No
Rastro do Jalavar Lynnur
Descrita
por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens
principais da aventura:
Os
Humanos: Arthos Fogo Negro [Torrellan
Millithor]; Magnus de Helm [Marckarius
Millithor]; Sigel O'Blound (Limiekki)
[Dariel Millithor]; Danicus Gaundeford [Glemoran Millithor]. Os
Elfos: Mikhail Velian [Narcélia Millithor]; Kariel
Elkandor [Karelist Millithor]. O Grimlock: Loft
Moft Toft Iskapoft. O
Halfling: Bingo Playamundo [Quertus
Millithor].
No Rastro do Jalavar Lynnur
A Fuga
Arthos,
Kariel e Limiekki estavam novamente reunidos com os três
integrantes do Fogo Lunar: Sorn, Chessinstra e Lesaonar. Havia
mais um entre eles: o soldado capturado de um grupo que os
espreitava. O drow inimigo estava amarrado em uma cadeira
e o ódio que sentia irradiava de suas pupilas vermelhas.
“Seus amigos estavam
nos procurando. O que queriam conosco?”, perguntou o
arcano da Comitiva da Fé, Kariel.
O drow olhou para o mago
e simplesmente sorriu, sem nada dizer .
“Quem é você?
Responda a pergunta!”, bradou Lesaonar, rudemente finalizando
com um soco no rosto do interrogado.
“Vamos, seu verme!”,
complementou Arthos. “Se acha que seu segredo o protege
de uma represália de sua Casa, saiba que, se não
falar, poderá sofrer um destino muito pior em nossas
mãos!”.
“Vocês não
sabem a teia que Lolth está tecendo para vocês!
Não deviam ter recusado a proposta de Rizzen. Ele leva
as coisas muito a sério. Libertem-me e eu posso melhorar
a situação de vocês junto a ele!”.
“O que Rizzen Nanitaran
quer conosco?”, questionou Arthos.
“Ora... já
devem saber. Precisamos de aquisições para nossa
Casa. Uma guerra se desenrolará em breve e teremos
que nos defender. Aceitar o oferecimento de Rizzen seria bom
para nós e para vocês!”.
“Não temos
nenhum interesse em sua Casa ou guerra!”, respondeu
Kariel.
“Então são
tolos! Rizzen é muito vingativo. Virão outros
atrás de vocês. Já sabemos onde procurar!”.
“Como você
e seus colegas podem ter percebido, não somos tão
indefesos assim. Deve nos contar algo que justifique o fato
de estar vivo até agora!”, disse Arthos.
“Não tenho
mais nada para dizer. Vocês irão se arrepender
de ter pisado em Undrek´Thoz!”, ameaçou
o guerreiro.
“Se não tem
nada para nos falar, então também não
tem mais nenhuma utilidade!”, disse Lesaonar, que, repentinamente,
em um ágil movimento, desembainhou sua lâmina
e a atravessou no peito do inimigo.
“Ei! Porque fez
isto?”, perguntou Arthos, surpreso.
“Ele está
certo, Arthos”, disse Limiekki, com a voz bastante ponderada.
“O drow conhecia nossos rostos e os dos nossos três
novos amigos. Se fugisse poderia pôr abaixo nossos planos
e o segredo do Fogo Lunar!”, disse, pragmático,
o ex-soldado de Forte Zenthil.
“Maldição!
Agora que vocês trouxeram estes espiões para
nossa base, teremos que abandoná-la!”, queixou-se
Lesaonar, enquanto guardava a espada ensangüentada na
bainha.
“Acalme-se. Eles
não tiveram culpa!”, disse Sorn, apaziguando.
“Temos um outro local para onde poderemos nos mudar!”.
“Enquanto a nós,
devemos voltar para a torre da Casa Trun'Zoyl'Zl e informar
aos nossos amigos o que vocês nos disseram. Montaremos
estreita vigilância a Eclavdra!”, disse Limiekki.
“Como voltarão?
Pode haver mais alguns da Casa Nanitarin espreitando os caminhos
por onde passaram”, advertiu Chessintra.
“Iremos por meios
mágicos!”, disse Kariel. “Nos transportarei
até um local afastado o suficiente das muralhas do
Distrito e percorreremos o restante da distância a pé!”.
“Excelente! Enquanto
isto, poderemos formular ações para tentar descobrir
a base do Jalavar Lynnur.”, colocou Sorn.
“Sim!”, afirmou
entusiasmada Chessintra , lembrando-se de algo. “Sei
de um mago, chamado Divolgh, da Casa Phaundakulzan . Dizem,
às escondidas, que ele fez parte do Jalavar Lynnur.
Poderíamos ir até o Distrito de Phaundakulzan
e criar um engodo: se um de vocês puder me disfarçar
como Eclavdra, poderia ir até ele e, quem sabe, descobrir
assim a localização da base de operações
do Jalavar Lynnur!”.
“Eu posso fazer
isto!”, disse Kariel. “Porém infelizmente
só poderei conjurar a magia de disfarce dentro de algumas
horas!”.
“Kariel... então
faça o seguinte: fique aqui com Arthos e me transporte
para o Distrito de Trun'Zoyl'Zl . Transmitirei as informações
para os nossos colegas e vocês ajudam o Fogo Lunar!”,
solicitou Limiekki.
Kariel concordou com a
idéia e olhou para Arthos, que acenou positivamente
com a cabeça.
“Está certo!
Que assim seja!”, Kariel então executou um ritual
de gestos e palavras arcanas e um brilho luminoso tomou conta
de Limiekki e, rapidamente, o homem disfarçado de drow
foi ficando translúcido, até desaparecer por
completo.
