A
Última Traição
Descrita por Ricardo Costa e Ivan Lira.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens principais da aventura:
Os
Humanos: Arthos Fogo Negro [Torrellan Millithor]; Magnus
de Helm [Marckarius Millithor]; Sigel O'Blound (Limiekki)
[Dariel Millithor]. Os Elfos: Mikhail Velian [Narcélia
Millithor]; Kariel Elkandor [Karelist Millithor]. O Halfling:
Bingo Playamundo [Quertus Millithor]. Participação
Especial: Storm Mão Argêntea [Ki'Willis
Millithor].
A
Última Traição
Dois
Caminhos
A
Comitiva da Fé se refazia do combate contra o líder mago da
Casa Aercelt e seus asseclas. Enquanto os seus membros mais
enfraquecidos descansavam, Magnus e Arthos, vasculhando o
salão onde estavam, encontraram um pequeno depósito. Dentro
dele, havia algumas ferramentas, provavelmente usadas para
dar os acabamentos finais na confecção das runas talhadas
na pedra do portal. Os três pegaram martelos e usaram alguns
pinos metálicos para começar a ferir a rocha do arco negro,
que repousava no inicio do corredor irregular que deixava
a sala. Demorou ainda cerca de meia hora para as primeiras
rachaduras se abrirem com os golpes poderosos dos três guerreiros.
Fissurada a pedra, amarraram-na a uma corda e derrubaram o
arco de sua posição vertical no pedestal. O objeto místico
chocou-se com as paredes e partiu-se em grandes pedaços. Feito
o trabalho de demolição, os dois retornaram, depois, ao local
onde estavam os demais companheiros.
“O
portal está destruído. Vou verificar o que há no final do
corredor para onde os ogros pretendiam levá-lo!”, disse Arthos.
“Irei
com você, Arthos!”, ofereceu-se o paladino de Helm.
“Nós
não podemos ir, pelo menos não agora. Non ainda está catatônico
e Limiekki e Kariel mal recobraram a consciência”, falou Mikhail.
“Não
iremos entrar em nenhuma briga. Vamos só investigar! É somente
o tempo em que nossos companheiros se recuperam”, colocou
Arthos.
“Está
bem... mas tomem cuidado!”
“Ei...
eu também vou com vocês”, falou o pequeno Bingo, levantando-se
do chão e correndo em direção dos dois amigos.
Então
os três rumaram pelo corredor que saía da grande sala. Era
diferente dos outros pelos quais haviam passado. Não mais
parecia uma construção, mas sim um caminho natural escavado
na pedra.
“Acho
que esta torre se comunica com a rocha do teto da caverna!”,
supôs acertadamente Arthos.
Andaram
em silêncio por vários minutos. O corredor inclinou-se levemente
para a esquerda. Depois de alguns passos, a parede esquerda
terminou e um abismo era a única paisagem que podiam ver daquele
lado. Tomaram mais cuidado e continuaram avançando. Percorreram
cerca de cento e vinte metros daquela maneira, até chegar
numa plataforma maior e quase circular, cercada de pedras.
“Parece
que o caminho acaba aqui!”, disse Bingo, olhando para os lados.
“Mas
porque os ogros viriam para cá?”, perguntou-se Magnus.
“Vou
escalar estas pedras para ver se há algo além!”, falou Arthos,
apoiando suas mãos nos vãos entre as rochas.
O
ágil espadachim subiu até o limite daquela parede natural,
formada por toneladas de pedregulhos. Quando colocou os olhos
por cima da murada, não viu nada além de um abismo que rodeava
a plataforma onde estavam. Quando começou a descer, notou
algo inusitado. O cabo de sua espada emanava um brilho avermelhado.
Quando pôs os pés no solo, desembainhou a arma.
“Vejam!”,
exibiu a Lâmina das Rosas.
Magnus
imediatamente sacou sua espada.
“Hadryllis
também está emitindo esta luz! Algo aqui afeta os itens encantados!”,
exclamou Magnus.
“Durante
a época da crise dos avatares encontrei lugares onde a magia
se comportava de maneira estranha. Talvez o que ocorra aqui
seja algo semelhante!”, lembrou-se Arthos.
“Kariel
pode saber de mais alguma coisa! De qualquer forma, não há
nada mais aqui. Vamos retornar!”
O
Dilema da Armadilha
Alguns
minutos haviam se passado desde que Arthos, Bingo e Magnus
haviam saído. Kariel e Mikhail conversavam, preocupados.
“Kariel...
não podemos ficar aqui parados. Se Welveryn Mallakar conseguir
curar-se dos ferimentos estaremos perdidos!”, disse Mikhail.
“Não suportaremos um outro combate com um mago poderoso como
ele da maneira como estamos!”
