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A Última Batalha Contra os Phaerimns
Descrita por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens principais da aventura:
Os
Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound (Limiekli),
Sir Galtan de Águas Profundas. Os Elfos: Mikhail Velian;
Kariel Elkandor. O Halfling: Bingo Playamundo. O Anão:
Windolfin Braço de Clangeddin Barba de Prata. Participação
Especial: O Coronal Eltargrim Irythil, Khelben 'Bastão
Negro' Arunsun, Laeral Mão Argêntea, Ájax Felonte,
Storm Mão Argêntea, Dove Garra de Falcão, Florin
Garra de Falcão, Sir Brian Mestre das Espadas, Aubric Nihmedu
e a Regente Alusair Obarskyr.
A Última Batalha Contra os Phaerimns
A
grande batalha seguia dura e intensa. O ruído do metal, gritos
de dor e urros inumanos chegavam aos ouvidos e o odor ferruginoso
do sangue no ar completava aquele cenário de morte. Orcs,
homens e elfos, vindo de quatro reinos diferentes lutavam contra
os phaerimns naquele campo de batalha, em meio às florestas
cormyrianas, em um local do qual, nem eles, nem seus inimigos poderiam
escapar, por conta do efeito mágico do artefato conhecido
como o Dodecaedro Definitivo. Somente a vitória sobre os
tenebrosos monstros os libertariam. E esta estava difícil
e longínqua. Os phaerimns eram inimigos velozes, selvagens,
mortais. Mesmo lutando em desvantagem numérica, as criaturas
conseguiram eliminar boa parte dos seus oponentes. Á medida
em que a contenda se equilibrava em número, iam-se as esperanças
dos soldados. Porém, em um alento, chegou ao campo de batalha,
montada em um cavalo, a Regente de Cormyr, Alusair Nacacia Obarskyr.
A Princesa de Aço agora participava do combate.
A Comitiva da Fé destacava-se
na batalhava pela sua perícia. Seus membros estavam dispersos,
formando equipes com seus aliados. Haviam perdido Galtan, o cavaleiro
de Águas Profundas, que se transformou em pó, devido
a um sortilégio mortal.
Magnus e Mikhail combatiam,
com um grupo que mesclava soldados de Águas Profundas e alguns
orcs de Nova Gondyr, um phaerimm. Em geral, era assim a distribuição
das lutas: quatro combatentes contra um inimigo. Desta maneira conseguia-se
algum equilíbrio. O paladino de Helm estava ferido. Pretendia
afastar-se para, em uma prece, pedir para que seu deus o curasse
de parte dos seus ferimentos. Porém Mikhail, que sabia da
importância do braço e da espada do companheiro, não
permitiu que este deixasse a peleja. Como tinha poder semelhante,
dádiva concedida pela deusa Mystra, tocou o aliado e imediatamente
sanou parte de suas injúrias. Magnus, agradeceu com um rápido
aceno, e golpeou novamente com potência o monstro, abrindo
um corte profundo, que fez vazar seu sangue verde e ácido.
Em troca, recebeu um golpe com a ponta do ferrão venenoso
da cauda do phaerimm, que lhe cortou o braço.
Sirius e Limiekli formavam outra
dupla da Comitiva. Combatiam junto com evereskanos e cormyrianos.
Porém, demasiado ferido, o primeiro teve que deixar a luta
para se salvar. Encontrou um cavalo, que vagava pelo campo e o montou.
Foi até um ponto mais distante do centro do combate, onde
se reuniam alguns magos de guerra e clérigos. Pensava em
conseguir alguma cura. Um sacerdote de Tyr o salvou e ele retornou
na direção do seu amigo ranger, para retomar o combate.
Quando saltou de sua montaria, viu que as coisas não corriam
bem para o seu companheiro. Um dos soldados cormyrianos jazia morto
e Limiekli, Sirius chegou a tempo de ver, fora mordido pelo phaerimm
e vertia sangue de seu ombro. Como em uma troca de guarda, Sirius
tomou o seu lugar e o companheiro cambaleante, subiu no cavalo.
Mas não teve sorte o ranger, escorregou e caiu do animal.
Kariel lutava junto com soldados
de Águas Profundas e de Evereska, e não tinham nenhum
rosto amigo ao seu lado. O mago elfo de cabelos azuis, que no momento,
graças a um de seus encantos, possuía o dobro do seu
tamanho normal, valia-se de sua espada para o combate. Seu repertório
de sortilégios não era adequado para lutar um combate
tão próximo. Poderia ferir algum de seus aliados e
então, por prudência, resolveu evitá-los. O
Escolhido de Mystra golpeava e era golpeado, mas, por outro efeito
mágico conjurado sobre si, os ataques sofridos não
atingiam sua pele. Mas aquela proteção não
duraria para sempre.
O grupo do qual faziam parte
Magnus e Mikhail obteve uma vitória. Após golpes certeiros
dos soldados, o paladino matou o phaerimm com sua Vigilante Sagrada.
Porém, apesar de ser uma vitória, era momentânea.
Logo havia outro monstro para substituir o que havia caído.
Sirius combatia e Limiekli levantou-se e procurou o cavalo. Não
achou e, sendo igualmente perigoso percorrer o campo a pé,
decidiu voltar a carga com as forças que lhe restavam. Por
ironia, um de seus golpes eliminou a criatura que batia-se contra
Sirius. Ficou então com este, lutando contra outro monstro
que se aproximou. Kariel, após o grupo em que lutava matar
o phaerimm, viu ao longe Sirius e Limiekli e correu para unir-se
a eles.
Uma Intervenção
Divina
Em
uma proporção desigual, o combate prosseguiu durante
longos minutos. Os phaerimns eram mortos, mas outros tomavam o lugar
dos tombados, coisa que, infelizmente, não poderia ocorrer
com os homens dos Reinos, que iam sucumbindo. Em pouco tempo, os
grupos que, ao início combatiam no número de quatro
homens para um dos monstros, agora tinham que lutar em dupla. A
situação se delineava para uma tragédia.
