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Por Ivan Lira

Os Últimos Dias de Glória - Contos

 


 

O Dom do Lich

Prólogo

     Um homem de aproximadamente cinqüenta anos de idade, refletia, sentado em sua confortável poltrona, sobre as descobertas recentes que o fariam alcançar seu grande objetivo, a vida eterna.  Cinqüenta, oitenta ou até mesmo cem anos não era um período suficiente para saciar a fome pelo conhecimento e pelo poder, há muito a descobrir e explorar.  Sabia ele que elfos vivem por bastante tempo, possuem uma grande familiaridade com a magia, a coisa mais bela de todas, não era justo que apenas eles tivessem o tempo adequado para gozar de tão intrigante energia do Universo.  Isso tudo pensava Celerum, o negro, que se encontrava quase hipnotizado vislumbrando a chuva através de sua janela que caia forte em Luskan, enquanto era aquecido pelo fogo de sua lareira.  Celerum desejava não só viver para sempre como um morto-vivo, mas esperava também suplantar o poder de seus colegas arcanos da guilda de magos de Luskan, estes que sempre duvidaram de suas capacidades.  Só que o dom do lich era agora o trunfo dele, assim poderia chegar a um estágio de poder que só poucos da guilda chegaram, tornar-se um arquimago.

     Celerum, calmamente se levanta e vai até um cômodo particular anexado ao seu quarto. É um lugar pequeno e quadrado, ornamentado com pinturas e esculturas que representam a essência da necromancia.  Todas as imagens, principalmente uma estátua perto da parede, se referiam ao antigo deus Myrkul.

     Celerum se ajoelha perante um pequeno altar e conversa com seu deus.

     “Ó deus da morte, permita que meu desejo se realize, que não dê nada errado na transformação.  E dê-me um sinal de que está me ouvindo, não acredito nos hereges que falam de sua destruição por um novo deus. A morte é um prazer só seu, ninguém tem o direito de possuí-la, é uma graça só sua!”, o mago baixa a cabeça e quando começava uma oração foi interrompido por seu lacaio.

     “Mestre!”
      “O que é, Celifan?”
      “Os mercenários foram bem sucedidos na missão, eles trouxeram a vítima para nós.”
      “Muito bem meu servo. Já pagou os homens?”
      “Sim, como o combinado.”
      “Ótimo, daqui a alguns dias iniciaremos o ritual.”  E Celerum voltou-se a sua oração, agora com mais tranqüilidade.

Decisões a serem tomadas

     Muito andaram os sobreviventes do labirinto da morte até encontrarem uma pequena caravana que passaria por Targos.  Magnus, o paladino de Helm; Kinuk, ancião de Uthgar; Bingo Playamundo, o halfling; Lua, a elfa e o pequeno Simis acompanharam então os viajantes, pois teriam de deixar o garoto, que havia fugido de casa para seguir os aventureiros na empreitada de destruir o lich Damien Morienus.  Foram todos dentro de uma carroça com feno.  No seu interior, Magnus se lembrava dos seus companheiros elfos que adentraram o portal para o Abismo, queria estar com eles, na vida e na morte.  Kinuk o interrompeu dizendo:

“Hum! Paladino muito calado, não dever lamentar decisão de amigos.”
“Mas..  Eles podem estar presos por aqueles demônios, assim como eu fui encarcerado.  Ou podem estar... mortos..” Comentou o paladino.
“Não, não pode ser, depois de tudo que fizeram.  Não é justo.” Disse Lua revoltada.
“Justiça deuses saber, nós obedecer.” Continuou Kinuk.
“Talvez eu possa encontrá-los, é só achar o portal perto de Targos...” Opinou Magnus
“Não! Essa batalha não é de Paladino! Paladino ainda ter muitas guerras, muito mal ainda destruir.” Kinuk falou.
“Sim...Celerum.  A hora dele vai chegar.” Terminou Magnus.

     A caravana, depois de alguns dias chegou a Targos, Magnus pagou os viajantes com algumas peças de ouro e agradeceu a ajuda.  Todos, bastante agasalhados com peles devido ao grande frio, se preparavam para caminhar até a taverna de Kalas Invernus, até que Magnus disse:

     “Esperem! Não precisamos ir todos a taverna.  Apenas Kinuk deve ir devolver o menino Simis.”
      “Por quê? É por causa de Taires, Magnus?” Perguntou Bingo.
      “Sim, é melhor que ela não me veja.”

Kinuk foi até a taverna com o menino, enquanto Lua argüia o paladino.

     “Quem é Taires, Magnus? Por quê não quer vê-la?”
      “É uma moça que trabalha na taverna, parece que gosta de mim, mas não quero fazê-la sofrer.  Ela merece alguém que fique sempre com ela e não um homem que a qualquer momento pode ser morto.” Explicou o seguidor de Helm.
      “Ora, mas que bobagem Magnus.  O amor é assim mesmo, não se deve pensar assim.  Mesmo que ela o ame por apenas um dia, esse dia jamais será esquecido.”  Disse Lua, ainda abalada pela partida de Villayette, e ainda mais por saber que nunca terá o coração daquele elfo
      “Claro que não é assim!  Eu não sou o único homem do mundo, ela pode encontrar outra pessoa.”
      “Bom, você é quem sabe.  Espero que não se arrependa disso.” Disse Lua.

     Após Simis voltar para casa e receber alguns tabefes do pai, os aventureiros decidem seguir até a casa de Regis, o halfling e primeiro cidadão no Bosque Solitário.  Magnus esperava ter a ajuda de Drizzt para destruir Celerum.  Compraram uma carroça e seguiram viagem.  Demorou apenas três dias e chegaram batendo na porta de Regis.

     “Vocês de novo! Espero que tenham novidades!” Disse Regis abrindo a porta.

Todos adentraram e se acomodaram, Owni, o halfling amigo de Bingo logo diz:

     “Bingo, onde esteve?  Faz tempo que você sumiu.”
      “Estávamos batalhando contra seres do mal.  Aqueles demônios voltaram a nos incomodar, mas eu e Magnus demos uma lição neles.  Não foi Magnus?”  E o paladino apenas acenou sorrindo, mas logo sua seriedade voltou dizendo:
      “Regis, onde está Drizzt? Quero falar com ele sobre Celerum, o negro.”
      “Ele está resolvendo assuntos particulares, duvido que volta tão cedo.  Porém, ele me disse que você o confundiu com um tal de Nandro, pertencente à casa Do’Urden.  Então fiz uma pequena investigação e descobri isso...” Disse Regis apontando para o outro lado da sala onde uma figura se aproximou sem que ninguém percebesse.  Era um drow com uma armadura de couro envolto em peles de lobo com um sorriso amigável.
      “Nandro! É você mesmo?” Perguntou Magnus surpreso.
      “Como vai paladino, vejo que sua armadura não é mais a mesma, pois precisa de um polimento.” Respondeu Nandro apertando a mão de Magnus e continuou:
     “Como sabia que eu estava aqui e vivo?”
      “Kelta me disse que usou um encantamento para procurá-lo e o viu junto com dois anões numa colina de neve.  E quando vi Drizzt pensei que era você.”

     Nandro, há alguns anos atrás, encontrou o elfo selvagem Feargal Rhal e o mago Kelta Westingale quando chegaram em Menzoberranzan.  Pediu a eles que o ajudasse no resgate de sua matrona da casa Do’Urden.  Terminada a missão, Nandro abandonou a cidade drow, pois sua filosofia era bastante diferente dos de sua raça.  Acompanhando seus amigos da superfície, ele se perdeu do grupo quando tentaram destruir o líder dos Zhentarim, Manshoon.  Desde então seguiu para o Vale do Vento Gélido onde vive com alguns anões e bárbaros.