“Poderíamos
procurar nos cômodos pelos quais passamos. Ele pode estar
escondido em um deles, esperando para se refazer... mas enquanto
a Non? Não podemos deixá-lo aqui neste estado”.
“Vão.
Eu fico aqui com ele!”, ofereceu-se o ainda abatido Limiekki.
“Está
certo. Não pretendemos demorar!”, disse Mikhail, deixando
a sala com o amigo mago.
Os
dois começaram a fazer o caminho de volta, olhando atentamente
cada canto, cada quarto e sala por onde haviam passado, mas
não havia sinal do mago líder da Casa Aercelt. Detiveram-se
somente no longo corredor que ligava os últimos andares das
duas altas torres do castelo Maerymidra. O corredor da armadilha
que quase os esmagou.
“Bem...
eis o corredor. O que faremos? Não tenho idéia de como fazer
para desarmar esta armadilha”, admitiu Kariel.
“Precisaríamos
de Bingo. Poderia chamá-lo com o encanto de comunicação que
você conjurou?”, sugeriu Mikhail.
“Não.
Ele está fora do alcance para ouvir algum pedido”, informou
o mago. “Acho que devemos retornar e trazê-lo ou mesmo Non.
O efeito do feitiço que o atingiu já deve estar em vias de
expirar e o drow parece saber alguma coisa sobre mecanismos!”
“Então
vá e veja se ele pode vir!”, concordou o clérigo da Mystra.
“Estarei aqui aguardando!”
Kariel
concordou e retornou o longo caminho de volta ao salão onde
a sangrenta batalha contra Welveryn Mallakar havia sido disputada.
Reencontrou o amigo Limiekki e o aliado Non, que acabara de
retornar a consciência.
“Encontrou
Mallakar?”, perguntou Limiekki ao amigo recém chegado.
“Ainda
não. Ficamos detidos na armadilha do corredor!”, respondeu
Kariel, voltando-se em seguida para Non.“Você está bem?!”.
“Sim.
Mas para onde foram todos? Onde está Welveryn Mallakar?”,
perguntou o drow, ainda desnorteado.
“Mallakar
foi ferido, mas fugiu utilizando-se de um encanto. Estamos
vasculhando o castelo para descobrir onde ele escondeu-se.
Observei que, assim como Quertus, você possui uma certa familiaridade
em desarmar trancas. Também é hábil em encontrar e desarmar
armadilhas?”, questionou Kariel.
“Sim.
Acredito que possa encontrar algo...”.
Non
olhou ao redor. Viu os corpos das criaturas mortas e, dentro
do corredor irregular que deixava a sala, os pedregulhos resultantes
do esfacelamento do portal de pedra negra, destruído por Arthos
e Magnus.
“O
que era aquilo?”, perguntou, curioso.
“Era
um objeto que nos pertencia”, disse Kariel.
“Era
por causa dele que vieram aqui?”, insistiu o drow.
“Sim.
Era um dos motivos!”, respondeu novamente o mago.
“Para
que servia?”, quis saber Non.
“Lamento,
mas a informação sobre para que serve, ou servia, não é para
seus ouvidos, Non!”, respondeu Kariel, com o propósito de
encerrar aquele incômodo interrogatório.
“Está
bem. Leve-me até a tal armadilha!”, finalizou o guerreiro
da casa D’vaer.
“Vou
com vocês!”, ofereceu-se Limiekki, erguendo-se do chão onde
estava. “Chega de descansar!”
Os
três percorreram novamente as salas, escadas e corredores,
até encontrar Mikhail, que aguardava olhando pensativo para
o caminho pelo qual não podia seguir.
“Acho
que devemos colocar algo para impedir que esta porta se feche.
Algum obstáculo... senão correremos o risco de ficarmos novamente
presos e a mercê da armadilha!”, ponderou o clérigo.
“Podemos
colocar o pedestal do altar do santuário a Vhaerun, no andar
debaixo. Ele é de pedra maciça. Deve servir!”, colocou o mateiro.
A
idéia foi aceita e retornaram ao pequeno santuário. O objeto
retangular de pedra regra e lisa era bastante pesado e exigiu
os esforços conjugados de Non, Limiekki e Kariel. Mikhail
resolveu não carregar, visto que, como representava uma matrona
drow, aquele trabalho não se adequaria ao seu disfarce. Depois
de alguns minutos e muito esforço, depositaram o bloco marmóreo
no vão da porta. Em seguida, Non adentrou o corredor. O drow
pisava cuidadosamente e, vez ou outra, se agachava, verificando
as ranhuras das pedras que formavam o piso. Levantou-se e
agachou-se mais vezes, até que, ao chegar no meio do corredor,
descobriu algo.