“Pelos Deuses! Kariel...
não dá pra me tirar daqui?”, pediu Limiekli.
“Deuses...”, pensou
o mago em um instante, vasculhando sua mente. Uma lembrança
lhe veio. Uma lembrança que poderia salvar o dia. Inexplicavelmente,
deixou o combate e saiu correndo em direção à
Magnus, que combatia com Mikhail a alguns metros. Até pensou
Sirius que o elfo havia fugido.
“Magnus!”, gritou
Kariel para o amigo. “Lembra-se de Érix, deus Pai dos
Humanos, que libertamos do cativeiro? Ele prometeu nos ajudar quando
precisássemos. A hora é agora! Invocarei o auxílio
dele. Faça o mesmo. Você é um humano e ele o
ouvirá melhor do que a mim.”
“Bem lembrado.”,
disse Magnus que ainda golpeava.
“Érix, Deus dos
Humanos, envie seu auxílio!”, bradou Kariel.
“Sim! Cumpra sua promessa!”,
gritou também Magnus.
Os soldados e os companheiros
que ouviram os gritos não compreenderam. Estariam os dois
desesperados, privados da sanidade por conta da inevitabilidade
da morte que se aproximava lentamente? Não sabiam eles que
somente aqueles dois, dentre os outros no campo de batalha, haviam
libertado um deus cativo e que este estava em dívida. E débitos
divinos costumam ser pagos. O dia claro e azul, cobriu-se repentinamente
de nuvens brancas. Uma voz grave então estrondou, ecoando
por toda a parte, acima dos gritos, acima do clangor do aço.
“A Comitiva da Fé
clama por mim?”
“Sim Érix”,
respondeu Magnus olhando para o alto. “Nos ajude!”
Uma figura humanóide
podia ser vista, agora pequena, saltitando de uma nuvem para outra.
Naquele instante, o combate parou. Mesmo os phaerimns, em sua fúria,
observaram a divindade que agora descia do firmamento em um salto.
Pousou ao solo causando grande impacto. Era um homem atlético,
cabelos castanhos encaracolados, uma roupa branca e sandálias.
Possuía quarenta metros de altura.
“O que querem de mim?
Falem agora ou nunca mais.”, disse a voz de trovão.
“Os phaerimns são
nossos inimigos. Precisamos vencê-los!”, respondeu Magnus.
Os monstros percebiam que tinham
agora a frente um novo e poderoso inimigo e partiram para atacá-lo.
Um deles voou e quis acertar Érix com suas garras, mas o
titânico ser o esmagou como se um inseto fosse. Outro tentou
o mesmo, mas transformou-se em pedra com um simples olhar do deus.
“Que assim seja. Que seus
mais valorosos aliados mortos voltem a viver. Retornem à
batalha!”
Ao comando do deus, metade dos
aliados que haviam morrido na luta contra os phaerimns levantou-se
do solo, perplexos. Até mesmo Galtan, cujo corpo havia se
desintegrado em poeira, recompôs-se do nada e olhava ao redor
e depois para o deus de sua raça.
“Sou Érix, Pai
dos Humanos!”, disse novamente a divindade, “Durante
grande tempo estive ausente, mas agora retornei. Humanos, retornei
para salvá-los. Dei-lhes a capacidade de raciocinar, mas
não o fazem com sabedoria. Sigam meus ensinamentos e alcançarão
a redenção! Comitiva da Fé, minha promessa
foi cumprida. Retorno para meu reduto.”. Dito isto, deu um
enorme salto até uma nuvem e desta pulou para outra mais
alta e para outra, até desaparecer. O céu aos poucos
foi novamente tornando-se azul e límpido. Abaixo, o cenário
se modificara. Agora combatiam novamente os aliados em boa superioridade,
de seis contra um, os phaerimns. A Comitiva novamente se dividiu.
Kariel e Galtan juntaram-se a alguns soldados. Mikhail e Magnus
fizeram o mesmo. Sirius foi o único, desta vez, que não
tinha um companheiro da Comitiva por perto, pois Limiekli, que o
acompanhava, decidiu aproveitar a confusão causada pela aparição
de Érix para fugir e tentar ter suas chagas curadas. Por
sorte, o ranger encontrou um sacerdote cormyriano de Tempus, deus
da Guerra. Estes, geralmente, ficavam mais próximos das lutas.
Pediu e foi atendido. Com uma prece, parte de suas feridas se fecharam.
Quando voltou, recuperado, para a companhia de Sirius, viu o pequeno
Bingo, que em meio à batalha, atirava flechas. O halfling
havia sido imobilizado em algum lugar daquele campo de batalha por
Galaeron, mas agora se desvencilhara e unira-se novamente aos seus
companheiros.
A súbita vantagem dada
por Érix começou a mudar o rumo daquela refrega. Os
phaerimns agora pensavam em outra estratégia. Muitos deles
abandonaram a área de combate, indo o mais distante que o
encanto de confinamento do Dodecaedro poderia permitir. Naquele
ponto distante, já eram trinta que se colocavam reunidos.
Havia a clara intenção de isolarem-se de seus inimigos.
Ergueram pelo caminho três barreiras mágicas: uma muralha
de luz, cujas cores variavam entre as matizes do arco-íris,
uma de pedra, que se ergueu do chão e outra feita de energia.
Kariel deixou o combate e procurou por Khelben ‘Cajado Negro’
Arunsun. Encontrou o homem e falou.
“Khelben... os phaerimns
estão tramando algo. Irei tentar distraí-los!”
“Havia percebido. Tentarei
dissipar as muralhas erguidas!”, respondeu o arquimago. “Deve
ficar, será perigoso se aproximar deles!”
“Tenho que tentar alguma
coisa. Não será necessário anular a muralha
de energia. Eu mesmo farei isto. Obrigado pelo aviso.”, disse
o elfo correndo em direção aos inimigos.