“E agora? O que
faremos?”, perguntou Arthos.
“Temos que sair
logo daqui e encontrar este tal Divolgh. O tempo também
é nosso inimigo”, respondeu Lesaonar. “Vou
á frente, como batedor, para certificar de que não
existem mais outros a nossa espreita. Retornarei logo!”.
“Espere!”,
pediu Kariel. “Posso fazê-lo ficar invisível.
Será mais seguro!”.
Lesaonar concordou e Kariel
conjurou novo encanto. O drow dos ermos das cavernas desapareceu
imediatamente em sua frente.
“Volto em breve!”,
disse com sua voz vindo do nada. “Aguardem!”.
Novo Mistério?
Magnus,
Bingo, Iskapoft e o professor Danicus estavam no quarto
coletivo, na torre da Casa Trun'Zoyl'Zl, quando se ouviram
as batidas na porta. O paladino abriu a folha de madeira
espessa e negra para a entrada do amigo Mikhail, elfo
de Evereska e clérigo de Mystra, disfarçado
magicamente como a clériga drow Narcélia.
Havia terminado o interrogatório com as filhas
da Matrona.
“E então?
Descobriu algo?”, perguntou o inquieto Bingo, logo
após a porta voltar a ser novamente trancada. A
curiosidade do pequeno espelhava a de todos os seus outros
amigos.
“Infelizmente
não, Bingo!”, respondeu Mikhail, levemente
desanimado. “O encanto que proferi aparentemente
não foi o suficiente para revelar a verdade na
fala das sacerdotisas. Não houve respostas muito
relevantes!”.
“É uma
pena!”, lamentou Danicus. “Porém devemos
continuar com os nossos objetivos... procuramos a jóia,
mas também devemos destruir o portal. Estive pensando
nisto!”.
“Alguma idéia,
professor?”, perguntou Mikhail.
“Pensei em teletransportar
a mim e ao paladino para a sala onde se encontra o portal,
a fim de destruí-lo. Escaparíamos usando
o mesmo artifício”, disse o veterano Harpista.
“E o barulho?
Magnus vai fazer um bocado de barulho até quebrar
aquele arco de pedra!”, lembrou Bingo.
“Tenho uma solução
para isto!”, disse Mikhail, voltando-se para o jovem
paladino de Helm. “Com uma prece especial posso
transferir a você uma de minhas graças divinas
e você será capaz de criar uma área
de silêncio em torno do portal! Ninguém irá
perceber a sua presença”.
“Isto deve funcionar!”,
colocou Magnus. “E teremos o álibi de não
ter saído desta sala. Estou pronto, Mikhail”,
disse, por fim, oferecendo-se.
Então Mikhail
promoveu duas demoradas orações e, por fim,
tocou Magnus.
“Concentre-se
e o encanto será liberado!”, disse o clérigo,
ao fim do ritual.
O professor e o guerreiro
se alinharam e o Harpista executou o sortilégio
de transporte mágico mas, para sua surpresa, nenhuma
magia aconteceu.
“Por Mystra!
Não funciona! O local deve ser protegido contra
intrusão mágica! Devemos pensar em um plano
alternativo para entrar naquela câmara!”,
disse o surpreso Danicus.
“Espere... tenho
uma idéia! Lembrei-me de um encanto que...”
As palavras de Mikhail
foram interrompidas por um intenso ruído de passos
do lado de fora do quarto. Uma agitação
inesperada estava acontecendo no corredor. O paladino
dirigiu-se para a porta a fim de averiguar, mas antes
que tocasse a maçaneta esverdeada de bronze, ouviram-se
novamente batidas na madeira! Magnus abriu: era a Matrona
em pessoa, ladeada por dois soldados.
“Mestre das Armas,
gostaria de falar com a sacerdotisa Narcélia!”,
falou a drow, cujo semblante e a fala pareciam alterados.
Seu rosto estava abatido e sua voz era pausada e fraca.
Magnus gesticulou
e Mikhail apareceu em frente à porta, ao lado do
paladino.
“Matrona Jesthflett!
O que podemos fazer pela senhora?”, disse o clérigo
disfarçado de sacerdotisa drow.
“O que conversaram
com Eclavdra?”, quis saber a líder.
“Perguntamos
sobre a posição dela na Casa Trun'Zoyl'Zl,
suas relações com as irmãs e outras
questões pertinentes à resolução
do mistério que buscamos desvendar.”
“E o que fizeram
depois de interrogá-la?”, perguntou a drow
de cabelos longos e prateados, adornados por uma leve
coroa dourada.
“Fui a última
pessoa a interrogá-la.”, respondeu Mikhail.
“Depois de a liberar, permaneci em meus aposentos
por um certo tempo e depois vim ao encontro de meus companheiros
para transmitir minhas impressões. Seus sentinelas
podem confirmar isto! Mas...porque as perguntas!?”
“Vou levá-los
ao aposento de Eclavdra!”, disse simplesmente a
mulher, virando de costas e andando pelo corredor. Mikhail
e Magnus a seguiram.
Seguiram pelos caminhos
da torre e subiram uma escada, até uma ala de dormitórios
luxuosamente decorada. Caminhavam para a entrada de um
quarto, onde havia outros soldados e alguns drows que
observavam. Fosse o que fosse, pela expressão no
rosto dos presentes, não devia ser boa coisa.
“Entrem!”,
pediu a Matrona, acompanhando os dois forasteiros ao interior
do quarto.
A cena que se seguiu
foi a de um cômodo incendiado: móveis queimados,
tapeçarias fumegantes e um desagradável
odor de fumaça. No chão, um corpo carbonizado.
