Espiões
Espionados
Descrita
por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens
principais da aventura:
Os
Humanos: Arthos Fogo Negro [Sohtrax
Chumavh]; Magnus de Helm [Zoun Katar Chumavh];
Sigel O'Blound (Limiekki) [Dron'Karnot
Chumavh]; Danicus Gaundeford [Glemoran
Chumavh] e Klerf Maunader. Os Elfos: Mikhail
Velian [Exxor Chumavh]; Kariel Elkandor
[Vandrax Chumavh]. O Grimlock: Loft
Moft Toft Iskapoft. O
Halfling: Bingo
Playamundo [Taz'Uthur Chumavh]. Participação
Especial: Storm Mão Argêntea.
Espiões
Espionados
Uma
Abordagem Equivocada
Os
aventureiros do grupo conhecido por a Comitiva da Fé se
reuniam na praça do distrito de Nanitaran, na
grande metrópole drow de Undrek´Thoz. Procuraram
sentar-se em um banco de pedra onde não havia
drows próximos e conversaram em tom de voz baixo,
partilhando as informações que haviam coletado
e então debateram.
“Então poderíamos nos
infiltrar nesta Casa Trun'Zoyl'Zl?”, perguntou Arthos a Kariel.
“Sim!”, respondeu o mago. “O
membro da Casa que encontrei na galeria, Istolil Trun'Zoyl'Zl, disse-me claramente
que eu poderia levar outros comigo. De dentro da Casa, poderíamos fazer
as investigações necessárias para encontrar o portal e a
gema!”.
“Um momento!”, disse o professor
Danicus, sacando um livreto de capa preta de um dos bolsos do seu traje. “Lembrei-me
de algo: para entrar em uma Casa drow devota de Lolth deve-se fazer antes um
teste de fidelidade à deusa!”, disse, consultando as páginas
do pequeno volume, onde havia anotado tópicos de sua pesquisa sobre os
elfos da escuridão.
“Um teste de fidelidade? Como é este
tal teste!?”, quis saber Limiekki, o mateiro, desconfiado.
“Uma sacerdotisa irá investigar
nossas mentes através de encantos para verificar se somos verdadeiros
seguidores da Deusa Aranha!”, respondeu o Harpista.
“Mas com o silêncio de Lolth às
preces de seus sacerdotes, talvez este teste não esteja mais sendo realizado.
Poderíamos aproveitar esta possibilidade e entrar!”, conjecturou
Mikhail.
“Os drows podem usar artefatos mágicos
para tal propósito, meu caro. Eles devem continuar a funcionar, mesmo
com o desaparecimento das graças de Lolth aos seus clérigos!”,
disse Danicus.
“Ora, professor! Podemos tentar mesmo
assim. Quem sabe Mikhail não tem razão?! Mas... o que acontece àqueles
que falham no teste?”, perguntou Arthos.
“São transformados em monstros
horríveis!”
“Bem... er... então talvez haja
realmente uma outra solução!”, disse o espadachim, mudando
rapidamente de idéia.
“Kariel... você não entrou
naquela casa drow de Maerymidra? Daqueles drows que tinham monstros de estimação!?
Se gente já invadiu lugares assim antes, podemos invadir de novo!” expressou-se
Bingo, que era pequeno mas audaz, e cujo estômago ainda roncava.
“Uma invasão simples poderia
ser realizada, mas não temos nenhuma informação sobre o
castelo da casa Trun'Zoyl'Zl. Em Maerymidra, obtive o apoio de Non, que conhecia
a construção. Ademais, quase não saio vivo de lá!”,
lembrou o arcano.
“Ouvimos que existe uma biblioteca
aberta ao público no distrito de Mezrylornyl. Pode haver alguma informação útil
por lá! Quem sabe encontremos algum mapa ou plantas?”, opinou Arthos.
“É uma possibilidade. Então
devemos buscar mais informações antes de tentar algum tipo de infiltração!”,
sintetizou Kariel.
“Olha... mas primeiro temos que comprar
algumas roupas novas. Quando sentamos naquela taverna nos olharam como se fossemos
mendigos!”, falou Limiekki, pegando nos trajes de aparência desgastada
que vestia.
“Também tive esta mesma sensação!”,
disse Mikhail. “Encontramos uma loja de vestimentas durante o nosso percurso.