Kariel passou incólume
pela muralha de espectro colorido, contornou a de pedra e atravessou
a de energia, dissipando-a. O que viu foi um grande agrupamento
de phaerimns, agrupados em três esquadrões, cada um
composto de cerca de trinta monstros. Dois grupos protegiam o terceiro,
que pareciam concentrados em uma espécie de ritual coletivo.
Era desejo do mago da Comitiva lançar qualquer sortilégio
que os atrapalhassem e sair dali o mais rápido possível,
antes que fosse vítima dos encantos que aquelas criaturas
poderiam lançar sobre ele. Porém, o ataque foi imediato.
Contra ele foram conjuradas magias mortais, raios, projéteis
arcanos e poderosas esferas de magma. Por pura sorte, o elfo possuía
proteções contra a maioria daqueles encantos, seja
pela benção de ser um Escolhido de Mystra, seja pelos
itens mágicos que portava consigo. Feriu-se e sabia que talvez
não suportasse outra carga como aquela, mas queria tentar
impedir o que os phaerimns estavam tramando. Fez um gesto para conjurar
um encanto de bola de fogo, e explodi-la em meio aos inimigos, mas
antes que completasse o rito, sofreu novos ataques. Evitou alguns,
mas um outro o converteu-se em uma doninha, e recuou indefeso para
a direção de onde viera, triste por ter falhado e
buscando uma maneira de voltar ao normal.
Laeral Mão Argêntea,
maga esposa de Khelben, em um ponto mais próximo ao combate,
estava intrigada. Ergueu-se ao ar em um encanto de levitação
para enxergar além das barreiras. Viu o que Kariel estava
observando e além. Notou que no firmamento estava se abrindo
em uma fenda, que crescia em tamanho. Lançou sobre si outro
sortilégio, que lhe deu o dom de melhorar sua visão.
Mirou no que havia na fenda e descobriu: era uma passagem para um
outro mundo, outra dimensão. E pela fenda, viriam outros
phaerimns.
“Os phaerimns estão
usando sua energia vital para abrir uma fenda entre dimensões.
Por aquela passagem estão vindo mais! Temos que detê-los!”,
gritou a maga em advertência para seus companheiros.
Khelben ouviu a mulher, ao tempo
em que conjurava uma magia que dissipou as barreiras mágicas
erguidas pelos phaerimns. Gritou o arquimago:
“Membros da Comitiva,
Dove, Storm, Laeral...Venham até mim! Tenho um plano”.
Sirius, que estava mais próximo,
deixou o combate e procurou os companheiros. Foram à volta
de Khelben e lá também estavam outros poderosos aliados
do mago de Águas Profundas.
“Temos que nos dividir
em dois grupos: um irá destruir os phaerimns que estão
aqui e o outro irá até a fenda para impedir a chegada
de mais ameaças até que consigamos fechá-la.
Precisamos de guerreiros poderosos para isto. Vamos administrar
alguns feitiços para ajudá-los nesta missão”
Magnus ofereceu-se. Sirius,
Galtan, Ájax, Dove e Florin completaram o grupo que iria
a fenda.
“Pois, bem. Conjurarei
um encanto que os permitirão voar. Minha esposa lançará
outro e poderão sobreviver á atmosfera da dimensão
dos phaerimns. E por fim Dove os tornará mais velozes e ágeis!
Eu acompanharei vocês até as proximidades da fenda
e os protegerei até lá.”
Explicado isto, os conjuradores
aplicaram seus feitiços naqueles voluntários e Khelben,
com um impulso, alçou vôo. Os demais o imitaram e voaram,
um pouco desajeitadamente no princípio, mas logo se concentraram
e conseguiram seguir o mago com desenvoltura. Enquanto partiam para
a fenda, os phaerimns abaixo deles disparavam encantos diversos,
mas Khelben havia erguido um escudo mágico invisível,
que os amparou frente as ameaças, até chegarem a frente
do rasgo dimensional.
“Vão. Agüentem
o máximo que puderem. Vamos tentar eliminar os phaerimns
deste lado! Rápido!”, pediu o mago. Os heróis
obedeceram.
Entraram Magnus, Sirius, Galtan,
Ájax, Dove e Florin naquela outra realidade, na dimensão
dos phaerimns. Estavam se movendo em um céu vermelho. Estavam
eles em um céu de um planeta avermelhado. No horizonte localizavam-se
duas luas orbitando o planeta. Mas algo de proporções
imensuráveis pairava no espaço sideral atrás
dos dois astros, uma criatura maior do que as duas luas com uma
infinidade de tentáculos. Ela possuía também
olhos por todas as partes de seu corpo disforme. Ao observarem esta
aberração, os aventureiros foram tomados por um terror
tenebroso que percorreu suas mentes, no entanto, eles conseguiram
evitar a visão a tempo libertando-se do pânico, com
exceção de Sirius que com o olhar perdido, começou
a gritar e atacar o ar, em um acesso sobrenatural de loucura. Porém
os heróis não tinham mais tempo de preocuparem-se
com o amigo. Vinham crescendo ao longe as silhuetas bestiais dos
inimigos e uma outra bem maior, um phaerimm imenso se aproximava.
Deveria ter oito ou dez metros, da sua bocarra até a extremidade
do ferrão.
As primeiras criaturas chegaram
rápido à vizinhança da fenda, onde estavam
os heróis. Eram seis deles e isto possibilitou uma divisão
exata. Diferentemente dos combates anteriores, a batalha fora bem
mas rápida. Graças ao encanto lançado por Dove
antes de partirem voando, eram muito velozes. Desviavam das garras
dos inimigos e, no tempo em que dariam uma investida, faziam duas,
três. Não que os monstros não tivesse chance,
visto que acertaram alguns golpes e uma ou outra magia, mas os heróis
conseguiram eliminá-los sem baixas.
Veio então o phaerimn
gigantesco e todos rumaram contra ele. Atacaram com violência.