Estava desfigurado, mas Mikhail reconheceu o resto das
roupas e objetos de metal: eram idênticos aos da
sacerdotisa que havia falado com ele há minutos
atrás.
“Eclavdra está
morta!”, disse a Matrona. “O maldito que fez
isto enfrentará um suplício inimaginável
e pedirá, em vão, para morrer. Espero que
possam nos ajudar a encontrá-lo!”, pediu
a drow, desejosa de vingança.
“Lamentamos
muito!”, disse Mikhail. “Faremos o possível!”.
Jesthflett então deixou a sala. Logo após,
Magnus sussurrou ao ouvido do amigo.
“E agora? A
trama se complica!”.
“Tem razão.
Informe aos nossos amigos. Vou tentar executar uma idéia
que tive a respeito do portal!”, disse Mikhail,
em tom baixo.
“Não
precisará de ajuda?”.
“Não,
amigo. Aguarde-me!”, disse o clérigo.
Mikhail e Magnus saíram
juntos da sala, mas logo se separam. O paladino retornou
para o quarto onde estavam seus outros companheiros, enquanto
o clérigo, esquivando-se o máximo possível
dos olhares dos drows da Casa Trun'Zoyl'Zl, tentava chegar
ao andar térreo da torre.
Lembrando-se do caminho
feito quando haviam visitado o portal, desceu várias
escadas. No piso ao nível do solo, procurou até
encontrar um pequeno cômodo, provavelmente um depósito
vazio, cuja porta estava aberta. Sorrateiramente, entrou
e fechou-se. Então, o elfo evereskano concentrou-se
e pronunciou uma prece a deusa Mystra.
Um brilho avermelhado
surgiu no piso, formando uma área circular à
sua frente. Deste limite, começou a se erguer uma
forma, feita de granito e areia, como se brotasse do chão.
Era um ser humanóide, alto, de corpo e braços
grandes e desproporcionais e feições pouco
claras. Em uma voz rouca e inumana, o ser elemental falou.
“Convocou-me.
Aqui estou. Informe o seu desejo!”.
“Em algum lugar,
embaixo deste piso, há uma sala oculta. Dentro
dela, um arco de pedra negro. Quero que o destrua!”,
ordenou o clérigo.
O monstro de pedra
acenou afirmativamente com a cabeça e mergulhou
novamente no chão de onde havia saído. Seu
corpo mesclava-se com as rochas do solo e movia-se facilmente
por ele, tal qual um peixe nada pela água. Demorou
poucos minutos, até encontrar o salão secreto.
Identificou então o grande arco de pedra e correu,
chocando o seu corpanzil maciço contra o objeto
mágico. O encontro não foi suficiente para
destruí-lo, mas algo aconteceu. O ataque havia
despertado um feitiço oculto e, em um brilho sobrenatural,
surgiu na sala o mago Houndaer.
O arcano da Casa Trun'Zoyl'Zl,
em um primeiro momento, assustou-se com a fúria
do ser de pedra, que sequer tomou conhecimento de sua
presença, prosseguindo na missão que lhe
havia sido dada, golpeando incessantemente a pedra, que
se partia e rachava. Houndaer então executou um
ritual de magia. Ao fim pronunciou em voz alta:
“Banido!”.
O elemental da terra
desapareceu e o seu corpo tornou-se pó. Havia retornado
ao plano de onde havia sido retirado. Houndaer aproximou-se
do arco. “Tarde demais”, pensou o mago. A
estrutura de pedra havia sido bastante danificada e não
haveria mais alternativa de consertá-la. Houndaer
então, com um encanto, teletransportou-se, desaparecendo
daquele lugar, em uma expressão que mesclava raiva
e desconfiança.
A Cúpula
dos Desafios
Lesaonar
retornou de sua missão como batedor. Abriu a porta
e, desejando ficar novamente visível, cancelou
o feitiço que lhe foi lançado, reaparecendo
em seguida.
“Existem três
outros soldados da Casa Nanitarin, logo após a
saída do túnel. Temos que eliminá-los.
Se um deles fugir, poderá complicar a nossa situação!”.
“É...
você está certo”, concordou Arthos.
“Mas temos que surpreendê-los de alguma forma,
já que eles estão esperando pela nossa saída!”.
“Posso transportar-nos
magicamente para além da entrada do túnel.
Enquanto eles estiverem a nossa espreita, atacaremos pela
direção oposta.”
“É um
bom plano! Vamos fazer desta maneira, então!”,
assentiu Chessintra. Os outros concordaram também.
“Boa sorte!
Que a Dama Escura os favoreça!”, disse Sorn,
o mago. “Encontrarei vocês brevemente!”.
Kariel então
executou semelhante encanto aplicado ao mateiro Limiekki,
com a diferença que, desta vez, o alvo era ele
mesmo e os três outros companheiros de aventura.
Após os gestos e palavras, desapareceram da sala
rústica escavada na pedra o mago elfo, o espadachim
Arthos, e os drows rebeldes Chessintra e Lesaonar.
Em um átimo,
estavam do lado de fora, tendo a imensa caverna como cenário.
Localizavam-se próximos à saída do
esconderijo e Lesaonar apontou-lhes silenciosamente as
silhuetas dos inimigos que se ocultavam em meio as rochas.
Chessintra mais uma vez retirou a besta de madeira negra
como o carvão que estava presa às costas
e nela armou um virote. Procurou apoio em uma pedra mais
alta para aumentar a precisão do seu tiro. Pedra
traiçoeira era esta, que escorregou, desequilibrando
a guerreira e fazendo um leve ruído, mas não
tão leve que não pudesse ser notado pelos
inimigos.
