
Hadryllis,
a Espada Mágica
Descrita por Ivan Lira,
baseada no jogo mestrado por Marcelo Piropo
Personagens
da aventura:
O
Humano:
Kelta Westingale. O Elfo:Etrix Silverdrone; A Halfling:
Regine Cereja. Participações Especiais: Simbul
e Lady Yhel Bruna:
Hadryllis, a Espada Mágica
"O Universo,
excêntrico a si e aos outros. Cheio de mistérios, inconstâncias,
equilíbrio e um tipo de elemento que desafia a razão
e a lógica, as lendas. Elas são representadas por
heróis que empunham suas espadas para defender a paz e o
bem enquanto vilões se escondem nas sombras esperando o momento
certo para atacar. Neste perpétuo confronto gerou-se uma
subjetividade: seria Ao um escritor antigo que criou personagens
para preencher o Universo? Teria cada um deles uma função
nesta história? Isso provavelmente nunca saberemos, no entanto,
com certeza jamais seremos esquecidos."
Elminster, do Vale das Sombras,
por Ivan Lira.
Desde
o início dos tempos, Faerûn, assim chamado um dos grandes
continentes do planeta Toril, foi palco de espetáculos históricos.
Bravos guerreiros transformaram-se em reis, comerciantes encheram
seus bolsos de ouro, princesas foram amadas, reinos sucumbiram e
ruínas foram formadas. Todos estes eventos têm em comum
a presença dos aventureiros, pois são eles que movem
o mundo.
A
história começa quando um jovem mancebo se depara
diante de dois viajantes que jamais imaginou ver na vida. Se tratava
de uma halfling e um elfo, considerados seres encantados das florestas.
Kelta Westingale
vinha da Sembia, a terra do dinheiro, e morava numa vila perto da
capital Ordulin. Pegou um navio em Yhaunn e chegou a Attumbel há
poucos dias. Estava agora no reino de Aglarond, e se deparou com
estes dois seres em sua frente até que seu espanto foi interrompido
por palavras abruptas.
"E então?
Como ficamos?", disse a pequena halfling Regine Cereja.
"Hã
...", Kelta ainda estava boquiaberto.
"Nós
também estamos indo para Velprintalar, você vem com
a gente ou não?", insistiu a pequenina.
"Eu.. é..
hã..", não sabia o que dizer o jovem.
"Vamos
Silver, deixa esse mal-educado aí com essa cara de bobo.
Logo logo vai congelar nesta neve", disse Regine ao seu companheiro
de tantos tempos, o elfo Etrix Silverdrone.
"Não,
esperem! Eu... eu vou, também quero chegar em Velprintalar."
"Olha Silver,
ele fala. Pensei que era mudo", debochou Regine.
"Ora, vai
com calma com o rapaz Regine. Ele deve estar assustado por não
sermos humanos", explicou Silverdrone.
"É,
devem contar um monte de coisa sobre nós. Olha aqui menino,
não somos bichos não!", disse Regine com um olhar
acusador.
"Eu sei,
só nunca vi alguém como vocês."
Regine
e Silverdrone habitavam nos arredores da Floresta de Yuir pelo oeste,
seguiam uma estrada para Velprintalar, capital de Aglarond, para
que o elfo encontrasse seus outros companheiros. Porém antes
deveria achar uma amiga. Regine era baixinha como todas as halflings,
tinha os cabelos bastante ruivos e olhos claros, vestia uma roupa
simples que consistia numa camisa e calça de couro fino e
assim como os da sua raça, só andava descalça.
Etrix Silverdrone era um elfo da lua, estava sempre limpo e os cabelos
pretos muito arrumados, trajava uma bonita e bem feita armadura
de couro, trazia a sua cintura uma pesada espada que aparentemente
pouco cortou carne. Sempre comentava com Regine o desejo de ser
um grande guerreiro como seu primo do clã MacKrol, este formado
por elfos selvagens que acreditam nos Totens Sagrados da Floresta
Yuir. E finalmente, Kelta era um rapaz de 15 anos, magricelo e cabelos
negros, tinha um vigor de um mosquito, embora desse tudo de si para
chegar tão longe com algo nas costas que lhe atrasava um
pouco.