Podemos comprar algumas!”.
“E comida... não se esqueçam
de comprar algo pra comer!”, lembrou em voz alta Bingo.
E assim a Comitiva da Fé encerrou
aquela reunião e foi até a rua percorrida anteriormente por Mikhail,
Magnus, Bingo e Iskapoft. Localizaram a loja: um edifício de um único
andar, escuro como os demais, com as paredes trabalhadas em entalhes em baixo-relevo,
com motivos geométricos. Uma placa de pedra, pendurada a altura da porta,
dizia apenas: “trajes”.
Os aventureiros adentraram o estabelecimento,
mas pediram que Iskapoft ficasse do lado de fora. Não queriam chamar mais
a atenção do que já faziam, sendo estranhos em roupas estragadas.
Assim que entraram, puderam observar trajes de todo o tipo que estavam pendurados
em cabides com pequenos braços esculpidos em madeira negra, em um formato
que lembrava aranhas. Havia também uma grande quantidade de atendentes,
que olharam para os recém chegados à loja com um misto de espanto
e descontentamento. Ainda assim, um deles aproximou-se.
“Senhores... têm certeza que
podem comprar algo aqui?”
“Ai ai ai... de novo!?”, balançou
a cabeça Limiekki.
“Aqui estão as moedas e as gemas!”,
disse Kariel, exibindo o conteúdo de um pequeno, mas cheio, saco de tecido,
o que esbugalhou os olhos do vendedor. “Obviamente,
traga-nos as roupas que pedirmos!”, finalizou em comando.
“Desculpem-me, senhores! Por favor,
se acomodem e escolham o que desejarem!”.
Os heróis então ficaram livres
para escolher e tiveram toda a atenção que o brilho das moedas
e jóias podia comprar. Escolheram trajes finos, cada um do tipo adequado às
suas habilidades e gostos. Finalmente pareciam distintos. Pagaram e depois deixaram
o estabelecimento.
“E agora?”, perguntou Limiekki.
“Sugiro que um grupo parta para a biblioteca
de Mezrylornyl, em busca de informações úteis para nossa
missão. Outro pode ir até ao distrito de Trun'Zoyl'Zl, observar
as possibilidades de infiltração!”, disse Kariel, formulando
um plano.
Os aventureiros acharam boa a idéia
do arcano e escolheram seus destinos. Seguiriam para Mezrylornyl o próprio
Kariel, professor Danicus, Mikhail, Magnus e Bingo e o grimlock Iskapoft, enquanto
Limiekki e Arthos partiriam para Trun'Zoyl'Zl. Só lhes faltava agora saber
como chegar em tais lugares. Arthos e Limiekki decidiram ir à taverna
perguntar ao atendente, Merinid Nanitarin, como conseguir um transporte. Bingo
foi junto, na esperança de acalmar sua fome.
“Vocês novamente! Vejo que agora
estão trajados como devem!”, falou o jovem, ao ver os dois fregueses
de pouco tempo atrás, vestidos desta vez em roupas ricas.
“Olá Merinid! Esquecemos de
perguntar-lhe algo... como fazemos para ir a outros distritos? Podemos caminhar
até eles?”, quis saber Arthos.
“Por Lolth, não!”, disse
com surpresa o drow. “Os distritos são separados por longas estradas.
Devem tomar um lagarto para chegarem aos seus destinos. Descendo por aquele caminho,
encontrarão uma casa de montarias”, continuou, apontando. “Lá há lagartos
e aranhas para todos os distritos!”.
“Obrigado, amigo!”, disse Limiekki,
com um sorriso.
Quando iam se retirando, deram falta de Bingo.
O pequeno, mesmo na forma de um drow, era capaz de sumir das vistas com muita
facilidade. Vasculharam com o olhar as mesas e, de repente, pelas costas, ouviram
sua voz.
“Estou aqui!”, disse o halfling,
segurando um pacote.
”Pensei que tinha se perdido! O que é isto
aí?”, perguntou o mateiro Limiekki, virando-se para o amigo e olhando
o embrulho de tecido branco.
“Ah... cogumelos secos! São
estranhos, mas gostosos! Quer um?”, disse, oferecendo um fungo alaranjado.
