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Por Sabrina Lattanzi




Vale das Sombras
(The Avatar Series book I)

de Scott Ciencin

Sobre os Romances de RPG

Acredito que não existe nada mais fascinante para um jogador de RPG do que descobrir o que há por trás de uma ficha de personagem. Muitos jogadores, assim como eu, vêem o jogo como algo muito maior do que uma série de combates e distribuição de XP: eles vêem o jogo como a construção de uma história e de seus personagens. E é para isso que servem os romances, para ilustrar as partes que não jogamos, para nos mostrar como certas coisas funcionam na prática, para dar uma dimensão maior ao que está no tabuleiro. Muitos desses romances surgiram de sessões de jogo, muitos personagens foram desenvolvidos a partir de uma simples ficha com estatísticas. Muitas pessoas que acham as fichas nos livros de cenário incompatíveis com a fama e os feitos dos personagens não entendem que o tempo de uma sessão de jogo e o tempo de evolução dos personagens não pode ser comparado aos romances.

Em termos de jogo, um personagem pode levar muito pouco tempo para chegar ao nível 20, mas devemos considerar que o jogo, por mais que tentemos, não envolve toda a profundidade de um personagem, suas experiências completas, seus sentimentos, seu histórico. E essas coisas só são possíveis por meio de romances, onde um autor tem a possibilidade de explorar todas essas nuances. Portanto, jamais devemos levar em consideração as estatísticas de um personagem quando lemos um romance, e sempre devemos ter em mente que, nas páginas de um livro e na nossa imaginação, tudo (ou quase tudo) é possível :).

A Série Trilogia do Avatar

Ilustração por Ned Dameron

Kelemvor, Cyric e Adon caminham por Arabel.

De tantos fatos importantes na história dos Reinos Esquecidos, certamente um dos mais (senão o mais) conhecidos entre os fãs do cenário, foi o Tempo das Perturbações. Transformado em aventura jogável na 2ª edição, para que todos os jogadores pudessem sentir na pele os efeitos desse evento, o Tempo das Perturbações, assim como outros eventos importantes do reino, foi romanceado na série intitulada The Avatar Series (Trilogia do Avatar). Embora muitas pessoas pensem ser uma trilogia, The Avatar Series é formada por cinco livros: Shadowdale, Tantras, Waterdeep, Prince of Lies e Crucible: The Trial of Cyric, the Mad (sendo esses dois últimos exclusivos sobre Cyric).

Shadowdale (Vale das Sombras), o primeiro romance da série, tem por objetivo nos apresentar essa nova realidade assim como os personagens que nos acompanharão pelo restante dos livros, praticamente divididos em duas vertentes: deuses e mortais. E é exatamente nessas duas vertentes que falarei sobre esse romance indispensável.

Deuses

O livro começa com um prólogo bastante interessante, onde Lorde Ao despeja toda a sua fúria sobre os deuses, ao descobrir que as Tábuas do Destino, objetos que contém as funções de cada um dos deuses de Faerûn, foram roubadas, fazendo assim sua primeira grande aparição nos reinos. Até então, o deus dos deuses era totalmente desconhecido pelos mortais e é obrigado a se mostrar para resolver essa questão tão importante. Lorde Ao demanda que os deuses devolvam as Tábuas, porém, o roubo delas nada mais é do que a gota d’água para uma longa insatisfação de Ao com o comportamento dos deuses, mostrando que eles estavam mais preocupados com seus próprios problemas do que com seus adoradores, como vemos no trecho a seguir:

“Não mais vocês ignorarão o propósito para o qual receberam a vida! Vocês conhecerão suas transgressões e lembrarão delas o tempo todo. Vocês pecaram contra seu soberano e serão punidos (...) vocês não vêem nada além da salvação de suas próprias peles (...) Covardes. O efeito do roubo das Tábuas foi a afronta final. Vocês as devolverão para mim. Mas antes, vocês pagarão o preço por um milênio de desapontamento.” *

* Shadowdale; Ciencin, Scott. Págs. 4 e 5.

