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A Última Batalha Contra os Phaerimns

Descrita por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.


Personagens principais da aventura:

Os Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound (Limiekli), Sir Galtan de Águas Profundas. Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. O Halfling: Bingo Playamundo. O Anão: Windolfin Braço de Clangeddin Barba de Prata. Participação Especial: O Coronal Eltargrim Irythil, Khelben 'Bastão Negro' Arunsun, Laeral Mão Argêntea, Ájax Felonte, Storm Mão Argêntea, Dove Garra de Falcão, Florin Garra de Falcão, Sir Brian Mestre das Espadas, Aubric Nihmedu e a Regente Alusair Obarskyr.


A Última Batalha Contra os Phaerimns

      A grande batalha seguia dura e intensa. O ruído do metal, gritos de dor e urros inumanos chegavam aos ouvidos e o odor ferruginoso do sangue no ar completava aquele cenário de morte. Orcs, homens e elfos, vindo de quatro reinos diferentes lutavam contra os phaerimns naquele campo de batalha, em meio às florestas cormyrianas, em um local do qual, nem eles, nem seus inimigos poderiam escapar, por conta do efeito mágico do artefato conhecido como o Dodecaedro Definitivo. Somente a vitória sobre os tenebrosos monstros os libertariam. E esta estava difícil e longínqua. Os phaerimns eram inimigos velozes, selvagens, mortais. Mesmo lutando em desvantagem numérica, as criaturas conseguiram eliminar boa parte dos seus oponentes. Á medida em que a contenda se equilibrava em número, iam-se as esperanças dos soldados. Porém, em um alento, chegou ao campo de batalha, montada em um cavalo, a Regente de Cormyr, Alusair Nacacia Obarskyr. A Princesa de Aço agora participava do combate.

      A Comitiva da Fé destacava-se na batalhava pela sua perícia. Seus membros estavam dispersos, formando equipes com seus aliados. Haviam perdido Galtan, o cavaleiro de Águas Profundas, que se transformou em pó, devido a um sortilégio mortal.

      Magnus e Mikhail combatiam, com um grupo que mesclava soldados de Águas Profundas e alguns orcs de Nova Gondyr, um phaerimm. Em geral, era assim a distribuição das lutas: quatro combatentes contra um inimigo. Desta maneira conseguia-se algum equilíbrio. O paladino de Helm estava ferido. Pretendia afastar-se para, em uma prece, pedir para que seu deus o curasse de parte dos seus ferimentos. Porém Mikhail, que sabia da importância do braço e da espada do companheiro, não permitiu que este deixasse a peleja. Como tinha poder semelhante, dádiva concedida pela deusa Mystra, tocou o aliado e imediatamente sanou parte de suas injúrias. Magnus, agradeceu com um rápido aceno, e golpeou novamente com potência o monstro, abrindo um corte profundo, que fez vazar seu sangue verde e ácido. Em troca, recebeu um golpe com a ponta do ferrão venenoso da cauda do phaerimm, que lhe cortou o braço.

      Sirius e Limiekli formavam outra dupla da Comitiva. Combatiam junto com evereskanos e cormyrianos. Porém, demasiado ferido, o primeiro teve que deixar a luta para se salvar. Encontrou um cavalo, que vagava pelo campo e o montou. Foi até um ponto mais distante do centro do combate, onde se reuniam alguns magos de guerra e clérigos. Pensava em conseguir alguma cura. Um sacerdote de Tyr o salvou e ele retornou na direção do seu amigo ranger, para retomar o combate. Quando saltou de sua montaria, viu que as coisas não corriam bem para o seu companheiro. Um dos soldados cormyrianos jazia morto e Limiekli, Sirius chegou a tempo de ver, fora mordido pelo phaerimm e vertia sangue de seu ombro. Como em uma troca de guarda, Sirius tomou o seu lugar e o companheiro cambaleante, subiu no cavalo. Mas não teve sorte o ranger, escorregou e caiu do animal.

      Kariel lutava junto com soldados de Águas Profundas e de Evereska, e não tinham nenhum rosto amigo ao seu lado. O mago elfo de cabelos azuis, que no momento, graças a um de seus encantos, possuía o dobro do seu tamanho normal, valia-se de sua espada para o combate. Seu repertório de sortilégios não era adequado para lutar um combate tão próximo. Poderia ferir algum de seus aliados e então, por prudência, resolveu evitá-los. O Escolhido de Mystra golpeava e era golpeado, mas, por outro efeito mágico conjurado sobre si, os ataques sofridos não atingiam sua pele. Mas aquela proteção não duraria para sempre.

      O grupo do qual faziam parte Magnus e Mikhail obteve uma vitória. Após golpes certeiros dos soldados, o paladino matou o phaerimm com sua Vigilante Sagrada. Porém, apesar de ser uma vitória, era momentânea. Logo havia outro monstro para substituir o que havia caído. Sirius combatia e Limiekli levantou-se e procurou o cavalo. Não achou e, sendo igualmente perigoso percorrer o campo a pé, decidiu voltar a carga com as forças que lhe restavam. Por ironia, um de seus golpes eliminou a criatura que batia-se contra Sirius. Ficou então com este, lutando contra outro monstro que se aproximou. Kariel, após o grupo em que lutava matar o phaerimm, viu ao longe Sirius e Limiekli e correu para unir-se a eles.

Uma Intervenção Divina

      Em uma proporção desigual, o combate prosseguiu durante longos minutos. Os phaerimns eram mortos, mas outros tomavam o lugar dos tombados, coisa que, infelizmente, não poderia ocorrer com os homens dos Reinos, que iam sucumbindo. Em pouco tempo, os grupos que, ao início combatiam no número de quatro homens para um dos monstros, agora tinham que lutar em dupla. A situação se delineava para uma tragédia.