“Do outro lado!
Preparem-se!”, gritou um dos soldados drows, dando
o alarme. Usava, podiam ver, o traje do exército
da Casa Nanitarin.
O desenrolar dos acontecimentos
a partir daqui podia ser medido em segundos. Lesaonar retirou
seu arco e atirou uma flecha certeira, que atravessou a garganta
do alardeador, fazendo-o cair morto. Um dos inimigos partiu
na direção do grupo, porém Kariel lançou
uma das suas magias mais surpreendentes: apontou o dedo na
direção do soldado e um raio prateado de brilho
intenso deixou o seu corpo, atingindo o adversário
em uma explosão silenciosa. Quando a luz cessou, o
drow estava morto. O soldado dos Nanitarin sobrevivente, ao
ver o rápido e impressionante fim de seus colegas,
desistiu de seus deveres, e pôs-se a correr desenfreadamente,
rumo às paragens escuras do Subterrâneo. Teria
conseguido fugir, porém um virote de besta preciso,
disparado por Arthos, o fez tombar ao chão.
“Pela Deusa!”,
exclamou Chessintra, após o término da batalha.
“Que mágica foi aquela, mago? Nunca vi nada
assim!”.
“Foi uma dádiva...
uma magia muito especial que, por felicidade, tenho acesso.”,
disse Kariel apenas, sem fornecer maiores e longas explicações.
“Então
será esse o nível dos soldados de Rizzen?
Se for assim, acho que não temos muito com o que
nos preocupar!”, falou Arthos, fazendo troça.
“Não
subestime os inimigos, Arthos! Tivemos sorte de serem
poucos. Ajudem-me com os corpos. Vamos encobrir os indícios
do combate!”, comandou Lesaonar, cauteloso.
Os aventureiros esconderam
os corpos dos inimigos e o drow rastreador moveu as pedras
e apagou as pegadas que existiam em um trecho arenoso do piso
irregular. Terminado o trabalho, rumaram na direção
de Mezrylornyl. De lá, tomaram um lagarto e seguiram
para o Distrito de Phaundakulzan, atrás da pista levantada
por Chessintra. Duas horas depois de partirem, avistaram as
muralhas cinzentas e altas que cercavam o Distrito. Passaram
pelo imenso portão e avistaram os contornos daquele
centro. Seus prédios eram um pouco diferentes dos avistados
anteriormente, com formatos bastante recortados, que terminavam
em telhados pontiagudos como adagas, ou em espirais que apontavam
para o alto. Havia muitos homens e algumas mulheres em trajes
de tecido negro e púrpura, alguns portando cajados,
anéis, bastões e outros objetos característicos
de conjuradores. Viram também uma feira com muitos
itens exóticos, que Kariel percebeu como sendo componentes
para rituais mágicos. Era sem dúvida, o Distrito
da Magia. Desceram do lagarto e deixaram o prédio que
servia de terminal de transporte. Estavam em meio ao movimentado
centro urbano.
“Onde vamos
encontrar este tal Divolgh, Chessintra?”, questionou
Kariel.
“Existe um lugar,
a Cúpula dos Desafios, o local onde os conjuradores
combatem. Ele é um dos arranjadores destas lutas.
Devemos segui-lo, até que surja uma oportunidade
de me infiltrar disfarçada!”, respondeu a
mulher.
“Ou, se a própria
Eclavdra aparecer, podemos segui-la até o covil
do Jalavar Lynnur!”, sugeriu Lesaonar.
“Então
devemos ir até essa arena para procurá-lo?”,
quis saber Arthos.
“Exato!”,
respondeu Chessintra. “Porém não podemos
ir nestes trajes. Precisamos comprar outros, no estilo
que os habitantes de Phandalkuzan usam, para passarmos
despercebidos na multidão. Vamos procurar uma loja
de vestimentas”.
Os forasteiros andaram
pelas ruas arenosas e largas do Distrito, até encontrarem,
entre as construções cinzentas, um comércio
de roupas. Entraram, escolheram os trajes e pagaram caro por
eles. Ficaram bastante diferentes, por conta das luxuosas
roupas de nobres que haviam adquirido, a exceção
de Arthos, que não abriu mão de usar um chapéu
de abas largas de espadachim, por mais argumentos contrários
que o amigo Kariel lhe fornecesse. Em seguida, guiados por
Chessintra, rumaram para a Cúpula dos Desafios.
Ao longe, os quatro avistaram
a grande e impressionante construção, que dominava
uma praça para qual convergiam diversas ruas. A Cúpula
era um imenso anfiteatro coberto com uma enorme redoma negra
e cristalina. Pelos arcos abertos que sustentavam o edifício
de vários andares, passavam centenas de pessoas e podiam-se
ouvir alguns aplausos dos espectadores. Pagaram a um grupo
de drows armados que controlava a entrada e rumaram por escadas
para a arquibancada. Havia centenas de drows acomodados nos
assentos de pedra e, no centro da arena, dois magos duelavam,
o que desviou a atenção de Kariel por alguns
segundos. O arcano tentava descobrir os feitiços que
estavam preparando, quando Chessintra interrompeu a observação
do elfo, batendo-lhe no ombro e apontando discretamente para
alguém que estava em uma tribuna especial e olhava
com atenção o combate.
“Ele é
Divolgh!”, disse Chessintra em voz baixa. “Vamos
nos separar e vigiá-lo!”.
Os infiltrados se
espalharam em meio à multidão, mirando sempre
o drow muito robusto, que ostentava certa idade, e que
bebia enquanto observava atentamente o espetáculo.