“Humm... não! Já estou
satisfeito”, olhou Arthos. “Vamos voltar até os outros. Temos
uma condução para pegar!”.
Arthos, Limiekki e Bingo uniram-se aos outros
na praça e desceram a rua, seguindo o caminho apontado pelo atendente.
Caminharam por uma avenida larga, ladeada de prédios e casas de formatos
diversos, até que chegaram em uma construção maior e circular,
com um grande pátio, onde estavam cerca de uma dezena de lagartos enormes,
alguns dos quais montados por vários drows e algumas aranhas gigantescas,
montadas individualmente. Era intenso o movimento de cargas, transportadas por
riquixás puxados por escravos para depósitos dentro da construção
e de passageiros que iam e vinham na direção das plataformas de
embarque e desembarque. Outra estranha visão impressionou os olhos dos
aventureiros: humanos, acorrentados, eram levados por uma drow, que passava próxima.
Tinham a tez morena e alguns possuíam as cabeças raspadas, que
exibiam intricadas tatuagens.
“Thayanos!”, murmurou Kariel,
reconhecendo as características das pessoas da terra dos Magos Vermelhos.
“Senhora! Senhora!”, exclamou
Arthos, chamando a atenção da drow, o que fez os corações
de seus amigos baterem mais rápido.
“Sim?”, respondeu a drow de belo
corpo e trajes, um tanto surpresa.
“Perdoe-me minha indiscrição.
Não somos desta cidade e não conhecemos este tipo de escravos.
Como os consegue?”, questionou o espadachim.
“Não são da nossa cidade?
Isto é um tanto raro!”, comentou a mulher. “De onde vêm?”
“Maerymidra!”, respondeu Arthos.
“Existe muito tempo desde que ouvi
este nome ser pronunciado. Pois bem, forasteiro, estes escravos são da
espécie dos humanos. Eles vêm de um assentamento deles na superfície,
chamado Thay. São caros, mas podem comprar alguns deles no distrito de
Jenn'Yxir, se tiverem as moedas. Agora, dêem-me licença, pois estou
apressada.”, respondeu a drow, que depois se virou e continuou o seu caminho.
A Comitiva prosseguiu, lamentando não
puder salvar aquelas pobres almas. Chegaram até um local de embarque,
onde os grandes lagartos estavam parados e identificaram um drow que parecia
agenciar o transporte. Havia dois animais que sairiam em pouco tempo rumo aos
distritos de Mezrylornyl e Trun'Zoyl'Zl. Acordaram e pagaram o preço da
viagem: uma peça de prata por pessoa.
“Poderemos nos encontrar no portão
de acesso ao distrito de Trun'Zoyl'Zl. Teremos que estar lá antes que
o disfarce mágico termine!”, sugeriu o professor Danicus.
Os demais concordaram, apertaram as mãos
e desejaram boa sorte uns aos outros, antes de se separarem. Subiram num lagarto,
com o auxílio de uma escada, Kariel, o professor Danicus, Mikhail, Magnus
e Bingo e Iskapoft, e Limiekki e Arthos em outro, sendo todos os animais guiados
por um condutor, que assumia a rédea dos gigantescos répteis. E
assim, rapidamente, atravessaram a cidade e passaram por um de seus portões,
seguindo estradas diferentes em meio aos ermos escuros e pedregosos dos caminhos
do Subterrâneo.
Mezrylornyl
Kariel,
o professor Danicus, Mikhail, Magnus, Bingo e Iskapoft
percorreram a estrada arenosa entre os rochedos da caverna
sem fim, montados na sela especial de couro que havia
no réptil, que balançava bastante ao se
locomover. Observaram o caminho, mas quase tudo que viam
era apenas a escuridão completa e simples, nenhum
ruído, a não ser os feitos pelo arrastar
das patas da montaria. Um pequeno cristal que emitia
uma luz púrpura estava preso à cabeça
do lagarto e iluminava fracamente o caminho.
Quebrando a escuridão, nas margens
da estrada, os aventureiros vez por outra viam postos de guarda e platôs-jardins,
iluminados por cogumelos fluorescentes, onde cresciam fungos, raízes e
incomuns plantas pálidas, em uma desordenada diversidade. Tais jardins
possuíam uma beleza peculiar e inesperada. Havia até árvores,
de folhas de um verde muito claro, que cresciam sobre a iluminação
de cristais mágicos.
