekki, “Levarei primeiro
Pukto para o a Aldeia do Amanhecer. Ela fica a poucas horas
daqui. Depois os encontrarei em Cachoeiras da Adaga.”
“Boa idéia!”,
comentou Arthos, “Seria mesmo difícil andarmos
com um goblin ao lado, sem que nos fossem feitas milhares
de perguntas...”
“Vá, Limiekki...
será o tempo de contarmos a Lorde Randal tudo o que
nos aconteceu nos últimos dias e ouvir dele as notícias.
Depois o colocaremos a par sobre o que nos for dito”,
assentiu Storm.
Com rápidos acenos,
Limiekki e Pukto se despediram e se embrenharam na mata até
desaparecerem por entre as folhas e troncos.
Os heróis então
puseram-se a caminhar. O único que ia montado era Mikhail,
que comandava a trote lento Burgos, seu cavalo encantado.
Passaram pela floresta e então por terrenos pedregosos,
até avistarem a cidade murada de Cachoeiras da Adaga.
Lembraram que, a poucos meses, ajudaram o povo do lugar a
expulsar invasores do Mar da Lua, que haviam pela força
assumido o comando da cidade. Em outro feito heróico,
também naquela cidade, descobriram e eliminaram um
vampiro chamado Gryvus Loriath, culpado por desaparecimentos
e mortes. Porém, não foram eles os únicos
a lembrarem. Foram reconhecidos e, logo a pós adentrarem
o portão principal, recebidos com sorrisos, saudados
e aplaudidos. Viram, com satisfação, que as
marcas da destruição causadas pelos inimigos
estavam aos poucos sendo apagadas: haviam casas sendo reformadas,
cercas sendo construídas, e muros marcados pelo negro
das chamas estavam sendo pintados com cal branco. A vida estava
retornando ao normal e os homens daquele Vale sabiam que aqueles
heróis, em conjunto com seus bravos soldados e o seu
Lorde, eram os responsáveis por estarem vivos e livres
naquele final de dia.
Chegaram até os
portões do castelo do Lorde, e um capitão da
guarda os recebeu, orgulhoso. Chamava-se Radovar. Os heróis
não podiam lembrar de todos os soldados daquele Vale
que lutaram junto a eles para expulsar as forças de
Forte Zenthil, mas ele lembrava daquele grupo incomum e sentia-se
honrado em vê-los novamente. Storm foi quem pediu-lhe
audiência com Randal Morn e então o oficial os
levou até a Sala de Guerra, um cômodo decorado
com armas e armaduras, e com uma grande mesa de madeira e
cadeiras ao centro, onde alguns sentaram. Durante a espera,
foi servido uma rápida e frugal refeição,
gentileza mais que bem-vinda para viajantes cansados. Arthos,
que desde o momento em que fora convertido em humano andava
calado e menos brincalhão do que de costume, ficou
de pé, olhando melancólico através de
uma janela. O mago Kariel, que o observava, levantou-se e
foi até o encontro do companheiro.
“Arthos... como
está, amigo?”
“Bem...”,
respondeu, pouco convincentemente.
“Sei que não
será fácil se acostumar com esta nova forma
de humano... eu mesmo ainda não me acostumei a vê-lo
assim tão diferente.”
“Se é difícil
para você, Kariel, imagine então para mim.”
“Mas terá
também suas vantagens...”, disse o elfo, aproximando-se
da janela e fitando as casas de Cachoeiras da Adaga junto
com o Arthos.
“Que vantagens podem
haver, Kariel?”
“Fará amigos
mais rápido... assim como esquecerá dores antigas...”,
falou Kariel, lembrando-se de Ênia, a mulher que, apesar
do fim de seu relacionamento, ainda amava e ainda amaria por
séculos.
“Talvez tenha razão...
me sinto estranho, inquieto...”
“É sua alma
de humano, querendo viver a sua vida curta o mais rápido
possível. Tenha cuidado com isto.”
O diálogo entre
Kariel e Arthos se encerrou com o ruído da grande porta
de madeira que dava acesso a sala de guerra sendo novamente
aberta. Entrou por ela Lorde Randal Morn, homem robusto, com
uma barba negra cerrada, senhor do Vale da Adaga.
“Meus amigos...”,
disse o lorde sorrindo. “Que bom revê-los! O que
fizeram desde a última vez que aqui vieram?”
“Lorde Randal...
a história seria por demais comprida e complicada para
contar-lhe de forma rápida, mas estivemos em uma dura
e importante batalha.”, respondeu Kariel.
“Sim, Lorde.”,
emendou Storm. “Contaremos-lhe tudo ao seu tempo, mas
nossa prioridade é descobrir informações
sobre o paradeiro dos dois Harpistas desaparecidos. Estamos
muito preocupados a respeito.”
A fisionomia de Randal
mudou, tornando-se séria e grave.
“A amiga de vocês,
Laurë, estará aqui em breve e por certo lhes dará
novas informações. Mas posso adiantar-lhes que
os desaparecimentos continuam a afligir Cachoeiras da Adaga.
