Tantras,
o segundo livro da Trilogia do Avatar, tem como foco principal
a busca pela primeira Tábua do Destino, assim
como a transformação de Cyric naquele que logo se
tornaria o deus da intriga. O livro começa exatamente onde
Shadowdale (Vale das Sombras) parou, quando Storm Mão
Argêntea entra no que restou do templo de Lathander e acusa
Meia-noite e Adon de terem assassinado Elminster.
Decidi dividir essa resenha em alguns momentos principais, para
facilitar a leitura: o julgamento e a separação
dos amigos, o combate entre Bane e Torm, a transformação
de Cyric e a conclusão da aventura.
O Julgamento e a
Separação dos Amigos
O livro começa praticamente
no julgamento de Meia-noite e Adon pelo assassinato de Elminster.
Devido às evidências na cena da batalha entre Mystra
e Bane, e também à desconfiança que já
havia por parte de Storm com relação aos dois amigos,
o julgamento como é descrito no livro acaba por se tornar
apenas uma desculpa para que a provável condenação
da maga e do clérigo não parecesse injusta. Porém,
desde que o julgamento começa, não precisamos ir
muito longe para descobrir que Meia-noite e Adon serão
considerados culpados. Comandado pela barda do Vale das Sombras,
nada parece colaborar com a versão da história contada
por Meia-noite, e todo o povo da cidade parece preocupado apenas
em encontrar o culpado para o sumiço do mago mais famoso
dos reinos. Alegando que Meia-noite e Adon estavam lutando ao
lado de Bane e que usaram da ‘inocência’ e ‘boa
vontade’ de Elminster, a barda convence a todos, sem muita
dificuldade, de que os dois devem ser punidos, e assim a sentença
é dada:
“Declaro que amanhã ao amanhecer, no pátio
da Torre Torcida, Meia-noite do Vale Profundo e Adon de Sune serão
mortos pelo assassinato de Elminster, o sábio.”
*
* Tantras; Ciencin, Scott.
Pág 29.
Ilustração
por Karl Waller

Lorde Mourngrym e o Julgamento.
|
Adon, já tomado por
uma terrível depressão devido à cicatriz
que considerou uma punição de sua deusa, permaneceu
em total silêncio durante todo o julgamento, silêncio
esse que é interpretado por todos como a aceitação
de sua culpa. E assim ambos são levados para a prisão
onde terão de esperar pelo cumprimento de sua sentença.
Ou melhor, onde teriam. Isso porque Cyric decide não compactuar
com o que foi resolvido e liberta os amigos com suas próprias
mãos... e com um bocado de cadáveres. Lhaeo, sem
ter qualquer noção de que Cyric havia matado muitos
homens em seu caminho, oferece sua ajuda ao grupo, descobrindo
mais tarde a respeito daquele tamanho ato de crueldade, e julgando
todos pelos atos do ladino. Kelemvor também se sente traído
e enganado ao descobrir que seus amigos haviam partido sem ele,
e que o haviam feito de tal maneira, como Lhaeo afirma na seguinte
passagem:
“Depois do que eles fizeram na torre, acredito que eles
são assassinos de sangue frio. Ainda pior, eles enganaram
homens bons – como Elminster. Como você Kelemvor.
Eles precisam ser trazidos à justiça!”
*
* Tantras; Ciencin, Scott.
Pág 53.
Após um contratempo na Ponte Pena Negra, Cyric se separa
deles (e assim os amigos acreditam que ele está morto)
e Kelemvor acaba deixando suas dúvidas de lado ao ver Meia-noite
em perigo. Porém esse reencontro não dura muito
tempo, pois logo Kelemvor é capturado pelas forças
de Bane. O deus faz uma oferta ao guerreiro: ele removerá
a maldição dos Lyonsbane (família de Kelemvor)
em troca de Meia-noite. Embora o guerreiro não tenha realmente
muitas opções de escolha, ele aceita pensando em
poder evitar que Bane coloque as mãos na maga e assim consegue
finalmente se livrar da maldição que o perseguiu
durante tanto tempo:
“O deus Negro começou a recitar um encantamento
complexo. De repente, a espada explodiu em chamas (...) O guerreiro
sofreu uma agonia como nenhuma outra conforme as garras do animal
abriam seu corpo de dentro para fora, tentando se libertar (...)
Houve um alto rugido de um animal, e Kelemvor sentiu um peso incrível
explodir de dentro dele. Instantaneamente a dor diminuiu consideravelmente
e Kelemvor viu Bane apertar a cabeça do animal com as duas
mãos.” *
* Tantras; Ciencin, Scott.