      “Pelos Deuses! Kariel... não dá pra me tirar daqui?”, pediu Limiekli.
      “Deuses...”, pensou o mago em um instante, vasculhando sua mente. Uma lembrança lhe veio. Uma lembrança que poderia salvar o dia. Inexplicavelmente, deixou o combate e saiu correndo em direção à Magnus, que combatia com Mikhail a alguns metros. Até pensou Sirius que o elfo havia fugido.

      “Magnus!”, gritou Kariel para o amigo. “Lembra-se de Érix, deus Pai dos Humanos, que libertamos do cativeiro? Ele prometeu nos ajudar quando precisássemos. A hora é agora! Invocarei o auxílio dele. Faça o mesmo. Você é um humano e ele o ouvirá melhor do que a mim.”
      “Bem lembrado.”, disse Magnus que ainda golpeava.
      “Érix, Deus dos Humanos, envie seu auxílio!”, bradou Kariel.
      “Sim! Cumpra sua promessa!”, gritou também Magnus.

      Os soldados e os companheiros que ouviram os gritos não compreenderam. Estariam os dois desesperados, privados da sanidade por conta da inevitabilidade da morte que se aproximava lentamente? Não sabiam eles que somente aqueles dois, dentre os outros no campo de batalha, haviam libertado um deus cativo e que este estava em dívida. E débitos divinos costumam ser pagos. O dia claro e azul, cobriu-se repentinamente de nuvens brancas. Uma voz grave então estrondou, ecoando por toda a parte, acima dos gritos, acima do clangor do aço.

      “A Comitiva da Fé clama por mim?”
      “Sim Érix”, respondeu Magnus olhando para o alto. “Nos ajude!”

      Uma figura humanóide podia ser vista, agora pequena, saltitando de uma nuvem para outra. Naquele instante, o combate parou. Mesmo os phaerimns, em sua fúria, observaram a divindade que agora descia do firmamento em um salto. Pousou ao solo causando grande impacto. Era um homem atlético, cabelos castanhos encaracolados, uma roupa branca e sandálias. Possuía quarenta metros de altura.

      “O que querem de mim? Falem agora ou nunca mais.”, disse a voz de trovão.
      “Os phaerimns são nossos inimigos. Precisamos vencê-los!”, respondeu Magnus.

      Os monstros percebiam que tinham agora a frente um novo e poderoso inimigo e partiram para atacá-lo. Um deles voou e quis acertar Érix com suas garras, mas o titânico ser o esmagou como se um inseto fosse. Outro tentou o mesmo, mas transformou-se em pedra com um simples olhar do deus.

      “Que assim seja. Que seus mais valorosos aliados mortos voltem a viver. Retornem à batalha!”

      Ao comando do deus, metade dos aliados que haviam morrido na luta contra os phaerimns levantou-se do solo, perplexos. Até mesmo Galtan, cujo corpo havia se desintegrado em poeira, recompôs-se do nada e olhava ao redor e depois para o deus de sua raça.

      “Sou Érix, Pai dos Humanos!”, disse novamente a divindade, “Durante grande tempo estive ausente, mas agora retornei. Humanos, retornei para salvá-los. Dei-lhes a capacidade de raciocinar, mas não o fazem com sabedoria. Sigam meus ensinamentos e alcançarão a redenção! Comitiva da Fé, minha promessa foi cumprida. Retorno para meu reduto.”. Dito isto, deu um enorme salto até uma nuvem e desta pulou para outra mais alta e para outra, até desaparecer. O céu aos poucos foi novamente tornando-se azul e límpido. Abaixo, o cenário se modificara. Agora combatiam novamente os aliados em boa superioridade, de seis contra um, os phaerimns. A Comitiva novamente se dividiu. Kariel e Galtan juntaram-se a alguns soldados. Mikhail e Magnus fizeram o mesmo. Sirius foi o único, desta vez, que não tinha um companheiro da Comitiva por perto, pois Limiekli, que o acompanhava, decidiu aproveitar a confusão causada pela aparição de Érix para fugir e tentar ter suas chagas curadas. Por sorte, o ranger encontrou um sacerdote cormyriano de Tempus, deus da Guerra. Estes, geralmente, ficavam mais próximos das lutas. Pediu e foi atendido. Com uma prece, parte de suas feridas se fecharam. Quando voltou, recuperado, para a companhia de Sirius, viu o pequeno Bingo, que em meio à batalha, atirava flechas. O halfling havia sido imobilizado em algum lugar daquele campo de batalha por Galaeron, mas agora se desvencilhara e unira-se novamente aos seus companheiros.

      A súbita vantagem dada por Érix começou a mudar o rumo daquela refrega. Os phaerimns agora pensavam em outra estratégia. Muitos deles abandonaram a área de combate, indo o mais distante que o encanto de confinamento do Dodecaedro poderia permitir. Naquele ponto distante, já eram trinta que se colocavam reunidos. Havia a clara intenção de isolarem-se de seus inimigos. Ergueram pelo caminho três barreiras mágicas: uma muralha de luz, cujas cores variavam entre as matizes do arco-íris, uma de pedra, que se ergueu do chão e outra feita de energia. Kariel deixou o combate e procurou por Khelben ‘Cajado Negro’ Arunsun. Encontrou o homem e falou.

      “Khelben... os phaerimns estão tramando algo. Irei tentar distraí-los!”
      “Havia percebido. Tentarei dissipar as muralhas erguidas!”, respondeu o arquimago.       “Deve ficar, será perigoso se aproximar deles!”
      “Tenho que tentar alguma coisa. Não será necessário anular a muralha de energia. Eu mesmo farei isto. Obrigado pelo aviso.”, disse o elfo correndo em direção aos inimigos.