“Puxa! Owni ia gostar de ver estes
jardins e estranhas plantações!”, disse Bingo.
“Quem?!”, perguntou Mikhail.
“Owni Escudoguerin! Meu amigo em Luiren!
Ele é jardineiro, doméstico e fabricante de cercas vivas!”,
respondeu o halfling disfarçado de drow, relembrando do seu conterrâneo,
com qual havia partilhado algumas aventuras, e da sua pequena e pacata terra
no sul de Faerûn.
Depois de duas horas de viagem desconfortável,
viram as muralhas e os prédios do distrito Mezrylornyl. Ao se aproximarem,
visualizaram um rio que formava um belo lago azulado bem ao centro do povoamento
drow, onde alguns pequenos barcos a remo movimentavam-se. O ar de Mezrylornil
era menos fresco e mais úmido, o que gerou algum desconforto por calor
entre os viajantes, a exceção de Kariel, cujas graças da
Deusa Mystra ofereciam proteção contra tais incômodos. O
lagarto percorreu uma rua larga dentro da cidade e parou em outro prédio
circular, a semelhança do seu par em Nanitaran. Lá desembarcaram
os aventureiros.
“Senhor!?”, interpelou Kariel
o condutor que descia da montaria. “Com sua licença, pode nos informar
onde encontramos a biblioteca do distrito!?”
“É aquele grande prédio
negro e prateado retangular”, apontou o drow.
Assim foram os seis. Até chegarem à biblioteca
viram muitos estabelecimentos movimentados, cujas placas de identificação
remetiam a apostas e jogos desconhecidos. Parecia ser esta uma das principais
atividades do Distrito. Viram até alguns drows que jogavam em uma mesa
na margem da rua um estranho jogo envolvendo diferentes e curiosos dados multifacetados
feitos de cristais transparentes, livros e cartas.
Subiram os degraus negros de pedra e adentraram
o portal de entrada, encimado por um brasão que mostrava uma mão
aberta, com uma aranha no centro. Lá, em uma ante-sala, havia um drow
de cabelos curtos, e trajes púrpuras, atrás de um balcão.
Pediu-lhes que, antes de entrarem, deixassem com ele seus pertences e armas e
avisou-lhes que o conhecimento que poderiam adquirir lhes custaria uma moeda
de ouro por hora. Disse-lhes também que Iskapoft, como escravo, não
poderia entrar e teria que aguardar do lado de fora. Os heróis, um tanto à contra-gosto,
atenderam às exigências e entregaram seus pertences, colocados em
uma prateleira atrás do balcão, entrando em seguida em um salão único
e muito amplo, repleto de dezenas de estantes de livros e mesas de pedra, e alguns
drows que liam. Espalharam-se pelas seções e escolheram uma mesa,
onde depositaram os tomos. Duas horas de estudo aproximadamente haviam se passado,
quando o professor Danicus interrompeu a leitura dos companheiros, sussurrando.
“Amigos. Temos que sair agora, ou poderemos
nos atrasar para encontrar nossos colegas em Trun'Zoyl'Zl. Encontrei algumas
coisas sobre a botânica deste lugar e sobre a disposição
das ruas das cidades, mas nada específico que nos auxilie!”
“Também não encontrei
nada de relevante!”, disse Magnus desapontado.
“Eu achei algo sobre os produtos de
cada Casa. Pode ser de alguma serventia se quisermos comprar algo!”, comentou
Mikhail.
“Encontrei alguns contos sobre elfos,
mas vocês não vão gostar de ouvir! Vocês não
são muito populares por aqui!”, disse Bingo, folheando um livro
cheio de figuras bizarras. Observou também as expressões de desaprovação
que surgiram nas faces de drow de Kariel e Mikhail.
“Encontrei um mapa que mostra a disposição
das Casas de Undrek´Thoz”, informou Kariel mostrando num livro aberto,
um desenho. “Talvez tenha alguma utilidade! Irei anotar em meu diário”.
Kariel fez um desenho no pequeno caderno
que sempre levava consigo. Em seguida, os aventureiros deixaram o salão,
pagaram a taxa e retomaram seus objetos de volta. Foram diretamente ao prédio
que servia de terminal de transporte. Rumariam agora para Trun'Zoyl'Zl para reencontrar
seus companheiros.