“O
mecanismo está abaixo das pedras desta área!”, anunciou.
“Pode
desarmá-lo?”, perguntou Kariel.
“Infelizmente,
não! Teria que remover a pedra do piso para isto, o que seria
difícil e arriscado!”
Repentinamente,
ouviram passos apressados vindo da escadaria anterior a sala
de onde o corredor examinado se projetava. Experientes guerreiros
que eram, sacaram suas armas e voltaram-se para a escada.
Felizmente viram surgirem seus companheiros Bingo, Arthos
e Magnus.
“Viemos
correndo... vocês podiam estar em apuros com esta armadilha!”,
disse Bingo, respirando fortemente.
“Não
acionamos a armadilha. Non encontrou o mecanismo, mas ele
não pode ser desativado. Não consigo imaginar uma maneira
segura de passarmos”, informou Mikhail, pensativo. “E vocês?
Encontraram algo?”
“O
corredor segue até uma plataforma arredondada. Não havia nada
por lá, mas nossas armas imbuídas com magia brilharam estranhamente”,
disse Magnus.
A
informação deixou Kariel pensativo por um instante. Arthos,
no entanto, interrompeu a meditação, contando uma idéia que
tinha acabado de lhe ocorrer.
“E
se escalássemos a parede? Chegaríamos ao outro lado sem perigo”.
“Bem...
é possível, mas aqueles que usam armaduras e equipamentos
mais pesados teriam dificuldades!”, disse Non.
“Quanto
a mim...”, disse Kariel, “... tenho que verificar o lugar
que vocês encontraram. Quero descobrir mais sobre o efeito
mágico que afetou a armas de vocês. Acredito que deva ser
o faerzer”, disse Kariel.
“Sigam
em frente. Marckarius e eu...”, falou Mikhail, referindo-se
também ao amigo Magnus, “... que estamos mais carregados,
ficaremos com Kariel e nos reencontraremos aqui. Tentem encontrar
Mallakar antes que seja tarde.”
Sentindo
a urgência nas palavras do clérigo, os companheiros concordaram
e mais uma vez o grupo foi repartido. Enquanto Kariel, Mikhail
e Magnus rumavam para a plataforma, Bingo, Arthos, Limiekki,
Non seguiam pelo corredor.
Encontros
Inesperados
Os
quatro companheiros que ficaram no corredor conseguiram escalar,
com alguma dificuldade, o trecho da parede sobre o mecanismo
que acionava a armadilha, aproveitando-se das reentrâncias
da rocha. Estavam agora diante da porta metálica aberta, que
ligava o corredor a uma sala da torre, local onde anteriormente
haviam visto a ilusão do rosto de Welveryn Mallakar, conjurada
pelo mago da Casa Aercelt para assustar os invasores. Entraram
no aposento, que estava vazio e de onde partiam duas portas,
uma dupla e metálica e outra de folha simples de madeira.
“Shhh!
Ouviram algo?’, sussurrou Bingo, enquanto dava os primeiros
passos dentro da sala.
“Um
ruído... Ouvi sim!”, disse Limiekki. “Fiquem de prontidão!”.
Arthos
e Limiekki aproximaram-se da porta dupla e empurraram suas
folhas destrancadas. Estavam novamente na biblioteca. Arthos
ia na frente, seguido poucos passos atrás pelo seu companheiro
mateiro. Bingo e Non ficaram na sala anterior. Iam tentar
abrir a outra porta. Poucos minutos após, quando Arthos se
aproximou do centro da sala, duas portas que existiam no cômodo
e que estavam fechadas abriram-se repentinamente. Surgiram
dois drows, com escudos ovalados, grandes e negros nos braços
esquerdos e segurando bestas nas mãos direitas. Foram rápidos
e dispararam contra Arthos. O ágil espadachim deu um salto
e pulou em cima de uma das mesas de leitura da biblioteca,
evitando os projéteis inimigos. Em um movimento tão rápido
quanto inesperado, muito digno de sua característica audácia
e inconseqüência, Arthos correu alguns centímetros sobre a
mesa e saltou por sobre os adversários, de sabre em punho,
os surpreendendo. Caiu o aventureiro no cômodo seguinte, pronto
a atacar os dois inimigos pelas costas. Porém, quando ia desferir
os golpes, viu mais oito soldados, com bestas armadas apontando
contra ele. Aceitando a inevitável superioridade, baixou o
sabre. Estava rendido.
Limiekki
não podia ver a situação que seu colega enfrentava no cômodo
em frente. Sua preocupação ainda era os dois soldados da porta.