Essas passagens nos mostram alguns pontos importantes. Primeiro, a humanização dos deuses de Faerûn, seres capazes de cometer erros, envolvidos em disputas pequenas e pessoais, da mesma maneira que os deuses da mitologia grega faziam. Bane se mostra como alguém exclusivamente preocupado em adquirir mais poder. Mystra aparece como uma mulher fútil, cuja grande preocupação parece ser a perda do conforto de sua casa, e essa é a mesma reação da maioria dos deuses. Outro ponto importante que se observa nas palavras de Ao, é que esses mesmos deuses que carregam aspectos dos quais devem se responsabilizar, pouco se importam em realmente cumprir suas tarefas, deixando seus adoradores à mercê da sorte. Por causa disso, podemos afirmar que o Tempo das Perturbações foi um evento que dividiu o panteão de Faerûn em dois momentos, fazendo com que depois dele os deuses tivessem que se preocupar realmente com aqueles que os adoravam, a ponto de sua força e poder serem determinados pelo número de fiéis. Helm é o único deus a não sofrer qualquer punição, por uma razão muito importante: ele seria o guardião das Escadas Celestiais, únicos acessos ao reino dos deuses, e assim impedir que eles tentassem voltar sem cumprir a punição determinada por Ao. E assim os deuses são enviados para Faerûn, a fim de aprenderem um pouco mais sobre humildade e respeito. Mas é claro que nem todos os deuses serão capazes de encarar o castigo de Ao com o coração aberto. Um deles é Bane. O deus da tirania merece destaque à parte, tanto quanto por suas idéias brilhantes quanto por sua participação nos eventos. Ele é o grande vilão do livro e assume esse papel com orgulho, com tudo o que um vilão tem direito: ambição fora de controle, total falta de noção e limites, prepotência e autoconfiança exagerada, como vemos no trecho a seguir:

“Roubamos as Tábuas, pois acreditávamos que Ao retirava algum poder delas, e sem as Tábuas Ao estaria menos inclinado a interferir nos nossos problemas (...) Talvez ele não mais tenha força. Talvez seja por isso que nosso senhor nos exilou dos planos (...) Ao temia que os deuses pudessem se unir e se levantassem em revolta.” *

* Shadowdale; Ciencin, Scott. Pág 70.

Por prepotência ou quem sabe até mesmo inocência, Bane e Myrkul se convencem de que Ao está enfraquecido, pensamento esse reforçado quando Helm exige que as Tábuas sejam devolvidas, logo após seu encontro com Mystra no castelo Kilgrave (Bane prende a deusa logo no início do livro, pensando em usar seu poder ou apoio para conseguir seu objetivo. A deusa descobre que Bane e Myrkul são os autores do roubo e decide entregar os culpados para Helm e adquirir o direito de voltar para seu plano, mas acaba lutando contra ele e é “destruída”). Assim, acreditando piamente que poderia obter o controle absoluto de toda Faerûn e derrotar Ao, Bane organiza os exércitos Zhentarim e dirige-se ao Vale das Sombras, para a outra Escada Celestial localizada no templo de Lathander. Essa investida será o ponto alto do livro, culminado em um confronto de tirar o fôlego, onde a deusa da magia faz um último sacrifício para derrotar Bane. Mas seu esforço não é suficiente para acabar com ele e o deus da tirania volta com força total no segundo livro, com mais aliados.

Ilustração por Ned Dameron

Mystra confronta Helm

Algumas aparições importantes:

Tyr: Protesta com Ao sobre sua punição e é cegado.
Tymora: Aparece em Arabel e recebe moedas para que os fiéis possam dar uma olhada nela.
Talos: Também protesta contra a punição de Ao.
Outros deuses citados: Sune, Ilmater (o único que reage com alegria à punição de Ao, por motivos óbvios) e Llira.

Mortais

Os quatro personagens principais do livro envolvem-se nos eventos por puro acaso: eles estavam no lugar certo e na hora certa. São eles Meia-noite, Kelemvor, Cyric e Adon. Vamos analisar cada um deles a seguir:


Adon

Adon:

“Um rosto belo junto a um corpo saudável e aproveitável (...) e com o ego do tamanho do meu reino!” *

* Shadowdale; Ciencin, Scott. Pág 36.

É isso que diz Myrmeen Lhal, senhora de Arabel, dando-nos talvez a melhor descrição do clérigo que encontramos no romance. E por grande parte da história, Adon é apenas isso, um homem fútil, preocupado demais com sua aparência, cujo grande objetivo é encontrar sua deusa, Sune, e receber dela a recompensa por toda a sua dedicação. Mas quando ele é atingido no rosto e adquire uma cicatriz que o marca para sempre, Adon tem sua fé abalada, acreditando que sua deusa decidiu puni-lo por algum motivo. Esse acontecimento será responsável pela mudança de sua personalidade no final desse livro e decorrer dos outros, tornando-o um homem mais maduro e sério.


Cyric

Cyric: O futuro deus das mentiras e intrigas em Vale das Sombras ainda é um homem bom, tentando acreditar nas pessoas, disposto a se redimir por seus erros. Mas em suas costas há um grande peso, há as terríveis experiências do seu passado, que tornam a sua transformação ainda mais difícil:

“A vida é sofrimento. Eu aceitei isso. Mas não tenha pena de mim só porque minha visão é mais clara que a sua.” *

* Shadowdale; Ciencin, Scott. Pág 199.