     “Quem são seus amigos?” Perguntou o drow.
     “Estes são Bingo, Lua, Kinuk e vejo que já conhece Owni.  Regis, você já conhecia Nandro?”
      “Não, mas eu ouvi uma história de alguém parecido com Drizzt no oeste do Vale do Vento Gélido e pedi para que umas pessoas investigassem para mim e encontraram ele.  Bom, meu estômago está começando a roncar, vamos preparar algo para comermos.” Convidou Regis alisando a barriga.

     Durante a refeição Magnus contou toda a história a Regis, Nandro e Owni.  Anunciou sua pretensão em ir à Luskan para destruir Celerum, quem para o paladino era o maior responsável pela morte da mulher de Villayette, Eleannor, e os bárbaros Raf e Dell, e assim impedir que ele se transformasse num lich como Damien Morienus.

O Retorno de Kariel

     Três dias se passaram quando os cansados aventureiros chegaram na casa do primeiro cidadão Regis, até que alguém bateu à porta.  Regis, como de costume foi atender e ao abrir percebeu uma pessoa familiar.

     “Você está vivo! Parabéns, seus amigos ficarão felizes ao vê-lo.” Disse o primeiro cidadão ao elfo Kariel que se apresentava bastante abatido e cansado.  Logo os amigos vieram recebê-lo.
      “Kariel! Que bom que está vivo! Onde estão Feargal e Villayette?” Perguntou Magnus esbaforido, o que não era de seu costume.  Entretanto, para surpresa de todos, Kariel não respondeu nada, apenas fez um olhar cadavérico.
      “Por favor Kariel diga alguma coisa! Por favor!” Implorava Lua desesperada.  Mas o resultado foi o mesmo, apenas silêncio e tristeza ficaram no ar.  Magnus, vendo a angústia de Lua, a abraçou confortando-a.

     Regis pegou na mão de Kariel e o conduziu a uma cama e o lá deixou.  O elfo é um escolhido de Mystra e nesta condição o seu corpo não precisa do sono para se recompor, porém sua mente necessitou disso mais do que nunca.  Portanto deitou-se numa cama confortavelmente preparada por Regis e ali adormeceu.

     A visão de uma flor nos jardins de Kand era algo especial para Kariel, mas era a hora de partir, seguir outros rumos, andar com as próprias pernas.  Uma viagem árdua foi feita, horizontes foram ultrapassados, um lugar subterrâneo foi encontrado, que por pouco tempo foi sua prisão.  E da liberdade veio a amizade, a vida entre os humanos.  Muita alegria e muita tristeza viveu o elfo durante algum tempo. Mas a morte persegue aqueles que andam a desafiar os perigos e, no final ele viu seu tio e grande amigo ser morto covardemente por um demônio. A dor era insuportável de conceber.  Quando tudo parecia terminar num pesadelo, surgiu a imagem de Ênia e seu filho Zender, juntos, felizes.  Ênia, tão bela e graciosa. Amou-a sem se importar com conceitos pequenos de diferenças de raças, mas seus destinos se separaram e ela agora pertence à Mãe Chauntea.  O que poderia ser agonia se tornou tranqüilidade, então Kariel acordou após ter sonhado sobre todos os caminhos que trilhou ciente de que muitas coisas não foram em vão.  Abriu os olhos e viu apenas uma pequena claridade através da janela,. Sua visão élfica logo percebeu que era o reflexo das flores iluminadas pelo Sol.  O inverno havia cessado, calou-se esperando o momento certo de voltar no próximo ano.  Aquele foi um novo dia.

     O elfo de cabelos azuis levantou-se e caminhou até a sala. Nela, Magnus dialogava em uma mesa com Lua, Kinuk compartilhava seu fumo com Regis, Bingo mostrava sua habilidade com a espada para Nandro e Owni apenas olhava sorrindo com um pedaço de bolo nas mãos.  Todos perceberam sua aproximação. Queriam saber mais a respeito do elfo e dos companheiros que deixaram, mas hesitaram por um momento em questioná-lo, até que Lua irrompeu o silêncio.

     “Kariel? Você está bem?”
      “Sim, estou bem.” Respondeu com desânimo.
      “Sente-se conosco, coma um pouco.  Depois podemos conversar se quiser.” Convidou Magnus.
      “Não há problema, eu posso falar agora.”
      “Nós queríamos apenas confirmar o que aconteceu com os outros.  Seu silêncio disse quase tudo.”
      “Sim, é isso mesmo, estão mortos.  Mortos por Graz’zt, mas o sacrifício deles impediu que as hostes demoníacas invadissem nosso plano”

     Lua, que já havia chorado bastante desde o retorno de Kariel, apenas ficou cabisbaixa engolindo a realidade.

     “Ah sim! Gostaria de dizer mais alguma coisa.” Disse o elfo.
      “Sim, o que é?” Perguntou Magnus.
      “Vamos destruir Celerum. Ele pagará.” Decretou o Escolhido de Mystra.

     O paladino deu apenas um sorriso de satisfação.

A Guilda de Magos

     A carruagem de Celerum ia sem pressa, passou pelas ruas molhadas de Luskan e chegou numa torre muito bem protegida.  Os guardas, já sabendo de quem se tratava, não pestanejaram e abriram os portões da pequena fortaleza que circundava a torre.  No pátio, Celifan abriu a porta da carruagem onde dela desceu seu mestre, Celerum.  Adentrou os portões internos chegando a um grande salão principal. Deu apenas uma breve olhada no ambiente e subiu as escadas para os andares superiores.  Celerum estava na Torre de Hospedagem Arcana, quartel-general de uma grande gulida de magos de Luskan.

     Após dois andares, lá estava um salão com muitas estantes e móveis adornados.  Sentado neles estavam dois homens, que conversavam animadamente tomando uma xícara de chá.

     Com a aproximação de Celerum eles disseram:

     “Celerum, pensei que estivesse ocupado estudando artes arcanas.” Disse o mais velho deles.
      “É, você nos disse antes que em breve teríamos novidades sobre suas descobertas.” Perguntou o outro.

     O mais velho dos dois é Arklem Greeth, um homem de aparência estranha, unhas grandes, pele bastante enrugada e um olhar macabro.  Não andava como um velho curvado, mas seu aspecto lhe envelhecia bastante.  O outro é conhecido por Eldeluc, um nobre com cerca de quarenta e cinco anos e cabelos bem cortados, e vestido em roupas finíssimas.  Celerum, tentado disfarçar a insatisfação em vê-los, responde as ironias.

     “Meus caros amigos, estudar a arte é um privilégio que deve ser degustado como um banquete de fim de semana e não como um pão de todos os dias.”  Sentou-se junto com eles numa cadeira bastante confortável.
     Arklem deu duas palmas e logo surgiu um criado. “Traga um chá para Celerum!” e prosseguiu “Celerum, você sumiu por uns tempos, não me diga que estava procurando os segredos do antigo Damien Morienus?”
     “Não, aquela pesquisa foi bobagem minha, é um conto de fadas.  Viajei a negócios, somente isso.” Mentiu Celerum.
     “Ora, não me engane Celerum.  Você não perde tempo quando o assunto é a busca de segredos milenares.  Lembra daquela vez que você tentou nos convencer a realizar uma grande expedição à Anauroch para procurar os segredos de Karsus, o arquimago de Netheril?” Perguntou Eldeluc.
     “Sim, sim, mas aqueles eram outros tempos.  Não tenho mais tanta energia como antes, o vigor está abandonando meu corpo.  Mas, diga.  Era uma boa idéia, não era?” Respondeu o mago sorrindo.