O acrobático salto de Arthos, deu-lhe tempo suficiente para
mover-se até o centro da sala e virar uma das mesas, conseguindo
cobertura contra novos disparos. Preparava-se Limiekki para
atacar os dois desnorteados oponentes, quando pela porta pela
qual havia entrado, surgem mais três drows, que lhes apontavam
bestas. Non e Bingo também entraram. O halfling disfarçado
de drow estava com as mãos erguidas e uma espada apontada
nas costas. Vinha acompanhado por Non, porém o drow, estranhamente,
não estava oprimido por uma arma ou rendido. Por fim entrou
na sala um guerreiro drow, robusto e de armadura imponente.
Seu nome era Vorn e seu escudo exibia o símbolo dos D’vaer.
Foi quando tudo ficou mais claro.
“Obrigado
por eliminarem os Aercelts para nós, forasteiros. Daremos
a vocês a opção de uma morte rápida ou lenta, se quiserem
resistir! O que preferem?”, falou, arrogante, o Mestre das
Armas da Casa D’vaer.“Gostaria de uma explicação!”, disse
Limiekki, também desistindo de um combate que seria inútil.
Neste mesmo instante, um Arthos também subjugado, retornou
à sala, acompanhado de uma guarnição.
“Darei uma explicação. Deixe suas armas sobre a mesa e sente-se.”,
disse para Limiekki.
O
mateiro depositou seu machado pequeno, a adaga e o arco sobre
uma das mesas de leitura e sentou-se em outra, junto com os
companheiros, que foram forçados a fazerem o mesmo.
“Onde
estão os outros? Existem outros três de vocês, não é?”, interrogou
o drow guerreiro.
“Estão
em outro aposento!”, respondeu Limiekki.
Vorn
ordenou a alguns dos guardas que fossem vasculhar os cômodos
em busca dos companheiros da Comitiva.
“Não
tínhamos certeza sobre as intenções de vocês, então resolvemos
tomar algumas precauções para garantir nossa vitória. Pessoalmente,
não desejo matá-los, mas minha matrona parece ter uma opinião
divergente. Espero que ela não me ordene fazer isto, pois
tenho que obedecê-la. Este é o momento adequado para rezarem!”,
disse Vorn.
Enquanto
aguardava seu destino, Arthos observou uma porta de madeira
que partia de biblioteca, justamente a que não haviam aberto
quando da primeira passagem neste local. Ela estava entreaberta
e, no chão do novo cômodo revelado, o espadachim pode ver
parcialmente um corpo estendido. Pelas características das
vestes, não havia dúvidas. Welveryn Mallakar havia encontrado
seu destino final nas mãos dos D´vaer.
Passaram-se
alguns demorados minutos sem que houvesse o retorno dos soldados
enviados por Vorn. O Mestre das Armas da Casa Aercelt decidiu
amarrar seus prisioneiros e colocá-los na sala anexa a biblioteca,
vigiados por dois soldados. Os três foram jogados no canto
do pequeno cômodo, quase triangular.
“Espero
que os outros estejam bem!”, disse Bingo.
“Posso
entrar em contato com Kariel! Pelo menos para avisar da nossa
situação!”, comentou Arthos. “Ele me disse uma vez que o fato
de ser Escolhido da Deusa Mystra lhe dava a capacidade de
ouvir nove palavras após seu nome ser pronunciado, caso não
esteja atarefado demais para escutar!”
“Que
Mielikki o faça escutar suas palavras!”, rogou Limiekki, pedindo
a Deusa Rainha da Floresta.
“Kariel...
estamos presos, próximos à biblioteca. Existem soldados! Tenham
cuidado!”, pronunciou pausadamente o espadachim da Comitiva
da Fé.
Enquanto
aguardavam, Bingo, o halfling em forma de drow, conseguiu
uma proeza. Atritou a corda de seda branca em uma saliência
da rocha da parede onde estava encostado. O pequeno estava
quase conseguindo cortar suas amarras, quando a porta do cômodo
foi aberta e dela saiu uma figura conhecida, desta vez envolta
em um manto negro, adornados com fios prateados.
“Non!
Maldito traidor!”, praguejou Limiekki para o drow, ao reconhecê-lo.
O
ex-aliado da Comitiva nada respondeu. Pediu apenas aos sentinelas
que aguardassem do lado de fora da sala. Queria tratar em
particular com os prisioneiros.
“Tem
sorte de estarmos presos!”, esbravejou Arthos.
“Shhh!”,
disse o drow, fazendo um sinal para que falassem mais baixo.
“Trouxe algo para vocês!”.
Non
abriu o manto e os aventureiros da Comitiva da Fé puderam
ver suas armas. O drow as depositou, ocultas, atrás dos prisioneiros,
que estavam juntos e encostados à parede.