Tentavam matar a criatura antes que esta tivesse a chance de revidar.
Galtan, porém, foi atacado. A boca arredondada e cheia de
dentes pontiagudos como adagas prenderam o cavaleiro e tentavam
parti-lo em dois. O guerreiro então transferiu a força
que tinha para seus braços, conseguiu superar a pressão
e sair voando daquela armadilha mortal. Ájax também
foi imobilizado, desta vez pela cauda. O Herói de Arabel
tentou, mas não conseguiu libertar-se e agora sentia a força
do monstro apertar-lhe os ossos. Florin, Magnus e Dove, em especial,
conseguiram aplicar poderosos golpes e o monstro sangrava, bastante
ferido, porém não derrotado. Lançou sobre Galtan
um encanto e um frio intenso percorreu o corpo do homem, ferindo
sua pele. Ájax, ainda sendo esmagado pelo monstro, pegou
seu gládio e, com toda a força, enterrou-a no dorso
do phaerimm. A criatura emitiu um grito medonho e passou a flutuar
inerte. Comemoram a aniquilação da besta, mas somente
até verem ao longe mais inimigos. Se tivessem tempo de contar,
concluiriam ser cerca de trezentos. Era a hora certa de retornar.
Voaram em direção à fenda dimensional, que
começava a se fechar. Se não fossem rápidos,
ficariam naquele estranho mundo para sempre. No caminho, puxaram
Sirius, que ainda estava fora de si.
Ao passar pela abertura, pouco
antes dela desaparecer, viram abaixo a luta aberta e uniram-se a
ela. A vitória para o exército aliado estava clara,
mas os phaerimns ainda resistiriam por mais quarenta minutos, até
que um elfo de Evereska, um humano de Cormyr e um orc cercaram o
último phaerimm. Os três golpearam com fúria
ceifando o último dos oponentes. Com o bicho no chão,
o soldado cormyriano cumprimentou o elfo como um irmão de
guerra. Depois ambos fitaram o orc, um instante de silêncio
se fez entre eles e os que estavam observando o combate. Até
que eles apenas acenaram para o orc com gratidão pela ajuda.
Assim, com a luta terminada, cessou-se o encanto do Dodecaedro Definitivo.
Houve uma comemoração
discreta, pois os mortos espalhados pelo campo de batalha não
permitiam que a alegria do triunfo superasse a dor da perda de tantos.
Os guerreiros de Cormyr e Nova Gondyr entreolharam-se. Continuariam
a ser inimigos, mas não por agora. O general Gilfein, líder
dos gondyrianos, aproximou-se da regente Alusair.
“Regente. Em face de nossas
perdas, pedirei a Vorik uma trégua de três meses. Aproveite.”
Alusair assentiu e cada lado
reuniu seus homens. Mikhail lembrou aos líderes dos exércitos
a necessidade de observar as feridas nos homens atingidos pelos
ferrões dos phaerimns. As criaturas poderiam ter colocado
ovos na carne aberta e, neste caso, sua larvas deveriam ser extirpadas
e destruídas.
Ainda ficaram no campo de batalha
durante o restante do dia, recolhendo os mortos e curando os feridos,
entre eles Sirius, cujo estado mental foi restaurado por um sacerdote
cormyriano. Os corpos dos combatentes foram enterrados ou queimados,
conforme o rito fúnebre de cada reino e raça, após
orações aos deuses. Os cadáveres dos phaerimns
foram empilhados e arderam em chamas.
Vendo
ao longe as labaredas estava Laeral, tristonha. Seu marido aproximou-se
e percebeu o abatimento em sua face.
“Querida,
eu... eu entendo o que está sentindo, mas eu não tive
escolha. Eu não poderia contar-lhe que o Dodecaedro poderia
consumir a quem o usasse, pois alguém teria de ativá-lo.
Não poderia compartilhar este fardo com ninguém, principalmente
a você a quem amo tanto.”
“Eu
sei meu amor, o que me entristece é justamente o que nos
mantém unidos: nosso vínculo com Mystra. Você,
ao se tornar um dileto dela, sabia que haveria conseqüências
pesadas para a dádiva que carregamos. A responsabilidade
muitas vezes me faz pensar que esta condição é
um fardo para nós, mas é algo que talvez não
tenhamos escolha. Tenho inveja de Dove, ela não mais tem
dúvidas quanto a isso.”
“Mesmo
assim, peço teu perdão. Muitos perderam a fé
em mim neste últimos anos, apenas você não me
abandonou.” Disse Khelben abraçando-a. E ali permaneceram
vendo o Sol nascer no horizonte.
Despedidas no Campo
de Batalha
No
outro dia, ao raiar do sol, os exércitos exaustos preparam-se
para voltar para suas nações. Os soldados arrumavam
seus pertences e agrupavam-se. A Comitiva estava também de
pé. Ninguém havia conseguido dormir. Foram chamados
por Ájax até a tenda armada para a Regente. Alusair
queria falar-lhes.
“Comitiva”,
iniciou a Princesa de Aço, “Perdoem-me por relutar
em enviar ajuda quando me pediram. Queria dizer que Cormyr está
à disposição de vocês quando precisarem.
Lamento não puder dar-lhes nada em retribuição
da bravura que tiveram...”
“A
amizade do reino de Cormyr é o nosso maior presente.”,
respondeu Kariel, sintetizando o pensamento dos companheiros.
“Sim,
alteza. Espero que nossas nações se aproximem mais
no futuro.”, complementou Laeral.
“E
parabéns pela presença e destreza na batalha, Regente.
É tão corajosa quando foi Azoun IV, seu pai.”
“Obrigada,
Magnus. Esta batalha foi muito importante... minha espada já
estava enferrujando e meu traseiro estava ficando quadrado de tanto
sentar neste trono.”, disse Alusair, da forma que falava quando
estava entre amigos. “Agora vão, antes que apareça
mais alguma encrenca. Que Tyr os acompanhe!”, finalizou sorrindo.