     Todos gargalharam como velhos amigos, tomaram mais um pouco de chá.  Relembraram sobre outros magos como Akar Kessel e Dendybar, antigo mestre de Celerum.  Ambos aniquilados pela própria ambição.  Duas horas depois, Celerum já um pouco cansado, levanta-se despedindo dos companheiros de guilda.  No entanto, ao voltar à sua carruagem, ele pensa “Idiotas, pensam que podem zombar de mim assim.  Usarei meu trunfo, terei a vida eterna, e todos eles irão pagar.”

     Chegando em sua morada, Celerum dirige-se impaciente para os níveis inferiores do seu pequeno castelo.  Após seguir alguns corredores ele chega num calabouço e pára frente a ele.  Dentro da prisão estava um elfo jovem, bastante machucado, faminto e cansado.

     “Como se chama rapaz?”  Pergunta Celerum.
      “Raynor.  Por que me prende? Não lhe fiz nada! Solte-me!”
      “Infelizmente não posso meu jovem, você será essencial para alcançar meu objetivo.  Mas não se preocupe, não tenho raiva de você.  Quando isso acabar você estará entre os seus deuses élficos, portanto não há o que temer.”
      “Não! Seu maníaco! Me solte!”
     
Celerum então deu as costas friamente e subiu para outros andares.

De volta à Luskan

     Enquanto seguiam viagem com uma carroça , Kariel narrou tudo o que aconteceu no Abismo.  Contou como conseguiram quebrar as chaves mágicas que poderiam abrir uma fenda entre o Plano Material e o Abismo.  Como um exército de Graz’zt chegara de repente, e como o próprio lorde abissal decepou as cabeças de Elder e Feargal.  Depois o harpista Caravan o salvou da morte certa, levando-o ao portal que dava para o Vale do Vento Gélido.

     Todos ouviram a triste história de Kariel e ficaram silenciosos por um tempo, mas se mantiveram obstinados a seguir para Luskan, lar daquele que enganou a Comitva e levou alguns de seus companheiros para a morte, entre eles, Eleannor, a esposa do elfo Villayette.

     Magnus ia guiando os cavalos, sempre pensativo e vigilante, durante o percurso refletia sobre sua missão.  Lembrava-se do dia em que resolveu se entregar a filosofia de Helm Guardião.  Seu pai fora um paladino, morreu em combate.  Sua família foi para o sul, na Sembia.  Apenas ele queria preservar a memória do pai, este que lhe ensinou tudo sobre caráter, humildade, perseverança e o auxílio aos necessitados.  Se os reis e nobres não defendiam o povo, quem poderia fazê-lo senão alguém obstinado a manter a paz e a tranqüilidade, mesmo que a própria vida corresse risco?  Lembrou também dos seus amigos, mortos no Abismo.  Será que poderia perdoar Feargal? Seu próprio assassino? A confusão apenas aumentava na cabeça do paladino, estava certo de uma coisa, Celerum deveria morrer.

     Dias se passaram, o inverno já estava quase ausente, de muito longe era possível avistar Luskan.  Lugar pérfido, governado por piratas que usurparam o controle da cidade.  Magnus guiou os cavalos para fora da estrada e dirigiu-se a uma clareira um pouco escondida.

     “Magnus! Por que paramos aqui? Não vamos para Luskan?”  Perguntou o pequeno Bingo.
      “Vamos sim, alguns irão a pé.  Não podemos ir assim abertamente, teremos de usar estes trajes escuros dados por Regis para não chamar suspeitas.”
      “Por enquanto, só eu, Kariel e Kinuk devem ir à cidade.  Iremos fazer uma investigação.” Continuou Magnus.
      “Mas eu também quero ir Magnus!” Insistiu Bingo.
      “Não pequenino, faça companhia a Lua e Nandro enquanto investigamos. Voltaremos para chamar vocês.”

     Eles caminharam em direção a cidade, e Magnus perguntou:

     “Kariel, mesmo com estas roupas os outros vão perceber que é um elfo, e não há nenhum em Luskan.  Como fará?”
     “Não há problema, eu cuido disso.”  Kariel então disse algumas palavras mágicas e mudou sua aparência para a de um humano de mesma altura.

     Magnus trajou-se como um mercenário, era repugnante para ele esconder o símbolo de Helm, mas se não o fizesse seria certamente caçado por discípulos de Bane.  Kinuk apenas colocou uma capa, Kariel trajou-se como um simples padre, poderia ser confundido com qualquer um.

     Chegando na cidade, os três aventureiros seguiram para uma taverna local, era bastante movimentada àquela hora do dia.  Lá dentro havia balbúrdia, beberrões para todos os lados, canecas sendo levantadas, prostitutas sentadas nos colos dos mais bizarros homens.  Os três, com muita dificuldade, conseguiram uma mesa.

     “E agora? O que poderemos fazer?” Perguntou Magnus.
      “Acho que devemos nos dividir.” Concluiu Kariel.

      Kinuk continuou na mesa e pediu vinho, Magnus, meio sem jeito, foi ao balcão e começou a beber,  esperando por algo.  Kariel não quis perder tempo, foi a um cômodo da taverna sem que ninguém notasse e usou um encantamento para ficar invisível.  Misturou-se aos demais com cuidado para não se esbarrar em alguém.

O paladino ouvia uma conversa de alguns homens que diziam:

     “Lembram de Ervak, o clérigo de Xvim?  O danado morreu, parece que enfrentou um monstro, tentou usar o poder de seu deus, mas não conseguiu.  Que coisa estranha.”
      “Mas você não está sabendo? Os sacerdotes de Xvim perderam seus poderes, ninguém sabe porque.”  Revelou o taverneiro.
      “Será que tem algo a ver com o retorno de Bane? Dizem que Xvim é filho dele.”
      “Sei não, se fosse realmente filho de Bane, ele não desapareceria fácil assim.  Bane é o mais poderoso dos deuses, não há ninguém como ele.  Eu amo Bane e nunca vou mudar de idéia.”  Confessou o taverneiro.

     Magnus, ao mesmo tempo achava hilário e nojento o debate, não sabiam eles que uma das pessoas responsáveis pela morte de Xvim estava do lado deles, escutando a conversa.  O paladino aproximou-se e disse:

     “Algum de vocês conhece Peddy  Winckle?  Soube que ele quer contratar mercenários.”
      “Amigo, você chegou tarde.  Celifan já contratou há muito tempo um pessoal aí. Por sinal o líder deles está bebendo ali no canto.  Mas se eu fosse você eu deixava ele quieto, pois o homem não gosta que o incomodem.”
      “Então procurarei outro serviço.”
      “Espere, talvez queira participar de uns saques a alguns navios.  O pessoal tá solicitando...”
      “Não, talvez outro dia.”
      “Você é que sabe.”

O paladino voltou para a mesa e continuou a beber junto com Kinuk.

     “Paladino conseguiu resultado?  Parece preocupado.” Perguntou o xamã.
      “Sim, parece que aquele homem ali sabe de algo.  Mas vou ter que dar um jeito de falar com ele.”
      “Eu posso descobrir alguma coisa.”  Disse uma voz.
      “O quê? Quem é?” Surpreendeu-se Magnus.
      “Sou eu! Kariel.  Estou invisível, mas escutei o que você disse.  Vou me aproximar daquele homem para ver se consigo algo.”