“Porquê
está fazendo isto?”, perguntou Limiekki.
“Vocês
têm coragem e força superiores aos meus companheiros de Casa!
Admiro isto e acho que devem ter uma chance de viver! Boa
sorte!”, disse, deixando a sala, para o retorno dos dois sentinelas.
Bingo,
Limiekki e Arthos surpreenderam-se com a atitude do drow,
mas agora, mesmo que estivessem fracos e em desvantagem, tinham
uma oportunidade. Bingo alcançou a lâmina da sua espada curta
e terminou mais rápido o que a pedra tinha começado.
“Estou
livre!”, sussurrou para os seus companheiros.
“Veja
se consegue cortar minhas amarras!”, disse Limiekki, que estava
logo ao lado do halfling.
E
assim Bingo, devagar e disfarçadamente, libertou os amigos,
sem que os sentinelas percebessem. Os três permaneceram no
mesmo lugar onde estavam, esperando pelo melhor momento de
agir.
Exploração
Interrompida
Kariel,
Arthos e Magnus percorriam o início do corredor estreito e,
no momento, se esgueiravam para ultrapassar os destroços do
portal mágico de pedra, destruído momentos antes. Com o caminho
mais livre, iam reiniciar a caminhada, quando Mikhail interrompeu
o silêncio.
“Um
momento! Ouvi passos!”, disse o clérigo.
“Podem
ser os nossos colegas retornando!”, comentou Magnus. “Devem
ter eliminado Mallakar!”.
“Não!’,
colocou Kariel. “São passos pesados, talvez de alguém que
use armaduras”, completou, valendo-se da apurada audição élfica.
“Vamos
nos esconder nos restos do portal e observar!”, decidiu Magnus,
agachando-se em meio às pedras. Mikhail fez o mesmo e Kariel
tocou o elmo mais uma vez, tornando-se invisível.
O
ruído aumentou na sala que antecedia o corredor e vozes podiam
ser ouvidas.
“Não
estão aqui! Vocês! Verifiquem aquele corredor!”, comandou
um oficial para dois dos quatro soldados que o acompanhavam.
Os
militares drows, de espadas e escudos nas mãos, adentraram
o corredor e poucos metros depois se depararam com os grandes
pedaços de granito negro, olhando-os com curiosidade. O momento
de distração foi a oportunidade de Magnus. O guerreiro consagrado
por Helm, o Deus Guardião, saltou das sombras com Hadryllis
em punho e surpreendeu os soldados. Desferiu um potente golpe,
atingindo o pescoço e decapitando um dos inimigos. Depois
surgiu Mikhail que trocou alguns golpes e por fim acertou
o drow com seu martelo Destruidor de Tempestades, fazendo-o
cair ao solo, desacordado.
“Veja
o escudo!”, apontou Mikhail.
“O
símbolo da Casa D´vaer!”, observou o ainda invisível Kariel.
“Malditos
traidores! Podem ter pegado os outros! Temos que retornar!”
Antes
que o paladino de Helm conseguisse se movimentar, os outros
três drows, atraídos pelos sons da batalha, entraram correndo
pelo estreito túnel adentro. Kariel agiu rápido e, gesticulando
e pronunciando palavras na língua dos arcanos, invocou uma
magia e uma parede de chamas surgiu à frente dos inimigos.
Os drows, em sua corrida desabalada, não conseguiram parar
a tempo e acabaram atravessando o fogo mágico, ferindo-se
e gritando, mas ainda chegaram de pé do outro lado. Magnus,
Mikhail e Kariel sacaram então suas armas e ouviu-se o ruído
de metal contra metal ecoando nas paredes de pedra. Os três
soldados drows estavam abatidos demais para proporcionar uma
luta demorada com os três experientes aventureiros da Comitiva
e caíram mortos, minutos após.
Mikhail,
Kariel e Magnus, assim que encerraram o combate, deixaram
o corredor, retornando, rumo à direção onde haviam visto seus
amigos pela última vez: o traiçoeiro corredor da armadilha.
Foram lá que novamente se detiveram.
“E
agora? Como iremos passar? Escalando?”, perguntou Magnus de
Helm.
“É
perigoso, mas parece ser a única alternativa... Agora... essa
parede que surge do início do corredor deve ser empurrada
por algum mecanismo, deve se mover por algum trilho, ou algo
assim. Se descobríssemos, poderíamos bloquear o avanço do
bloco de pedra, mas não vejo nada!”, refletiu Mikhail, tentando
encontrar uma maneira de anular o perigo.
“Não
vemos nada...” repetiu Kariel “Sim... excelente observação
Mikhail... o que não vemos não necessariamente não existe!”
O
mago abriu a mão espalmada, colocando-a em direção das paredes.