As lutas mágicas, pelo que puderam observar, não
eram fatais. Kariel notou que as magias conjuradas haviam
sido modificadas para atenuar os efeitos danosos. A Cúpula
do Desafio era muito mais uma demonstração
de técnica do que de força.
Alguns minutos depois,
Chessintra gesticulou e Kariel e Lesaonar perceberam. Arthos,
distraído com uma bela maga que usava um vestido extremamente
decotado, não viu a drow do Fogo Lunar indicar uma
figura feminina que rumava para a ala das tribunas. O rosto
já era bastante familiar à Comitiva: Eclavdra
Trun’Zoyl’Zyl.
Tentaram se aproximar,
mas a filha adotiva da Matrona da Casa Trun’Zoyl’Zyl
entrou na área restrita e desapareceu das vistas
dos espiões. Chessintra então chamou seus
companheiros, que se reuniram para traçar os próximos
passos.
“Ela deve estar
nos escritórios dos contratantes, onde não
temos acesso!”, falou Chessintra em um sussurro.
“Vigiaremos
então a saída da arena. Ela terá
que passar por lá mais cedo ou mais tarde!”,
sugeriu Lesaonar.
E assim fizeram. Todos
foram para o lado de fora da Cúpula do Desafio
e aguardaram ante os grandes portões do edifício.
Depois de uma hora de espera e observação,
viram a moça deixar o anfiteatro em meio a multidão.
Puseram-se a seguí-la. O grande número de
pessoas nas ruas fez com que a perseguição
não fosse percebida. A mulher entrou em uma taverna,
de nome “Vinho Negro”. Lesaonar, porém,
advertiu o grupo.
“Não
devemos entrar! Se, por acaso, ela desconfiou de algo,
ao entrarmos na taverna ela terá a certeza de que
foi seguida. Devemos nos posicionar e aguardar a sua saída!”,
disse o rastreador do Subterrâneo!”.
Ficaram então observando.
Kariel e Lesaonar posicionaram-se próximos à
porta principal, enquanto Arthos e Chessintra aguardavam nos
fundos. Onde os dois primeiros estavam, havia uma janela pela
qual era possível observar a mesa onde a sacerdotisa
rebelde havia sentado. Eclavdra não estava só.
Junto com ela havia um drow de cabelos curtos, que usava um
manto cinzento. Conversaram por cerca de quinze minutos, quando
o interlocutor da drow levantou e parecia tomar a direção
da porta.
“Irei segui-lo!”,
disse Kariel a Lesaonar. “Fique aqui para o caso
de Eclavdra sair!”
“É melhor
que eu vá, mago. Sou um rastreador!”, respondeu
o integrante do Fogo Lunar.
“Isto pode lhe
dar vantagem nos ermos, mas eu posso ficar invisível,
o que será útil para segui-lo pela cidade
sem que ele me perceba!”, respondeu o arcano.
“Não
pode tornar-me invisível, como fez antes?”,
perguntou o drow.
“Não
desta vez. Preciso de tempo para outra daquela magia!”,
disse Kariel.
“Está
bem, então! Estarei o aguardando aqui!”,
falou Lesaonar, concordando.
Kariel dirigiu-se rapidamente
para um canto deserto entre as construções e
acionou o seu elmo da invisibilidade. Viu o alvo deixar a
taverna e colocou-se a segui-lo. O drow era astuto e desconfiado:
atravessou ruas, entrou em becos, olhava vez ou outra para
trás. Por fim, deixou o Distrito pelo portão
que existia ao sul, rumo à paisagem deserta. Kariel
o seguiu por mais meia hora, porém acabou perdendo
o rastro em meio à escuridão. Mas o Dileto de
Mystra havia prestado bastante atenção nos caminhos
e saberia guiar Lesaonar até o local, na esperança
de que ele conseguisse rastrear o misterioso indivíduo.
Tornou-se novamente visível e, retornando à
porta da Vinho Negro, reencontrou o drow que o esperava, como
o prometido.
“E então?
Algum resultado?”, quis saber Lesaonar.
“Ele atravessou
um dos portões e seguiu a pé rumo ao sul.
Perdi o rastro, mas posso conduzi-lo ao último
local onde o vi!”, relatou Kariel.
“Será
difícil segui-lo rastreando. De qualquer forma,
não devemos fazer isto agora. Vamos encontrar Arthos
e Chessintra. Eclavdra retornou para a Cúpula.
Eles estão nos esperando nas proximidades da entrada!”.
Seguiram então
os dois na direção da grande arena dos magos
para reencontrar os companheiros.
Antes que
Surja a Desconfiança
O
sortilégio de Kariel fez Limiekki aparecer à
cerca de um quilômetro das muralhas do Distrito
de Trun’Zoyl’Zl, próximo à margem
da estrada que levava aos seus portões. Felizmente,
não havia ninguém nas proximidades e o mateiro
pode seguir calmamente. Penetrou muralha adentro, atravessou
a cidade, percorreu um túnel e uma ponte, e novamente
entrou na Torre da Casa, onde vivia a elite e a Matrona,
identificando-se à medida que encontrava sentinelas.
Subiu escadas e caminhou por alguns corredores. Por fim,
bateu a porta do quarto dos companheiros e os reencontrou.
“Ufa! Bom revê-los...
tenho algumas novidades!”, disse o mateiro aos amigos,
que estavam todos reunidos.
“Onde estão
Arthos e Kariel?”, quis saber de imediato o paladino
Magnus.