Parece que não foram os vampiros Gryvus e Mariel os
únicos responsáveis por eles. Sepultamos os
mortos encontrados na mansão de Gryvus, mas muitos
corpos não foram encontrados e, recentemente, há
duas manhãs atrás, um caçador sumiu no
meio da floresta.”
“Alguém sabe
onde exatamente ele desapareceu? Podemos promover uma busca.”,
sugeriu Mikhail.
“Ele costumava caçar
ao Norte.”, disse Randal.
Pela porta aberta, entrou
a meia-elfa Elen Laurë, uma bela figura, porém
de uma fisionomia bastante diferente entre meio-elfos: tinha
a pele escura, porém não como a de um elfo negro,
e os cabelos tingidos de verde.
“Comitiva! Pensei
que não iriam mais retornar! É bom ver que estão
inteiros. Lorde Randal já deve ter-lhes adiantado algo,
não?”
“Sim. Falou sobre
os desaparecimentos. Isto pode ser coisa de vampiros!”,
especulou Sirius.
“Mas nós
matamos Gryvus e Mariel! Não podem ser eles! Só
se forem outros”, colocou Arthos.
“Não descarte
nenhuma hipótese, meu amigo!”, disse Magnus em
um tom tanto sombrio quanto misterioso, “Os seres das
trevas tem recursos que nenhum de nós pode imaginar!”.
“O que tem a nos
dizer, Laurë? Alguma outra informação que
possa nos ajudar a desvendar este mistério?”,
perguntou Kariel.
“Na verdade, sim.
Em uma de minhas investigações na floresta,
fui seguida. Consegui ver meus perseguidores de relance. Vestiam
mantos negros e púrpuras e por baixo deles, vi o brilho
prateado de metal, o que indica o uso de armaduras. Tentei
ir atrás deles, mas desapareceram. Posso levá-los
ao local onde os vi.”
“Poderemos ir amanhã
cedo!”
“Sim, Mikhail.”,
concordou Storm, “Sugiro que descansem hoje. Amanhã
vão com Laurë até este lugar. Infelizmente
não poderei ir com vocês, pois devo me dirigir
ao Vale das Sombras para estar a par dos assuntos da Harpa.
Devo voltar em poucos dias, mas peço-lhes que se adiantem
na investigação.”
A Comitiva então
confirmou a sua viagem matutina, juntamente com Laurë
e a reunião encerrou-se. Limiekki chegou neste momento.
Já havia deixado Pukto na Aldeia do Amanhecer. Foi
colocado a par da situação e da missão
que aconteceria na manhã seguinte. Todos sabiam da
importância de Limiekki para o êxito da investigação.
O ranger, nome como são chamados os homens que respeitam
a floresta e que fazem dela seu habitat, conhecia profundamente
animais e plantas, trilhas e rastros. Sua ligação
e conhecimento sobre a natureza deu-lhe inclusive algumas
capacidades extraordinárias, dádivas dos deuses
da floresta.
Antes de subirem as escadarias
de pedra que levavam a ala de quartos, Kariel foi ter com
Laurë. Havia feito uma promessa à jovem e agora
cumpriria sua palavra.
“Laurë, quando
parti para Evereska fiquei com algo seu.”, disse o mago
elfo de cabelos azuis, retirando de sua algibeira um medalhão,
que exibia o desenho de uma árvore e letras élficas.
“Disse que ia procurar saber sobre sua Casa e assim
o fiz”
Laurë sorriu, esperançosa.
“E então?
Descobriu algo?”
“Conversei com um
velho sábio evereskano e mostrei-lhe o brasão
do medalhão. Ele garantiu-me que o padrão não
pertence a nenhuma das Casas evereskanas, mas mostrou-me um
desenho de um outro, muito semelhante, em um velho livro sobre
as Casas de Cormanthyr. Então é possível
que seus antepassados élficos tenham vindo deste Reino.”
“Kariel. Muito obrigado
pelo seu empenho.”, falou com um sorriso, “Por
coincidência, estaria partindo amanhã mesmo para
a floresta de Cormanthor. Fiquei somente para aguardá-los.
Espero e oro para Eilistraee que me ajude a encontrar o legado
de meu pai.”
“Rogo a Tymora que
em Cormanthyr você encontre o que procura!”
“Mais uma vez obrigado,
Kariel. Perdoe-me a curiosidade, mas onde está o seu
amigo elfo de cabelos escarlates? Aquele homem parece muito
com ele...”, disse apontando com o olhar Arthos, que
já subia as escadas em direção de seu
quarto.
“Ele é Arthos,
Laurë.”
“Como? E o que aconteceu
a ele? Algum tipo de maldição?”
“Isto depende de
pontos de vista. Acontece que Arthos cometeu um grave crime
em Evereska. Invadiu um lugar sagrado e foi condenado pelos
evereskanos a ser expulso da raça élfica, através
de um ritual muito antigo.”
“Pela Deusa! Não
sabia que isto era possível!”
“Nem eu, Laurë.
Foi um punição rígida e cruel.”