Percebeu algo que fez os seus lábios contraírem-se em um leve
sorriso. Depois anunciou aos colegas.
“Existe
uma ilusão agindo em um trecho das paredes!” Kariel tocou
em um determinado ponto da parede e sua mão desapareceu dentro
da área ilusória. “È uma grande corrente”, sentiu o mago pelo
tato. “Ela deve se estender até o início do corredor!”
“Essa
corrente é que deve puxar o bloco na direção da porta oposta!”,
concluiu Mikhail.
“Podemos
então nos apoiar na corrente e escalar com segurança!”, disse
Magnus, já colocando as mãos no vão descoberto por Kariel
e apoiando-se com os pés na parede.
Assim
foram os três. Percorreram o corredor pelas paredes e desceram,
após passarem a área onde se escondia o mecanismo que acionava
o ardil mortífero. Kariel, poucos momentos após descer, parou
imóvel por um instante. Em sua mente ecoou a voz de seu amigo
Arthos: “Kariel... estamos presos, próximos à biblioteca.
Existem soldados! Tenham cuidado!”
“O
que houve, Kariel?”, perguntou Magnus.
“Recebi
uma mensagem de Arthos. Estão presos em algum cômodo próximo
a uma biblioteca neste andar. Existem mais soldados. Devemos
ficar atentos”, advertiu o mago.
Os
três penetraram na grande sala com muito cuidado. Viram a
porta dupla metálica que levava a biblioteca e outra de madeira
negra que rumava para a área de circulação. Ouviram passos
e em seguida a porta de folha simples se abriu. Dela saíram
três soldados drows da casa D´Vaer. Mikhail e Magnus prepararam
suas armas e Kariel, que estava no limite de suas forças,
tocou o seu elmo e tornou-se invisível mais uma vez.
Dois
dos soldados partiram para atacar Magnus e o outro correu
em direção à Mikhail. Os três usavam espadas e grandes escudos
de metal negro. Um deles, que batalhava contra o paladino,
teve habilidade para acertar-lhe um golpe, na altura do abdômen.
Apesar de sua armadura proteger sua carne, Magnus sentiu uma
dor aguda e um hematoma formou-se sobre sua pele. Defendia
as investidas com a sua lâmina sagrada e contra-atacava. Muitos
de seus ataques, que eram poderosos apesar do cansaço e dos
ferimentos acumulados do paladino, esbarravam no aço negro
do escudo, mas quando acertavam causavam danos profundos.
Numa investida de sucesso, atingiu um dos drows com violência,
perfurando a armadura justa de cota de malha e fazendo o inimigo
cair. Mikhail, que havia se ferido menos no combate, possuía
ainda vigor o suficiente para sobrepujar o adversário. Desviou
de um golpe que visava sua cabeça e, com seu martelo de batalha,
devolveu o ataque na mesma moeda, esmagando o crânio do adversário.
O mago Kariel, que estava invisível, decidiu não entrar em
combate. Estava muito debilitado e sabia ele que não duraria
muito em um embate físico. Decidiu aproveitar-se da sua condição
oculta para abrir cuidadosamente uma das folhas da porta metálica
que dava acesso à biblioteca. Conseguiu ver algo, porém, ao
menor sinal de movimento, virotes de bestas foram disparados
de dentro. Um deles atravessou seu braço, provocando-lhe grande
dor. O mago fechou a porta novamente e se conteve em um dos
cantos da sala onde seus amigos lutavam.
As
forças combinadas de Magnus e Mikhail deram cabo do último
drow. Após a batalha se encerrar, Kariel desativou o encanto
que agia sobre si, tornando-se novamente visível. Seus amigos
foram até ele.
“Por
favor! Retirem esta flecha!”, pediu o elfo mostrando o virote
encravado em sua carne, com o rosto destorcido pela dor.
Magnus
quebrou a ponta do virote e puxou sua haste. O elfo gritou.
Depois, refazendo-se, falou aos amigos.
“Tentei
entrar na biblioteca. Vi pelo menos quatro drows com bestas
apontadas para a porta. O Mestre das Armas dos D´vaer, Vorn,
que conhecemos no jantar no esconderijo deles, também está
lá. Tenho um plano, mas acho que posso não durar muito, então
peço que aproveitem. Assumirei uma forma etérea e entrarei
na biblioteca, atraindo os disparos dos virotes e atacarei
Vorn com alguns poderes mágicos que ainda me restam e o enfraquecerei.
Entrem em seguida!”, disse o mago, erguendo-se com dificuldade.
