
Por Ricardo Costa
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Carpe
Diem
Aproveite
o dia. É o que diziam os filósofos epicuristas, adeptos
do pensamento de que o homem deve viver os seus momentos na terra
da melhor forma possível. Mas o que tem isso a ver com o
RPG? Vou tentar explicar ao fim deste texto. O RPG é uma
forma de diversão esplêndida e emocionante: valoriza
a imaginação, a leitura e a cultura, fora que é
um momento especial para um convívio com amigos. Mas havemos
de convir que o RPG têm particularidades especiais, que o
tornam também uma diversão rara.
O
primeiro ponto na lista é que não se pode jogar sozinho.
Não é um videogame. No mínimo, para
um verdadeiro RPG precisaríamos de três pessoas. Bem...três
pessoas para se jogar alguma coisa não parece ser um grande
problema, não é verdade? Afinal, uma partida de futebol
tem 22 jogadores e nem por isso os campos de pelada (ou "baba",
como chamamos aqui na Bahia) ficam vazios, pelo contrário.
Mas, o RPG exige mais do que futebol. Todos nós, brasileiros
que somos, conhecemos as regras do futebol, mas quantos conhecem
as regras de um RPG? Ou melhor dizendo, quantos conhecem o que significa
a sigla RPG? Aqueles que apenas ouviram falar têm visões
diversas: pensam ser apenas um jogo de tabuleiro, uma terapia ou
mesmo, quando orientados por reportagens de televisão mal
elaboradas, o confundem com temas esotéricos ou ligados a
rituais macabros. Tudo isso atrapalha. Não sendo uma diversão
tão popular quanto outros jogos e esportes, temos naturalmente
poucos jogadores e por conseqüência, menos pessoas que
podem compartilhar conosco esta diversão.
Você
tem jogadores e conseguiu explicar o que é RPG e suas regras
para alguém? Então passamos para o segundo ponto.
É necessário imaginação para jogar.
No mundo de hoje, normalmente tudo já vem pronto para consumo.
Não somos estimulados a criar, mas sim a adotar soluções
já prontas, coisas rápidas, com um formato definido.
Já não lemos tanto e preferimos a assistir a versão
cinematográfica do diretor do cinema de um romance, com seus
atores e efeitos especiais, do que construir em nossa própria
imaginação, nossos próprios cenários,
atores e efeitos, que jamais poderão ser igualados por nenhum
tipo de computador, pois na mente tudo pode ser realizado com perfeição
total. Por isso são poucos os que estão dispostos
a imaginar, a deixar por algumas horas o mundo das coisas concretas
para um outro, construído pela sua própria criatividade.
Quem não for criativo e se permitir imaginar, dificilmente
experimentará e gostará de um RPG, pois não
conseguirá se desvencilhar do mundo real para embarcar no
exercício de outro imaginário, criado durante as sessões
do jogo.
Você
têm agora amigos que sabem o que é RPG, sabem suas
regras e tem a capacidade de se permitir imaginar? Ótimo,
mas surge agora o principal vilão: o tempo. O RPG pede reuniões
freqüentes. Se os jogadores quiserem construir uma verdadeira
seqüência de aventuras e desenvolver seus personagens
com alguma profundidade isso irá requerer tempo. Tempo que
temos que dividir entre estudo, trabalho, namoradas e namorados
além de outros afazeres de nossa vida cotidiana. Um grupo
médio de RPG geralmente tem cerca de cinco pessoas Uma campanha
(episódios seqüenciados de RPG) devem ter ao menos duas
sessões mensais para que não se perca o ritmo e a
lembrança dos acontecimentos. E uma boa partida dura em média
seis horas. Isto significa que para funcionar bem, cada pessoa do
grupo deve, no mesmo dia e horário, ter este tempo disponível
para o jogo e esta coincidência, nos dias de hoje, pode ser
bem rara.
Você
encontrou amigos que sabem o que é RPG, conhecem as regras,
têm imaginação e tempo suficiente para os encontros?
Muito bem, meu caro. Aí que entra o título "Carpe
Diem", ou "Aproveite o Dia". Se esta diversão
é tão rara, e depende de tantos fatores, a probabilidade
de que um dia acabe é grande. Então, que tal aproveitar
cada sessão da melhor forma possível? Um dia, aquele
personagem que você gosta e tanto trabalhou será uma
lembrança. Seus amigos em volta da mesa poderão continuar
seus amigos eternamente, mas poderá haver o dia em que a
mesa cheia de miniaturas, cartas e planilhas não possa mais
ser mais montada. Então este é o recado do texto.
Se gosta do RPG, torne as sessões algo especial: escreva
bons históricos, crie personagens interessantes e interprete-os
com seriedade e profundidade. Não perca tempo dentro do jogo.
e colabore com o mestre na missão de construir uma boa história.
Somente assim, você terá tirado o máximo da
diversão que este hobbie pode oferecer e se um dia não
for possível mais jogar o RPG, você saberá que
fez o melhor que podia para viver este momento.

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