Mikhail e Limiekki se
aproximaram de Laurë e Kariel. Queriam mais uma informação
antes de dormir.
“Desculpe-nos interromper
a conversa, mas queríamos saber algumas coisas. Estas
pessoas que viu na floresta... usam mantos idênticos?”,
perguntou Limiekki.
“Sim, acho que sim...
porém os vi muito rapidamente para maiores detalhes.”,
respondeu Laurë.
“Isto pode indicar
que pertencem a um exército ou culto.”, colocou
Mikhail.
“Bem... acho melhor
descansarmos. Obrigado por satisfazer esta nossa curiosidade,
Laurë.”, disse Limiekki, com olhos já pesados
de sono.
Os heróis então
foram para seus quartos, onde descansaram para a missão
do dia seguinte.
Intrusos na Floresta
De
manhã, logo cedo, estavam todos reunidos na entrada
do castelo. Estavam prontos e alimentados. Resolveram partir
a pé, visto que a floresta era densa e os cavalos teriam
dificuldades em vencer tal terreno. Storm desejou-lhes sorte
na empreitada e despediu-se, rumo ao Vale das Sombras, porém,
não sem antes beijar a face do paladino Magnus, e desejar
por um rápido momento não ter que se separar
de seu amado.
Seguiram
para a orla da cidade, atravessaram suas muralhas, e por fim
entraram na floresta. Laurë ia à frente. Andaram
por duas horas. As árvores, no início, esparsas
e pequenas, foram dando lugar a vegetação densa,
espécies altas e um solo com muitas rochas e arbustos,
alguns deles com frutinhas coloridas, que foram colhidas e
comidas rapidamente por Bingo. Limiekki, que conhecia muito
bem aquela floresta, olhava ao redor e percebia o que não
era possível para os demais: haviam menos animais e
frutas do que de costume. Alguém parecia estar utilizando
os recursos da floresta. Pediu licença do restante
do grupo, que aproveitou para sentar em um tronco e descansar
um pouco, e afastou-se. O ranger então voltou-se para
um alto e antigo carvalho. Fez uma prece a sua deusa e recitou
um encanto. O ranger então ouviu em sua mente uma voz
grave e vagarosa.
“O
que deseja Limiekki, habitante de nossa casa!”
“Grande
Carvalho, percebo que não há tantos moradores
como deveriam haver aqui nesta região. Também
estão desaparecendo pessoas de minha espécie.
Sabe algo a respeito?”
“Sim...
existem novos moradores.... novos moradores.... chegaram a
algum tempo. Agora eles avançam...querem mais.”
“Eles
respeitam as leis da floresta? As coisas que crescem e que
vivem?”
“Eles
nos incomodam... nos incomodam... representam uma escuridão...”
“Suas
irmãs e irmãos sabem onde eles estão?”
“São
como formigas... podem surgir de vários lugares...
habitam o centro da terra e vieram conquistar o que já
foi seu um dia.”
“São
como os orcs?”
“Não...
não como orcs...”
“Obrigado,
Grande Carvalho. Longa vida às coisas que crescem!”
“Obrigado
Limiekki. Espero que volte... volte a viver aqui.”
“Um
dia retornarei, Grande Carvalho, não os deixarei desamparados...
adeus.”
Limiekki então retornou até o local onde seus
companheiros descansavam.
“O
que foi procurar, Limiekki?”, quis saber Kariel.
“Conversei
com o Grande Carvalho. Ele me informou que existem novas criaturas
vivendo aqui nesta região. Segundo ele, estes seres
não são orcs, vivem debaixo da terra e vieram
retomar o que já foi seu no passado”.
“Seres
que vivem embaixo da terra... drows?”, especulou Kariel.
“Bem
que podem ser estes seus primos... pelo que ouvi dizer, eles
vivem nas cavernas.”, colocou Limiekki.
Kariel
retrucou, um tanto irritado.
“Não
são meus primos. Drows não são elfos!”
“Ei...
ei... ei! Espera um pouco aí!”, interrompeu Bingo.
“De onde mesmo você disse que tirou esta informação?
De uma árvore? E árvore, por acaso, fala?”
“Fala,
Bingo, mas somente para quem tem ouvidos para ouvi-las!”,
disse sorrindo Limiekki para o pequeno.
Bingo
aproximou-se para uma árvore próxima, encostou
a orelha no tronco, deu uma leve batida na madeira e falou:
“Alô...
alô... está me ouvindo? Pô... essa árvore
não quer falar comigo. E eu tenho ouvidos igualzinhos
aos seus!”, reclamou.
“Não
Bingo. Eu posso ouvi-las graças a uma dádiva
da Dama da Floresta, a Deusa Mielikki. Ela concede este dom
para aqueles que vivem na floresta e respeitam a natureza.!”
“Ah...
bom!”, disse o pequeno, afastando sua orelha da árvore.
“Bem...”,
começou Magnus para voltar ao assunto, “Criaturas
que vivem sob a terra podem ser de vários tipos, kobolds,
vampiros, além de outros seres das trevas, que mesmo
mortos, podem habitar estes locais.”