“É uma
longa história”, disse o mateiro, sentando-se
em uma das camas. “Eles estão com um grupo
rebelde, chamado Fogo Lunar. São seguidores de
Eilistraee que desejam a convivência pacífica
com as raças da Superfície e que são
contrários a Lolth. Eles nos informaram que existe
um outro grupo, chamado Jalavar Lynnur. São representantes
da antiga Casa Drezz'Lynur. E adivinhe quem foi vista
tempos atrás conversando com um dos membros do
grupo? Eclavdra! Temos que ficar de olho nela!”.
“Acho que é
tarde demais para isto!”, comentou Magnus.
“Como?!”,
estranhou o homem de Forte Zenthil.
“Fomos chamados
pela Matrona, Limiekki. Houve um assassinato. Eclavdra está
supostamente morta e uma sacerdotisa desapareceu”, informou
o clérigo, desanimado. “Porém, considerando
estas informações, a morte de Eclavdra e o sumiço
da tal sacerdotisa parecem-me agora muito convenientes”.
“Sim! Um engodo,
por certo. Ela pode ter matado alguém para simular
a própria morte!”, exclamou o professor Danicus,
em uma dedução. “As pessoas não
costumam suspeitar dos mortos!”.
“Neste caso,
ela já está longe daqui e deve ter levado
consigo a jóia que aciona o portal!”, concluiu,
o mateiro Limiekki.
“Então
temos que sair daqui, e rápido. Se o portal está
destruído e a jóia não está
aqui, não há motivos para nossa permanência.
Somente ficaríamos expostos aos olhos dos Trun’Zoyl’Zl
a troco de nada. O tempo será nosso inimigo”,
disse Magnus, veemente.
“Tá certo,
Magnus, mas como podemos cair fora daqui sem que ninguém
nos veja?”, perguntou Bingo.
“Magia não
irá funcionar! Um mago chamado Sorn, do Fogo Lunar,
disse que não se pode sair daqui usando magia”,
informou Limiekki. “Se Eclavdra sumiu sem que ninguém
a visse, certamente usou alguma passagem secreta”.
“Faz todo sentido!”,
disse o professor Danicus.“Temos acesso irrestrito
ao castelo. Vamos nos aproveitar disto: nos dividiremos
e procuraremos esta passagem. Sugiro começarmos
pelo térreo!”.
A sugestão
foi acatada e os heróis desceram as escadas da
labiríntica torre. Iniciaram a busca pelo santuário
privativo da Casa Trun´Zoyl´Zl. Não
havia ninguém no templo: a Matrona havia decretado
um toque de recolher extensivo às sacerdotisas
de sua Casa, temerosa de algum outro acontecimento funesto.
Os integrantes da Comitiva então se espalharam
e começaram a esquadrinhar as paredes e móveis
do salão principal e de quatro outros cômodos
que a ele se ligavam.
Assim passaram cerca
de uma hora, até que o professor Danicus chamou
seus colegas. Estava em uma espécie de vestiário.
Os aventureiros se reuniram em volta do Harpista veterano.
“O fundo deste
armário é falso. Pude perceber, através
de uma magia, que há uma porta secreta, mas não
pude encontrar o mecanismo que a faz abrir!”, disse
o acadêmico aventureiro.
“Deixe comigo,
professor! Eu procuro!”, ofereceu-se Bingo, confiante
em suas habilidades.
O pequeno meteu-se
no armário, olhou, mexeu e analisou. Pegou um arame
e o enfiou em cada buraco ou fresta. Alguns minutos depois,
anunciou, desanimado, para a platéia de amigos
ansiosos.
“Nada. Não
consegui achar nada!”.
“A porta pode
ser acionada de outro lugar, ou possuir um mecanismo mágico,
ativado por uma palavra específica!”, supôs
Mikhail.
“Bingo... conheço
uma magia que pode tornar seu corpo como fumaça.
Você poderia passar pelas aberturas entre as pedras,
se materializar e tentar encontrar o mecanismo pelo lado
de dentro!”, sugeriu Danicus.
“Hummm... e
se eu não achar? Como é que vou sair?”,
perguntou o pequeno.
“Tem razão...
seria um risco muito grande para você! Dificilmente
você conseguiria!”, disse Limiekki.
“Ei... Também
não é assim! Sabe... posso tentar. Se não
conseguir sair, vou procurar onde a tal passagem vai levar!
Vamos lá, professor!”
“Está
bem, pequeno! Pode desativar os efeitos da magia quando
desejar! Boa sorte!”.
Danicus executou uma
seqüência de gestos e proferiu algumas palavras
estranhas. Aos poucos, o corpo de Bingo ficou etéreo,
gasoso e translúcido, como se fosse um fantasma.
O halfling com aparência de drow então foi
para o fundo falso e começou a se infiltrar pelas
minúsculas aberturas entre as rochas da parede,
até que seu corpo todo desapareceu. Depois de alguns
minutos de silêncio, ouviu-se novamente a voz quase
infantil do companheiro da Comitiva de dentro da passagem.
“Parece que
achei alguma coisa!”.
Ouviu-se um rangido
e o fundo do armário abriu-se, mostrando um corredor
escuro e o halfling triunfante. Ao mesmo tempo, uma pedra
afundou em uma parede próxima. Era a chave da porta
secreta.
“E então?
Vamos?!”, perguntou o pequeno Bingo, que agora voltava
a sua consistência normal.
“Antes pretendo
falar com a Matrona! Vamos avisá-la de nossa suspeita
quanto a Eclavdra!”, sugeriu Mikhail.
“Porque faríamos
isto?”, perguntou Limiekki, sem entender.
“Talvez o nosso
amigo tenha razão!”, disse Danicus a Limiekki.
“Assim toda a guarda ficará de prontidão
e atenta a Eclavdra. Ela não se atreverá a retornar
e se o fizer, será pega e saberemos o seu paradeiro
e o da jóia!”.