      O elfo, invisível e esguio, aproximou-se vagarosamente do mercenário esquivando-se de algumas pessoas.  Foi para o lado da mesa numa posição em que ninguém trafegava e ali ficou.  Ouviu um monte de baboseiras sobre ficarem ricos e comprar um navio para saquear outros.  O líder dos homens era Markhet, um ladrão do norte selvagem.  Tinha o hábito de saquear igrejas como as de Tempus e Talona, junto com seu bando.  Eles fazem alguns comentários suspeitos.

     “Chefe, o que Celifan vai fazer com aquele elfo?”
      “Não sei, dizem tem gente que os devoram. Sei lá, pega parte do corpo deles pra fazer poções mágicas ou coisa parecida.  Eu não me importo, já recebi a grana.”

     Kariel escuta com indignação e tem que se esforçar para controlar sua raiva. Após ouvir a conversa, retorna para seus companheiros.

     “Amigos, parece que Celerum andou seqüestrando elfos durante nossa ausência, temos que fazer algo.” Disse Kariel.
      “Vamos esperar o tal de Markhet sair e então o pegamos lá fora.”
      “Seria imprudente fazer isso, poderíamos chamar a atenção.  Não se esqueça que viemos aqui por Celerum e isto poderia arriscar nossos disfarces.”
      “Você acha que aquele homem deve ficar impune? Mesmo depois do que ele fez.”
      “Não, de jeito algum... Tudo bem, mas vou dar um jeito para facilitar as coisas.”  Concordou finalmente Kariel sabendo da teimosia de Magnus.

     Três horas se passaram, Markhet e seu bando saíram da taverna com algumas mulheres.  Os heróis, ao longe, observaram.  Kariel então teve uma idéia, realizou outros feitiços de invisibilidade em Magnus e Kinuk e então seguiram os malfeitores.  Dobraram algumas esquinas e quando chegaram a uma rua deserta, disseram:

     “Ei vocês! Vim em nome de Tempus, vocês pagarão por ter me roubado.” Disse uma voz.
      “O quê! O que é isso? Quem está falando.”  Perguntou um dos homens assustado.
      “A hora da vingança chegou! Vocês estão condenados.”

     As rameiras que estavam com eles postaram-se a correr assustadas, os homens ficaram apavorados sem saber o que fazer, e Markhet sacou uma espada e olhou para todos os lados.

     Os aventureiros cercaram o bando, Kinuk então, aproveitando a vantagem de estar invisível, desferiu um poderoso golpe com seu machado ceifando a vida de um e ferindo outro.  Magnus e Kariel, propositalmente voltam a ficar visíveis e combatem contra os bandidos.

     “Eu sabia! Era um truque!” Gritou Markhet.
      Kinuk lutava com seu oponente, Kariel trocou alguns golpes com sua espada Goliath dada por seu tio Elder, e Magnus investia contra Markhet que tinha dificuldades para defender os golpes do paladino.  Kariel e Kinuk derrotaram facilmente seus adversários. O elfo não matara o seu para obter respostas, no entanto, Magnus não teve a mesma clemência: deu um balanço de cima para baixo arrancando o braço direito de Markhet, depois decepou o esquerdo e com um giro, abriu uma vala na barriga fazendo todas as suas tripas saírem.  Terminado o combate eles argüiram o último bandido.

     “Não, por favor, foi idéia de Markhet! E..eu disse p.. pra ele não roubar as igrejas.”  Balbuciava o homem.
      “Não queremos saber disso.  Vocês foram contratados por um homem chamado Celifan? Fale! Ou vai ter um destino pior do que o seu chefe!” Ameaçou Magnus.
      “Não, não.  Tudo bem, e.. eu falo o que vocês quiserem.  Sim, Celifan contratou a gente para seqüestrar um elfo. Ele não disse o porque ou o que faria com o infeliz.  Há dois dias entregamos o homem-fada e não ouvimos mais falar dele.”  Confessou o bandido.
      “Sabe aonde é que ele vive?”
      “Se.. se.. sei sim.”

     Após algum tempo caminhando, o bandido os levou para a rua onde Celerum habitava, correspondendo a o que Bingo havia descrito quando seguiu Celifan e Laurin anteriormente.  Perceberam que era uma pequena torre, não seria fácil uma invasão.  Kariel então libertou o malfeitor.

     “Se eu ver você fazendo coisas erradas por aí, vou atirar sua carcaça aos cães.”  Disse Magnus amedrontando o homem, que se pôs a correr como um louco.
      “Celerum pode tá fazendo coisa ruim com elfo.  A gente impedir.”  Lembrou Kinuk.
      “Sim, temos que deter o miserável.”
      “Esperem.  Não podemos fazer isso hoje. Tenho que preparar os encantamentos adequados.” Advertiu Kariel.
      “Mas e se Celerum matar o elfo antes?” Perguntou o paladino.
      “Celerum é poderoso. De nada adiantará tentarmos o resgate sem estarmos preparados, senão corremos o risco dele nos matar junto com seu prisioneiro.”
      “Vamos amanhã então, e Kinuk poderá orar para Uthgar também.” Finalizou Magnus de Helm.

Chegou a Hora

     Era um novo dia, uma nova noite.  Resolveram atacar sob o luar com receio de que alguém pudesse ver Nandro.  Mesmo os crentes em deuses malignos não gostam dos drows.  Foram eles, com todo o cuidado, pegando um atalho pela cidade, passando por vários becos.  Magnus seguia seguro do que ia fazer, Kinuk tranqüilo, Kariel preparado, Nandro atento a tudo, Lua receosa e Bingo com medo.  Tinham feito um novo acampamento mais perto da cidade e prepararam uma rota de fuga, caso houvesse problemas adicionais.

     Pularam o muro, se esconderam no pátio e esperaram Bingo e Kariel, que estava invisível, se certificarem que não havia ninguém por perto e então abriram o portão.  Todos entraram.  Era uma torre bela, e rica em decorações, bonitos tapetes e excelentes pinturas.  Subiram uma grande escada que era curvada.  O elfo como sempre ia à frente, alerta a alguma aproximação. Num novo nível havia um corredor, o ambiente todo estava iluminado por tochas ornamentadas.

     “Que estranho, parece que não tem ninguém.” Disse Magnus.
      “Vamos dar uma olhada nestas portas.  Eu olharei aquela ali.”  Propôs Nandro.
      “Não, vamos todos juntos.  O mago é poderoso, possui encantamentos muito fortes.” Explicou o paladino.

     O grupo foi investigando porta por porta até chegar a uma sala de leitura muito grande.  Era uma biblioteca com livros dos mais variados assuntos, religião, filosofia, artes e história.  Uma tapeçaria de bom gosto e uma mobília da estirpe da realeza.  Bingo, caminhou um pouco observando os móveis e percebeu que havia uma divisória da estante que estava mais grossa do que as outras.  Aproximou-se, tateou sua superfície e sentiu uma pequeníssima brecha dividindo a madeira.  Continuou a tatear e encontrou um livro, mais duro que os outros, o puxou um pouco pra cima. Acionou um mecanismo. Parte da estante abriu-se revelando um cômodo secreto.  Todos se assustaram na hora, pois Bingo não havia contado sobre a suspeita de uma porta secreta.  Kariel e Magnus logo adentraram no recinto.  O paladino sentiu uma agonia enorme quando percebeu que estava num santuário de Myrkul, antigo deus da morte.  As paredes eram tomadas por inscrições e figuras que reverenciavam a entidade do mal.  O repúdio foi tanto que o paladino e Kinuk quiseram destruir tudo ali, mas Nandro os impediu alegando que fariam muito barulho.  Portanto, vendo que não havia ninguém naquele andar foram para o térreo.