O
frio já congelava os ossos, a carne seria a próxima,
mas antes disso eles trataram de seguir viagem, mesmo apesar da
estranha conversa que tinha terminado. Todos estavam a pé,
cobertos por peles bastante espessas e confortáveis, sem
elas provavelmente morreriam sem sentir dor alguma. Kelta levava
uma mochila um tanto quadrada, o que chamou a atenção
de Regine que pensou: "O que será que tem dentro daquele
saco? Será uma caixa?". Silverdrone caminhava tranqüilamente,
quase saltitava como se os problemas não existissem. Como
todo elfo, Silver, como era chamado por sua amiga Regine, não
temia a velhice e não se importava com o curso do tempo,
portanto não tinha pressa para nada. A halfling por sua vez
andava e conversava sorrindo para seu amigo, mas continuava implicando
com o jovem humano.
Aventureiros por acaso
Após
algumas horas de caminhada, Kelta começava a ficar impaciente,
o que provocou dúvidas de quão grande era a viagem,
portanto sem alternativas perguntou a seus companheiros de viagem:
"Hã..
É, será que vai demorar muito pra gente chegar lá?"
"Eu acho
que alguns dias serão suficientes. Porquê? Já
está cansado?", perguntou Silver.
"Não,
é que eu queria saber se era muito longe. Você já
fez esta viagem muitas vezes?"
"Olha Silver,
parece que o magricela se desembestou de vez, parecia até
que estava fazendo voto de silêncio.", implicava mais
um vez Regine.
"Fiz este
percurso tantas vezes que não dá pra contar, relaxe,
passa rápido.", tranqüilizou o elfo.
"Não
dá porque você só sabe contar até dez
Silver, não me engane não!", brincava agora Regine
com Silverdrone.
"Eu sei
sim, você que é burra, nem sabe ler e escrever direito.",
rebateu Silver.
Regine pegou
um pouco de neve do chão e jogou na face do amigo correndo
logo em seguida. Então iniciou-se uma perseguição
cômica que resultou em Silver pegando a cabeça de Regine
e afundando na neve. "Você só conseguiu fazer
isso porque sou pequena", dizia Regine enxugando o rosto. "Me
desculpe Regi, acho que exagerei." Etrix se aproximou para
limpar o rosto da pequenina e por um momento, reparou o quanto ela
era bonita. Fitou-a apenas, até que ela percebeu e manifestou
um olhar meigo e bastante doce como se pedisse para que ele a beijasse.
Faltava poucos centímetros para que seus lábios se
tocassem, mas um brilho muito intenso surgiu surpreendendo-os.
Um arco de energia
azulado apareceu a poucos metros dos três viajantes, numa
fração de segundo o arco surgiu e foi abrindo até
chegar ao chão formando algo como se fosse uma porta. O portal
assemelhava-se as ondas do mar vistos de forma vertical embora seus
movimentos fossem mais graciosos. Neste véu que bailava podia-se
ver brilhos que lembravam estrelas piscando, tornando a visão
surreal e inconstante. Uma voz foi ouvida do interior do portal.
"Por que
demoraram tanto? Não percebem que esta missão é
de importância plena?" , pronunciou uma voz feminina
forte como um relâmpago de uma intensa tempestade.
"O quê?
Quem fala? O que é isto?", indagou Silverdrone aproximando-se
calmamente do portal.
"Apressem-se!
Vocês foram escolhidos para completar a missão, e agora
não podem pestanejar. Caso contrário, Rashemen pagará
caro por seus fracassos.", disse a mulher.
"Mas...
De que fala?", perguntou Kelta após tomar coragem.
"Aproximem-se
para que eu possa lhes entregar o objeto.", ordenou a voz.
"Já
sei! Isso é um portal mágico, Sung me falou desses
feitiços ..", revelou Kelta se lembrando do passado.
Silverdrone,
como um aspirante de guerreiro de Aglarond, caminhou até
o portal com veemência. Já Kelta, acompanhou o elfo
movido pela curiosidade. Então um braço saiu de dentro
do portal segurando uma magnífica espada que reluzia as cores
mais lindas que um arco-íris poderia conceber. No braço
da mulher havia uma manga azulada feita com um tecido de qualidade
soberba, que provavelmente valeria milhares de peças de ouro.