Trun'Zoyl'Zl
Viajavam
Arthos e Limiekki, pela longa estrada até Trun'Zoyl'Zl.
O espadachim, diferentemente de alguns de seus amigos,
não conseguia resistir muito tempo em silêncio.
Já eram duas horas e ainda mais duas aguardavam
os viajantes. Curioso, começou a conversar com
o condutor.
“Estas estradas são tão
ermas! Não ocorrem assaltos aqui?”, quis saber Arthos.
“Sim, mas felizmente isto não é tão
freqüente quanto nas proximidades dos distritos de Vrasl e Phaundakulzan,
onde existem aqueles malditos goblinóides!”, disse com a voz enraivecida. “Devíamos
matar todos eles e aproveitarmos suas carnes como alimento!”, continuou.
“Concordo. Devemos exterminar esta
escória!”, falou o ex-elfo Arthos, “Chamo-me Sohtrax. Qual é o
seu nome? Já foi um homem das armas?”.
“Chamo-me Tilluth Mezrylornyl. Sim,
já fui um soldado, mas nestes tempos de paz, melhor ser um condutor. É menos
tedioso. Tomara que formemos logo um exército para destruir os rebeldes
de Drezz'Lynur! Juro que estarei na linha de frente!”
“E por que este exército ainda
não foi formado?”, perguntou Limiekki.
“Acho que ninguém deseja abrir
mão de parte de seus exércitos para a guerra e deixar sua Casa
vulnerável. É por isto tanto atraso e politicagens! Além
disso, somente os Fyvrek’Zek estão, no momento, prontos para um
combate, creio eu!”, disse, chateado, o guia de lagartos.
“São eles promovem as arenas
de combate, não é!?”, lembrou Arthos.
“Isto mesmo! Se não fossem eles,
talvez os drows esquecessem o que são a guerra e os combates!”.
O drow parou um instante e perguntou: “Mas vocês fazem perguntas
estranhas. Não sabem destas coisas?!”
“Somos forasteiros! Viemos da cidade
de Maerymidra!”, disse Arthos, um tanto farto de contar a mesma história
a todo instante.
“É difícil vermos forasteiros.
De certo não conhecem os distritos de Undrek´Thoz, estou certo?”.
“Sim. Nunca estivemos aqui. Pode-nos
contar algo?”, perguntou Limiekki, procurando garimpar alguma nova informação.
Tilluth empolgou-se e começou a falar
da cidade. Limiekki deu-lhe a garrafa de vinho que havia comprado na taverna,
o que lhe facilitou a fluência das informações. Disse o condutor
da vocação artística de Nanitaran e da belicosidade de Fyvrek’Zek,
onde se encontravam boas armas e armaduras e lugar, segundo ele, onde se faziam
verdadeiros guerreiros. Contou que em Phaundakulzan existiam muitos magos e fabricantes
de papel e que em Trun'Zoyl'Zl havia bons lapidadores, curtumes e madeireiras.
De Vrasl, disse existir uma coleção de animais selvagens e exóticos,
os mais estranhos e diversos, além de arsenais e pedreiras. Ao falar de
Jenn'Yxir, destacou os grandes mercados, o comércio de escravos e forjarias.
Sobre Mezrylornyl, falou do gosto por apostas, jogos e conhecimento. Sobre as
Casas Brundag e Sshurlynder, Tilluth nada falou, ou porque não as conhecia
muito bem, ou porque não as achava interessantes para se conversar. Arthos
ainda queria saber mais e perguntou novamente.
“De onde viemos, o Silêncio de
Lolth causou muita destruição. Ainda conseguem manter a seleção
de novos membros das Casas pelos testes de fidelidade, com a Deusa negando suas
dádivas?”.
O drow respondeu, depois de beber mais um
pouco. Já não guiava com tanta perícia.
“O Silêncio da Deusa... sim...
ele se abateu sobre nós, mas os testes, não sei como, ainda existem
para os poucos que mudam de Casa. A própria matrona Trun'Zoyl'Zl nos falou,
em um discurso, que este período estava previsto e é uma provação
de Lolth aos seus fiéis. As outras sacerdotisas e matronas confirmaram
as informações! O que temos de fazer é sermos pacientes
e vigilantes!”.