“Não
adianta muito tentarmos adivinhar. Vamos até o lugar
onde Laurë viu os suspeitos e podemos tentar encontrar
alguns rastros.”, sugeriu Mikhail.
Concordaram
e andaram por mais vinte minutos, até a meia-elfa chegar
em uma clareira e anunciar o local procurado. Limiekki então
olhou com cuidado o solo, a posição das pedras
e das raízes, folhas partidas e galhos deslocados.
Sua experiência encontrou um rastro e por ele seguiu.
A Comitiva vinha logo atrás, porém dando-lhe
espaço suficiente para que pudesse observar de modo
atento aonde aquelas evidências iriam apontar. Subiram
até um pequeno morro, onde Limiekki parou. Olhou para
frente e viu um monte, a cerca de um quilômetro de distância.
Em seguida, quebrou o silêncio.
“Foram
rastros de dois humanóides. Muito difíceis para
descobrir. Estiveram aqui há dois dias. Parecem ter
ido em direção daquele monte a frente. É
chamado de Monte da Adaga. Acho que vale a pena investigarmos.”
“Se
estes seres vivem embaixo da terra, podemos procurar cavernas,
passagens ou algo do gênero naquele monte”, Kariel
sugeriu.
“Antes
de prosseguirem, peço-lhes um momento, Comitiva.”,
interrompeu Laurë. “Os levei para o local combinado,
mas terei que deixá-los nesta parte do caminho. Tenho
outros compromissos e devo partir para a Floresta de Cormanthor.
Gostaria de desejar-lhes sorte e que Eilistraee guie seus
passos!”
“Obrigado
Laurë! Que Tymora sorria para você em sua busca”,
desejou Kariel, acompanhado de votos semelhantes, feitos por
todos que ali estavam.
Então
a meia-elfa acenou e desapareceu nas árvores, enquanto
a Comitiva andava, o mais silenciosamente possível,
em direção ao monte para onde os rastros pareciam
apontar, sendo guiados por Limiekki. Quando estavam bastante
próximos, o ranger anunciou novas descobertas.
“Os
rastros estão mais recentes e abundantes. Indicam muitos
indivíduos e posso identificar orcs e goblins entre
eles! É melhor termos bastante precaução!”
Prosseguiram
ainda mais silenciosos, corpos ligeiramente curvados e armas
nas mãos. Os rastros os levaram aos arredores de uma
pequena montanha conhecida por Monte da Adaga e em um certo
ponto, Limiekki parou.
“É
estranho. Existem muito rastros, mas todos terminam aqui,
na direção daqueles arbustos rente ao paredão
de rocha.”
“Pode
haver uma porta secreta, como na toca daquele xamã
orc, Marut.”, lembrou Sirius.
“Um
momento... deixem-me tentar algo”, pediu Kariel.
O
elfo de cabelos azuis-celestes ergueu sua mão espalmada
em direção do local à frente e fechou
os olhos por alguns segundos. Em seguida, anunciou.
“O
arbusto é uma ilusão. Provavelmente oculta a
entrada de uma caverna.”
“Humm...
não é muito normal orcs ficarem usando magia.”,
disse Limiekki.
“Podem
haver outros seres mais poderosos com eles.”, Mikhail
falou preocupado.
“Eu
posso investigar a entrada, usando o poder de invisibilidade
de meu elmo. Vocês podem se ocultar na vegetação
aqui fora. Voltarei para chamá-los.”
Os
aventureiros concordaram com a estratégia proposta
por Kariel e foram se esconder em outros arbustos próximos.
O mago então tocou seu elmo dourado e desapareceu.
Devagar, passo a passo, Kariel avançou rumo ao mato,
até que a atravessou e pôde ver, com alguma dificuldade
devido a escuridão, que realmente se tratava de uma
entrada para uma caverna. Não haviam ruídos.
Kariel decidiu então retirar sua espada da bainha e
ativar, através do desejo de sua mente, a iluminação
azulada que emanava da lâmina. Pôde ver as paredes
rochosas e o alto teto. Estava em um corredor, com cerca doze
metros de largura, que se estendia a frente. Não havia
nenhum inimigo ou animal a vista. Decidiu retornar para avisar
os amigos e começar a exploração daquele
local.
“Amigos.
Podemos prosseguir. Não há nada de hostil no
início da caverna ”, disse a voz de Kariel, que
ainda estava invisível, dando um pequeno susto em Bingo.
Então
avançaram e passaram pela parede ilusória. Mikhail
comentou com Kariel.
“Um
mago experiente deve ter erguido esta ilusão, não
Kariel?”
“Sim.
Digo isto por conta de ter tornado o encanto permanente. Posso
estar enganado, mais isto não parece coisa de orcs.”
Enquanto
conversavam, Sirius, curioso com a existência da ilusão
à sua frente quis tatear o sortilégio. Sua mão
atravessou o engodo mágico sempre que ele a tocava.
O
grupo então passou pela ilusão e avistou a entrada
da caverna. Assim caminharam pelo corredor de pedra iluminados
pela luz da espada Goliath de Kariel. Em um dado momento,
Magnus, o paladino do deus Helm, repentinamente parou, imóvel,
com o olhar paralisado e perdido.