A mão daquele braço parecia ser de uma deusa, pois
de tão limpa e linda refletia a luz ao redor. Ela então
continuou:
"Vamos
logo! Peguem a espada! Não me façam perder tempo!
Entreguem para a Hathran Lady Yhel! Não se esqueçam!"
Silverdrone
pegou a espada com bastante carinho, ficou boquiaberto com tão
maravilhosa lâmina onde era possível ver o próprio
reflexo nela como se olhasse para a água de uma lagoa.
Por um pequeno instante, uma mecha de cabelo da mulher apareceu
no portal, seus fios eram totalmente prateados como taças
valiosas de reis antigos. Contudo, após a entrega da espada,
a mão recuou e mais uma vez a voz falou, "Cuidado heróis,
os reinos dependem de seu sucesso." O portal então brilhou
de novo e sumiu como se nunca tivesse existido.
Em
Velprintalar, se encontra um grande palácio que parecia mais
uma morada dos deuses, e num salão secreto, vasto e cheio
de runas estava uma mulher que acabara de entregar um grande objeto
místico para desconhecidos. Se tratava da Rainha Simbul,
uma das Sete Irmãs, filha de Mystra, Deusa da Magia. Ela
demorou, mas encontrou a espada mágica num plano de existência
distante dos reinos. O motivo desta localização era
desconhecido, mas era certo de que quem o fez tinha o objetivo de
prejudicar o reino de Rashemen, pois foram os antigos arcanos deste
lugar que conceberam tal relíquia para a salvação
de seu povo. Simbul ainda não percebera, mas ela desencadeou
um processo na história do mundo que resultará numa
grande força do bem, e os reinos esquecidos jamais serão
os mesmos.
Silverdrone,
Regine e Kelta passaram um tempo vislumbrando a espada e tentando
ainda compreender o que tinha acontecido há pouco. Olhavam-na
como uma jóia rara de valor inestimável, até
que Regine voltou a si lembrando-se do que o jovem humano dissera
"Hei garoto!
Eu ouvi você dizer alguma coisa daquilo que aconteceu, você
disse algo sobre um portal ..", ao que Kelta respondeu
"Sim,
aquilo era um portal mágico, uma fenda entre dois espaços
distantes. E eu não sou garoto não, já tenho
15 anos, a idade de muitos guerreiros por aí.". A pequenina
colocou as duas mãos na cintura e falou com aspereza:
"Ora,
pra mim você só é um garoto. E quem você
pensa que é para falar sobre magia, os elfos é que
conhecem sobre a magia e não um bocó humano.".
Faltou petulância para o jovem responder tal ofensa, no entanto,
prosseguiu.
"Eu conheço
um pouco sobre magia sim, meu mestre me ensinou alguns encantamentos.
E antes de morrer me disse para procurar alguém que ensine
mais sobre a magia em Aglarond.".
"Hum! Você
sabe fazer magia?! Sei não, faz uma magia pra eu ver.",
duvidou Regine.
"Ah, agora
eu não posso, não é certo ficar usando a magia
assim a troco de nada.", explicou o jovem.
"Hahahaha!
Que mentiroso! Essa é a desculpa mais ridícula que
eu já vi."
Kelta
decidiu ignorar a halfling e sugeriu a Silverdrone seguir em frente,
pois já estava ficando exausto. O elfo assentiu e todos os
três prosseguiram sua caminhada na neve.
Uma velha amiga
Já
dois dias depois, os viajantes mudaram a direção de
sua caminhada indo pelo litoral. Porém o frio ainda persistia
e picava os ossos das pernas como uma serpente, apesar de que já
não havia mais neve. Kelta seguiu casmurro, talvez para poupar
fôlego ou pela timidez demasiada, seu silêncio provocou
certas observações de Regine e Silver em relação
a ele. Imaginaram se tinha acontecido alguma desgraça com
o rapaz, ou era triste por natureza. Percebia-se sim sua luta para
não morrer de frio, pois se abraçava, afundando seus
polegares nos bíceps quando apertava seus próprios
braços, e às vezes rangia os dentes fazendo um estranho
barulho.