“Sabe de algum lugar onde podemos ficar
até escolhermos uma Casa?”, perguntou Limiekki.
“Bem... Aqui em Undrek´Thoz normalmente
só entram escravos de Jenn'Yxir e os malditos goblinóides! Como
não temos visitantes, também não existem lugares de hospedagem!”
“Mas poderíamos pagar bem!”,
insistiu Athos.
“Humm... tenho um amigo que possui
uma casa de jogo, fora dos limites de Mezrylornyl. Talvez pela quantia certa
ele possa permitir que fiquem por lá! O nome dele é Baragh. Quando
retornarem de Trun'Zoyl'Zl podem me procurar que os levarei até ele.”
Depois de algum tempo, avistaram as muralhas
e os edifícios do distrito. Trun'Zoyl'Zl possuía construções
mais sólidas e fortificadas que Nanitaran. Segundo Tilluth Mezrylornyl,
tal precaução devia-se ao fato do distrito estar em um ponto mais
distante das demais Casas, posição que poderia fragilizar suas
defesas contra invasores e feras do Subterrâneo. O lagarto adentrou os
portões, avançou por ruas largas e de pouco movimento, e parou
numa cópia do prédio circular, onde a cena era semelhante à vista
em Nanitaran: muitos lagartos, passageiros, escravos, animais e cargas. Depois
de descerem, perguntaram ao condutor onde era a fortaleza da Casa Trun'Zoyl'Zl.
“Do outro lado da cidade, após
o relógio, há um grande pilar de pedra e dentro dele um túnel.
Depois de o percorrerem encontrarão no final um posto de guarda. Após
o posto, há uma ponte de pedra e logo depois a grande fortaleza do Distrito.
Mas não chegarão nem perto dela, meus amigos! E obrigado pelo vinho!”,
disse, afastando-se.
Arthos e Limiekki então resolveram
ir até o túnel. Queriam observar quem entrava e saía de
lá e que oportunidade teriam para a infiltração. Guiaram-se
pelos marcos, como o monolito negro que contava o tempo e, depois, pelo pilar
cinzento na margem da cidade. Viram um centro urbano movimentado, com muitas
oficinas de artífices e lojas de objetos em madeira e couro. Muitos lagartos
carregavam água e estranhas e lisas toras de madeira negra como carvão.
Chegaram então ao pilar cinzento.
Acima da grande entrada do túnel que o cortava, havia a figura de um círculo
cinzento, com uma grande aranha vermelha e brilhante como um rubi. O desenho
estava presente em alguns dos prédios pelo qual havia passados e, agora
notavam, nas vestes dos habitantes. Ficaram por muitos minutos à espreita
e verificaram a maciça presença de militares entrando e saindo
do túnel, assim como algumas carroças de suprimentos.
“Talvez haja uma possibilidade!”,
disse Limiekki, observando um lagarto que empurrava um vagão repleto de
grandes vasos de cerâmica para dentro do túnel.
“Sim!”, concordou Arthos. “Vamos discutir com os outros! Está na
hora de nos encontrarmos com eles!”.
Então Arthos e Limiekki retornaram
até o outro extremo da cidade e passaram pelo grande portal de entrada
de Trun'Zoyl'Zl. Lá, alguns metros à frente, encontraram seus colegas
de aventura, que tinham acabado de chegar e os aguardavam.
Uma Sombra à Espreita
Os
aventureiros estavam reunidos agora há alguns
metros das muralhas negras de Trun'Zoyl'Zl, sentados
nas pedras de uma área erma e escura, iluminada
debilmente pela luz de uma das lanternas que levavam.
Já tinham compartilhado toda a informação
que haviam obtido de suas explorações e
agora pensavam em um plano para adentrar a fortaleza
dos Trun'Zoyl'Zl e encontrar a jóia mística
que acionava o portal.
“Ei, Kariel! Você não
podia se transformar em uma aranha e entrar no castelo?”, sugeriu Bingo.
“Isto não é possível!
Não conheço nenhuma magia que me permita mudar de forma de maneira
tão radical”, respondeu o arcano.