O
paladino começou a ter visões de muitos lugares
e criaturas. Primeiro a cena de várias pessoas de muitas
raças acorrentadas sendo levadas como escravos num
lugar ao qual ele reconheceu como o Abismo. Depois observou
hordas de demônios se degladiando com outros seres demoníacos
e sua visão final foi a de uma mão escarlate
enorme se apoiando num imenso trono. Enquanto via estas imagens,
Magnus também ouviu uma voz firme dizer: “Magnus,
Helm Vigilante me enviou, sou Hadryllis a antiga espada forjada
pelos anciões em Rashemen. Minha missão original
de destruir Eltab foi concluída com sua ajuda, portanto
estou novamente em suas mãos para instruí-lo
a um novo objetivo: expulsar todos os demônios do Plano
Material. Enquanto isso estarei a sua disposição
nos seus ideais e dos seus companheiros, mas nunca se esqueça
da missão, caso a abandone eu escolherei outro campeão
que abrace a causa.”, Magnus, sem pestanejar, respondeu
“Hadryllis, eu respeitarei a vontade de Helm até
meu último suspiro. Guie-me no caminho da verdade e
seguirei impávido.”.
Hadryllis
então bombardeou a mente de Magnus com os conhecimentos
necessários para que ele pudesse usufruir dos poderes
da espada de modo a proteger ele próprio e seus amigos.
Após isso o paladino teve uma segunda visão,
ele vislumbrou dois olhos femininos observando-o. Enquanto
isso, seus companheiros se aproximaram e viram Hadrillys brilhar
fortemente uma luz dourada. Em seguida ela disse a todos.
“Saudações
heróis! Sou Hadrillys, a espada Vigilante Sagrada.
Retornei graças a Helm Vigilante, para cumprir a missão
para a qual fui criada: varrer os demônios do Plano
Material. Enquanto for empunhada por Magnus, os ajudarei na
guerra contra as trevas. Sigam o caminho da luz e me terão
como aliado, sigam as trevas e serei sua ruína. Que
Helm vigie seus caminhos!”
A
espada parou de brilhar, a voz desapareceu e Magnus recobrou-se
de seu transe.
“Magnus?
Você está bem?”
“Sim,
Sirius... Hadrillys falou comigo e me fez ver imagens. Vi
o Abismo e uma guerra entre demônios. Haviam pessoas
escravizadas, raptadas, presas em jaulas. Havia alguém
sentado em um trono e os olhos de uma mulher que observava
a tudo, e que desapareceu sem que pudesse vê-la. Senti
uma grande maldade!”
“Parece
um presságio. Forças demoníacas podem
estar por trás destes desaparecimentos!”, vaticinou
Arthos.
“Temos
que ter mais cuidado do que nunca. Que o Seldarine nos proteja
da interferência do Abismo e de seus demônios.
Estive no plano de Grazz´t e perdi meu tio Elder e meu
amigo Feargal naquele lugar!”, relembrou Kariel dos
momentos terríveis pelo qual passou a poucos meses
atrás.
Foram
cautelosamente andando. Kariel ia à frente, ainda invisível,
mas iluminando o caminho com o brilho que vinha de sua lâmina
que, naquelas condições, parecia vir de lugar
nenhum. De súbito, um pequeno estalar é ouvido
e logo após, um imenso alçapão se abre
sob os pés do mago, que começa a despencar em
um fosso escuro. A surpresa fez com que largasse sua espada
e a luz desapareceu da caverna. Em um único ato ainda
possível, Kariel conjurou um encanto, que o fez cair
devagar, como uma pluma, o que o tornou visível novamente.
Nove metros de queda suave depois, chegou ao fundo, um piso
pedregoso onde jaziam alguns esqueletos humanóides,
vítimas, com menos poder e sorte, da armadilha. Kariel
tomou novamente sua espada, acendeu sua luz azulada e olhou
para cima, adiante. Viu na borda à frente vários
arcos sendo retesados.
“Abaixem-se!”,
gritou Sirius, quando viu, além do fosso, com um resíduo
da iluminação que vinha do fundo da armadilha,
uma dezena de goblins e alguns orcs, que estavam prontos para
disparar suas flechas.
Os
heróis abaixaram-se imediatamente, e as flechas felizmente
passaram zunindo sobre suas cabeças. Logo após,
Bingo e Sirius colocaram-se agachados, retiraram seus arcos
e revidaram. O mesmo fez Arthos com sua besta. Somente as
flechas do halfling e o virote da arma do ex-elfo atingiram
inimigos, que gritaram de dor. Mikhail fez uma prece a Mystra
e operou um encanto divino, que criou uma ponte de pedra entre
as duas margens do fosso. Sua intenção era possibilitar
o combate corpo a corpo com o inimigo, reduzindo-lhes a vantagem
dos arcos e da distância. Kariel, ainda embaixo do fosso,
conjurou uma magia. Ergueu-se do nada uma parede feita de
chamas bem no local onde os arqueiros goblinóides se
alinhavam. Como resultado, os inimigos morreram incinerados,
alguns caindo em chamas no fosso, o que exigiu de Kariel destreza
para se desviar dos corpos. Poderiam haver alguns mais atrás
da muralha flamejante, porém os ataques haviam cessado
e não se podia ver além dela.