     Fizeram uma rápida investigação e não encontraram nenhuma saída ou novo cômodo.  Kariel então conjurou um feitiço que o possibilitou ver através das paredes, logo percebeu uma escada oculta, igual às outras dos andares superiores.  Bingo novamente procurou e encontrou um mecanismo.  Quando ia acioná-lo, Kinuk o tocou no ombro.  “Hum, halfling pode fazer barulho.  Kinuk retirar som.”  O xamã faz uma oração a Uthgar e faz parte do ambiente ficar sem ruídos.  Bingo abre a porta secreta e todos descem.

     À medida que seguiam, perceberam que o bom aroma do andar térreo ia desaparecendo aos poucos, dando lugar a um odor fétido de coisa podre e mofado.  O cheiro era muito forte fazendo os heróis ficarem  levemente  tontos, mas foram se acostumando.  As paredes eram cheias de limos pretos e gosmentos, o calor lá embaixo era maior e alguns insetos incomodavam os heróis.  Chegaram a um corredor pouco iluminado, nele haviam três portas, todas com grades na altura do rosto.  Olharam cada uma delas, uma tinham um esqueleto de um humano com uns trapos.  Nandro deu uma olhada mais precisa e viu uma letra P bordada na veste esfarrapada.  Então Kariel disse: “Por Tymora! Acho que esse era o PeddyWinckle verdadeiro.”.

     No outro calabouço havia indícios de que alguém esteve ali recentemente.  Eles se apressaram, Kariel, com a invisibilidade concedida por seu elmo mágico, foi na dianteira. Ao término do corredor, ao dobrar à esquerda, viu algo e retornando, se escondeu. Havia acabado de notar um golem de pedra vigiando a entrada de uma nova escadaria.  Voltou e comunicou aos seus companheiros.  Nandro teve a idéia de atrair o golem para a área onde Kinuk dispersou o som, assim não chamaria a atenção de outros.  Kariel então voltou, e mesmo estando invisível, foi percebido pelo golem, que iniciou uma perseguição. Como combinado o escolhido de Mystra foi até a outra escadaria onde estavam os seus companheiros esperando pelo golem.  Quando a criatura surgiu na área determinada, todos atacaram de uma vez.  Foram golpes duros e bem aplicados. Apenas Magnus, Kinuk e Kariel conseguiam ferir o monstro de pedra, pois eram os únicos que portavam armas encantadas. Atacavam o monstro, rachando sua superfície.  O golem deu alguns socos que foram defendidos pelo escudo de Magnus. Após alguns golpes a criatura caiu fragmentando-se.  Tudo aconteceu sem um menor ruído.

     Rapidamente seguiram para a outra escadaria, após fazerem uma verificação, desceram e chegaram a um cômodo vazio com uma porta dupla à frente.  Bingo aproximou-se para ver se haviam armadilhas e olhou pelo buraco de uma fechadura.  O halfling viu Celifan preparando-se para decapitar um elfo preso a uma mesa, e comunicou isso aos outros.  Diante de tal situação, sem que houvesse qualquer alternativa, Magnus e Kinuk fizeram as portas em pedaços com chutes devastadores.  Os heróis entraram todos preparados para o combate.  Acabaram de entrar num salão amplo, um laboratório imenso com objetos de adoração a Myrkul e a necromancia.  Existiam mesas com líquidos efervescentes de cores variadas dentro de cateteres e tubos de ensaio, vidros com pedaços de animais e monstros e entre estas também havia uma pequena tina com um cadáver.  No final do salão encontrava-se uma estátua do deus Myrkul que chegava até o teto.  Perto, um altar com objetos da religião feitos de ouro e  um suporte com um grande livro aberto e um diário a sua frente. Surpreendido, estava Celerum, o negro.  Tentou disfarçar o espanto e disse:

     “Paladino?! Como está? O que veio fazer aqui?”
     “Desmanchar essa sua cara cínica, seu maníaco! Vai pagar com tudo o que fez.” Disse Magnus.
      “Mas paladino, eu não quero o seu mal.  Eu só quero a vida eterna, será que é errado um homem desejar viver mais?”
      “Você quer viver mais às custas das vidas de outros.  Se não tivéssemos o conhecido Eleannor ainda estaria viva.”  Lembrou Kariel.
      “Mas aquilo não foi culpa minha. Foi Morienus.”
      “Basta, já estou cansado de tantas mentiras e deturpações!  O que me diz deste elfo aí?” Continuou Magnus.
      “Depois disso tudo ele vai estar com os deuses élficos, não há o que se preocupar.”  Defendeu-se o mago.
      “Não! Por favor, me soltem!”  Gritava o elfo preso a uma mesa.
      “Celerum coisa ruim, Celerum morrer!”  Concluiu Kinuk.

     Antes de partirem para o ataque, hesitaram por um momento, pois dois golens de armadura surgiram detrás de colunas anexadas às paredes.  Cada golem tinha uns três metros de altura e usava uma espada de duas mãos.  Bingo e Lua ficaram na retaguarda. A elfa que portava um arco curto deu um disparo em Celifan ferindo sua mão, e outro em Celerum, mas a flecha inexplicavelmente parou no ar e caiu no chão.  Um dos golens deu um golpe tentado atingir Magnus e Nandro ao mesmo tempo, os dois se esquivaram devolvendo a hostilidade, no entanto a armadura da criatura sem vida era bastante espessa.  O outro conseguiu ferir levemente o xamã Kinuk, mas também sofreu com o bárbaro que lhe deu uma bela machadada nas pernas.  Celerum, aproveitando a investida de seus golens, conjurou um encantamento que faz surgir um orc, um goblin e dois minotauros.  Nandro, vendo que seus golpes não surtiam efeito sobre o golem, parte para cima de um dos minotauros.  Kariel dispara algumas esferas de energia em Celerum, porém elas são refletidas pelo corpo do necromante e voltam ao elfo, mas são absorvidas pelo broche harpista.  Lua e Bingo começam a lutar contra o goblin e o orc.  Magnus arranca a perna do golem mas também é castigado brutalmente pela espada da criatura.  Kinuk, bastante ferido, consegue derrotar o outro golem e vai ajudar Nandro, pois um minotauro ia acertá-lo por trás.  Celerum levanta uma parede constituída de energia mística que irradia um intenso brilho de várias cores e  Kariel, então, se teletransporta para o outro lado da muralha.  Um minotauro tenta dividir o corpo de Nandro em dois, porém o drow é mais rápido e passa por debaixo das pernas do oponente, dando no final uma cambalhota e fazendo-lhe um corte profundo na virilha, despejando muito sangue.  Kariel dispara um relâmpago em Celifan, que morre instantaneamente. As ramas de energia batem na parede e atingem Celerum, no entanto, como antes, o raio volta para Kariel e também é absorvido pelo broche.

     “Meu caro elfo, você lutou bem.  Mas eu sou um arquimago, não há como me derrotar.”
      “Não importa, encontrarei uma maneira.”  Depois destas palavras, o elfo invoca uma tempestade de gelo, com cuidado de não atingir o outro elfo aprisionado.

     Ao fazer isso, forçou Celerum a atravessar sua muralha mística.  Magnus, que já havia esfacelado o golem, ajuda Nandro com o minotauro amputando a cabeça do monstro.  Kinuk, vendo Celerum, novamente faz uma prece a Uthgar e dispersa os encantos defensivos do mago.  Entretanto, o arcano maligno dispara um relâmpago atingindo o xamã e Nandro, que, muito feridos, tombam.  Bingo e Lua ainda têm dificuldades com seus adversários, enquanto isso Kariel liberta Raynor, o elfo preso.  Celerum tenta aprisionar Magnus num campo de força, mas o paladino, que já havia sido vítima deste feitiço no passado, esquiva-se na hora certa e, aproveitando o impulso,  abre uma fenda no crânio do minotauro que estava lutando com Kinuk.