Essa é a opinião de Cyric, dividida com Meia-noite em um dos momentos do livro. Mas quando Cyric percebe que um deus pode morrer e guarda essa noção para si, percebe-se o começo da grande transformação que ocorrerá com ele nos próximos livros. Conforme eu lia, confesso ter me apegado muito a esse personagem tão carismático, e me senti muito frustrada ao pensar que ele se tornaria um grande vilão no futuro. Dos quatro personagens, Cyric sem dúvidas é o mais rico, com uma personalidade complexa e uma esperteza capaz de vencer até mesmo o poder de alguns deuses.


Kelemvor

• Kelemvor: O guerreiro líder do grupo é um homem determinado e de bom coração, mas ao mesmo tempo atormentado por uma maldição que faz com que ele pareça um homem fútil e ambicioso. Mesmo quando Kelemvor deseja ajudar ou fazer o que seu coração quer, a maldição impõe que ele coloque um preço em suas ações, e não faça nada que não seja em troca de alguma recompensa, ou então ele se transforma em uma pantera. É quase que imediato o envolvimento dele com Meia-noite, e juntos eles são os responsáveis pelas poucas cenas românticas do livro, como quando Meia-noite descobre sobre a maldição e se oferece para recompensá-lo de uma forma inusitada:

“Acharemos uma forma de curar você (...) você virá comigo para o Vale das Sombras?” pergunta Meia-noite. “Devo saber o que você oferece”, ele responde. “Ofereço meu amor.” *

*
Shadowdale; Ciencin, Scott. Pág 225.

Essa é a oferta final da maga para ele. E assim Kelemvor acompanha Meia-noite, embora ele mesmo não se sinta compelido a fazer qualquer coisa para ajudar os deuses.


Meia-noite

• Meia-noite: Podemos dizer que Meia-noite divide com Bane a posição de personagem principal. A maga, uma pessoa de muita fé que não se dobra facilmente, mostra-se bastante diferente do que se espera de uma mulher “medieval”, com modos independentes e sem qualquer problema em quebrar tradições (ela e Kelemvor dividem a mesma “cama” por algumas vezes no decorrer do livro). Ela sem dúvidas é um dos melhores exemplos para a definição de um personagem caótico e bom. Quando Mystra a procura e pede a ela sua ajuda na busca às Tábuas do Destino, para que a deusa consiga acabar de uma vez com aquele castigo, Meia-noite nem ao menos pensa ou considera seu pedido, comprometendo-se imediatamente com Mystra, mesmo sem ter noção de como faria para encontrar aqueles itens ou se aquilo seria ou não difícil. Acredito que a determinação e a bondade dela sejam, em grande parte, o motivo que leva os outros personagens a se envolverem na missão. Ela é a única personagem que se mantém a mesma nos três romances, sem qualquer mudança em sua personalidade.

Juntos, os quatro aventureiros que se tornam amigos, partem de Arabel para salvar Mystra das mãos de Bane e depois seguem para o Vale das Sombras, participando do confronto a fim de impedir que Bane chegue à Escada Celestial em uma batalha de tirar o fôlego, culminado em uma cena final ainda mais surpreendente, que nos faz abrir o segundo volume da série imediatamente. Mas eu não estragarei a surpresa, afinal, nunca se sabe quando teremos acesso a esses romances em português :) .

Ilustração por Ned Dameron

Mystra e Elminster lutam contra Bane

Outros mortais dignos de nota:

• Elminster: O mago mais famoso de Faerûn, uma figura como sempre, tem uma participação vital a partir da metade do romance, ajudando sua deusa na luta contra Bane.
• Semmemon: Aparece na batalha final do livro.
• Fzoul Chembryl: Também participa da batalha, e é atingido por Cyric.
• Storm Mão Argêntea: Surge na parte final do livro para defender o Vale das Sombras.

Shadowdale cumpre a tarefa de introduzir a saga pela busca pelas Tábuas do Destino de maneira muito objetiva. Ele nos apresenta o cenário onde deuses caminham sobre a terra e nos prepara para os momentos ainda mais surpreendentes nos livros seguintes. O livro é centrado exclusivamente em contar esses eventos, sem se prender a coisas menores como explicar a origem de alguns personagens do mundo ou explorar o relacionamento de outros. É um romance corrido mas ao mesmo tempo intrigante, com uma escrita bastante simples e facilmente digerível. Vamos torcer para que, com o passo inicial da tradução de alguns romances para o português, a Trilogia do Avatar não seja esquecido.


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