A
Comitiva deixou a tenda real e despediu-se de Ájax e do anão
Windolfin Braço de Clangeddin Barba de Prata.
“Até
a próxima Comitiva. Vejam, Magnus e Kariel... nossa aventura
anterior pelos reinos com a Orbe de Orgor nos salvou. Se não
fosse por ela, o deus Érix estaria preso e não nos
teria salvado desta vez.”
“Está
certo, Ájax! Se olhar por um outro ângulo, o próprio
Bane nos ajudou indiretamente, ao indicar o caminho do cativeiro
de Érix.”
“Tem
razão, Magnus. Ele deve estar neste momento se amaldiçoando
por isto em algum lugar nos planos divinos e isto me deixa muito
feliz.”, colocou Kariel.
“Érix...
Bane... Depois vocês têm que me contar esta história!”,
disse Limiekli, que estava curioso com aquela intimidade dos companheiros
com os deuses.
Terminada
esta conversa, foram para o agrupamento onde se reuniam os soldados
de Evereska e de Águas Profundas, que juntos retornariam
para o reino élfico. Antes, foram abordados por Florin e
Dove.
“Comitiva,
viemos nos despedir. Eu e Florin ficaremos aqui. Vamos ajudar Cormyr
durante algum tempo.”
“Agradecemos
toda a ajuda que nos deram.”, disse Mikhail.
“Foi
um prazer.”, respondeu Florin. “Enquanto a vocês...”,
disse olhando para Sirius e Limiekli, “...espero encontrar
mais irmãos de combate tão bons no futuro. Formam
uma bela dupla!”
Limiekli
e Sirius sorriram e todos se abraçaram e se despediram.
Cormyr
cedeu cavalos e mantimentos e à caravana de homens e elfos
de Águas Profundas e Evereska partiu para o oeste. Foram
quatro dias de viagem, pelos Picos do Trovão e entre florestas.
Não foram molestados, mesmo sendo este território
uma zona de guerra.
Na
hora do alto sol, no último dia da viagem de volta, avistaram
novamente as muralhas brancas de Evereska. Nas cercanias da Fortaleza
Élfica, indícios de um grande combate travado. Odor
de fumaça, árvores calcinadas, um ou outro foco de
fumaça, cadáveres gigantescos de dragões vermelhos.
Mais tarde saberiam pela boca de testemunhas de uma batalha nesta
guerra entre dragões que seria cantada pelas canções
élficas dos evereskanos ao longo dos séculos: a luta
de um gigantesco dragão vermelho conhecido como Klauth contra
um ancião dourado chamado Palandarusk e o Coronal Eltargrim.
Juntos, expulsaram o gigante vermelho e com ele foram embora seus
seguidores.
Entraram
na cidade e viram que, apesar de um ou outro dano, Evereska permanecia
de pé. Seus habitantes saudaram os recém-chegados,
e celebraram em especial Aubric Nimehdu e seu exército. Seu
retorno significava que o plano havia dado certo e que os phaerimns
enfim haviam sido vencidos. Porém, o comandante dos Espadas
de Evereska não estava eufórico: havia perdido muitos
dos seus subordinados e o seu irmão Galaeron, que sacrificou
sua vida ao acionar o Dodecaedro Definitivo. Quando as mortes foram
anunciadas, não houveram tantas celebrações.
Conversas em Evereska
A
Comitiva dispersou-se. Os heróis estavam muito cansados e
com preocupações na cabeça. A de Kariel era
ter com Arthos, seu grande amigo, que se encontrava preso em uma
masmorra no Parlamento Élfico. Queria contar-lhe sobre as
vitórias e levar-lhe um pouco de esperança. Foi autorizado
e rapidamente já estava a falar com o desafortunado elfo
de cabelos escarlates.
“Arthos.
É bom revê-lo, amigo!”
“Kariel!
Você precisa fazer algo... tenho que sair daqui. Diga-me que
tenha boas notícias!”, disse, nervoso, o prisioneiro.
“Tenho.
Os phaerimns e seus aliados foram derrotados. Vencemos, apesar de
muitas baixas.”
“Alguém
da Comitiva morreu?”, perguntou preocupado.
“Não,
graças ao deus Érix, Pai dos Humanos. Lembra-se dele?
Nós o libertamos de sua prisão, meses atrás.”
“Lembro-me
bem. O que houve. Ele surgiu no combate?”
“Sim,
e ressuscitou boa parte de nossos soldados. Ele cumpriu sua promessa.
Agora, meu amigo, que tudo isto terminou, espero que os evereskanos
sejam mais propensos a rever a sua pena e libertá-lo, quem
sabe.”
“Se
isto acontecer, juro que agradecerei aos deuses!”
“Devo
retornar agora, Arthos! Vim apenas tranqüilizá-lo. Aguardaremos
o desenrolar dos acontecimentos.”
“Obrigado,
Kariel. Mantenha-me informado.”
Kariel
deixou Arthos, mas não o Parlamento. Carregava consigo o
medalhão dado por Laurë, a meia-elfa que tinham encontrado
há muitas luas atrás. Havia prometido procurar por
pistas sobre a Casa de seu pai desaparecido e, agora que as urgências
haviam terminado, era hora de cumprir sua palavra. Encontrou Anskalar
Duorsena, Diretor do Parlamento, que passava pelos corredores.
“Diretor...
preciso falar com o senhor, agora que todas estas batalhas cessaram...”,
chamou o mago.
“Caso
o assunto seja o seu amigo...”, interrompeu a autoridade antes
que o mago terminasse, “... estive com os Anciões agora
há pouco e eles discutirão hoje a noite o veredicto
final, em uma reunião particular. Vocês serão
informados da decisão amanhã, pela manhã.”,
disse o elfo de cabelos dourados, que parecia apressado e já
afastava-se novamente de Kariel, para cuidar de outras tarefas.
