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Por Marcelo Piropo

 


Um Estudo Sobre Holmes
Parte I

 

Nota Inicial:

     Neste espaço, já escrevi sobre Ivanhoé de Scott e 20.000 Léguas Submarinas de Verne. O leitor pouco atento deve ter-se perguntado qual a relevância de tais matérias num site sobre RPG; responderia muito calmamente que toda possível. Engana-se o rpgista que pensa que o RPG é feito primeiro de dados e números; o RPG é essencialmente feito de palavras (como o demonstra este site). E a literatura - nisto não ha novidade -, é a melhor fonte deste rico recurso. Admito não haverem sido poucas as idéias retiradas da literatura para Os Últimos Dias de Glória; afinal, mais vale uma matizada descrição, precisa e eficiente, de paisagens e personagens, do que o enfadonho, maçante e previsível: "vocês estão diante de um elfo negro!"

     A coisa importante para se notar aqui é a estrutura de uma campanha, que é semelhante a de um seriado. Ou seja: a cada capitulo os heróis se deparam com problemas e movem a trama em busca da solução. Como numa série, com o passar do tempo e das aventuras, vai ficando mais difícil para o DM desenvolver um bom e original roteiro. Não entrarei aqui no mérito de DMs e jogadores, pois numa campanha, muitos são os fatores de sucesso ou não. Inclinar-me-ei, contudo, sobre esta difícil característica de uma série: manter o bom nível dos enredos. Para tanto, analisarei uma série importante na história da literatura, e discutirei o quanto (ou não) as tramas se mantiveram consistentes com o passar dos anos.

1. A Origem dos seriados:

     A série da forma como a conhecemos - de TV, cinema, quadrinhos etc - é muito recente, historicamente falando. Fora criada por Arthur Conan Doyle, ao atinar numa maneira de escrever regularmente para uma revista sem correr o risco de perder leitores. Ocorre que nos idos de 1890, era comum se escrever folhetins - novelas publicadas capítulo a capítulo -; mas, quando os leitores por algum motivo perdiam uma edição, ou quando não podiam acompanhar a trama desde o início, invariavelmente desinteressavam-se. Diz Doyle: "Ocorreu-me que um folhetim centrado num mesmo personagem poderia prender o leitor à revista […] um personagem unificador, que percorresse todos os episódios (1) […] em que cada episódio pudesse ser lido como uma estória isolada, mantendo um elo com a anterior através das personagens principais (2)". Isto pode parecer pouco, mas foi uma revolução na forma de se escrever. E ainda hoje, ao ligar a TV e assistir a sua série predileta, o leitor esta colhendo os frutos desta invenção. Basta pensar que a obra "Fundação", de Asimov, só foi possível devido estarem as revistas já habituadas a publicar estórias em série. E quais foram as personagens que serviram para este papel, o de estrear os seriados?
"Elementar, caro leitor! Sherlock Holmes e o doutor Watson".

(1) Memórias e Aventuras; Doyle, Conan; pag. 78;1993
(2) The Final Problem of Sherlock Holmes; Doyle, Conan; pag. 175; 1981

2. Watson-Doyle-Holmes

     Há uma terrível controvérsia entre os pesquisadores da obra sherlockiana sobre quando e onde primeiramente surgiram Watson e Holmes. Para esclarecer rapidamente o leitor, devo dizer que um ano antes da publicação de " Um Estudo em Vermelho" , apareceu no Boy's Own Paper o conto de Doyle "O Mistério da Casa de Tio Jeremy". Nesta estória, embora os protagonistas tenham outros nomes, é fácil deduzir quem eles são. Discussões a parte, tem-se a data de 1887 como a da primeira aparição da dupla, na novela "Um Estudo em Vermelho(1) ".

     O livro, se não fracassou, também não fez sucesso no Reino Unido. Doyle o havia vendido barato e tudo o que esperava era que este "livrinho" - como muitas vezes o chamou - pudesse abrir-lhe portas no mundo da literatura. E isto aconteceu três anos depois; talvez não do modo como esperava. O livro sobre Holmes e Watson fez rapidamente uma legião de fãs nos Estados Unidos - evento semelhante ao ocorrido com O Senhor dos Anéis, de Tolkien; até muito recentemente autores britânicos circulavam nos EUA em edições piratas ou de baixa qualidade, o que facilitava a sua divulgação, sobretudo entre os jovens. Assim, um agente americano, representando a revista Lippinscott, fora a Londres e marcara jantar com dois autores britânicos dos quais desejava encomendar livros. Um deles era Oscar Wilde, e sua contribuição fora a novela "O Retrato de Doryan Gray"; o outro, Conan Doyle, que não teve escolha: o agente deixou claro que desejava uma nova estória sobre o incrível detetive e seu companheiro cronista. Deste modo, Doyle escreveu para a revista Lippinscott "O Signo dos Quatro (2) ", excelente "thriller", palco da segunda aparição de Holmes e Watson.

     Particularmente, sempre considerei a obra policial de Doyle de altíssima qualidade artística - embora o próprio Doyle não pensasse assim - ; o acabamento dos seus romances é impecável. A leitura atenta dos dois primeiros livros da saga sherlockiana leva o leitor experiente a muitas vezes duvidar da capacidade do autor em atar os nós da trama de maneira eficiente e sem lançar mão de tolas coincidências - estas que afundam completamente romances de autores como Robin Cook, S. King, Anne Rice etc; mas a mente rara de Doyle o faz com toques de mestre. Ainda, o leitor experiente e avesso a preconceitos literários, concordará que ha um clima semelhante entre estas duas novelas de Doyle e a de Wilde "O Retrato de Doryan Gray"; quase como se as personagens de ambas as estórias habitassem num único e amplo romance. Na verdade, o leitor de Poe, Wilde, Verne, Wells e Doyle é levado a pensar estar lendo um fantastico tomo onde é narrada a evolução e a decadência moral e cientifica da humanidade.

     "O Signo dos Quatro", esperava Doyle, seria a ultima aparição da sua dupla. Tanto que ao final do trabalho ele casou o dr. Watson, desfazendo o núcleo essencial a trama. Apesar do relativo sucesso, a obra, assim como a primeira, não trouxera retorno financeiro. Mas não era por isto que o autor anelava abandonar o seu detetive. Conan, como muitos autores, pensava em buscar esta quimera chamada literatura "séria"; sonhava em ver seu nome comparado ao de um Dickens, ao de um Walter Scott; mal sabia que já havia criado o mais famoso personagem da literatura do século XX… Porém, antes de abandonar completamente seus dois personagens, teve uma idéia que mudou sua vida.

Na segunda parte deste estudo, o leitor saberá qual foi esta idéia, além de encontrar uma inédita analise sobre a figura do doutor Watson.

(1) . Também no Brasil com o titulo: Um Estudo em Escarlate.
(2) . Também no Brasil com o titulo: O Sinal dos Quatro
.

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