“Isto! Depois
iremos embora daqui!”, completou o clérigo
de Mystra. “Magnus e professor Danicus... podem
vir comigo?”.
“Claro!”,
respondeu o paladino do Deus Guardião, acompanhado
de um aceno afirmativo do Harpista veterano.
“E a gente?”,
perguntou Bingo.
“Ficamos no
quarto até vocês nos chamarem. Depois caímos
fora daqui!”, respondeu o mateiro Limiekki.
Acertados, Bingo pulou
de dentro da abertura da parede, indo novamente para o
vestuário do templo. Fez uma leve pressão
o tijolo que havia se movido e ele voltou ao seu lugar,
assim como a parede que ocultava a passagem. Enquanto
Bingo e Limiekki voltavam para o quarto coletivo, Danicus,
Magnus e Mikhail rumavam para a sala real da Casa Trun´Zoyl´Zl.
Os três últimos
alcançaram a pesada porta do salão, que
estava guardada por cerca de dez soldados, muito bem armados,
número muito superior ao que havia quando chegaram,
o que refletia o tamanho das preocupações
da líder da casa drow. Mikhail pediu uma audiência
e um dos sentinelas entrou na sala. Em seguida, retornou,
abrindo-lhes passagem. Viram novamente a Matrona Jesthflett
sentada ao trono. Com ela estavam a filha Baltana, o mago
da Casa, Houndaer e Jeggred, o guerreiro Mestre das Armas.
“Narcélia
Millithor! Temos fé em Lolth de que a senhora traga
algo de novo sobre este momento terrível que estamos
vivendo!”, disse a líder.
“Senhora Matrona...”,
iniciou Mikhail, após inclinar-se respeitosamente.
“Trago suspeitas, porém ainda não
são provas!”.
“Digam-me suas
suspeitas, então”, continuou a mulher.
“Acreditamos
que sua filha Eclavdra forjou a própria morte,
colocando o corpo da sacerdotisa desaparecida para encobrir
o seu rastro. Provavelmente, também deve ter roubado
a jóia!”.
Um certo silêncio
se fez. Jesthfleet olhou para Houndaer, mas foi Baltana
que se manifestou.
“Eles devem
ter razão, minha mãe! Ela era uma forasteira!
Nós, suas filhas verdadeiras, não teríamos
porque matá-la e nem envergonhar nossa Casa!”.
“Jeggred! Eclavdra
passou pelos sentinelas da Fortaleza ou os da ponte?”,
perguntou a líder.
“Não,
minha senhora!”, respondeu o guerreiro. “Se
houvesse feito, teria sido reportado!”.
“Então
ela deve estar escondida em algum lugar por aqui. Ordeno
uma busca imediata em todos os cômodos. Leve os
Millithor consigo! Se encontrar Eclavdra, tragam-na imediatamente
a minha presença!”.
Os três agentes
secretos da Comitiva seguiram Jeggred e iniciaram uma
infrutífera busca que durou cerca de duas horas.
Se infrutífera para encontrar a drow assassina,
útil para conhecer os cômodos da Fortaleza.
Entraram em todos os lugares, exceto os aposentos privativos
da Matrona, de suas filhas sacerdotisas e do Mago da Casa.
Estes foram vistoriados somente pelos militares. Retornaram
para a sala do trono e à presença da líder
dos Trun´Zoyl´Zl.
“Não
encontraram nada?!”, disse Jesthfleet Trun´Zoyl´Zl.
“Esta situação está fora de
controle. Faremos uma reunião no próximo
ciclo para discutir ações!”.
“Até
lá, continuaremos investigando!”, disse Mikhail,
na pele da sacerdotisa Narcélia Millithor.
Depois de uma vênia,
deixaram a sala. Enquanto percorriam os corredores em
direção aos quartos, os três colegas
conversavam em sussurros.
“Não
acho conveniente irmos para este reunião!”,
colocou Magnus.
“Não
iremos. Acho que devemos ir embora imediatamente!”,
colocou o professor Danicus.
“Concordo! Vamos
pegar nossas coisas e chamar os outros! Sairemos daqui
agora!”, afirmou Mikhail.
Os três chegaram
no quarto, conversaram rapidamente com os colegas e, juntos,
começaram a arrumar a bagagem para a fuga. Preocupado,
Bingo colocou uma questão, enquanto olhava para
sua mochila.
“Chamaremos
atenção andando com estas mochilas e, sem
querer ofender, com Iskapoft nestes corredores!”
“Bem... posso
nos transportar por magia!”, disse Danicus.
“Professor...
mas o mago do Fogo Lunar disse que não há
como fugir da fortaleza usando feitiços!”,
observou Limiekki.
“Não
vamos sair, vamos somente até o templo, aqui dentro
mesmo. De lá continuaremos com o plano da passagem
secreta! Se o local não for protegido com uma contingência
que anule o transporte mágico, pode funcionar!”.
“Ora! Então
vamos tentar!”, disse Magnus paladino.
O grupo se colocou
arrumado a frente do arcano Harpista. Danicus gesticulou
e proferiu palavras arcanas e logo em seguida, Magnus,
Bingo e Limiekki desapareceram. O professor repetiu o
ritual e, desta vez, ele, Mikhail e Iskapoft sumiram do
quarto, para aparecerem ao lado de seus companheiros,
no quarto-vestiário, anexo ao templo particular
da elite da Casa Trun´Zoyl´Zl. Bingo pressionou
o mesmo tijolo de antes e a passagem abriu-se. Limiekki
acendeu uma das lanternas que carregavam e foi á
frente. Quando entraram, a porta secreta novamente fechou-se,
Mikhail, que seguia por último, por precaução,
pronunciou uma prece especial a Deusa da Magia e o vão
da porta secreta preencheu-se com rocha, selando o caminho.