Em meio a poucas
brumas à frente podia-se ver uma pequena vila de pescadores.
Era Urst, mas Kelta logo perguntou animado.
"Chegamos?
Ali é Velprintalar?"
"Não,
claro que não, essa é Urst, uma pequena vila.",
respondeu pacientemente Silverdrone. "Vamos para a casa de
uma amiga nossa. Venha conosco."
É
uma vila pequena, as casas são de madeira e o teto coberto
por uma palha bastante grossa que são fixadas de modo que
a ventania não as retirasse. As ruas são bastante
estreitas, e os poucos habitantes que apareciam fora de suas moradas
tinham uma aparência muito pálida e um olhar triste
e amargurado, talvez provocado pelos fortes ventos que sopravam
com força nos olhos. Já no litoral era evidente uma
grande quantidade de barcos para o exercício da principal
atividade comercial da vila, a pesca. Mesmo num frio implacável
alguns pescadores voltavam da praia com uma boa quantidade de peixes,
estes que certamente eram vendidos em outras cidades de Aglarond.
Após andarem um pouco,
viraram uma esquina ou duas e chegaram a uma pequena casa. E sem
bater Regine foi logo abrindo a porta anunciando.
"Mayra! Chegamos!"
"Menina!
Que surpresa! Vejo que vieram três desta vez!" Isso disse
uma velha humana com seus setenta anos de idade, cabelos brancos
como a neve e olhos diminutos e cansados. Na casa havia um só
cômodo, o chão era coberto por palha, no canto tinha
uma cama rudimentar, porém era presente uma pequena lareira
e nela estava uma panela com algo cozinhando.
"Mayra,
este é Kelta, diz ele que é um mago. Ele é
meio sonhador e meio parado para as coisas." Apresentou Regine
falando como se o rapaz não estivesse ali.
"Mago?
Não se parece com mago, meu irmão é que era
um mago.", disse Mayra olhando para Kelta com a mão
alisando o queixo.
"Qual Mayra?
Nunca ouvi falar de algum irmão mago.", duvidou Regine.
"Ué?
Tá dizendo que eu tô mentindo é pirralha? Continua
assim e não provará da minha comida, e por falar nisso
.." Mayra foi até Silverdrone, que sorrateiramente alcançou
a panela, e lhe deu um puxão de orelhas, "Faz tempo
que não puxo estas orelhas élficas. Espera o negócio
ficar pronto seu elfo safado!".
"Uai Mayra!
Quase arranca minhas lindas orelhas, quer que eu fique parecendo
um humano é?", disse Silverdrone dando depois um beijo
na testa da anfitriã.
Estando
a comida pronta, já começaram a devorá-la,
já que a barriga de Kelta fazia mais barulho que um ronco
de orc. Todos de pança cheia, começaram um a um a
cochilar, com exceção de Mayra que ascendeu um fumo
de ervas para distrair-se observando os convidados.
Durante o sono Regine foi procurando
o corpo de Silverdrone e repousou sua cabeça no peito dele
para obter mais conforto. Kelta se colocou perto da lareira, pois
o frio fazia suas unhas ficarem roxas, no entanto, após algum
tempo ele acordou.
"Não consegue dormir
meu jovem?", perguntou Mayra.
"Só
preciso relaxar um pouco, nunca tinha sentido tanto frio assim."
"É
verdade que tu é um mago? Isso é um caminho muito
perigoso.", alertou a velha.
"Meu mestre
também me disse isso, mas também me orientou de que
a magia fica negra dependendo de quem a usa. Me disse que é
uma dádiva que deve ser compartilhada a todos.", revelou
Kelta.
"Deve tomar
cuidado pra onde vai, pois perto de Aglarond está Thay, a
terra dos Magos Vermelhos.", disse Mayra acendendo outro fumo.
"Magos
Vermelhos! Onde é que eles moram? Será que me aceitariam
como discípulo?", perguntou Kelta inocentemente.
"Tymora
é mais! Só se você quiser percorrer os caminhos
das trevas! Eles são gente ruim, só causam mal."
"Ah! Agora
eu me lembro! Meu mestre me falou sobre estes magos. Disse que estavam
perseguindo ele." Disse Kelta arregalando os olhos.