      Kariel passou incólume pela muralha de espectro colorido, contornou a de pedra e atravessou a de energia, dissipando-a. O que viu foi um grande agrupamento de phaerimns, agrupados em três esquadrões, cada um composto de cerca de trinta monstros. Dois grupos protegiam o terceiro, que pareciam concentrados em uma espécie de ritual coletivo. Era desejo do mago da Comitiva lançar qualquer sortilégio que os atrapalhassem e sair dali o mais rápido possível, antes que fosse vítima dos encantos que aquelas criaturas poderiam lançar sobre ele. Porém, o ataque foi imediato. Contra ele foram conjuradas magias mortais, raios, projéteis arcanos e poderosas esferas de magma. Por pura sorte, o elfo possuía proteções contra a maioria daqueles encantos, seja pela benção de ser um Escolhido de Mystra, seja pelos itens mágicos que portava consigo. Feriu-se e sabia que talvez não suportasse outra carga como aquela, mas queria tentar impedir o que os phaerimns estavam tramando. Fez um gesto para conjurar um encanto de bola de fogo, e explodi-la em meio aos inimigos, mas antes que completasse o rito, sofreu novos ataques. Evitou alguns, mas um outro o converteu-se em uma doninha, e recuou indefeso para a direção de onde viera, triste por ter falhado e buscando uma maneira de voltar ao normal.

      Laeral Mão Argêntea, maga esposa de Khelben, em um ponto mais próximo ao combate, estava intrigada. Ergueu-se ao ar em um encanto de levitação para enxergar além das barreiras. Viu o que Kariel estava observando e além. Notou que no firmamento estava se abrindo em uma fenda, que crescia em tamanho. Lançou sobre si outro sortilégio, que lhe deu o dom de melhorar sua visão. Mirou no que havia na fenda e descobriu: era uma passagem para um outro mundo, outra dimensão. E pela fenda, viriam outros phaerimns.

      “Os phaerimns estão usando sua energia vital para abrir uma fenda entre dimensões. Por aquela passagem estão vindo mais! Temos que detê-los!”, gritou a maga em advertência para seus companheiros.

      Khelben ouviu a mulher, ao tempo em que conjurava uma magia que dissipou as barreiras mágicas erguidas pelos phaerimns. Gritou o arquimago:

      “Membros da Comitiva, Dove, Storm, Laeral...Venham até mim! Tenho um plano”.

      Sirius, que estava mais próximo, deixou o combate e procurou os companheiros. Foram à volta de Khelben e lá também estavam outros poderosos aliados do mago de Águas Profundas.

      “Temos que nos dividir em dois grupos: um irá destruir os phaerimns que estão aqui e o outro irá até a fenda para impedir a chegada de mais ameaças até que consigamos fechá-la. Precisamos de guerreiros poderosos para isto. Vamos administrar alguns feitiços para ajudá-los nesta missão”

      Magnus ofereceu-se. Sirius, Galtan, Ájax, Dove e Florin completaram o grupo que iria a fenda.

      “Pois, bem. Conjurarei um encanto que os permitirão voar. Minha esposa lançará outro e poderão sobreviver á atmosfera da dimensão dos phaerimns. E por fim Dove os tornará mais velozes e ágeis! Eu acompanharei vocês até as proximidades da fenda e os protegerei até lá.”

      Explicado isto, os conjuradores aplicaram seus feitiços naqueles voluntários e Khelben, com um impulso, alçou vôo. Os demais o imitaram e voaram, um pouco desajeitadamente no princípio, mas logo se concentraram e conseguiram seguir o mago com desenvoltura. Enquanto partiam para a fenda, os phaerimns abaixo deles disparavam encantos diversos, mas Khelben havia erguido um escudo mágico invisível, que os amparou frente as ameaças, até chegarem a frente do rasgo dimensional.

      “Vão. Agüentem o máximo que puderem. Vamos tentar eliminar os phaerimns deste lado! Rápido!”, pediu o mago. Os heróis obedeceram.

      Entraram Magnus, Sirius, Galtan, Ájax, Dove e Florin naquela outra realidade, na dimensão dos phaerimns. Estavam se movendo em um céu vermelho. Estavam eles em um céu de um planeta avermelhado. No horizonte localizavam-se duas luas orbitando o planeta. Mas algo de proporções imensuráveis pairava no espaço sideral atrás dos dois astros, uma criatura maior do que as duas luas com uma infinidade de tentáculos. Ela possuía também olhos por todas as partes de seu corpo disforme. Ao observarem esta aberração, os aventureiros foram tomados por um terror tenebroso que percorreu suas mentes, no entanto, eles conseguiram evitar a visão a tempo libertando-se do pânico, com exceção de Sirius que com o olhar perdido, começou a gritar e atacar o ar, em um acesso sobrenatural de loucura. Porém os heróis não tinham mais tempo de preocuparem-se com o amigo. Vinham crescendo ao longe as silhuetas bestiais dos inimigos e uma outra bem maior, um phaerimm imenso se aproximava. Deveria ter oito ou dez metros, da sua bocarra até a extremidade do ferrão.

      As primeiras criaturas chegaram rápido à vizinhança da fenda, onde estavam os heróis. Eram seis deles e isto possibilitou uma divisão exata. Diferentemente dos combates anteriores, a batalha fora bem mas rápida. Graças ao encanto lançado por Dove antes de partirem voando, eram muito velozes. Desviavam das garras dos inimigos e, no tempo em que dariam uma investida, faziam duas, três. Não que os monstros não tivesse chance, visto que acertaram alguns golpes e uma ou outra magia, mas os heróis conseguiram eliminá-los sem baixas.