Pág 186 e 187.
A partir daí, com Kelemvor de volta, os amigos decidem
ir até Tantras para recuperar uma das Tábuas
do Destino e devolvê-la a Helm, pensando assim que
poderão acabar de uma vez por todas com a loucura trazida
aos reinos pela descida dos deuses. E é justamente em Tantras
que eles finalmente encontram Elminster (que estava preso no plano
da Gehenna com Loviatar!) e assim o mago os ajudará na
tarefa de recuperar a primeira Tábua e também a
evitar que Tantras seja destruída, conforme Bane e Torm
lutam. Porém o deus da discórdia e Cyric tornariam
essa missão um pouco mais difícil do que eles pensavam.
A Transformação
de Cyric
Desde o momento no qual Cyric
percebeu que os deuses poderiam morrer, em Shadowdale, o ladino
havia inconscientemente escolhido seu caminho. Embora durante
todo o primeiro livro Cyric mostrasse um desejo de se tornar alguém
melhor, sua ambição e sua descrença na humanidade
acabaram sendo maiores do que sua bondade. Em Tantras, Cyric finalmente
assume a posição de antagonista da história,
e começa a mostrar um pouco da genialidade que o tornará
detentor de tantos aspectos, muito em breve.
Cyric tem um papel fundamental no início do livro, quando
decide libertar Meia-noite e Adon com suas próprias mãos,
sem querer envolver Kelemvor, propositalmente. Embora a princípio
se possa pensar que Cyric é movido por um resquício
de humanidade e consideração aos seus amigos, logo
se descobre que ele tinha motivos um pouco menos nobres:
“Se Lorde Ao tem o preço que procuro, então
eu as [Tábuas do Destino] entregarei com alegria para ele
(...) Nós lutamos com deuses, Meia-noite. Nós os
vimos morrer. Eles não me assustam mais.” *
* Tantras; Ciencin, Scott.
Pág 63.
Com isso em mente, Cyric acompanhará Meia-noite e Adon
até Tantras com o único objetivo de conseguir realizar
seus próprios desejos secretos. Porém alguns fatos
farão com que eles se separem no decorrer da viagem, e
isso ajudará os quatro amigos a mudarem sua relação
de uma vez. O comportamento do ladino dará mostras suficientes
aos amigos de que aquele Cyric não é mais o mesmo.
Para se ter uma idéia da transformação que
aconteceu com ele, observem as palavras de Adon para Kelemvor,
quando Cyric se perde do grupo e some dentro das águas
do rio Ashaba:
“Uma doença tomou conta de Cyric, Kel. È
como se ele tivesse enlouquecido. Talvez seja melhor que ele esteja
morto.” *
* Tantras; Ciencin, Scott.
Pág 119.
Sozinho, e sem ter que se desculpar com os amigos ou fingir ser
o que realmente não é, Cyric estará livre
para concretizar seus planos. Ele decide que o melhor caminho
para fazê-lo, mesmo que haja certa prepotência nisso,
é associar-se aos seus inimigos. Então o ladino
logo obtém o comando de uma tropa importante dos Zhentilar
usando sua astúcia, e começa a prestar serviços
a Bane, em troca daquilo que ele mais almejava:
“Nas últimas semanas você traiu tudo o
que uma vez era querido. O que eu ofereço que você
possa querer tanto?” Pergunta Bane ao ladino. “Poder
(...) O poder para mover reinos um dia.” *
* Tantras; Ciencin, Scott.
Pág 223.
A partir daí, seguindo caminhos separados, as escolhas
e os caminhos dos quatro aventureiros acabarão fazendo
com que se tornem inimigos mortais. Kelemvor e Adon estarão
convencidos de que o ladino não pode mais ser considerado
um aliado, dando os primeiros passos para a disputa que os acompanhará
até quando se tornarem deuses. Meia-noite será a
única entre eles incapaz de aceitar a verdade sobre a mudança
de Cyric, apenas começando a se convencer no final do livro,
quando percebe que talvez seus amigos estivessem certos sobre
Cyric, e que ele estava realmente mudando, como as palavras de
Adon demonstram:
“Cyric é uma ameaça a todos nós,
a toda Faerûn. Você se lembra como ele agiu em Ashaba?
Pode imaginar o que aconteceria se ele colocasse suas mãos
nas Tábuas do Destino?” *
* Tantras; Ciencin, Scott.
Pág 337.