"Pois é,
só fazem coisa ruim. Usam poderes diabólicos para
praticar o mal."
"Então
onde é que ficam os magos bons? Eles moram perto daqui?"
"Você
é meio devagar não é menino? Este tipo de gente
não é conhecida assim no povo não. Com certeza
devem habitar reinos encantados ou coisas do tipo."
"Que seja,
não desistirei, não abandonarei o legado do meu mestre",
terminou o jovem.
A
noite chegara de mansinho, como todos ainda estavam exaustos permaneceram
a dormir. Portanto, pela manhã, Kelta acordou ouvindo:
"Magiteco! Hei Magiteco!
Acorda rapaz, aqui não é pousada não!",
dizia Regine cutucando o aprendiz de mago. Kelta, ao acordar fez
uma enorme careta reprovando o aborrecimento que a halfling lhe
causara e como não tinha alternativa levantou se espreguiçando
e tratou de tirar as remelas dos olhos.
Pouco tempo depois os três
já estavam prontos para partir, antes Kelta foi até
Mayra e lhe entregou 5 moedas de cobre.
"Mayra, agradeço
muito por sua hospitalidade, gostaria de retribuir com um pouco
de dinheiro, não é muito mas ajuda."
"Meu filho,
não é preciso não, você poderá
necessitar na viagem."
"Não,
eu insisto, eu sou pobre mas tenho educação",
continuou o jovem.
"Tudo bem
então, essa velha aqui vai comprar alguns peixes com essas
moedas. Espero que encontre seu destino meu jovem, rezarei a Tymora
para que dê tudo certo em sua vida.", despediu-se Mayra.
Após
Silverdrone e Regine darem um grande abraço na velhinha,
seguiram viagem para Velprintalar. Aproveitaram que o frio tinha
diminuído bastante.
Morte à Espreita
Poucos
dias se passaram, o inverno estava cessando, os pássaros
começaram a aparecer, as flores ficaram mais coloridas e
as estradas mais fáceis de viajar. Subindo uma pequena colina,
os três viajantes já podiam ver a pequena cidade de
Corth. Assim como Urst, Corth, pela sua localização,
também é uma aldeia pesqueira, só que no seu
litoral a praia era mais bonita, com a areia mais branca. Silverdrone
deu um sorriso e desceu do morro fazendo graças, imitando
um pássaro. Regine foi logo atrás dizendo "Espera
Silver! Aqui vou eu!". E por último Kelta, que apesar
de estar bastante fatigado foi ao encalço deles.
Embora tenha menos habitantes
que Urst, Corth era uma vila um pouco mais bonita. Uma bela vista
era presente nos rochedos da praia, rochedos estes que segundo histórias
de pescadores, sempre são visitados por sereias, no entanto,
dizem que são conto de fadas. Já no meio da vila as
casas são bem construídas com uma madeira resistente
o suficiente para resistir ao sal que vinha do mar.
Depois de um pequeno passeio
na cidade, os viajantes ficaram de frente para uma grande estrutura,
era a melhor taverna de Corth, a Bolsa da Sereia.
"Então? Vamos nos
hospedar aqui? Parece ser um bom lugar.", disse Kelta ansioso
para repousar.
"É
um bom lugar sim, mas não para pés rapados que nem
a gente. Aí ficam pessoas com bastante dinheiro", explicou
o elfo prosseguindo, "Venham! Eu conheço um lugar decente
que dá pra gente comer e dormir.".
Não sabiam eles, mas
uma figura dentro de um dos quartos da Bolsa da Sereia olhava para
o movimento da cidade através de uma janela entreaberta procurando
algo, então quando avistou Silver, Regine e Kelta, olhos
negros por detrás de uma máscara de porcelana expressaram
curiosidade e suspeita, então a janela se fechou.
Não
demoraram muito a chegar na Taverna Droze. Um lugar que também
serve como uma espécie de restaurante, onde são servidos
vários alimentos vindos do mar, de ostras a camarões.
Um velho bardo garantia a diversão do local contando sobre
as histórias das sereias que arrastaram muitos marinheiros
para o fundo do oceano com suas canções sensuais.
