Os Últimos Dias
de Glória
O que é RPG
Página Principal
A Comitiva da Fé
Definição
Histórias
Última História
Personagens
Jogadores
Galeria de Arte
Diversos
Forgotten Realms
 Definição
 Geografia 
 Divindades
 O Mundo
 Organizações
 Personagens
Artigos
 Galeria
Suplementos
Autores
Site
 Matérias
 Downloads
 Notícias
 Parceiros
Links
 Sobre o Site
 Glossário
 Créditos
Mensagens Arcanas
E-mail


powered by FreeFind


Por Marcelo Piropo

 

20.000 Léguas Submarinas
de Júlio Verne

 

Nas páginas deste romance encontra-se um dos mais profundos personagens da ficção. Não é exagero compará-lo à Raskolnicof, o jovem assassino de Crime e Castigo ou Quincas Borba; pois estes, assim como o capitão Nemo, cobriram-se de teorias para justificar seus atos. Mais adiante poderá o leitor compreender melhor.

Publicado em 1870, "Vingt Mille Lieunes Sous ler Mers", obteve muito êxito. Desde então, talvez para destacar o muito de fantástico - o poder criador de Verne - e ocultar as angústias dos personagens, criou-se uma mística sobre a história; com o tempo, o mito se afastou sensivelmente do imaginado inicialmente por Verne. O livro foi adaptado para quadrinhos, cinema, desenho animado e ganhou também algumas versões literárias amenizadoras. Ao longo dos anos, a trama fora bastante infantilizada. Caso se pergunte a alguém, que conhece a história mas não leu o texto original, sobre o que trata Vinte Mil Léguas Submarinas, a resposta certamente será: um cientista que inventou o primeiro submarino; ou um submarino que busca a cidade submersa de Atlântida. Respostas compreensíveis quando considerado o mito. Contudo, inteiramente enganadas.

Se em A Volta ao Mundo em 80 Dias, Júlio Verne trabalha com amplas generalizações, em Vinte Mil Léguas elas praticamente inexistem. Cada pequena informação é cuidadosamente passada ao leitor, de modo que após as primeiras páginas fica difícil duvidar da veracidade do relato. Trata-se de uma expedição verídica, poderia dizer algum leitor. Assim, pode-se afirmar que o livro é um relato fantástico escrito de modo que pareça real.

Verne utiliza um artifício para criar esta ilusão de realidade. A obra é um diário, ou antes, as memórias escritas de um importante naturalista francês, o sr. Arronmax, professor do Museu de Paris, especialista em vida marinha, autor de um livro publicado em dois volumes intitulado: Os Mistérios das Profundezas Submarinas. E, como o título da estória de Verne sugere, o diário narra as experiências submarinas que o professor Arronmax vivenciou nas vinte mil léguas em que permaneceu a bordo do Nautilus. Neste ponto, o texto ganha uma veracidade inconstestável - embora saiba-se ser ficção. Arronmax, como amador das matérias marinhas, encontra nesta expedição (forçada, o professor foi a bordo do Nautilus quase por acaso) uma grande oportunidade para estudar a natureza oceânica como nunca o fizera antes.

E nós, leitores, o acompanhamos em suas observações e em seus passeios nas profundezas do mar. É como penetrar num outro planeta. O professor classifica, com grande desvelo, cada peixe que vê passar pela escotilha do submarino e, muitas vezes, aponta curiosidades sobre as espécies; descreve baleias, tubarões, corais etc, com tantas matizes que quase quase vemos desfilar diantes dos nossos olhos. Ainda nos conta casos dos primeiros exploradores dos mares, nautas que iam além do mundo conhecido e enfrentavam a fúria dos elementos; inclusive um certo Vasco da Gama. Nos intervalos entre um estudo e outro é que o leitor encontra o sorumbático Nemo.

Nemo nunca cumprimenta o professor. Fala pouco. Se fala, geralmente é para vangloriar-se das suas descobertas e para demonstrar ao professor o quanto ele (capitão Nemo) está adiante da ciência dos continentes. Contudo o capitão é esquivo, deixando Arronmax sempre ansioso pelo próximo encontro. Nesta altura, proposições são lançadas, tanto pelo naturalista, quanto pelo leitor: quem é Nemo? Qual o objetivo do Nautilus? A cada pequeno diálogo - seco da parte de Nemo, tímido da de Arronmax - o leitor tenta catar migalhas de informações. Mas Verne não quer passar, neste romance, por um escritor de livrecos. As falas são reais, cruas, entrecortadas. Da figura soturna de Nemo, a única coisa que se descobre é a rudeza, não o passado.

E nós, leitores, talvez pela síndrome de Estocolmo (não esqueça ser o sr. Arronmax um tipo de prisioneiro), começamos a admirar Nemo. Passa-se a considerar bondade quando Nemo simplesmente realiza uma ação prosáica. O professor chega mesmo a gostar de sua condição de seqüestrado. E nisso que os meses vão se passando, assim como as léguas, e tudo o que sabemos é que a jornada de alguma forma chegará ao fim quando se completarem vinte mil.

Falou-se aqui em Raskolnicof. No romance de Dostoiévsk, este rapaz criou uma teoria na qual era dado a certos homens o direito de tirar a vida de outros homens. E ele se coloca entre os primeiros. Mas, ao aplicar esta teoria à sua vida, o rapaz não consegue se livrar do remorso, das dúvidas etc. Nemo é uma espécie de pirata, um vingador, entretanto creio que seja mais acertado classificá-lo de terrorista. Segundo algumas pistas sutilmente lançadas pelo autor, pode-se depreender que Nemo é o patrocinador de revoluções. Além disso, Arronmax testemunha o capitão assassinando pelo menos uma centena de homens. "Vingança!". Ele diz. Num solilóquio confuso, Nemo, qual Raskolnicof, fuzilado pela sua própria vilania, murmura: "Deus onipotente! Basta!Basta!". O leitor é informado que de alguma maneira a família de Nemo fora assassinada. Mas onde? Mistério.

O final da obra foi certamente inspirado no conto "Uma Descida ao Mailstrom", de Edgar Poe, de quem Verne era grande admirador e de quem irá retirar outros temas, situações e personagens. Vinte Mil Léguas Submarinas é sem dúvida uma das obras de arte da literatura universal, figura entre as melhores do gênero fantástico, não apenas pela capacidade do autor de antecipar as possibilidades técnicas do futuro, mas pelo seu excelente acabamento.

Os Últimos Dias de Glória © Todos os direitos reservados 2004 - Forgotten Realms™ e seus personagens são marcas registradas da Wizards of The Coast Inc.
This page is a fan site and is not produced or endorsed by Wizards of the Coast. Forgotten Realms is a registered trademark of Wizards of the Coast, Inc.