     “Paladino, paladino.  Não vê que é inútil tentar me deter, por favor, cesse as hostilidades contra mim, não o odeio.  Você me ajudou a conseguir o que mais quero, lhe sou grato.  Se continuar com isso, vão haver muitas mortes.”
      “Ajudei? Vou acordar sua mente doentia de uma maneira definitiva.  Celerum, a pior coisa que você pode fazer nesta sua vida miserável foi me conhecer.  Você é tão desprezível quanto o seu deus morto Myrkul, apenas um monte de lixo.”
      “O quê! Nunca diga isso seu paladino rude e imbecil.  Myrkul é supremo! Ele está acima de tudo! Acima de Helm e todos os outros.”
      “Ha, Ha, Ha ! Não diga bobagens, vou lhe revelar a verdade.  Myrkul foi morto pela Comitiva da Fé em Águas Profundas durante a guerra dos avatares. Não restou nem uma carcaça dele.  Você adora alguém que não existe.  Pode imaginar algo mais ridículo do que isso.”
      “NÃOOO!!!  Isso é mentira!  Os sacerdotes conseguem poderes de Myrkul! Como explica isso, paladino ignorante?”
      “Poderes dados pelo deus da morte Kelemvor, ou até mesmo por Bane, que ludibria vocês.”

      Celerum fica espantado com as “heresias” de Magnus, mas não hesita sua fé no antigo deus da morte.

     “Só há uma maneira de sabermos isso paladino.  O enviarei a Myrkul, acabarei com sua vida agora.  Adeus, infame!”  Ao término destas palavras, Celerum, o negro, faz uns gestos com as mãos e pronunciou “Destruere materia”.
      “Magnus! Cuidado!”  Gritou Kariel sabendo do que se tratava.

     O paladino de Helm, cansado e ferido, não tinha muitas forças para se esquivar do raio esverdeado que vinha na sua direção.  Porém, lembrou-se das palavras do Rei Arthangh, aquele que lhe concedeu a espada ‘Chama do Norte’. Havia lhe dito que um dos poderes da espada é devolver encantamentos de volta ao conjurador.  Portanto, o paladino, com sua fé em Helm, empunhou a ‘Chama do Norte’ com as duas mãos e a colocou exatamente à sua frente dizendo:
     
      “Helm! Me guarde!”.

     O raio verde passou como numa velocidade inconcebível, atravessou a sala, mas só tinha um destino, o paladino Magnus.  Ao ver o raio saindo das mãos de Celerum, Bingo gritou:

      “Magnus! Não morra!”

     Mas o raio chegara até ele, por um minúsculo momento a energia oscilou na lâmina da espada e a Arte presente na arma a repeliu tendo agora uma nova direção, Celerum.  O raio atingiu o âmago do necromante que se desesperou e gritou pela última vez.

     “Não! Por quê? Eu só queria viver mais! Eu só quer...”  Ao final, virou apenas cinzas.

     Magnus então suspirou, e caiu de joelhos como se estivesse com o peso do mundo em suas costas.  Bingo e Lua, que já tinham destruído os goblinóides, foram ver os feridos.  O paladino de levanta, e com o poder de Helm, cura os ferimentos de Kinuk.  O xamã por sua vez retribuiu e fechou as chagas do paladino, fez o mesmo com Nandro.  Estando todos bem, Nandro disse:

     “E agora? O que faremos com aquela muralha mágica ali?”
      “Não se preocupe, ela desaparecerá depois de algum tempo.” Respondeu Kariel com segurança.
      “Eh.. Muito obrigado por salvarem minha vida.  Sou Raynor, de Tethyr.”  Disse o elfo aliviado.
      “Disponha meu amigo, você deve descansar agora.” Disse Magnus.

     Os heróis então esperaram a muralha desaparecer e Magnus pegou os diários de Celerum e Damien Morienus.  Atearam fogo em todo o laboratório, reduzindo tudo a cinzas. Em seguida foram aos andares superiores e fizeram uma revista completa.  Kariel contentou-se ao encontrar o grimório de Celerum, pois agora teria mais encantamentos para estudar.  Encontraram também um baú onde Celerum escondia sua economia convertida em jóias e ouro.  Magnus queria destruir o baú achando ser algum artefato profano, mas seus amigos o convenceram de que era exagero pensar assim, então o levaram.  Com tudo terminado, atearam fogo em toda a torre de Celerum, causando um grande incêndio que não deixou nada intacto.

A Partida

     A fuga dos aventureiros foi tranqüila, até mais fácil do que poderiam imaginar. Nem os servos de deuses malignos que existiam naquela cidade, nem nenhum outro inimigo os perseguiram.  Depois que saíram da pérfida Luskan, deixaram Raynor na floresta, já que o elfo desejava ir embora o quanto antes e voltar para sua família nas florestas de Tethyr.  Após alguns dias chegaram na casa de Regis, no Bosque Solitário.  Comentaram sobre todo o acontecido ao halfling enquanto ele fumava seu cachimbo.  Mas naquele momento tinham uma grande dúvida, como destruir os diários de Morienus?  Kariel passou algum tempo examinando-os e não chegou a conclusão alguma, os outros também não sabiam o que fazer, pois os diários não queimavam no fogo, não podiam ser cortados entre outras coisas.

     “Droga! Como vamos destruir uma coisa feita por aquele morto-vivo?” Lamentou Magnus.
      “Hum! Morto-vivo, gente morta andar.  Poder sagrado é destruído por poder sagrado, hum.” Disse Kinuk.
      “Aonde quer chegar xamã? Eles já tentaram de tudo.” Explicou Regis.
     
      O xamã de Uthgar afastou-se, pegou uma pequena tigela de água, foi a um local no mato e lá começou a invocar a Raposa Prateada, fumou, dançou e rezou.  Quase uma hora depois ele volta aos companheiros dizendo.

     “Kinuk agora tentar destruir livros.”

     Aproximou-se dos diários que estavam no meio de uma mesa e simplesmente despejou um pouco de água.  A princípio nada ocorreu, mas depois um dos livros foi se deteriorando até virar poeira.  Kinuk repetiu o processo com o outro diário e o mesmo aconteceu, no final não sobrara nada.

     “Kinuk! Você conseguiu! Mas como? Que água é essa?” Perguntou Magnus com felicidade.
      “Água sagrada de Uthgar.”
      “É água benta, algo sagrado para destruir algo profano, acho que foi isso que ele quis dizer.” Opinou Nandro Do’Urden.

     Todos ficaram felizes com o fato. Bingo começou a dançar com Lua, eles saltitavam dando risadas.  Regis abriu alguns barris de vinho da despensa, e fizeram uma pequena festa.  Beberam e comeram à vontade, Nandro começou a tocar uma bela música com sua flauta.  Diante de tanta descontração, Lua comenta ao paladino:

     “Magnus, nunca vi você sorrir assim antes.  Estou contente que esteja feliz.”
      “Sim, agora a alma de Eleannor e Villayette descansarão em paz, e aquele bruxo nunca mais fará mal a ninguém.  Você também está sorridente hoje, está bem melhor.”  Disse Magnus dando um abraço na elfa.

     Dias depois, após terem feito uma pequena viagem para recuperar o corpo de Eleannor que estava enterrado próximo à antiga morada de Damien Morienus, era a hora de partir.  Owni ficou muito triste, pois gostou muito do tempo em que viveu no Bosque Solitário.  Na despedida, Kinuk disse.