“Um
momento, senhor. Fico feliz em saber sobre a decisão do Conselho
dos Anciões, mas o assunto que tenho a falar-lhe é
outro.”
Anskalar parou e voltou-se para Kariel, agora com mais atenção,
curioso com o que seria lhe inquirido.
“Quando
aqui cheguei, carregava uma demanda, que por ser menos urgente do
que a questão dos phaerimns, teve que ser adiada até
agora. Uma guerreira que encontramos, procura o pai, um elfo de
origem nobre, cuja única pista é este medalhão,
com o símbolo de sua Casa.”, disse Kariel, sacando
do bolso o colar de prata. “Não reconheço este
brasão, mas acredito que em Evereska alguém poderá
identificá-lo.”
Anskalar
olhou a figura gravada na prata, pôs a mão no queixo
e disse.
“Com
certeza não é nenhuma das Casas Élficas de
Evereska, mas procure o sábio Aliran, na biblioteca do Parlamento.
Ele poderá dar um parecer abalizado sobre o assunto.”
Então
Kariel agradeceu e partiu pelos corredores do Parlamento. Encontrou
a biblioteca. Esplêndida, diga-se de passagem, com um enorme
salão e prateleiras decoradas que iam do chão até
quase o teto. Havia uma estátua do deus élfico dos
professores, Labelas Enoreth, em uma posição de destaque
no centro O ambiente era agradável e claro, cheio de mesas.
Naquele momento, havia somente um elfo, de meia idade, que lia um
grosso tomo.
“Perdoe-me
interrompê-lo, senhor. Procuro por Aliran.”
“Sou
eu, meu jovem. O que deseja?”
“Tenho
este brasão, com o símbolo de uma Casa Élfica
desconhecida. Procuro pistas que levem à sua origem. O Diretor
Duorsena disse-me que talvez pudesse ajudar-me nisto.”
O
elfo examinou o medalhão de prata e o devolveu. Pediu para
Kariel aguardar. Sumiu em um corredor em meio a estantes e em seguida
voltou com um livro aberto.
“Neste
livro existe uma figura muito semelhante. Veja!”, mostrou
o sábio.
“De
onde vem a Casa descrita neste livro?”, perguntou Kariel.
“Infelizmente,
meu jovem, de Myth Drannor. Como deve saber, aquele reino foi destruído
por demônios, tempos atrás.”
“Sim,
mas algum sobrevivente pode ser encontrado, talvez, na floresta
de Cormanthor. Já é algo para seguir. Agradeço
a informação.”
E
assim o jovem mago de cabelos azuis deixou o Parlamento, com uma
pista para Laurë. Enquanto isto, além dos portões
da cidade, Galtan estava com seu superior, o comandante Brian. Organizavam
a desmobilização das tropas. Algumas dúvidas
pairavam em sua mente.
“Lorde
Brian. Estive pensando... ultimamente nunca participei de tantas
batalhas importantes quanto agora que segui este grupo chamado Comitiva
da Fé. Começo a achar que talvez seja mais valioso
estar com eles ao invés de retornar à Águas
Profundas.”
“Galtan,
entendo que estas aventuras o tenham empolgado e sei que sua vida
de soldado e de nobre é repleta de normas que não
existem para estes aventureiros, que podem correr livres os reinos
em busca de justiça, diversão e riquezas. Mas apesar
de tudo, temos uma função importante: defendermos
nossa pátria. Se não estivéssemos sempre em
prontidão, como no episódio da batalha no Monte Águas
Profundas, meses atrás, talvez nossa cidade não mais
existisse. Defendemos com a vida nossos conterrâneos. Mas
a decisão é sua. É um nobre e não precisa
de minha autorização para nos deixar e partir.”
“Antes
de ser um nobre, sou seu soldado, Lorde Brian, e o respeito como
comandante. Suas palavras me fizeram refletir. Agradeço.”,
disse com um aceno de cabeça.
“Que
Tyr ilumine sua decisão.”
Um Elfo a Menos
À
noite a Comitiva reuniu-se novamente. Estavam em um belo jardim,
iluminado por luzes mágicas colocadas nas árvores
e alimentadas pela energia do mythal evereskano. Além dos
heróis, estavam centenas de cidadãos. Era a cerimônia
fúnebre dedicada aos mortos no conflito contra os phaerimns.
Galaeron foi o principal homenageado, pelo sacrifício que
permitiu o que o artefato conhecido como Dodecaedro Definitivo fosse
acionado. Aubric, á maneira dos elfos, tomou a palavra e
falou das realizações do irmão durante sua
longa vida. O ritual, que foi rápido para os padrões
élficos, durou cerca de quatro horas. Após o término
das homenagens, a Comitiva foi pernoitar na casa da família
Velian. Lá, Kariel comunicou-lhes o que ouviu do diretor
do Parlamento Élfico sobre a definição da sentença
de Arthos. Dormiram então com esperanças de que o
companheiro fosse libertado finalmente.
Pela
manhã, bateu a porta um mensageiro do Parlamento que procurava
pela Comitiva. Uma audiência especial seria realizada e os
aventureiros eram convidados. Arrumaram-se com roupas limpas e foram
em uma carruagem até o prédio do Parlamento Élfico.
Nas proximidades notaram uma grande aglomeração. Viram,
além do povo de Evereska, muitos soldados de Águas
Profundas e à frente, no alto das escadas do Parlamento,
Anskalar Doursena, que cumprimentava Brian, Khelben e Laeral. Era
a despedida dos soldados de Águas Profundas, um momento de
agradecimento e de aproximação entre aqueles reinos
tão distantes e tão diferentes. Um rápido discurso
foi feito pelo Diretor do Parlamento, que falou em élfico
e depois em comum. Exaltou os feitos de coragem e a cooperação
daqueles humanos nas batalhas recentes. Ao encerramento, Anskalar
Doursena pregou nas roupas de Khelben, Laeral e Brian uma pequena
flor de prata, que significava a amizade conquistada entre as duas
nações. O governo evereskano também ofereceu
mantimentos e cavalos para o retorno dos soldados a sua terra natal.