“Uma
corda! Joguem-me uma corda!”, pediu o mago aos companheiros.
Foi atendido e, com a ajuda de Magnus e Sirius, escalou a
parede da armadilha onde havia caído.
“Podem
haver mais deles após a parede de fogo!”, disse
Arthos.
“Preparem-se.
Irei cancelar o encanto!”
“Vamos
em frente”, Mikhail chamou Magnus. “Quando a barreira
for baixada, iremos para cima dos que houverem na escuridão!
Deixem-me antes somente realizar uma prece de Mystra.”.
O
clérigo realizou a oração e tocou a mão
em seu escudo. Outro poder divino se manifestou e o equipamento
passou a emanar uma forte luz branca. Kariel então
cancelou, com palavras recitadas mentalmente, o feitiço
que havia praticado. Sem a necessidade da luz da sua espada,
que também servia como alarme contra goblinóides,
também desativou este efeito. Os heróis então
avançaram, mas não havia nada, além de
corpos queimados exalando mau cheiro e o corredor que se estendia.
Avançaram, tendo o cuidado de observar reentrâncias
ou possíveis gatilhos de armadilhas, a fim de evitar
surpresas.
Depois
de quinze minutos de exploração, viram em uma
câmara maior uma cabana de madeira a frente. A espada
de Kariel brilhou rapidamente.
“Cuidado,
amigos! Goliath avisa a presença de globlinóides
a frente!”
Mal
houve o aviso, e uma flecha zuniu do escuro próximo
a cabeça de Magnus. Uma outra voou e atingiu a armadura
de Mikhail. Protegeram-se como puderam, mas outras flechas
foram atiradas da escuridão. Mikhail e Kariel, que
ativou novamente o poder de invisibilidade de seu elmo mágico,
avançaram, mesmo com perigo iminente. Com a aproximação
de Mikhail, a luz que emanava do escudo chegava próximo
o suficiente para mostrar algumas silhuetas. Agora havia um
goblin a vista e Kariel se encaminhava, furtivo, na direção
do inimigo. Limiekki, retirou seu arco e disparou contra o
pequeno e amarelado oponente. Porém não sabia
o ranger, que o mago invisível estava a sua frente
e a seta que disparou feriu superficialmente o flanco de Kariel.
Com o ataque, o elfo perdeu a vantagem da invisibilidade.
Bingo, porém, acertou o alvo e matou o adversário
com duas setas mortais.
Limiekki
retornou e entrou na cabana de madeira que haviam descoberto.
Estava vazia. Coletou pedaços de madeira, retirou sua
pederneira e acendeu fogo, criando tochas. A escuridão
era uma vantagem para o inimigo, visto que goblins e orcs
vêem tão bem no escuro, quanto os homens em um
dia de céu claro. Acesas duas tochas, Limiekki deixou
a cabana. Andou e entregou uma delas a Kariel, que arremessou
em uma zona escura a frente. A madeira atirada o chão
afastou as trevas e revelou mais algumas cabanas de madeira,
três goblins e dois orcs. A Comitiva agora estabelecia
o equilíbrio e os seus membros sacaram as armas para
revidar. Mikhail usou uma prece, que fez surgir de suas mãos
uma luz tão intensa e radiante que cegou parte dos
adversários. A luta foi rápida e os goblinóides
teriam todos sidos eliminados, se não fosse a interferência
de Kariel, que pediu para poupar a vida do último,
um orc. Tal pedido, porém não foi oriundo de
clemência, mas de estratégia. O mago compreendia
o idioma orc, e queria fazer algumas perguntas. Com uma corda,
o monstro teve seus braços amarrados e assim o Kariel
começou seu interrogatório.
“Quantos
de vocês existem por aqui?”, perguntou o elfo
de cabelos azuis, na língua gutural e primitiva dos
goblinóides.
“Nenhum
mais!”, respondeu.
“E
os humanos? Onde estão?”
“No
corredor a frente.”
“Onde
exatamente?”, insistiu Kariel.
O
orc não respondeu mais nada. Kariel então tentou
algo diferente. Leu em seu grimório de magia um encanto
de seu repertório e recitou as palavras arcanas. O
orc imediatamente exibiu uma feição estática
e seus olhos estavam vidrados, perdidos no infinito.
“Quem
comanda vocês?”, questionou Kariel.
“A
matrona! Uma aranha... a mulher aranha.”
“Matrona...
aranhas ...serão drows? Seres semelhantes aos elfos,
porém com pele negra como a pedra obsidiana e cabelos
brancos. Existem drows aqui?”
“Sim.
Dois deles. No corredor a frente, a direita, após a
escada que sobe.”
“E
os homens? Onde estão exatamente?”
“No
mesmo corredor, na entrada a esquerda.”