      Veio então o phaerimn gigantesco e todos rumaram contra ele. Atacaram com violência. Tentavam matar a criatura antes que esta tivesse a chance de revidar. Galtan, porém, foi atacado. A boca arredondada e cheia de dentes pontiagudos como adagas prenderam o cavaleiro e tentavam parti-lo em dois. O guerreiro então transferiu a força que tinha para seus braços, conseguiu superar a pressão e sair voando daquela armadilha mortal. Ájax também foi imobilizado, desta vez pela cauda. O Herói de Arabel tentou, mas não conseguiu libertar-se e agora sentia a força do monstro apertar-lhe os ossos. Florin, Magnus e Dove, em especial, conseguiram aplicar poderosos golpes e o monstro sangrava, bastante ferido, porém não derrotado. Lançou sobre Galtan um encanto e um frio intenso percorreu o corpo do homem, ferindo sua pele. Ájax, ainda sendo esmagado pelo monstro, pegou seu gládio e, com toda a força, enterrou-a no dorso do phaerimm. A criatura emitiu um grito medonho e passou a flutuar inerte. Comemoram a aniquilação da besta, mas somente até verem ao longe mais inimigos. Se tivessem tempo de contar, concluiriam ser cerca de trezentos. Era a hora certa de retornar. Voaram em direção à fenda dimensional, que começava a se fechar. Se não fossem rápidos, ficariam naquele estranho mundo para sempre. No caminho, puxaram Sirius, que ainda estava fora de si.

      Ao passar pela abertura, pouco antes dela desaparecer, viram abaixo a luta aberta e uniram-se a ela. A vitória para o exército aliado estava clara, mas os phaerimns ainda resistiriam por mais quarenta minutos, até que um elfo de Evereska, um humano de Cormyr e um orc cercaram o último phaerimm. Os três golpearam com fúria ceifando o último dos oponentes. Com o bicho no chão, o soldado cormyriano cumprimentou o elfo como um irmão de guerra. Depois ambos fitaram o orc, um instante de silêncio se fez entre eles e os que estavam observando o combate. Até que eles apenas acenaram para o orc com gratidão pela ajuda. Assim, com a luta terminada, cessou-se o encanto do Dodecaedro Definitivo.

      Houve uma comemoração discreta, pois os mortos espalhados pelo campo de batalha não permitiam que a alegria do triunfo superasse a dor da perda de tantos. Os guerreiros de Cormyr e Nova Gondyr entreolharam-se. Continuariam a ser inimigos, mas não por agora. O general Gilfein, líder dos gondyrianos, aproximou-se da regente Alusair.

      “Regente. Em face de nossas perdas, pedirei a Vorik uma trégua de três meses. Aproveite.”

      Alusair assentiu e cada lado reuniu seus homens. Mikhail lembrou aos líderes dos exércitos a necessidade de observar as feridas nos homens atingidos pelos ferrões dos phaerimns. As criaturas poderiam ter colocado ovos na carne aberta e, neste caso, sua larvas deveriam ser extirpadas e destruídas.

      Ainda ficaram no campo de batalha durante o restante do dia, recolhendo os mortos e curando os feridos, entre eles Sirius, cujo estado mental foi restaurado por um sacerdote cormyriano. Os corpos dos combatentes foram enterrados ou queimados, conforme o rito fúnebre de cada reino e raça, após orações aos deuses. Os cadáveres dos phaerimns foram empilhados e arderam em chamas.

      Vendo ao longe as labaredas estava Laeral, tristonha. Seu marido aproximou-se e percebeu o abatimento em sua face.
      “Querida, eu... eu entendo o que está sentindo, mas eu não tive escolha. Eu não poderia contar-lhe que o Dodecaedro poderia consumir a quem o usasse, pois alguém teria de ativá-lo. Não poderia compartilhar este fardo com ninguém, principalmente a você a quem amo tanto.”
      “Eu sei meu amor, o que me entristece é justamente o que nos mantém unidos: nosso vínculo com Mystra. Você, ao se tornar um dileto dela, sabia que haveria conseqüências pesadas para a dádiva que carregamos. A responsabilidade muitas vezes me faz pensar que esta condição é um fardo para nós, mas é algo que talvez não tenhamos escolha. Tenho inveja de Dove, ela não mais tem dúvidas quanto a isso.”
      “Mesmo assim, peço teu perdão. Muitos perderam a fé em mim neste últimos anos, apenas você não me abandonou.” Disse Khelben abraçando-a. E ali permaneceram vendo o Sol nascer no horizonte.

Despedidas no Campo de Batalha

      No outro dia, ao raiar do sol, os exércitos exaustos preparam-se para voltar para suas nações. Os soldados arrumavam seus pertences e agrupavam-se. A Comitiva estava também de pé. Ninguém havia conseguido dormir. Foram chamados por Ájax até a tenda armada para a Regente. Alusair queria falar-lhes.

      “Comitiva”, iniciou a Princesa de Aço, “Perdoem-me por relutar em enviar ajuda quando me pediram. Queria dizer que Cormyr está à disposição de vocês quando precisarem. Lamento não puder dar-lhes nada em retribuição da bravura que tiveram...”
      “A amizade do reino de Cormyr é o nosso maior presente.”, respondeu Kariel, sintetizando o pensamento dos companheiros.
      “Sim, alteza. Espero que nossas nações se aproximem mais no futuro.”, complementou Laeral.
      “E parabéns pela presença e destreza na batalha, Regente. É tão corajosa quando foi Azoun IV, seu pai.”
      “Obrigada, Magnus. Esta batalha foi muito importante... minha espada já estava enferrujando e meu traseiro estava ficando quadrado de tanto sentar neste trono.”, disse Alusair, da forma que falava quando estava entre amigos. “Agora vão, antes que apareça mais alguma encrenca. Que Tyr os acompanhe!”, finalizou sorrindo.