No interior da taverna havia uma balbúrdia, pois muitos comemoravam
o final do inverno e isso era sinal de que o comércio iria
melhorar dali em diante. Se esquivando da rudeza e dos bafos de
bêbados que ali estavam, Silver, Regine e Kelta se aproximaram
do taverneiro para solicitar um quarto.
Numa das extremidades do recinto
havia uma mesa com homens de aparência hostil, eles bebiam,
gargalhavam e contavam vantagens sobre coisas que sempre gostariam
de fazer mas não tinham coragem. Apenas um deles, que parecia
ser o líder, permanecia sério e com pensamentos distantes
vislumbrava o mar através da janela. Contudo, a presença
de três figuras alterou o cenho daquele homem cheio de cicatrizes
pelos braços e no rosto. Observou curioso o fato de três
seres de raças diferentes estarem ali. Por um momento achou
que era besteira e resolveu não dar mais atenção,
só que antes algo o fez mudar de idéia, por um breve
momento em que um deles, o elfo, caminhava, um leve brisa veio em
sentido oposto e levantou uma parte da pele que o aquecera. Tudo
aconteceu rapidamente, no entanto, foi suficiente para que os olhos
treinados do homem de cicatrizes percebesse por debaixo daquelas
peles o cabo de uma bela espada. Pela experiência de anos,
sabia que não era uma espada comum, e então começou
a se lembrar de que algumas semanas atrás fora pago por um
figura de aparência exótica para interceptar um grupo
de aventureiros que portasse uma espada cuja descrição
do homem encapuzado batia com a que estava na cintura do elfo ali
presente. Um sorriso se formou no rosto do mercenário assegurando
a certeza de seus alvos, e ficou surpreendentemente alegre por ser
uma missão tão fácil. Para distração
dele um de seus homens perguntou:
"Scarkruel!
Até quando ficaremos nesta cidade? Eu não agüento
mais este cheiro de peixe.".
Então
o homem de cicatrizes que tinha longos cabelos negros, dos quais
alguns eram brancos, respondeu de forma segura:
"Mais
cedo do que você pensa meu amigo." E virou um copo de
cerveja mantendo o olhar fixo nos recém chegados.
Os
três viajantes, após acertarem o valor da hospedagem
com taverneiro, trataram de subir para finalmente descansarem seus
surrados pés. Para economizar dinheiro, eles alugaram apenas
um quarto para os três, o que incomodou um pouco Regine que
gostaria de ficar sozinha com Silverdrone. Depois, um de cada vez,
tomaram um bom banho numa grande tina de água e conseqüentemente
foram comer. O fizeram no próprio quarto, pois não
queriam ser incomodados por beberrões.
Á
noite, Silverdrone dá a idéia de passear pela cidade
e aproveitar algumas pequenas festas dos cidadãos locais.
Os outros acataram a idéia, apesar de que Kelta achou um
pouco perigoso.
Caminhando pela cidade, os
viajantes apreciavam a alegria do povo pelo fim do inverno.
Crianças corriam umas entre as outras, pessoas cantarolavam
canções tradicionais da região com copos de
vinho à mão, comentavam sobre as grandes pescarias
que fariam naquele ano e outros se empanturravam de comida.
O tempo foi
passando, alguns se retiraram para suas casas, não se via
mais crianças nas ruas. Silver ainda queria ver o brilho
de Selûne no mar, portanto se dirigiram para os rochedos.
Totalmente distraídos com o passeio, eles não perceberam
a presença de seis homens que os espreitavam a uma certa
distância aguardando as ordens de Scarkruel, que permanecia
frio como um experiente caçador. No entanto, ao chegarem
mais perto, e pelo fato de que havia menos pessoas naquela hora,
Silverdrone por ser um elfo, que possui uma audição
mais aguçada, percebeu a aproximação indesejada
de homens ao seu redor. Lembrando-se dos treinamentos que lhe foram
impostos no seu clã, o elfo olhou para os dois companheiros
e sussurrou "Estamos sendo seguidos, quando eu der o sinal
espalhem-se e corram para direções diferentes. Devem
ser ladrões. Nos encontraremos naquele morro na entrada da
cidade.". Regine ficou apreensiva e protestou: "Não
Silver, é perigoso! Por que não ficamos todos juntos
e fugimos?". Sem hesitar o elfo respondeu "Não
se preocupe, preparem-se". Regine mordeu o lábio em
apreensão, Kelta ficara tenso não conseguindo disfarçar
o desconhecimento de seus espreitadores. Silver então gritou:
"Agora! Corram!"