Mikhail
e Magnus, apesar de preferirem ir á frente, cederam à lógica
do plano e concordaram com o elfo. Ouviram Kariel pronunciar
palavras arcanas e gesticular e, ao final do ritual, viram
seu corpo assumir um aspecto translúcido e pouco definido,
como se fosse o de um fantasma. O mago foi até a porta e passou
por uma fresta, entrando na biblioteca.
Assim
que entrou, os drows com bestas disparam. Os virotes atravessaram
o corpo de Kariel, sem causar-lhe mal. Vorn, o guerreiro supremo
dos D´Vaer, estava em um ponto distante da sala, mas logo
que viu o invasor correu, com uma bela espada negra e prata,
para rechaçá-lo. O mago da Comitiva, mais rápido que pôde,
conjurou uma magia poderosa e uma rama de eletricidade partiu
de suas mãos em direção ao guerreiro, que por um instante
gritou, tremeu e sentiu sua carne arder. Porém, era o mais
vigoroso dos D´Vaer e ainda estava de pé e pronto para o ataque.
O ódio por ser atingido o fez correr ainda mais depressa.
Kariel ainda recorreu para um último encanto, um que costumava
guardar como último recurso e que havia sido uma dádiva da
deusa da magia Mystra, que o fez um de seus Escolhidos. Ergueu
a mão direita espalmada para Vorn. Seus cabelos se agitaram
e seus olhos tornaram-se brancos. Uma energia prateada percorreu
seu corpo e fluiu através da sua mão estendida atingindo Vorn.
O guerreiro mais uma vez gritou de dor e tremeu. Feridas se
abriram em sua carne, mas ele ainda estava vivo. Prosseguiu
em seu caminho e com a espada, desferiu um golpe no mago.
A lâmina atravessou o corpo de Kariel e não teria causado-lhe
nenhuma injúria, não fosse a arma imbuída de magia. O elfo
sentiu dor e caiu ao solo, inerte.
O
estrondo dos raios conjurados por Kariel foi a deixa para
que Magnus e Mikhail entrassem na sala e, para a surpresa
deles, que também Arthos e Limiekki também fizessem o mesmo.
Os dois aproveitaram-se de um momento de distração dos sentinelas,
provocado pelo início dos combates e os confrontaram. Os soldados,
surpreendidos, foram eliminados rapidamente. Arthos, inclusive,
afeito a entradas espetaculares, surgiu na biblioteca em um
salto acrobático, aproximando-se de dois soldados que ainda
seguravam as bestas. Limiekki, portando sua adaga e o pequeno
machado, foi em direção dos outros dois. Já Bingo, entrou
discretamente na biblioteca e, engatinhando, percorreu o espaço
por baixo da mesa. Estava muito fraco e ferido para um combate,
mas nem por isto deixava de ter algo em sua mente astuta.
Foi na direção do corpo sem vida de Welveryn Mallakar.
Magnus
engajou-se contra Vorn, no momento que o Mestre das Armas
da Casa D´Vaer pretendia cravar um golpe no corpo do moribundo
Kariel, evitando a morte imediata do amigo. Os dois combatentes
estavam muito feridos e seus golpes eram mais fracos, seus
reflexos, mais lentos. O paladino de Helm tentava, em uma
seqüência de golpes, encurralar Vorn contra a parede, diminuindo
sua capacidade de esquiva, porém, o drow guerreiro defendia
e contra-atacava com a mesma força, impedindo o guerreiro
da Comitiva de alcançar o seu intento. Vorn conseguiu vencer
a guarda de Magnus e talhou profundamente o seu braço esquerdo.
Arthos
manejava com rapidez e agilidade seu sabre. Em uma estocada
certeira, atravessou o peito de um dos drows, que não havia
sacado a espada a tempo, com o seu aço encantado, lançando
sobre ele o manto escuro da morte. Continuava o combate, travando
um duelo de espadas. Limiekki geralmente era muito feroz no
combate, quando usava em conjunto suas armas preferidas, a
adaga e o machado. O mateiro rasgou o peito de um dos inimigos
que combatia, mas seus ferimentos cobraram o preço. Não conseguiu
desvencilhar-se de uma investida de espada e, de repente,
emitiu um grito agudo e caiu ao chão. Era a segunda baixa
da Comitiva. Mikhail, que pretendia prestar assistência à
Kariel, correu em direção aos dois soldados, protegendo o
corpo de Limiekki.
Bingo
continuava sua travessia. Em um dado momento, passou correndo
e agachado, por debaixo das lâminas de Vorn e Magnus, até
que chegou até a pequena sala onde jazia o mago morto dos
Aercelt. O pequeno vasculhou com suas mãos ágeis as vestes
do arcano, e o seu tato encontrou o objeto que procurava:
uma grande jóia alaranjada multifacetada. A chave para abrir
o portal para o mundo da superfície.