      A Comitiva deixou a tenda real e despediu-se de Ájax e do anão Windolfin Braço de Clangeddin Barba de Prata.

      “Até a próxima Comitiva. Vejam, Magnus e Kariel... nossa aventura anterior pelos reinos com a Orbe de Orgor nos salvou. Se não fosse por ela, o deus Érix estaria preso e não nos teria salvado desta vez.”
      “Está certo, Ájax! Se olhar por um outro ângulo, o próprio Bane nos ajudou indiretamente, ao indicar o caminho do cativeiro de Érix.”
      “Tem razão, Magnus. Ele deve estar neste momento se amaldiçoando por isto em algum lugar nos planos divinos e isto me deixa muito feliz.”, colocou Kariel.
      “Érix... Bane... Depois vocês têm que me contar esta história!”, disse Limiekli, que estava curioso com aquela intimidade dos companheiros com os deuses.

      Terminada esta conversa, foram para o agrupamento onde se reuniam os soldados de Evereska e de Águas Profundas, que juntos retornariam para o reino élfico. Antes, foram abordados por Florin e Dove.

      “Comitiva, viemos nos despedir. Eu e Florin ficaremos aqui. Vamos ajudar Cormyr durante algum tempo.”
      “Agradecemos toda a ajuda que nos deram.”, disse Mikhail.
      “Foi um prazer.”, respondeu Florin. “Enquanto a vocês...”, disse olhando para Sirius e Limiekli, “...espero encontrar mais irmãos de combate tão bons no futuro. Formam uma bela dupla!”
      Limiekli e Sirius sorriram e todos se abraçaram e se despediram.

      Cormyr cedeu cavalos e mantimentos e à caravana de homens e elfos de Águas Profundas e Evereska partiu para o oeste. Foram quatro dias de viagem, pelos Picos do Trovão e entre florestas. Não foram molestados, mesmo sendo este território uma zona de guerra.

      Na hora do alto sol, no último dia da viagem de volta, avistaram novamente as muralhas brancas de Evereska. Nas cercanias da Fortaleza Élfica, indícios de um grande combate travado. Odor de fumaça, árvores calcinadas, um ou outro foco de fumaça, cadáveres gigantescos de dragões vermelhos. Mais tarde saberiam pela boca de testemunhas de uma batalha nesta guerra entre dragões que seria cantada pelas canções élficas dos evereskanos ao longo dos séculos: a luta de um gigantesco dragão vermelho conhecido como Klauth contra um ancião dourado chamado Palandarusk e o Coronal Eltargrim. Juntos, expulsaram o gigante vermelho e com ele foram embora seus seguidores.

      Entraram na cidade e viram que, apesar de um ou outro dano, Evereska permanecia de pé. Seus habitantes saudaram os recém-chegados, e celebraram em especial Aubric Nimehdu e seu exército. Seu retorno significava que o plano havia dado certo e que os phaerimns enfim haviam sido vencidos. Porém, o comandante dos Espadas de Evereska não estava eufórico: havia perdido muitos dos seus subordinados e o seu irmão Galaeron, que sacrificou sua vida ao acionar o Dodecaedro Definitivo. Quando as mortes foram anunciadas, não houveram tantas celebrações.

Conversas em Evereska

      A Comitiva dispersou-se. Os heróis estavam muito cansados e com preocupações na cabeça. A de Kariel era ter com Arthos, seu grande amigo, que se encontrava preso em uma masmorra no Parlamento Élfico. Queria contar-lhe sobre as vitórias e levar-lhe um pouco de esperança. Foi autorizado e rapidamente já estava a falar com o desafortunado elfo de cabelos escarlates.

      “Arthos. É bom revê-lo, amigo!”
      “Kariel! Você precisa fazer algo... tenho que sair daqui. Diga-me que tenha boas notícias!”, disse, nervoso, o prisioneiro.
      “Tenho. Os phaerimns e seus aliados foram derrotados. Vencemos, apesar de muitas baixas.”
      “Alguém da Comitiva morreu?”, perguntou preocupado.
      “Não, graças ao deus Érix, Pai dos Humanos. Lembra-se dele? Nós o libertamos de sua prisão, meses atrás.”
      “Lembro-me bem. O que houve. Ele surgiu no combate?”
      “Sim, e ressuscitou boa parte de nossos soldados. Ele cumpriu sua promessa. Agora, meu amigo, que tudo isto terminou, espero que os evereskanos sejam mais propensos a rever a sua pena e libertá-lo, quem sabe.”
      “Se isto acontecer, juro que agradecerei aos deuses!”
      “Devo retornar agora, Arthos! Vim apenas tranqüilizá-lo. Aguardaremos o desenrolar dos acontecimentos.”
      “Obrigado, Kariel. Mantenha-me informado.”

      Kariel deixou Arthos, mas não o Parlamento. Carregava consigo o medalhão dado por Laurë, a meia-elfa que tinham encontrado há muitas luas atrás. Havia prometido procurar por pistas sobre a Casa de seu pai desaparecido e, agora que as urgências haviam terminado, era hora de cumprir sua palavra. Encontrou Anskalar Duorsena, Diretor do Parlamento, que passava pelos corredores.

