A seguir está a apresentação de um novo conto
de Erik Scott de Bie – autor do romance recentemente
lançado Downshadow [Queda das
Sombras]:
Já se perguntou como é realmente
ser um paladino? Um cavaleiro sagrado, tentando
viver em uma cidade muito pouco sagrada? Uma
cidade cheia de mulheres tentadoras que se interessam
por você, e velhos inimigos cuja sede por sua
desgraça cresce a todo o momento?
Downshadow [Queda
das Sombras] mostra, em um conto cheio de
batalhas, traições, situações desagradáveis,
inimigos à espreita… e as salas e passagens
sombrias do bairro mais perigoso de Águas Profundas:
Downshadow [Queda das Sombras],
abaixo das pedras e depósitos e das passagens
subterrâneas de esgoto.

Gedrin Ruína das Sombras
Dizem que os heróis das lendas
podem ver a morte rondando antes que ela apareça
para encontrá-los.
E apesar de todos os heróis
morrerem, o que os faz lendários é como escolhem
enfrentar a morte – se chorando ou com um sorriso.
– Catalan, o Louco
Onze Campeões Perdidos, publicado em
1403
Flamerule, 1463,
O Ano do Herói Renascido
“Mestre?”, veio a voz por detrás
dele.
Gedrin Dren estava silencioso,
sentado na frente da janela coberta por tábuas
em seu quarto alugado, olhando para os escombros
da apodrecida cidade portuária de Luskan. Ele
via as fogueiras ainda acesas nas ruas, queimando
pela noite sem ninguém para apagá-las – isso,
e os gritos dos feridos e moribundos, sem qualquer
esperança de salvamento.
Essa era uma cidade que os
deuses haviam abandonado, em um mundo que os
deuses haviam destruído.
“Mestre?”, seu escudeiro se
esgueirou mais para dentro do quarto e parou
quando viu Gedrin sentado imóvel como uma estátua.
Gedrin virou a cabeça, e o jovem deu um salto
para trás. “Oh! Mil desculpas! Eu não…”.
“Não há problema, Drovesm”.
Gedrin acenou com a mão áspera, a pele manchada
pela idade avançada. “Está ficando tarde, eu
sei – dê-me apenas mais um minuto”.
“Como quiser, Mestre Ruína
das Sombras”.
Gedrin moveu seus olhos pálidos
– sua cor havia desbotado para o branco da cegueira
há três décadas, tornando-o cego de um olho
– na direção do seu aprendiz, e o jovem se encolheu.
Na verdade, não era bem um
jovem, pensou Gedrin. Alto, magro e de
cabelos negros, Drovesm era sessenta anos mais
novo do que Gedrin, mas isso o colocava além
do seu trigésimo inverno. Fazia com que Gedrin
se sentisse velho, o que era verdade, e Gedrin
nunca tentou se esquivar da verdade.
“Sem medo”, ele disse, sorrindo.
“Tudo vai ficar bem – como o Olho sempre vê”.
“É claro, mestre”.
Ele congelou Drovesm com o
olhar tão facilmente quanto se o tivesse segurado
pelo braço. Era simples segurar um homem com
o olhar, apesar de ele ter demorado cinqüenta
anos para aprender esta arte.
“O Olho vê todas as coisas,
Drovesm”, disse Gedrin. “Todas as coisas”.
O rosto de Drovesm empalideceu
ainda mais, e ele baixou os olhos rapidamente.
Ele murmurou algo que poderia ser uma afirmativa
– ou possivelmente uma prece.
“Apenas um momento, Mestre,
e depois precisamos nos apressar”. Drovesm não
o encarava. “Gostaria de chá ou algo para comer?”
“Não”, disse ele. “Mas você
deveria comer – você é um jovem, e precisa da
sua força.”
“É claro”. Drovesm claramente
não iria comer. Gedrin não se surpreenderia
se seu estômago estivesse amarrado em um nó
artístico. “Vou buscar seu cajado para caminhar”.
Gedrin sorriu fracamente. Esta
noite seria perfeita para passar a Defensora
adiante, se Drovesm não estivesse pronto para
traí-lo nesta mesma noite.
“Então será você”, Gedrin murmurou
tão suavemente que apenas um ladrão treinado
poderia ouvi-lo. “Esperava mais da sua pessoa”.
Drovesm parou à porta. “Disse
alguma coisa, Mestre Ruína das Sombras?”
Gedrin meneou a cabeça. “O
elefante, eu acho – traga-o aqui, antes de preparar
suas próprias armas. Eu gostaria de ficar a
sós um momento para refletir”.
“Sim, Mestre”.