Encerrada
a cerimônia, os homenageados se dispersaram e encontraram
a Comitiva que assistia. Khelben e Laeral foram os primeiro a aproximarem-se.
“Temos
que lhes agradecer mais uma vez. O auxílio da Comitiva foi
decisivo. Se passarem por Águas Profundas ou tiverem algum
tipo de problema, terei prazer em ajudar no que estiver ao meu alcance.
Agradeço em meu nome e do governo de Águas Profundas.”
“Também
agradeço por terem salvado meu reino.”, disse Mikhail
“E
se encontrar Elminster, Khelben, diga-lhe que ele perdeu uma grande
batalha.”, pediu Magnus, em um sorriso.
“Não
se preocupe... direi isto a ele!”, respondeu, devolvendo o
sorriso ao paladino. “Kariel...
posso lhe falar?”, continuou o arquimago, chamando o elfo
a parte. “Continue
o caminho que está trilhando e será um grande mago.”
“Obrigado
pelas palavras, mas sinto que há tanto a aprender...”,
disse o elfo.
“Talvez
nem tanto, mas continue atento. Ah... se encontrar Westingale, diga
a ele que pode ir, se desejar, à minha torre. Não
cobrarei mais o prejuízo que ele me deu!”, Khelben
sorriu junto com Kariel, lembrando juntos o episódio em que
Kelta, amigo de Kariel e antigo companheiro de andanças da
Comitiva, pôs fogo na torre do arquimago em Águas Profundas
devido a conflitos pessoais.
Khelben
e Laeral então subiram em seus cavalos, rumo aos portões
da cidade. Brian e Galtan também foram até a Comitiva.
Foi o cavaleiro que iniciou a despedida.
“Amigos,
agradeço as grandes aventuras que vivi ao lado de vocês.
Estou retornando à Águas Profundas, mas se precisarem
de mim, basta mandar um aviso e virei em meu cavalo.”
“Obrigado.
É bom saber que temos mas um amigo na Cidade dos Esplendores.
Boa viagem a vocês!”, desejou Magnus em nome de todos.
Os
homens de Águas Profundas então partiram todos da
Fortaleza Élfica. Agruparam-se do lado de fora das muralhas
brancas e de lá partiram em uma jornada longa até
o norte da Costa da Espada. Kariel voltou-se para o amigo paladino
de Helm, lembrou de uma despedida que talvez fosse dolorosa para
o guerreiro.
“Magnus...
agora só restou Storm. Nossa missão aqui já
terminou, mas certamente teremos outros assuntos a tratar. Ela e
você seguirão juntos?”
“Não
sei, Kariel. Ela disse que iria pensar no assunto. Também
não sei se irei. Tenho uma catedral para construir no Vale
das Sombras.”
“Espero
que qualquer que seja a decisão, vocês partam unidos
pelo caminho da felicidade.”
“Obrigado,
amigo.”
“Perdoem-me,
senhores!”, interrompeu um elfo de Evereska. “Acompanhem-me
até o auditório do Parlamento. Há uma sessão
especial em honra da Comitiva da Fé e são aguardados.”
Então
a Comitiva seguiu o enviado por corredores já familiares,
até um auditório, onde sentados à espera da
Comitiva, estavam representantes das Casas Élficas evereskanas.
Foram levados ao palco. Para alguns deles, notadamente o pequeno
Bingo, estar em frente a uma platéia era mais difícil
do que brandir uma espada contra o inimigo. Os pequenos eram tímidos
e naquele momento tinha vontade de esconder-se. O Diretor Doursena
anunciou:
“Iniciamos
agora a homenagem ao grupo de heróis conhecido como Comitiva
da Fé. Espero que aceitem nossos agradecimentos e alguns
presentes, em nome do povo de Evereska.”
Então
vieram por trás de algumas cortinas ao fundo, dois elfos,
em túnicas brancas, com caixas de madeira trabalhadas nas
mãos. Foram entregues a Sirius, que imediatamente as abriu.
Em uma delas havia uma belíssima espada, obra dos ferreiros
evereskanos e na outra, uma armadura com escamas, feita do mesmo
mitral que haviam conseguido e deixado na Casa Velian para ser forjado.
O elfo voltou e trouxe mais duas caixas e desta vez as entregou
à Limiekli. O ranger abriu e encontrou um machado de guerra,
e um par de lindas botas, eram mágicas, praticamente eliminavam
os ruídos feitos pelos pés daqueles que as calçavam.
Os próximos presentes foram para Magnus, uma outra armadura
de mitral, com um o símbolo do Deus Vigilante gravado no
peito e um tubo contendo um pergaminho. Era uma permissão,
assinada pelo Coronal Eltargrim, para que o paladino pudesse adentrar
a Floresta de Cormanthor e retirar de seu território as pedras
necessárias para erguer a catedral que tanto sonhava em honra
a seu deus. Kariel, em seguida, recebeu também uma caixa.
Havia dentro delas duas braçadeiras encantadas, feitas de
couro e pintadas de branco e prata, que lhe forneceriam proteção
extra nas batalhas, e um tubo enfeitado, contendo pergaminhos repletos
de magias arcanas, as quais estudaria com afinco. Bingo não
foi esquecido. Recebeu um belo gládio, uma espada curta e
um belo manto encantado. Mikhail foi o último agraciado.
Foi lhe entregue uma caixinha bem pequena, que o clérigo
abriu com curiosidade. Era um anel mágico, que ofereceria
alguma resistência contra o fogo. Também recebeu uma
cota de malha de mitral.
“Esta
é a nossa maneira de agradecer. Agora lhes peço que
me acompanhem a uma outra sala, onde ouvirão o veredicto
final sobre os crimes de seu amigo Arthos Fogo Negro.”, declarou
Doursena, retirando-se e sendo acompanhado pelos aventureiros.