      “Diretor... preciso falar com o senhor, agora que todas estas batalhas cessaram...”, chamou o mago.
      “Caso o assunto seja o seu amigo...”, interrompeu a autoridade antes que o mago terminasse, “... estive com os Anciões agora há pouco e eles discutirão hoje a noite o veredicto final, em uma reunião particular. Vocês serão informados da decisão amanhã, pela manhã.”, disse o elfo de cabelos dourados, que parecia apressado e já afastava-se novamente de Kariel, para cuidar de outras tarefas.
      “Um momento, senhor. Fico feliz em saber sobre a decisão do Conselho dos Anciões, mas o assunto que tenho a falar-lhe é outro.”
Anskalar parou e voltou-se para Kariel, agora com mais atenção, curioso com o que seria lhe inquirido.
      “Quando aqui cheguei, carregava uma demanda, que por ser menos urgente do que a questão dos phaerimns, teve que ser adiada até agora. Uma guerreira que encontramos, procura o pai, um elfo de origem nobre, cuja única pista é este medalhão, com o símbolo de sua Casa.”, disse Kariel, sacando do bolso o colar de prata. “Não reconheço este brasão, mas acredito que em Evereska alguém poderá identificá-lo.”
      Anskalar olhou a figura gravada na prata, pôs a mão no queixo e disse.
      “Com certeza não é nenhuma das Casas Élficas de Evereska, mas procure o sábio Aliran, na biblioteca do Parlamento. Ele poderá dar um parecer abalizado sobre o assunto.”

      Então Kariel agradeceu e partiu pelos corredores do Parlamento. Encontrou a biblioteca. Esplêndida, diga-se de passagem, com um enorme salão e prateleiras decoradas que iam do chão até quase o teto. Havia uma estátua do deus élfico dos professores, Labelas Enoreth, em uma posição de destaque no centro O ambiente era agradável e claro, cheio de mesas. Naquele momento, havia somente um elfo, de meia idade, que lia um grosso tomo.

      “Perdoe-me interrompê-lo, senhor. Procuro por Aliran.”
      “Sou eu, meu jovem. O que deseja?”
      “Tenho este brasão, com o símbolo de uma Casa Élfica desconhecida. Procuro pistas que levem à sua origem. O Diretor Duorsena disse-me que talvez pudesse ajudar-me nisto.”
      O elfo examinou o medalhão de prata e o devolveu. Pediu para Kariel aguardar. Sumiu em um corredor em meio a estantes e em seguida voltou com um livro aberto.

      “Neste livro existe uma figura muito semelhante. Veja!”, mostrou o sábio.
      “De onde vem a Casa descrita neste livro?”, perguntou Kariel.
      “Infelizmente, meu jovem, de Myth Drannor. Como deve saber, aquele reino foi destruído por demônios, tempos atrás.”
      “Sim, mas algum sobrevivente pode ser encontrado, talvez, na floresta de Cormanthor. Já é algo para seguir. Agradeço a informação.”

      E assim o jovem mago de cabelos azuis deixou o Parlamento, com uma pista para Laurë. Enquanto isto, além dos portões da cidade, Galtan estava com seu superior, o comandante Brian. Organizavam a desmobilização das tropas. Algumas dúvidas pairavam em sua mente.

      “Lorde Brian. Estive pensando... ultimamente nunca participei de tantas batalhas importantes quanto agora que segui este grupo chamado Comitiva da Fé. Começo a achar que talvez seja mais valioso estar com eles ao invés de retornar à Águas Profundas.”
      “Galtan, entendo que estas aventuras o tenham empolgado e sei que sua vida de soldado e de nobre é repleta de normas que não existem para estes aventureiros, que podem correr livres os reinos em busca de justiça, diversão e riquezas. Mas apesar de tudo, temos uma função importante: defendermos nossa pátria. Se não estivéssemos sempre em prontidão, como no episódio da batalha no Monte Águas Profundas, meses atrás, talvez nossa cidade não mais existisse. Defendemos com a vida nossos conterrâneos. Mas a decisão é sua. É um nobre e não precisa de minha autorização para nos deixar e partir.”
      “Antes de ser um nobre, sou seu soldado, Lorde Brian, e o respeito como comandante. Suas palavras me fizeram refletir. Agradeço.”, disse com um aceno de cabeça.
      “Que Tyr ilumine sua decisão.”

Um Elfo a Menos

      À noite a Comitiva reuniu-se novamente. Estavam em um belo jardim, iluminado por luzes mágicas colocadas nas árvores e alimentadas pela energia do mythal evereskano. Além dos heróis, estavam centenas de cidadãos. Era a cerimônia fúnebre dedicada aos mortos no conflito contra os phaerimns. Galaeron foi o principal homenageado, pelo sacrifício que permitiu o que o artefato conhecido como Dodecaedro Definitivo fosse acionado. Aubric, á maneira dos elfos, tomou a palavra e falou das realizações do irmão durante sua longa vida. O ritual, que foi rápido para os padrões élficos, durou cerca de quatro horas. Após o término das homenagens, a Comitiva foi pernoitar na casa da família Velian. Lá, Kariel comunicou-lhes o que ouviu do diretor do Parlamento Élfico sobre a definição da sentença de Arthos. Dormiram então com esperanças de que o companheiro fosse libertado finalmente.

      Pela manhã, bateu a porta um mensageiro do Parlamento que procurava pela Comitiva. Uma audiência especial seria realizada e os aventureiros eram convidados. Arrumaram-se com roupas limpas e foram em uma carruagem até o prédio do Parlamento Élfico. Nas proximidades notaram uma grande aglomeração. Viram, além do povo de Evereska, muitos soldados de Águas Profundas e à frente, no alto das escadas do Parlamento, Anskalar Doursena, que cumprimentava Brian, Khelben e Laeral. Era a despedida dos soldados de Águas Profundas, um momento de agradecimento e de aproximação entre aqueles reinos tão distantes e tão diferentes. Um rápido discurso foi feito pelo Diretor do Parlamento, que falou em élfico e depois em comum. Exaltou os feitos de coragem e a cooperação daqueles humanos nas batalhas recentes. Ao encerramento, Anskalar Doursena pregou nas roupas de Khelben, Laeral e Brian uma pequena flor de prata, que significava a amizade conquistada entre as duas nações. O governo evereskano também ofereceu mantimentos e cavalos para o retorno dos soldados a sua terra natal.