O clérigo de Mystra, antes de prosseguir com os
seus companheiros rumo ao desconhecido, ainda disse ao
vento algumas palavras.
“Kariel! Estamos
fugindo da fortaleza Trun´Zoyl´Zl!”
Preparando-se
para a Tocaia
Chessintra,
Lesaonar, Kariel e Arthos estavam novamente juntos no
portão de entrada da Cúpula dos Desafios.
Eclavdra não havia saído e ainda aguardavam,
porém nem todos o faziam pacientemente. Lesaonar,
visivelmente apreensivo, manifestou-se.
“Acho que estamos
perdendo tempo aqui. Devíamos estar no encalço
do contato de Eclavdra. Ele poderia nos levar até
o esconderijo do Jalavar Lynnur. Estamos desperdiçando
uma oportunidade!”.
“Mas como vamos
alcançá-lo? Ele está vários
minutos à frente e nem sabemos para onde ele foi!”,
perguntou Arthos.
“Meu amigo tem
razão. Até poderia transportar-nos através
de uma magia, mas para onde conduziria o encanto?”,
colocou Kariel.
“Para que direção
disse mesmo que o drow que conversava com Eclavdra foi,
Kariel?”, perguntou Chessintra.
“Ele rumou ao
sul, além das muralhas!”, respondeu o mago.
“Foi naquela
direção que perdi o rastro de um agente
do Jalavar Lynnur, uma certa vez, depois de segui-lo por
uma hora e meia. Se puder nos teletransportar este local,
talvez possamos chegar à frente dele e interceptá-lo”.
“Precisarei
de alguma referência de distância e direção
para tentar o teletransporte, mas advirto que poderá
ser perigoso. As cavernas são muito irregulares.
Se não conseguirmos atingir o local correto, poderemos
surgir em um local distante de onde deveríamos
aparecer, ou acabar em uma área dentro da rocha
ou no ar acima delas”, avisou o arcano da Comitiva.
“Estou disposto
a correr o risco. Precisamos aproveitar esta chance”,
respondeu Lesaonar.
Os aventureiros ponderaram
por alguns instantes e decidiram sobre a solução
de Chessintra e Lesaonar e concordaram em adotá-la.
Deixaram as cercanias da Cúpula, caminharam pelas
ruas e, por fim, deixaram o Distrito pelo seu portão
mais ao sul. Posicionaram-se em um local deserto e Chessintra
começou a dar instruções sobre o
local onde acreditava que o agente do Jalavar Lynnur poderia
ser interceptado. Disse ao mago a distância aproximada,
a direção, a aparência das rochas
e a altura aproximada da caverna. Kariel concentrou-se
e começou o ritual mágico de palavras e
gestos. Desapareceu com seus três companheiros.
Porém, quando a magia os deixou, não estavam
em terra firme, mas sim a cerca de quatro metros do solo.
Os espiões caíram do ar, chocando-se pesadamente
nas rochas.
“Vocês
estão bem?”, perguntou Lesaonar, levemente
machucado, erguendo-se do solo com dificuldade.
“Ai... doeu
um pouco, mas estou bem!”, disse Arthos, ajeitando-se
e sacudindo a poeira do traje requintado.
“Estamos no
lugar certo, Chessintra?”, perguntou Kariel, que
se levantou e comandou que sua espada mágica brilhasse
levemente, fornecendo um pouco de luz ao grupo.
“Reconheço
aquela estalactite!”, disse a mulher, que havia
ganhado algumas escoriações na perna durante
a queda, mostrando uma gigantesca formação
calcárea branca mais à frente, cuja aparência
curiosa em muito lembrava um gigantesco favo de mel. “Somente
precisamos andar alguns metros!”.
“Um momento!”,
falou Kariel com um tom de urgência na voz. “Acabo
de ouvir em minha mente um recado: Nossos companheiros
acabaram de fugir da Fortaleza Trun´Zoyl´Zl”.
“Eles estão
sendo perseguidos? Os Trun´Zoyl´Zl os descobriram,
Kariel?”, questionou Arthos, preocupado.
“Não
disseram. De qualquer forma, teremos que aguardar outro
contato! Espero em Mystra que não tenhamos, pelo
menos por agora, também a Casa Trun´Zoyl´Zl
em nosso encalço”, desejou o elfo arcano
da Comitiva da Fé.
“Eilistraee
abençoe suas palavras, mago!”, completou
Chessintra.
“Companheiros.”,
disse Lesaonar, voltando a atenção para
a tarefa que se apresentava no momento.“Irei espreitar
à frente. Quero que fiquem a uma boa distância
de mim, para evitar qualquer descuido que possa prejudicar
a perseguição”.
“Está
bem! Você é o rastreador! Ficaremos a uns
cinqüenta metros de distância!”, sugeriu
Chessintra.
“É suficiente,
Chess. Sejam silenciosos!”, disse o drow colocando
o dedo indicador nos lábios. Em seguida, partiu
na direção da estalactite apontada pela
companheira de luta.
Assim permaneceu a Comitiva
da Fé. Um grupo aguardava, em meio às rochas
e o ar úmido e frio de uma gigantesca câmara
cavernosa, a passagem do misterioso drow do Jalavar Lynnur,
enquanto o outro se embrenhava em uma passagem incomodamente
estreita e irregular, deixando o território de uma
das mais poderosas Casas drows do Subterrâneo, em busca
de guarida em algum lugar da perigosa cidade de Undrek´Thoz.
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