“Poderíamos entrar escondidos
em uma das carroças de suprimentos, ou capturar alguns dos guardas e irmos
disfarçados!”, propôs Limiekki.
“Ainda assim, Limiekki, seria difícil”,
colocou Magnus. “Mesmo que não fossemos descobertos no posto de
guarda, o local da jóia deve ser secreto e muito bem guardado. Dificilmente
como simples guardas conseguiríamos vasculhar toda a fortaleza, sem algum
tipo de privilégio especial que nos permita acesso aos aposentos restritos”,
ponderou o paladino do Deus Guardião Helm.
“Poderíamos novamente voltar
a ser os Millithor!”, sugeriu Kariel. “Assim teríamos acesso à elite
da Casa e à jóia! Já sabemos dos planos da Retomada e poderemos
atuar de maneira convincente!”
“Mas muitas pessoas já nos viram
como os Chumavh!”, argumentou Mikhail.
“Ora... seremos os Millithor que, para
manter secreta a sua visita, disfarçaram-se de Chumavh!”, colocou
Kariel, o arcano.
“Hummm... O argumento funcionaria de
certo. O fato de termos entrado como os Chumavh dará mais credibilidade
de que somos os Millithor em missão secreta!”, ponderou o professor
Danicus.
“Mas qual será o motivo alegado
por nós para fazer esta visita?”, questionou Mikhail.
“Podemos usar os fatos acontecidos
em Maerymidra como justificativa. Viemos verificar a segurança da jóia
e do portal, preocupados com a destruição de Maerymidra e da Casa
Chumavh provocada pelos escravos!”, respondeu Arthos.
“Shhh!”, interrompeu Limiekki,
virando-se para trás. “Acho que ouvi algo!”.
“Eu vi! Algo se mexeu naquelas rochas!”,
apontou Bingo.
Do lado onde o halfling apontou, saltou uma
pessoa, escondida pela escuridão e por um manto e capa negros, que se
pôs em uma desenfreada corrida no sentido oposto ao local onde estavam
os membros da Comitiva. Estes, também, se puseram imediatamente a correr,
em perseguição do misterioso espião, que estava cerca de
dez metros à frente e movia-se com grande velocidade e destreza.
Kariel não correu e resolveu conjurar
um encanto: depois de gesticular e dizer algumas palavras mágicas desapareceu,
surgindo poucos metros à frente do fugitivo. O mago então se projetou
na frente dele e com um pequeno salto tentou agarrá-lo e derrubá-lo
ao solo. Mas foi infeliz o príncipe do pequeno reino de Kand: o corredor
enganou-lhe com uma finta de corpo e Kariel não conseguiu seu intento,
caindo ao solo sem resultado. Porém, a capa que cobria o corpo do seu
oponente agitou-se, descobrindo-lhe. O elfo então pôde perceber
as curvas denunciadas por um traje justo, que indicava tratar-se de uma figura
feminina. Kariel ergueu-se e gritou para que a fugitiva parasse, mas ela não
lhe deu ouvidos. Pensou mesmo em conjurar algum encanto de ataque, mas não
queria correr o risco de matar alguém que não sabia se era ou não
seu inimigo. Com contratempo, ficou para trás, sendo ultrapassado por
Limiekki e Arthos, que vinham logo depois, em bastante velocidade.
O mateiro, mesmo correndo, conseguiu retirar
algo de sua bolsa: uma boleadeira que usava para caça. Limiekki girou-a
pelo ar e a arremessou contra as pernas da espiã em fuga. No entanto,
novamente a sorte estava do lado dela. A espiã deu um salto para galgar
uma rocha e a arma passou-lhe ao largo por questão de centímetros.
A corrida do aventureiro zenthilar foi interrompida por uma voz firme.
“Parado!”, gritou um soldado
drow com a insígnia de Trun'Zoyl'Zl, do alto de um platô próximo.
Junto com ele, mais três apontavam bestas para Limiekki, que teve que parar.”O
que está acontecendo aqui?”.
“Um ladrão!”, respondeu. “Ele
correu para lá!”, apontou a direção que a fugitiva
havia tomado.