      Encerrada a cerimônia, os homenageados se dispersaram e encontraram a Comitiva que assistia. Khelben e Laeral foram os primeiro a aproximarem-se.

      “Temos que lhes agradecer mais uma vez. O auxílio da Comitiva foi decisivo. Se passarem por Águas Profundas ou tiverem algum tipo de problema, terei prazer em ajudar no que estiver ao meu alcance. Agradeço em meu nome e do governo de Águas Profundas.”
      “Também agradeço por terem salvado meu reino.”, disse Mikhail
      “E se encontrar Elminster, Khelben, diga-lhe que ele perdeu uma grande batalha.”, pediu Magnus, em um sorriso.
      “Não se preocupe... direi isto a ele!”, respondeu, devolvendo o sorriso ao paladino.       “Kariel... posso lhe falar?”, continuou o arquimago, chamando o elfo a parte.       “Continue o caminho que está trilhando e será um grande mago.”
      “Obrigado pelas palavras, mas sinto que há tanto a aprender...”, disse o elfo.
      “Talvez nem tanto, mas continue atento. Ah... se encontrar Westingale, diga a ele que pode ir, se desejar, à minha torre. Não cobrarei mais o prejuízo que ele me deu!”,       Khelben sorriu junto com Kariel, lembrando juntos o episódio em que Kelta, amigo de Kariel e antigo companheiro de andanças da Comitiva, pôs fogo na torre do arquimago em Águas Profundas devido a conflitos pessoais.

      Khelben e Laeral então subiram em seus cavalos, rumo aos portões da cidade. Brian e Galtan também foram até a Comitiva. Foi o cavaleiro que iniciou a despedida.

      “Amigos, agradeço as grandes aventuras que vivi ao lado de vocês. Estou retornando à Águas Profundas, mas se precisarem de mim, basta mandar um aviso e virei em meu cavalo.”
      “Obrigado. É bom saber que temos mas um amigo na Cidade dos Esplendores. Boa viagem a vocês!”, desejou Magnus em nome de todos.

      Os homens de Águas Profundas então partiram todos da Fortaleza Élfica. Agruparam-se do lado de fora das muralhas brancas e de lá partiram em uma jornada longa até o norte da Costa da Espada. Kariel voltou-se para o amigo paladino de Helm, lembrou de uma despedida que talvez fosse dolorosa para o guerreiro.

      “Magnus... agora só restou Storm. Nossa missão aqui já terminou, mas certamente teremos outros assuntos a tratar. Ela e você seguirão juntos?”
      “Não sei, Kariel. Ela disse que iria pensar no assunto. Também não sei se irei. Tenho uma catedral para construir no Vale das Sombras.”
      “Espero que qualquer que seja a decisão, vocês partam unidos pelo caminho da felicidade.”
      “Obrigado, amigo.”
      “Perdoem-me, senhores!”, interrompeu um elfo de Evereska. “Acompanhem-me até o auditório do Parlamento. Há uma sessão especial em honra da Comitiva da Fé e são aguardados.”

      Então a Comitiva seguiu o enviado por corredores já familiares, até um auditório, onde sentados à espera da Comitiva, estavam representantes das Casas Élficas evereskanas. Foram levados ao palco. Para alguns deles, notadamente o pequeno Bingo, estar em frente a uma platéia era mais difícil do que brandir uma espada contra o inimigo. Os pequenos eram tímidos e naquele momento tinha vontade de esconder-se. O Diretor Doursena anunciou:

      “Iniciamos agora a homenagem ao grupo de heróis conhecido como Comitiva da Fé. Espero que aceitem nossos agradecimentos e alguns presentes, em nome do povo de Evereska.”

      Então vieram por trás de algumas cortinas ao fundo, dois elfos, em túnicas brancas, com caixas de madeira trabalhadas nas mãos. Foram entregues a Sirius, que imediatamente as abriu. Em uma delas havia uma belíssima espada, obra dos ferreiros evereskanos e na outra, uma armadura com escamas, feita do mesmo mitral que haviam conseguido e deixado na Casa Velian para ser forjado. O elfo voltou e trouxe mais duas caixas e desta vez as entregou à Limiekli. O ranger abriu e encontrou um machado de guerra, e um par de lindas botas, eram mágicas, praticamente eliminavam os ruídos feitos pelos pés daqueles que as calçavam. Os próximos presentes foram para Magnus, uma outra armadura de mitral, com um o símbolo do Deus Vigilante gravado no peito e um tubo contendo um pergaminho. Era uma permissão, assinada pelo Coronal Eltargrim, para que o paladino pudesse adentrar a Floresta de Cormanthor e retirar de seu território as pedras necessárias para erguer a catedral que tanto sonhava em honra a seu deus. Kariel, em seguida, recebeu também uma caixa. Havia dentro delas duas braçadeiras encantadas, feitas de couro e pintadas de branco e prata, que lhe forneceriam proteção extra nas batalhas, e um tubo enfeitado, contendo pergaminhos repletos de magias arcanas, as quais estudaria com afinco. Bingo não foi esquecido. Recebeu um belo gládio, uma espada curta e um belo manto encantado. Mikhail foi o último agraciado. Foi lhe entregue uma caixinha bem pequena, que o clérigo abriu com curiosidade. Era um anel mágico, que ofereceria alguma resistência contra o fogo. Também recebeu uma cota de malha de mitral.

      “Esta é a nossa maneira de agradecer. Agora lhes peço que me acompanhem a uma outra sala, onde ouvirão o veredicto final sobre os crimes de seu amigo Arthos Fogo Negro.”, declarou Doursena, retirando-se e sendo acompanhado pelos aventureiros.