Magnus
travava o equilibrado combate. Havia conseguido ferir Vorn
algumas vezes, mas nada que provocasse um recuou ou debilidade
significativa no inimigo. Pela graça de Tymora, Deusa da Sorte
e dos Aventureiros, o guerreiro drow errou uma investida,
devido a um desequilíbrio, talvez atribuído a um de seus muitos
ferimentos. Magnus aproveitou a chance e acertou um golpe
mortal contra o seu oponente, cortando o flanco e dilacerando
seu tórax. Foi o último corte que o drow pôde receber. Caiu
morto.
Ouviu-se
algo e o chão tremeu ligeiramente, mas os combates não foram
interrompidos. Arthos, apesar de sua habilidade na esgrima,
não estava tão rápido quanto o de costume, o que lhe custou
um corte no antebraço esquerdo. Porém conseguiu o espadachim
uma investida certeira, matando o adversário. Mikhail também
conseguiu sucesso. O clérigo acertou dois pesados golpes com
seu martelo de guerra: um quebrou a perna do adversário e
o outro lhe partiu o crânio. A luta estava terminada, o que
não significava, ainda, uma vitória para a Comitiva da Fé.
O
clérigo correu até Limiekki. O mateiro estava desacordado
e sangrava muito, porém, pelo que pôde averiguar o elfo evereskano
disfarçado de sacerdotisa drow, seu estado ainda era estável.
Foi rápido até Kariel. O mago estava mais ferido, quase sem
pulso e sua respiração não passava de um leve sopro, que de
repente desapareceu. Rápido e tenso, Mikhail administrou um
encanto, através de uma oração à Deusa Mystra. O corpo de
Kariel brilhou um rápido segundo, em uma luminosidade tênue
e azulada.
“Kariel...
ele está morto?!”, perguntou Bingo, que vinha da sala com
a jóia mística nas mãos..
“Ele
está morrendo! O encanto que administrei ainda não foi suficiente”.
Tentarei novamente.
Mikhail
então recitou mais uma vez uma oração encantada. Neste momento,
ouviu-se mais ruídos e o chão da sala novamente estremeceu,
agora com mais força.
“O
que será isso!?”, perguntou o pequeno.
“Por
Mystra! Os escravos... os gigantes devem ter vencido a batalha
e estão invadindo o castelo!”, disse Mikhail com um terrível
tom desesperador na voz.
“Estamos
mortos! Não iremos resistir a mais um combate!”, concluiu
Arthos, que carregava o corpo desacordado do amigo mateiro,
falando a verdade.
Kariel
abriu os olhos e voltou à consciência. Viu o rosto de mulher
drow do disfarce mágico que seu amigo usava, mas uma voz,
também de mulher, agora ecoava em sua mente. “Kariel...
responda-me!”
“Storm!”,
respondeu o mago.
“Kariel
ainda está delirando!”, disse Bingo, vendo o amigo.
“Kariel...
Graças a Mystra... Vão para parede da torre! Rápido!”,
comandou com urgência a voz da Barda do Vale das Sombras,
na mente do mago.
O
elfo então se ergueu com dificuldade, o mais rápido que pode,
e gritou para os amigos!
“Storm
pediu para que fossemos em direção da parede! Rápido!”
Os
seus amigos não entenderam o motivo, mas, imediatamente, atenderam
ao amigo. Kariel não era afeito a dizer coisas que não fizessem
algum sentido. Logo se ouviu um novo barulho e uma das folhas
da porta metálica da biblioteca foi arrancada com um violento
impacto. Duas cabeças de minotauros começavam a sair da porta.
“Foi
bom conhecer vocês!”, despediu-se Arthos, momentos antes de
um trecho da parede onde se agrupavam derreter e escorrer
como lama. Viram a nau voadora, com o convés encostado à torre.
Danicus e Storm estavam próximos e ofereciam as mãos para
apoiar os aventureiros.
“Pulem!
Depressa!”, apressou a Barda.
Os
heróis da Comitiva saltaram, bem no momento em que os escravos
furiosos invadiam a sala. Arthos, que havia deixado o desacordado
amigo Limiekki no assoalho de madeira da embarcação, observava
a cena e pôde ver, descendo a torre pelo lado de fora, através
de uma corda, Non. O drow da Casa D´Vaer olhou para nau e
acenou em despedida, sendo respondido por Arthos.
E
assim, a nau afastou-se em direção aos túneis enormes e escuros
do Subterrâneo, e a Comitiva da Fé deixou a cidade de Maerymidra,
consumida pelo ódio e violência de seus habitantes, rumo aos
seus próximos desafios naquele mundo eterno de trevas, em
sua missão de destruir os portais mágicos e impedir a invasão
da superfície.
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