Meia-noite ainda precisará passar por muitas coisas no
terceiro livro para finalmente aceitar que Cyric se tornou um
vilão, mas Cyric, por sua vez, termina o livro considerando
os ex-amigos seus piores inimigos, decidido a levar adiante o
conflito que tomará forma e será o foco principal
do terceiro volume da série.
O Combate entre Bane
e Torm
Ilustração
por Karl Waller

Torm e Bane se degladiam em Tantras. |
Embora Cyric adquira um papel
bem grande como o antagonista de Tantras, Bane e Myrkul ainda
serão os grandes vilões do livro. Após seu
confronto com Mystra no final de Shadowdale, Bane estará
absolutamente enfraquecido, e sua primeira providência será
assumir um novo corpo, ‘honra’ essa dada a Fzoul Chembryl.
Apesar da índole do deus, ele passa a habitar o corpo de
seu seguidor em certa harmonia, permitindo que Fzoul mantenha
suas memórias e idéias. E é na forma de Fzoul
que Bane decide usar outros artifícios para chegar a Meia-noite,
após seu acordo com Kelemvor não dar muito certo.
De posse da informação de que a Tábua
do Destino está em Tantras, Bane resolve chegar a
ela usando suas próprias mãos. Mas para isso precisará
passar por Torm.
Torm, que é ‘apenas’ um semi-deus no Tempo
das Perturbações, exercerá um papel fundamental
nesse segundo livro da série. Embora eu particularmente
ache que os autores meio que ‘forçaram a barra’
ao fazer com que um semi-deus lute de igual para igual com um
deus, o resultado ficou realmente de tirar o fôlego. Torm
mantém um avatar para dar conta de seus fiéis enquanto
caminhará pela cidade e descobrirá o que seus clérigos
têm feito em seu nome, através das palavras de Adon,
ficando chocado ao descobrir que seus clérigos estavam
usando o nome do deus em causas próprias:
“O que descobri me deixou enojado. Não há
punição o bastante para o que esse conselho tem
feito (...)” *
* Tantras; Ciencin, Scott.
Pág 304.
Para Adon, o encontro com Torm terá um significado especial.
A princípio, o clérigo de Sune se recusa a aceitar
que Torm realmente é um deus, mas logo as palavras do deus
do dever tocam seu coração, e Adon acaba recebendo
uma grande lição de fé, tendo sua própria
crença reforçada:
“Não gaste sua vida em pena, Adon de Sune, pois
assim você não pode servir seus amigos... ou seu
deus, se seu coração estiver pesado com mágoa.”
*
* Tantras; Ciencin, Scott.
Pág 284.
Porém Torm fará muito mais do que simplesmente reavivar
a fé de Adon. Ele será a peça fundamental
para que Bane não consiga concretizar seus planos, sendo
juntamente com o deus da discórdia, responsável
pela cena mais espetacular do livro.
Sabendo da luta que acontecerá, Bane decide se preparar
para a batalha absorvendo a força das almas de todos os
assassinos da cidade, o que deixará Bhaal (deus dos assassinos)
enfraquecido. Mas Bane pouco se importa com o dano que está
causando aos outros quando seus objetivos estão sendo ameaçados.
Myrkul usará seu poder para dar força a Bane e ele
assumirá a forma de um homem de proporções
gigantescas. Em contrapartida, os clérigos de Torm, arrependidos
por terem agido de má fé em nome do deus, também
cederão a força de suas almas como um ‘sacrifício’
para que Torm possa lutar de igual para igual com Bane. Assim,
ambos batalharão em Tantras, até se destruírem
em batalha, o que teria acabado com a cidade se Elminster, Kelemvor,
Adon e Meia-noite não tivessem conseguido proteger Tantras
com um escudo invisível, acionado por um mecanismo mágico.
Mas mesmo assim, aquele luta histórica deixaria uma marca
na cidade:
“A morte de Torm e Bane fizeram uma cratera ao nordeste
de Tantras, onde a cidadela e o templo de Torm uma vez estiveram.”
*
* Tantras; Ciencin, Scott.
Pág 334.
Conclusão
da Aventura
Tantras, o livro
intermediário da série que descreve o Tempo das
Perturbações, certamente apresenta uma grande mudança
de narrativa com relação ao primeiro, com muito
mais ação e com uma exploração mais
profunda de certos personagens.
Além de descrever uma das cenas mais impressionantes da
série (o combate de Torm e Bane), o livro também
marca a separação de Cyric e o início da
transformação de sua personalidade, preparando os
leitores para a revolta que sentirão quando chegarem no
terceiro livro da série. Acreditem, vocês verão
Mystra, Kelemvor e Cyric de outra maneira quando terminarem :)
.