      Foram até o salão principal do Parlamento, onde já haviam estado, em momentos mais desagradáveis. Esperavam que este não fosse mais um deles. Acomodaram-se nas primeiras cadeiras, enquanto na mesa do Parlamento, estavam sentados os Anciões da Colina. No púlpito, acompanhado do Coronal Eltargrim, Anskalar lia um parecer:

      “Depois de muito ponderarmos sobre os crimes do elfo Arthos Fogo Negro, de adentrar a câmara do mythal e por em risco a vida dos nossos cidadãos, nós o condenamos à duas penas: ao Akh’Faen’Tel’Quess e ao banimento de Evereska. As penas serão executadas imediatamente. Peço que se dirijam ao Templo de Corellon. O companheiro de vocês já está lá.

      “Akh’Faen’Tel’Quess?! Vocês que são elfos, sabem que diabos é isto?”, cochichou Limiekli perto de Kariel e Mikhail.
      “Não sei ao certo. É difícil de traduzir, mas soa como ‘expulsar da comunidade’ em língua comum. Também não sei o que quer dizer.”, respondeu Kariel, tão ignorante como os seus companheiros humanos.
      “Também não sei do que se trata!”, colocou Mikhail. “Talvez seja algum ritual que antecede o banimento...”
      “Bem... seja lá o que for, Arthos não irá morrer. Não se pode banir quem já está morto. Vamos descobrir de qualquer forma do que se trata no templo.”, colocou Sirius.

      Seguiram então o Diretor e alguns elfos que o acompanhavam. Foram até a imensa torre e percorreram seus caminhos até a Câmara do Mythal. Acomodaram-se em assentos colocados na sala, em uma área delimitada. Estavam distantes, mas puderam ver o cristal poderoso que jazia há alguns metros à frente, brilhante. Arthos estava próximo ao artefato, vigiado por dois soldados e ao redor de alguns clérigos de Corellon. Havia a sua frente uma estranha cadeira escura, com amarras presas à sua madeira. Quando o Diretor cruzou a porta, acenou e deu início ao ritual. Foi pedido à Arthos que se sentasse na cadeira e ele o fez, ainda que temeroso. Não haviam alternativas. As amarras foram atadas a ele e então os clérigos começaram a recitar orações à Corellon. Aquilo durou cerca de duas horas, quando então Arthos foi desamarrado e levado da sala. O que havia acontecido, os companheiros da Comitiva não souberam precisar, pois a distância não permitia uma avaliação mais detalhada. Anskalar então pronunciou-se.

      “O colega de vocês está sendo levado em uma carruagem para além de nossos portões. Lá aguardará por vocês. O Akh’Faen’Tel’Quess está terminado. Agora devo me retirar. Agradeço novamente a ajuda e que Corellon os acompanhe!”

      A Comitiva estava ansiosa por encontrar Arthos, mas decidiu antes reunir seus pertences e fazer as últimas despedidas para aproveitar e deixar Evereska. Encontraram Storm e Mikhail trouxe seu cavalo Burgos e juntos saíram da Fortaleza Élfica. Ao cruzar os portões viram a carruagem. Aproximaram-se e a porta foi aberta. Um clérigo retirou Arthos de dentro, devolveu seus pertences e o libertou das algemas. Olharam atentamente para o amigo. Estava muito diferente do que era. Parecia mais alto e seu cabelo não estava mais vermelho escarlate, e sim um ruivo acastanhado. Em sua pele, outrora lisa, cresciam finos pêlos e sua orelha... não era mais pontiaguda. Arthos não era mais um elfo, e sim um humano.

      “Arthos! O que houve com você!?”, perguntou Mikhail, perplexo.
      “Seu amigo foi condenado ao Akh’Faen’Tel’Quess, um antigo ritual. Ele foi expulso da raça élfica e agora é um humano.”, explicou o clérigo, que deixou a Comitiva com Arthos, entrou na carruagem e voltou para a cidade.
      “Que tragédia! Mas somos amigos e o ajudaremos a superar isto.”, abraçou Kariel o amigo.
      “Tragédia?! Espere... não é tão ruim assim ser um humano, Kariel!”
      “Não quis ofender, Limiekli, mas Arthos é meu amigo e agora viverá muitos anos a menos do que poderei acompanhá-lo. Terá que viver mais intensamente cada segundo de sua curta vida.”
      “Não diz isto a ele não Kariel. Ele já era um elfo inconseqüente. Imagine agora!”, brincou Sirius.
      “Pelo menos, ele agora está mais de acordo com o seu comportamento.”, colocou Mikhail.

      Arthos por momentos somente ouviu seus amigos e olhava seu reflexo no escudo polido de Sirius. Tocava no rosto, nas orelhas. Sentia-se mais pesado e estranho. Então disse.

      “Bem, amigos. Terei que me acostumar. Pelo menos estou vivo.”
      “Comitiva!”, interrompeu Storm, “Lamento interromper, mas existe um assunto para resolver no Vale da Adaga. Lembram-se dos harpistas que desapareceram por lá. É hora de nos preocuparmos com eles. Podem vir comigo?”
      “Ora... porque não!? Vamos!”, falou Arthos. “Para uma nova aventura!”.

      Seus companheiros sorriram e concordaram com o recém chegado à raça humana. Então Storm conjurou um encanto e todos desapareceram das cercanias de Evereska, rumo a mais um capítulo a ser contado na história de suas lendas.



Este foi o último capítulo da saga “O Retorno dos Arquimagos” e também a última partida jogada pelo sistema Advanced Dungeons and Dragons. A partir de agora, os jogos serão realizados com base no sistema Dungeons and Dragons 3.5.

Esta história é uma descrição em teor literário dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons.

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