Os três partiram em disparada
surpreendendo os bandidos ignorantes que demoraram um pouco a iniciar
uma perseguição. Eles também se dividiram,
Scarkruel calmamente ordenou que um dos homens o acompanhasse no
encalço do elfo, pois era ele que tinha o objeto que tanto
procurava.
Kelta corria como nunca correu
antes. Seu perseguidor, de tão irado, mostrava os dentes
como um felino enquanto se deslocava com uma espada curta na mão
direita. Regine tinha dificuldades em manter distância do
homem que ia em sua direção, suas pernas de halfling
são curtas e ela se distraia com o pensamento em Silverdrone,
com o qual mantinha uma grande preocupação. Após
se afastar muito, Kelta consegue despistar um dos homens entrando
numa casa e faz um sinal de silêncio para uma mulher que lá
residia, dando-lhe uma peça de cobre como retribuição.
Regine não teve a mesma sorte, foi pega pelo bandido, que
a segurou com força prendendo a pequenina que balançava
os pés. Depois de alguns instantes, Kelta saiu pelos fundos
da casa em que estava e foi em direção do lugar onde
Silverdrone estava correndo.
O elfo, após correr
muito decide enfrentar seu inimigo. Provando ser um valoroso guerreiro,
postou uma base de luta com a espada mágica nas mãos.
O mesmo fez seu perseguidor, porém quando pensavam em se
atracar, um homem apareceu e disse:
"Jorg! Pare, deixe ele
comigo!", assim falou Scarkruel.
"Eu vou
ser bem claro, elfo. Me entregue esta espada e nada lhe ocorrerá.",
continuou o homem de cicatrizes enquanto seu subalterno abandonava
o combate.
"Desculpe,
mas não posso fazer isso. Se quiser, venha pegar.",
desafiou Silver, que não se renderia facilmente, já
que seu clã não acharia honrado fazê-lo.
"Tem certeza
que quer isso? Sabe usar esta espada?"
"Venha
e irá perceber o quanto sou bom.". Silverdrone já
circundava Scarkruel.
O mercenário então
sacou sua espada, que era do mesmo tamanho que a de Silver, movimentou-se
com fleuma por um instante e então atacou. Deu um balanço
com sua espada visando cortar o peito de Silverdrone, mas este instintivamente
bloqueou com sua espada mágica devolvendo o golpe em seguida,
só que Scarkruel se esquivou com muita facilidade e perícia
dando um sorriso vitorioso. Prosseguiu ele com uma bateria de golpes
contundentes, que fizeram o elfo se defender recuando com muita
dificuldade. Naquele momento percebeu ele que seu atacante havia
baixado a guarda no lado esquerdo e então tentou lhe empalar.
Infelizmente aquilo tinha sido uma armadilha do homem de cicatrizes,
ele se esquivou atingindo dois golpes na espada mágica fazendo-a
cair das mãos do elfo, e finalmente o olhou com frieza transmitindo
vitória e decepou sua cabeça. O golpe foi tão
perfeito que não se ouviu o ruído da carne sendo destrinchada.
Silverdrone morreu no exato
momento em que Kelta chegara ao longe, gritou bastante fazendo com
que alguns curiosos surgissem de suas casas. Scarkruel pegou a espada
mágica e mandou seus homens fugirem levando a pequena halfling.
Eles correram e Kelta seguiu atrás, no entanto, só
conseguia ver um dos homens que tentava alcançar seus colegas.
Apesar dos incessantes avisos de seu mestre, Kelta se concentrou,
pronunciou algo como "Mysticum Missilis" e disparou um
projétil mágico em direção ao seu inimigo,
era uma esfera pequena com uma cor azulada que ao mover-se, se distorcia
numa forma oval. O seu centro era tênuemente púrpura.
Este que tentou se desviar, mas a bola fazia curvas no ar e não
errava o alvo. O homem foi atingindo nas costas e caiu inconsciente.
Kelta continuou correndo mas já era tarde: seus antagonistas
tinham escapado.