Kariel
deu-se por satisfeito e finalizou as perguntas. O orc não
foi molestado, mas permaneceu amarrado na cabana de madeira
vazia. Kariel então traduziu toda a conversa para a
língua comum. Os aventureiros ficaram preocupados.
Alguns sabiam que os drows eram criaturas reconhecidamente
poderosas, tanto nas artes da espada, quanto da magia e possuíam
histórias desagradáveis dos encontros com estes
habitantes do subterrâneo. Toda cautela seria necessária
caso os confrontassem, porém não havia outra
alternativa. Tinham pressa em salvar os desaparecidos e, portanto,
não perderam tempo e seguiram o corredor que havia
ao final da câmara cavernosa. Chegaram até uma
entrada a esquerda e desviaram o caminho, seguindo por ela.
Queriam encontrar e libertar os humanos, antes que drows,
aranhas, orcs ou algum outro tipo de perigo os encontrassem.
Viram
uma cabana de madeira, semelhante as que haviam deixado minutos
atrás. Aproximando-se mais, enxergaram paredes de pedra
que haviam sido erguidas para compor o corredor de celas de
um calabouço. Arthos entrou na cabana. Não havia
nada, a exceção de bancos e um colchão
de palha mofada, mas o espadachim encontrou um molho de chaves
pendurado na parede e o entregou a Magnus. Logo, as fechaduras
das portas de madeira das nove celas de pedra estavam sendo
testadas. A primeira a ser aberta revelou um cadáver
fétido. Era um homem, de vestes comuns, que deveria
estar morto a duas semanas, segundo avaliação
de Limiekki. Abriram as outras, mas somente encontraram mais
dois cadáveres.
“Ainda
deve haver algum vivo. O desaparecimento do caçador
foi a dois dias e estes corpos estão aqui a mais tempo.”,
relembrou Sirius da informação passada pelo
Lorde do Vale da Adaga.
“Pode
ser que tenham sido levados daqui, talvez para alguma espécie
de ritual de sacrifício!”, colocou Mikhail a
sombria hipótese.
“Devemos
nos apressar. Talvez ainda possamos salvá-los!”,
disse Kariel, retornando pelo corredor por onde haviam entrado
e tomando novamente a dianteira, com a espada em punho, lâmina
acesa a iluminar.
Retornaram
ao corredor e prosseguiram. Poucos minutos depois, viram a
entrada a direita, a qual o orc havia se referido. Entraram
por ela e saíram em outro grande salão rochoso.
Não ouviram ruídos e a luz não indicava
nada além de rochas, pelo menos até encontrarem,
no final da exploração uma estranha escada de
pedra, que levava a uma passagem superior. Era feita de pedra,
mas não a rocha comum da caverna, mas uma negra e brilhante
como se moldada em pedra vulcânica. Haviam protuberâncias
a semelhança de escamas, que não se podia precisar
se eram naturais ou um bizarro tipo de decoração.
De qualquer forma, a escada não parecia pertencer àquele
ambiente e fez Kariel lembrar das construções
que avistou no Abismo e de que havia por lá um demônio,
cuja descrição era semelhante a dos drows.
“Amigos.
Esta estranha escadaria me fez recordar do Abismo. Lá
existia um tipo de demônio que tinha pele negra, asas
de morcego e cabelos brancos. Espero que o que digo não
tenha fundamento, mas o orc pode ter se confundido na descrição.”
“Sim.
Era Vicárius, no Vale do Vento Gélido.”,
lembrou Magnus.
“Err...
demônios, Abismo... Vocês devem estar brincando
com esta história?”, perguntou Limiekki, um tanto
assustado com as experiências sobrenaturais da Comitiva.
“Nunca
me verá brincar com este assunto, Limiekki! Dos que
estão aqui, apenas Bingo e Magnus estiveram naquele
dia. Este Vicárius, que graças a Tymora está
destruído, era um dos generais do Abismo, servo de
Grazz´t, senhor daquele plano do inferno. Pretendia
abrir uma passagem para o Plano Material e invadir Faerûn.
Nós conseguimos impedir seus planos, mas perdemos meu
tio Elder e nosso amigo Feargal, mortos por Grazz´t.”
“Vocês
acham que estes demônios tentariam algo assim novamente?”,
questionou Mikhail.
“Os
demônios tentam invadir o Plano Material desde tempos
imemoriais.”, respondeu Magnus.
“Vultos,
phaerimns, drows, demônios!”, contou Sirius nos
dedos. “Pelos Deuses! Será que não enfrentamos
nunca um exército comum!? Desde que me uni a vocês
só vejo estranheza!”
“Ora...
vamos subir os degraus, ou não?”, disse Arthos.