     “Vocês bons companheiros de guerra, Kinuk não esquecer vocês, eu orar para Raposa Sagrada por suas vidas.”
      “Que Tymora o abençoe Kinuk.” Falou Kariel.
      “E abençoe vocês também.” Disse Nandro mostrando seu símbolo da deusa da sorte para surpresa de todos.
      “E que Helm nos guarde para que possamos ter um amanhã.”  Terminou Magnus.

     Kariel fez um gesto dizendo algumas palavras da linguagem arcana, surgiu então um arco de energia ondulante como as ondas mar, eles tiveram tempo apenas para acenar aos amigos que iriam ficar e pularam no portal.

Uma Nova Jornada

     No outro lado, apareceram num belo jardim, jamais visto por nenhum dos viajantes, com exceção de Kariel, pois ali era Kand, a cidade natal dele e Villayette.  Alguns elfos se assustaram na hora, mas Kariel logo explicou o que houve.  Foram ao palácio real, e encontraram o Coronal de Kand.  Ao longe, Magnus, Lua e os halflings viram Kariel dar a péssima notícia a sua família.  Foi um momento de tristeza, e mais triste ficaram quando souberam que somente o corpo de Eleannor havia sido recuperado para descansar junto com os de sua Casa.  Infelizmente, nada de Villayette pode ser trazido.  Houve um funeral para o casal nas tradições élficas.  Dois dias depois, mesmo com os conselhos em contrário do pai Reliel, Kariel foi embora com os amigos alegando que possuía outros propósitos pela frente.  Depois de saírem de Kand, Lua despede-se dos aventureiros, pois tinha seu próprio caminho para seguir.

     Viajaram em direção sul,  saíram da Floresta Alta, e chegaram em Águas Profundas.  De lá pegaram um navio para Athkatla, capital do reino de Amn.  Apesar do tratamento frio que receberam, os aventureiros conseguiram Junus, o unicórnio de Magnus que haviam deixado no templo de Waukeen sob os cuidados de Moedassagrada Olin.  Os sacerdotes ficaram a par da intenção dos heróis de atrapalhar acordo que Celerum tinha feito com a sacerdotisa Laurin e não gostaram da interferência deles, principalmente de Magnus.

     Ao sair, andaram um pouco pela cidade e Magnus viu com grande alegria um enorme templo de Helm, e sem hesitar adentrou.  No interior, esteve de frente a uma grande estátua do deus Guardião, curvou-se fazendo uma reverência como um bom seguidor, quando um homem em armadura se aproximou dele dizendo: “Que Helm me guarde! É seguidor do deus guardião?”

     “Sim, de todo o meu coração.”
      “Então venha, você e seus amigos.  Vamos fazer uma refeição.”  Se dirigiram a uma mesa onde estavam alguns homens e mulheres devotos de Helm.
      “Desculpe, não me apresentei.  Sou o Cavaleiro Vigia Aabir.”

     Enquanto comiam, Aabir contava para eles como era o povo de Athkatla e sua cultura.  Mencionou a grande atividade comercial e a presença de guildas de ladrões na cidade.  Magnus comentou : “Aquela estátua de Helm é muito bonita embora não se pareça exatamente com ele.”

     “Como? Como pode dizer isso? Você sabe como Helm é?” Indagou Aabir com espanto.
      “Claro, eu o vi pessoalmente.  A armadura dele é diferente.”
      “Magnus! Você não devia estar falando uma coisa dessas por aí.” Disse prudentemente Kariel.
      “Por que não? Não há porque mentir.”
      “Paladino, você pode provar isso?”
      “Sim, nunca duvide de mim, principalmente de minha fé no Vigilante.”

     Os quatro foram conduzidos para uma sala especial, onde estava um sacerdote mais velho trajado de forma mais especial.  Uma armadura de cota de malha bem ornamentada.

     “Então você afirma ter visto Helm.  Se for alguma brincadeira, você pagará caro meu rapaz por mentir diante do Alto Vigia Oisig.”
      “Como posso provar que é verdade?”
      “Venha até aqui e espere.”

      Aabir chamou os outros sacerdotes maiores, todos eles começaram a fazer uma oração ao redor de Magnus.

     “Kariel, será que vão machucar Magnus?” Perguntou Bingo preocupado.
      “Acho que não, pequenino. Mesmo que quisessem, isto seria muito difícil”

     Quando os sacerdotes terminaram, Oisig, emocionado disse.

     “Por Helm! Você o viu! É verdade! Como aconteceu? Diga-me meu filho, como aconteceu?”

     Magnus então contou toda a história desde que a Comitiva foi a Evereska levar Ar’Cor’Querin, a espada sagrada dos elfos, até o confronto de Bane e a destruição de Cyric.  Os sacerdotes ficaram bastante felizes com as notícias e condecoraram Magnus por serviços a Helm.  Só ficaram tristes pelo fato do paladino ter de ir embora, mas disseram para ele visitar uma ordem de paladinos chamada Ordem do Coração Radiante.

     Foram para lá acompanhados por Aabir.  Era um lugar belo, uma estrutura similar a um templo, com referências aos três deuses da justiça, Tyr, Torm e Helm.  Após algumas explicações, os quatro heróis foram trazidos a presença do Prelado Wessalen de Tyr, de Sir Mardus de Torm e da Amazona Nedephia de Helm.  Foram bem recebidos e até convidaram o paladino para ingressar nas fileiras, no entanto, a responsabilidade de estar na Comitiva da Fé e de construir uma catedral no Vale das Sombras o fez recusar a oferta.  Através de Wessalen, os heróis conheceram um outro grupo de aventureiros local.  Um deles, que fazia parte da Ordem do Coração Radiante, era um paladino de Torm chamado Valkor.  Ele os convidou a beberem juntos numa taverna.  O grupo era formado por Minsc, um guerreiro de Rashemen com seu mascote, um ramster chamado Boo; uma meia-elfa de nome Jaheira; Mazzy Fentan, a halfling da guerra; e Aerie, uma elfa arcana.

     Eles conversavam amigavelmente como se conhecessem a muito tempo.

     “Então vocês já lutaram contra os Zhentarim? Eles não agem muito por aqui.” Perguntou Valkor.
      “Vocês tem sorte então, pois eles são uma praga.  São liderados por um sacerdote de Bane, Fzoul Chembryl.”  Respondeu Magnus.
      “Magnus...lembro que não é prudente repetir este nome....Valkor, desculpe interromper a conversa, mas há Harpistas por aqui?” Argüiu Kariel.

     Jaheira, que naquele momento estava entediada com a conversa, surpreendeu-se com a pergunta do elfo e disse:

     “Por que quer saber disso?”
      “Porque eu também sou um, e gostaria de saber se há outros no reino de Amn.”
      “Ora, então me desculpe, eu fiquei intrigada com a pergunta.  Eu sou uma Harpista, e uma druida com a graça de Silvanus.”
      “Jaheira passou por problemas recentemente com os Harpistas.” Explicou Valkor.
      “Problemas? Como?”
      “Er.. teve um grupo de harpistas nesta cidade que traiu o código, eles tentaram me matar por não entregar Valkor a eles.”
      “Entregar Valkor? Mas por quê?” Indagou Magnus.

     Jaheira olhou para Valkor esperando uma confirmação que veio logo em seguida.