Foram
até o salão principal do Parlamento, onde já
haviam estado, em momentos mais desagradáveis. Esperavam
que este não fosse mais um deles. Acomodaram-se nas primeiras
cadeiras, enquanto na mesa do Parlamento, estavam sentados os Anciões
da Colina. No púlpito, acompanhado do Coronal Eltargrim,
Anskalar lia um parecer:
“Depois
de muito ponderarmos sobre os crimes do elfo Arthos Fogo Negro,
de adentrar a câmara do mythal e por em risco a vida dos nossos
cidadãos, nós o condenamos à duas penas: ao
Akh’Faen’Tel’Quess e ao banimento de Evereska.
As penas serão executadas imediatamente. Peço que
se dirijam ao Templo de Corellon. O companheiro de vocês já
está lá.
“Akh’Faen’Tel’Quess?!
Vocês que são elfos, sabem que diabos é isto?”,
cochichou Limiekli perto de Kariel e Mikhail.
“Não
sei ao certo. É difícil de traduzir, mas soa como
‘expulsar da comunidade’ em língua comum. Também
não sei o que quer dizer.”, respondeu Kariel, tão
ignorante como os seus companheiros humanos.
“Também
não sei do que se trata!”, colocou Mikhail. “Talvez
seja algum ritual que antecede o banimento...”
“Bem...
seja lá o que for, Arthos não irá morrer. Não
se pode banir quem já está morto. Vamos descobrir
de qualquer forma do que se trata no templo.”, colocou Sirius.
Seguiram
então o Diretor e alguns elfos que o acompanhavam. Foram
até a imensa torre e percorreram seus caminhos até
a Câmara do Mythal. Acomodaram-se em assentos colocados na
sala, em uma área delimitada. Estavam distantes, mas puderam
ver o cristal poderoso que jazia há alguns metros à
frente, brilhante. Arthos estava próximo ao artefato, vigiado
por dois soldados e ao redor de alguns clérigos de Corellon.
Havia a sua frente uma estranha cadeira escura, com amarras presas
à sua madeira. Quando o Diretor cruzou a porta, acenou e
deu início ao ritual. Foi pedido à Arthos que se sentasse
na cadeira e ele o fez, ainda que temeroso. Não haviam alternativas.
As amarras foram atadas a ele e então os clérigos
começaram a recitar orações à Corellon.
Aquilo durou cerca de duas horas, quando então Arthos foi
desamarrado e levado da sala. O que havia acontecido, os companheiros
da Comitiva não souberam precisar, pois a distância
não permitia uma avaliação mais detalhada.
Anskalar então pronunciou-se.
“O
colega de vocês está sendo levado em uma carruagem
para além de nossos portões. Lá aguardará
por vocês. O Akh’Faen’Tel’Quess está
terminado. Agora devo me retirar. Agradeço novamente a ajuda
e que Corellon os acompanhe!”
A
Comitiva estava ansiosa por encontrar Arthos, mas decidiu antes
reunir seus pertences e fazer as últimas despedidas para
aproveitar e deixar Evereska. Encontraram Storm e Mikhail trouxe
seu cavalo Burgos e juntos saíram da Fortaleza Élfica.
Ao cruzar os portões viram a carruagem. Aproximaram-se e
a porta foi aberta. Um clérigo retirou Arthos de dentro,
devolveu seus pertences e o libertou das algemas. Olharam atentamente
para o amigo. Estava muito diferente do que era. Parecia mais alto
e seu cabelo não estava mais vermelho escarlate, e sim um
ruivo acastanhado. Em sua pele, outrora lisa, cresciam finos pêlos
e sua orelha... não era mais pontiaguda. Arthos não
era mais um elfo, e sim um humano.
“Arthos!
O que houve com você!?”, perguntou Mikhail, perplexo.
“Seu
amigo foi condenado ao Akh’Faen’Tel’Quess, um
antigo ritual. Ele foi expulso da raça élfica e agora
é um humano.”, explicou o clérigo, que deixou
a Comitiva com Arthos, entrou na carruagem e voltou para a cidade.
“Que
tragédia! Mas somos amigos e o ajudaremos a superar isto.”,
abraçou Kariel o amigo.
“Tragédia?!
Espere... não é tão ruim assim ser um humano,
Kariel!”
“Não
quis ofender, Limiekli, mas Arthos é meu amigo e agora viverá
muitos anos a menos do que poderei acompanhá-lo. Terá
que viver mais intensamente cada segundo de sua curta vida.”
“Não
diz isto a ele não Kariel. Ele já era um elfo inconseqüente.
Imagine agora!”, brincou Sirius.
“Pelo
menos, ele agora está mais de acordo com o seu comportamento.”,
colocou Mikhail.
Arthos
por momentos somente ouviu seus amigos e olhava seu reflexo no escudo
polido de Sirius. Tocava no rosto, nas orelhas. Sentia-se mais pesado
e estranho. Então disse.
“Bem,
amigos. Terei que me acostumar. Pelo menos estou vivo.”
“Comitiva!”,
interrompeu Storm, “Lamento interromper, mas existe um assunto
para resolver no Vale da Adaga. Lembram-se dos harpistas que desapareceram
por lá. É hora de nos preocuparmos com eles. Podem
vir comigo?”
“Ora...
porque não!? Vamos!”, falou Arthos. “Para uma
nova aventura!”.
Seus
companheiros sorriram e concordaram com o recém chegado à
raça humana. Então Storm conjurou um encanto e todos
desapareceram das cercanias de Evereska, rumo a mais um capítulo
a ser contado na história de suas lendas.
Este foi o último capítulo da saga “O Retorno
dos Arquimagos” e também a última partida jogada
pelo sistema Advanced Dungeons and Dragons. A partir de agora, os
jogos serão realizados com base no sistema Dungeons and Dragons
3.5.
Esta
história é uma descrição em teor literário
dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé
em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons.
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