Ao voltar para o homem inconsciente,
Kelta é abordado por outros que surgiram de repente dizendo:
"Rapaz, o que aconteceu
aqui? Quem é você?"
"Aqueles
malditos, eles... eles mataram meu amigo.." O jovem Kelta,
agora com o sangue esfriando, absorveu toda a situação.
Nunca havia visto alguém ser assassinado na vida, ainda mais
daquele jeito, e ainda alguém que se tornou seu amigo. Suas
pernas fraquejaram e então ele caiu de joelhos, chorando
silenciosamente. Os homens ajudaram-no a andar e carregaram os corpos
para não chamar a atenção de alguma autoridade
local e conduziram o jovem à taverna Bolsa da Sereia.
A Bruxa de Rashemen
Kelta
foi conduzido por um homem de nome Thydrim que parecia comandar
os demais. Ele o levou a uma porta de um quarto especial que era
vigiado por dois guardas muito robustos. A porta se abriu e o rapaz
entrou. Lá dentro o quarto era bem decorado e no centro tinha
uma grande cama. Perto da janela postava-se uma bela mulher de aparência
distinta. Ela trajava um vestido escarlate acompanhado de uma sobre-túnica
negra com bordados dourados. Seus cabelos negros e brilhantes chegavam
na cintura, mas o que realmente chamava a atenção
foi uma máscara de porcelana que escondia sua face. Kelta
encarou os olhos da mulher que expressavam curiosidade. Ela quebrou
o silêncio com uma voz severa:
"Quem é você?"
"Eu, sou
Kelta Westingale, da Sembia.". O jovem respondeu com receio,
achou que estava no início de um interrogatório.
"Eu vi
você com um elfo e uma halfling. Vocês carregavam Hadryllis.
Onde a conseguiram?"
"Hadryllis?
O que é isso?"
"Uma espada
dos antigos. Como souberam de sua existência?", insistiu
a mulher misteriosa.
"Nós...nós
estávamos na estrada e vimos uma espécie de portal.
Nele apareceu uma mulher que nos entregou uma espada dizendo para
entregar para uma bruxa de Rashemen."
"Simbul?
Mas porque ela cedeu a espada a eles?", pensou a mulher, e
prosseguiu. "Ela disse o nome da Bruxa?"
"Sim, ela
disse algo como Hathran Lady Yhel."
"Eu sou
Lady Yhel! Vocês deviam entregar a espada a mim e não
a aqueles ladrões..."
"Entregar?
Você acha que entregamos a espada a eles? Você acha
que Silverdrone morreu para ceder a espada? Olha aqui, eu não
sei quem é você e não sei de nada do que está
havendo, nós não pedimos isso, simplesmente aconteceu.
Portanto não fale assim de mim e meus amigos.", explodiu
o jovem Kelta que, a poucos segundos, parecia um assustado coelho.
Lady Yhel se surpreendeu, deu um suspiro de impaciência pensando
"Maldição! Não são as pessoas que
enviei para pegar o objeto.", e depois disse:
"Tudo bem,
se me ajudar poderemos pegar os ladrões."
"Eu me
importo mais com Regine, eles a levaram. Aqueles malditos assassinos."
"Que seja!
Tem alguma pista para onde eles foram?"
"Eu nem
sei quem são.", Kelta colocou a mão na cabeça
em desespero.
Pouco depois
Thydrim entrou com uns papéis na mão entregando a
Lady Yhel. Eles procuraram pistas de onde poderiam ter ido, porém
não encontraram nada. Thydrim então trouxe o recém
acordado prisioneiro que Kelta havia nocauteado e lhe deu alguns
tabefes tentado arrancar alguma informação, até
que Yhel falou:
"Deixe
isso comigo" A Lady começou a pronunciar palavras arcanas
e lhe aplicou um feitiço fazendo o prisioneiro falar. Ele
revelou que o bando de Scarkruel deveria entregar esta espada a
uma outra pessoa na cidade de Duas Estrelas em Thesk. Isso foi suficiente
para que no outro dia Kelta já estivesse pronto para partir
com a Bruxa de Rashemen.
Esta
história é uma descrição em teor literário
dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé
em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons.
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