O oficial drow ordenou que os seus comandados
seguissem no caminho indicado pelo aventureiro e a caçada reiniciou-se,
porém, não era mais possível ver a ardilosa mulher da escuridão,
que escalou um paredão e desapareceu. Limiekki, seguido de Iskapoft e
Arthos, escalaram também o muro de pedras. Ao subirem, encontraram um
cenário que não esperavam: uma plantação, repleta
de cogumelos gigantes e raízes, que prejudicavam bastante a visibilidade.
Mesmo assim, separam-se e procuraram. Limiekki, que era mateiro e rastreador,
encontrou pistas do caminho a seguir, verificando o pó revirado do chão
e alguns cogumelos partidos. Iskapoft, criatura cega que era, possuía
audição e olfato superior, e com o último sentido, detectou
o odor da fugitiva em meio às plantas. Porém, antes que pudesse
seguí-lo, um cheiro de fumaça o fez perder o rastro. Um incêndio
havia começado na plantação.
Os soldados de Trun'Zoyl'Zl pararam para
controlar o fogo e pediram auxílio aos aventureiros que estavam mais atrasados
e que já haviam perdido a pista. O único que estava realmente no
jogo naquele momento era Limiekki. O homem de Forte Zenthil seguiu as pegadas
no pó fino e arenoso da caverna, mas depois de alguns minutos, perdeu
completamente o rastro, como se o fugitivo tivesse simplesmente desaparecido
no ar. Era o fim da perseguição. Retornou e encontrou seus amigos
e os guardas, que já haviam debelado o fogo.
“O bandido conseguiu fugir!”,
informou Limiekki, para o desapontamento do grupo.
“Um único bandido lhes atacou?
Deve ser muito audaz ou louco este maldito! O que ele levou de vocês?”,
questionou o oficial, que havia se aproximado dos aventureiros.
“Nada, mas quase levava a bolsa de
um de nós. Ele era extremamente ágil!”, comentou Kariel.
“Ainda assim, devem registrar o fato
ao posto de guarda no portão da cidade! Obrigado por nos auxiliar a apagar
o incêndio”, falou o oficial.
“Por nada! Faremos como sugere!”,
disse Mikhail.
A Comitiva afastou-se apressadamente dos
guardas. Tinham que ser rápidos. O fim do encanto que os disfarçava
estava chegando ao final. Os heróis procuraram esconderijo entre algumas
enormes pedras na margem da estrada de acesso ao distrito, e neste momento, viram
a pele negra que ostentavam clarear, os cabelos brancos tingirem-se, e o mundo
tornar-se mais escuro a sua volta. Então a magia expirou completamente
e voltaram a ser aquilo que eram.
“Por um triz!”, suspirou Limiekki,
o agora homem de barbas e cabelos negros.
“Mas espero que aquele espião
não comprometa nossa missão!”, disse o jovem Magnus, paladino
de Helm.
“Não era um espião e
sim uma espiã!”, informou Kariel, arcano elfo de cabelos azuis celestes. “Estive
próximo o bastante para certificar-me disto!”
“Uma drow? Será uma sacerdotisa
ligada aos Trun'Zoyl'Zl? Se for, estaremos bem enrascados!”, receou Arthos,
que já fora um elfo, mas agora era um humano ruivo, de cabelos compridos
e barba rala.
“Teremos que arriscar. Não temos
muitas alternativas!”, comentou Mikhail, o elfo de cabelos dourados de
Evereska e clérigo da deusa Mystra.
“Concordo. É o momento de lançarmos
novamente os encantos!”, disse Kariel. “Estaremos novamente
como os Millithor!”.
O elfo conversou rapidamente com o professor
Danicus e juntos executaram semelhante ritual, em gestos e palavras. Após
completarem o encanto, as roupas e fisionomia dos aventureiros novamente se transformaram
e estavam como os drows da Casa Millithor. Arthos, Magnus, Limiekki, Mikhail,
Kariel, Bingo e Danicus novamente seriam, respectivamente, Torrellan, Marckarius,
Dariel, Narcélia, Karelist, Quertus e Glemoran Millithor.
“Agora vamos! Temos que nos apresentar
aos Trun'Zoyl'Zl e rogar a Tymora que tudo dê certo!”, disse, por
fim, Kariel.
E assim foi a Comitiva da Fé, de volta
ao interior das muralhas de Trun'Zoyl'Zl, para apresentar-se à fortaleza
da Casa e ao seu novo destino.
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