Não
precisaram responder. Magnus foi a frente, seguido de Mikhail,
Kariel, Limiekki, Arthos, Sirius e Bingo. No final da escada
estavam em uma câmara, paredes e chão do mesmo
material escuro e estranho da escada. Ouviram um ruído,
um chiado, acima de suas cabeças. Olharam e perceberam
uma enorme aranha, com cerca de dois metros de altura, que
saltou a frente. Outras seis menores, porém cada uma
do tamanho de um cão, desciam a parede em torno da
pequena sala na direção dos aventureiros, que
sacaram suas armas e escolheram seus adversários. Kariel
foi o primeiro a atacar: pronunciou algumas palavras e colocou
as mãos abertas com os polegares unidos em direção
de uma das aranhas mais próximas. Delas saiu um cone
de fogo que atingiu a fera, que pulou tentando alcançar
seu atacante e inocular o terrível veneno de suas presas.
Errou Kariel, mas caiu próximo a Bingo. O pequeno,
muito ágil, deu três rápidos golpes com
sua espada curta e sua adaga fazendo o aracnídeo tombar.
Mikhail protegeu-se e recitou uma prece. Ao fazê-lo,
todos que estavam no combate sentiram seus músculos
se desenvolverem. Seus golpes agora teriam mais força,
pelo menos por dez minutos, tempo em que a graça da
Deusa estaria ativa. Arthos eliminou a sua oponente, com uma
estocada certeira com o seu sabre em no abdômen da fera.
Outra aranha saltou sobre Limiekki, que esquivou-se, desviando
do ataque. Em seguida o ranger voltou-se para ela e, aproveitando-se
do desequilíbrio de sua queda, cortou-lhe a cabeça.
Restavam mais três, deste tipo, que foram eliminadas
pelas espadas de Sirius e Kariel. Mas ainda havia a maior.
Magnus avançou em um salto, e com um potente golpe,
fez com que a poderosa Hadrillys cravasse sua lâmina
entre os olhos da grande aranha, que ainda guinchou, se contorceu
e sacudiu, mas rendeu-se à dor e entregou-se à
morte.
Toda
a Comitiva parou por um momento e respirou profundamente.
Graças aos Deuses eram heróis experimentados,
capazes de revidar e derrotar rapidamente as aranhas, pois
se uma delas encontrasse a oportunidade para atacar e injetar
o veneno mortal, certamente haveriam baixas. Felizmente, os
heróis apenas se reagruparam, deixando para trás
os corpos dos monstros horrendos e seguindo em frente.
O
caminho, um corredor ainda feito na pedra negra, era agora
iluminado por candelabros escuros presos às paredes,
que emanavam uma estranha chama púrpura, que nunca
tremulava. Alguns sabiam, mesmo sem necessitar de algum tipo
de conhecimento nas artes místicas, que se tratava
de iluminação mágica. Já haviam
visto aquilo antes, em outras ocasiões, durante as
investigações de alguns locais sombrios onde
estiveram na longa odisséia de suas vidas. Foram vinte
metros de passos curtos e cautelosos, naquele cenário
tenebroso, que faziam parecer que haviam andado por uma eternidade.
O corredor então foi lentamente se alongando e encerrou-se
em uma passagem para uma câmara circular, que dificilmente
teria sido criada pela natureza. Havia na face oposta a entrada,
uma sacada esculpida em pedra, e duas escadas laterais, também
feitas do mesmo material, mas com corrimões em um metal
negro e retorcido que davam acesso a ela. Ouviram-se passos
e das trevas, na sacada, surgiram quatro figuras sombrias,
duas femininas e duas masculinas. Eram drows.
“A
persistência de vocês poderia ser irritante para
alguns, mas confesso que ela me diverte.”, disse um
deles, de roupas escuras, um chapéu, uma capa, de cota
de malha cinzenta, um escudo broquel preso ao braço
e um sabre embainhado na cintura. “Espere um momento.
Eu conheço este homem!”, disse o outro drow,
apontando para Magnus. “Você devia estar morto!”
O
Paladino então reconheceu aqueles dois de um episódio
do passado, quando ele e alguns outros que fizeram parte da
Comitiva da Fé foram instruídos por Elminster
a investigar o subterrâneo da Torre Torcida no Vale
das Sombras. Lá eles descobriram que uma família
drow possuía mantinha uma fortaleza subterrânea
e pretendia retomar a cidade da superfície que, em
tempos passados, pertencia aos drows. Seus planos falharam
quando o grupo os derrotou matando o mago da casa Khurastan.
O resto deles fugiu e o esconderijo foi todo tomado pelas
águas do rio Ashaba destruindo tudo. Além de
Magnus, Arthos e Sirius são os que estavam presentes
naquela época.
“Não
tombo facilmente! Quero minha revanche!”, bradou Magnus
corajosamente, referindo ao musculoso drow que o derrotara
antes.
“Sim...
conheço uns dois ou três...”, o drow de
capa colocou a mão no queixo e levantou uma sobrancelha.
“Não
sei porque vieram aqui, mas não escaparão com
vida!”, exclamou uma das drows, cujos trajes longos
e negros, com figuras de aranhas, indicavam que ela poderia
ser um tipo de sacerdotisa, provavelmente da maligna deusa
Lolth.
Começou
a gesticular e a pronunciar palavras místicas. Um poderoso
encanto estava prestes a se abater sobre a Comitiva. A arena
estava armada e um novo combate, mais mortífero e equilibrado,
estava por começar.
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