     “Porque ele é um dos filhos de Bhaal.” Disse secamente a meia-elfa.
     “Sim, infelizmente tenho uma herança maldita.  No entanto, para a minha felicidade, um homem chamado Gorion me acolheu como filho após ter me salvado do culto do deus do assassinato.” Explicou o paladino de Torm.
      “Que Helm me julge! Você deve ter sofrido bastante com isso, não?”
      “Sim, mas o pior já passou.” Respondeu o paladino cabisbaixo.
      “É, todo sofrimento acabou. Ele agora tem a mim, não é Valkor?” Disse Aerie de forma carinhosa e em seguida dando-lhe um beijo no rosto.  Kariel percebeu um olhar frio lançado por Jaheira quando viu esta cena, notando o ciúme que a druida tem pelo paladino.
      “Mas então eu tenho uma boa notícia para lhe dar Valkor.  Eu sei quem matou o seu pai.” Disse Magnus.
      “Me disseram que ele foi morto no Tempo das Perturbações.”
      “Sim, mas seus executores foram meus colegas, outros membros da Comitiva da Fé.”
      “Então é uma honra falar com vocês, mas se não o fizessem eu o faria, se tivesse a oportunidade.”

     Durante o diálogo, Bingo e Owni ficaram perplexos com a beleza de Mazzy, uma halfling um pouco mais velha que eles e uma grande guerreira.  Minsc contou algumas piadas, e todos deram risadas, Aerie deu muitos beijos em Valkor, e Owni se empanturrou com a comida.  Assim terminou aquele dia prazeroso.  Embora antes de irem embora, Valkor disse:

     “Comitiva, se virem um mago maligno de nome Irenicus, cuidado.”
      “Talvez seja ele quem deva tomar cuidado.” Respondeu Magnus sorrindo e acenando.

A Nova Organização

     De Amn, seguiram direção norte e finalmente chegaram no Forte da Vela.  Passaram pelo Caminho do Leão por uma estrada de terreno bastante seco, andaram por alguns desfiladeiros e finalmente chegaram aos portões de uma estrutura imensa, que de muito longe podia ser avistada, com suas várias torres cercadas por muralhas gigantescas.  Alguns soldados abriram a grande porta e cercaram os recém-chegados. Então apareceu um forte homem de cabelos castanhos e uma bela armadura de couro.

     “Aqui é o Forte da Vela, eu sou Halys Dracus, o Diretor do Portão.  Quem são vocês? Com que intuito vieram aqui?”
      “Somos integrantes da Comitiva da Fé.  Viemos aqui pela recém formada organização, a Ordem Branca.” Respondeu Kariel.
      “Esperem aqui um momento.”

     Depois de alguns longos minutos, uma mulher surgiu. Ela era negra e com cabelos ondulados, trajava uma veste estranha para eles, como um robe de mago, mas com detalhes diferentes e curiosos.

     “Olá! Sou Myltrar, não se assustem, mas por motivo de segurança terão que entregar suas armas temporariamente ao Diretor Halys.”
      Magnus olha para Kariel, que por sua vez abaixa levemente a cabeça sinalizando para concordar.  Depois de acatarem o pedido eles seguiram Myltrar.  Ao passar dos portões, perceberam que não era apenas uma grande fortaleza, mas sim uma cidade murada, assim como o Forte Zenthil.  Seguiram por uma rua feita de paralelepípedos bem batidos, aproximaram-se de uma carroça que nunca tinham visto antes.  Sua carroceria era bem comprida e tinha assentos para vários lugares.  Myltrar os convidou a subir nela que foi conduzida por dois cavalos.  No percurso, os heróis apreciavam a tão bela e tranqüila paisagem e seus habitantes, pouquíssimos estabelecimentos lá haviam.  Levantando a cabeça, só se podiam ver as altas torres do Forte.  A carroça parou em frente a uma delas deixando os passageiros, que foram levados por Myltrar ao seu interior.

     Atravessaram um portão que já estava aberto, e  adentraram uma grande sala, preenchida com pessoas de túnicas e soldados bem armados, alertas a tudo.  Myltrar falou com alguns desses homens e chamou os aventureiros a subir uma escadaria.  Após uns três lances de escada, passaram por um corredor e ficaram numa sala bem ampla, com bancos e cadeiras bem construídos com assentos e encostos acolchoados com penas.  Decorridos alguns momentos, um homem de meia idade, com um bonito robe, com longos cabelos negros e um cavanhaque sem bigode se apresentou para os visitantes.

     “Sou Uxas, Guia e líder da Ordem Branca.  Vocês alegam ser da Comitiva da Fé. Quais seus nomes?”
      “Bem, sou Kariel Elkandor de Kand, este é Magnus de Helm, e os dois pequenos são Bingo e Owni.”
      “Fui comunicado sobre você e o paladino, mas não me lembro de ter ouvido falar sobre os halflings.”
      “São nossos amigos, não há com que se preocupar.” Defendeu Magnus.
      “Tudo bem.  Elminster do Vale das Sombras deve ter falado com vocês sobre a formação de uma ordem, desejo esse da deusa da magia Mystra.  O sábio veio até mim comunicar a vontade dela, achando adequado que a sede desta ordem fosse aqui.  Devido a contribuição do mago ser inestimável para nós, foi debatido pelos Grandes Leitores e decido pelo Guardião dos Tomos que a sede da Ordem Branca fosse uma das torres do Forte da Vela.  Além disso, todos os integrantes da Ordem devem responder a mim, e o acesso dos membros se restringe apenas a esta torre, nomeada como a Torre Branca.  É proibida a entrada nas outras torres, a não ser que obedeçam a determinadas regras ao público em geral.  Se quiserem ler alguma obra das outras bibliotecas terão de doar um livro de qualidade considerável. Se quiserem alguma cópia de algum livro deverão pagar um valor adequado.  Alguma pergunta?”
      “Onde estão os outros membros da Ordem?” Argüiu o elfo Kariel.
      “Alguns estão aqui na torre.  A Ordem não se limita a apenas magos, mas sim outros que desejam lutar pela causa do bem e do conhecimento.  O paladino deseja ingressar na nossa organização?”
      “Me perdoe Uxas, mas tenho muitas responsabilidades pela frente e já faço parte da Comitiva da Fé.  Como nosso grupo é aliado da Ordem Branca então terá sempre a ajuda de minha espada para o que precisar.”
      “Muito bem então.  Estejam à vontade para explorar a Torre Branca, minha esposa já deve mostrado a cidade para vocês.”

     Hospedados devidamente na torre, os visitantes puderam usufruí-la corretamente.  Magnus pôde ler um pouco sobre a história da Costa da Espada, e ficou muito preocupado sobre os acontecimentos em Maztica.   Segundo as leituras , alguns sacerdotes colonizaram uma cidade do continente e em nome de Helm promoveram massacres.  “Traidores devem ser punidos.” Pensou o paladino.  Bingo começara a aprender a ler com a ajuda de alguns sacerdotes de Oghma, e Owni conseguiu descobrir ótimas receitas de guloseimas que fariam bastante sucesso em Luiren.  Kariel entregou vários grimórios que obteve no último ano aos escribas, que cordialmente os converteram em apenas dois, com capa nova e mais resistentes que os outros.  Antes, é claro, Uxas removeu as maldições e defesas místicas nos tomos de Damien Morienus e Celerum para que fossem copiados.  Durante o trabalho de vários escribas, Uxas e sua mulher Myltrar ensinaram novos encantamentos a Kariel que ficou muito grato.  Por um mês eles ficaram lá, até que chegou a hora de ir embora.  Antes, Uxas entregou um anel a Kariel que trazia o símbolo da Ordem Branca, uma estrela de dez pontas.  O escolhido mais uma vez pronunciou antigas palavras e um portal se abriu.  Os quatro pularam nele prontos e determinados a enfrentar novos desafios.

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