Quando o jovem saiu, Gedrin
virou-se para a janela e suspirou.
No mundo antigo, antes que
a Praga Mágica re-escrevesse as leis da magia,
paladinos sagrados podiam sentir o cheiro do
mal onde quer que estivesse. Agora estes poderes
estavam perdidos para os Reinos dos mortais,
mas Gedrin era uma relíquia daquela era e ele
se lembrava bem como ler o coração dos homens,
mesmo que não houvesse magia no processo. Drovesm
exalava escuridão – a mesma escuridão que Gedrin
havia combatido durante todos os seus noventa
e cinco invernos sem alegrias.
Não – não, isso não era verdade.
Tinha havido alegria
em sua longa vida, refletiu Gedrin. Noites em
que ele havia deitado entre os braços morenos
de sua esposa Sivgena, soletrando o nome dela
nas estrelas, e então, anos depois, os nomes
dos filhos deles. Em noites quentes como essa,
quando Selûne se erguia, cheia e brilhante,
ele ainda podia ouvir sua risada no vento e
ver seu lindo sorriso pelo canto dos olhos.
Os olhos de Gedrin podiam ter
falhado com ele há décadas, mas seus ouvidos
permaneceram afiados como sempre. Ele ouviu
o murmúrio da voz de Drovesm embaixo, o escudeiro
cochichava com um mensageiro.
Tudo estava sendo combinado,
Gedrin sabia, e isso o deixava em certa paz.
Ele havia conhecido tão pouco
da paz, em quase oitenta anos carregando a espada
do Deus Tripartido através de batalhas e guerras.
Ele havia enterrado a maior parte de seus alunos
e amigos, visto a morte de cada um de seus filhos
e, quando as sacerdotisas de Shar manipularam
Sivgena para que ela ficasse contra Gedrin e
o Olho, ele mesmo havia dado fim a ela. Havia
sido o dever de Gedrin, mas ele nunca se perdoara.
Um fim seria verdadeiramente bem vindo.
Mas, quando viesse, ele faria
com que fosse um fim memorável…
“Mestre Ruína das Sombras,
o senhor está bem?”. Uma barba castanha rala
emoldurava o rosto nervoso de Drovesm enquanto
seus olhos escuros observavam seu venerável
mestre. Porque é isso que tantos anos de trabalho
e sangue fizeram de Gedrin: venerável.
No entanto, ele não achava
que alguém fosse venerar sua memória.
“Paz, filho”, Gedrin disse
tranquilamente. “Eu estou pronto”.
“Graças ao Deus Tripartido”,
disse Drovesm, limpando o suor da testa. “Por
um momento, eu pensei que não fossemos conseguir
fazer nosso dever esta noite. Me preocupei achando…”.
“Eu sei com o que se preocupou”.
Gedrin olhou para seu acólito serenamente, porém
seu rosto demonstrava a gravidade da situação.
“Estou apenas velho – não aleijado".
“É claro, mestre”. Drovesm
fez uma mesura. “Perdoe-me se pensei de outra
forma”.
“Não há nada para se perdoar”,
disse ele, suavemente.
Drovesm lhe deu seu cajado
com a ponta de marfim, esculpida como a cabeça
de um elefante. Décadas de uso haviam alisado
o marfim – a suavidade o lembrava da pele de
Sivgena. Com seu cajado, Gedrin podia ficar
de pé. Assim que Drovesm certificou-se de que
ele estava equilibrado, o jovem saiu para se
equipar com suas próprias armas na preparação
para a noite que estava por vir, deixando Gedrin
sozinho na janela.
Enquanto ouvia Drovesm se mover
pela antecâmara, arrumando a armadura e ajustando-a,
Gedrin olhou para o céu noturno envolto em fumaça.
Ficou imaginando se Selûne havia aceitado Sivgena
em seus braços, depois que ela havia traído
a ambos com sua irmã sombria, Shar. Gedrin ficou
imaginando se sua esposa e seus filhos o estariam
esperando além do véu – e se uma vida de heresia
significava uma eternidade no muro dos falsos
e descrentes.
Pelo menos havia restado uma
filha. Mesmo que sua querida Levia não fosse
de seu sangue – e jovem o suficiente para ser
sua neta – ela o amava como a um pai, e aquele
amor o havia sustentado bem todos estes anos.
Sem ela, ele teria morrido anos atrás.
Que herança deixava ele para
aquela que o amava? Ele não sabia. E quem assumiria
a Defensora após esta noite – ou cairia ela
em desgraça, como acontecera em tantas outras
partes do mundo?
Estas perguntas atormentavam
Gedrin, e pela primeira vez desde Sivgena ele
sentiu as unhas gélidas da dúvida atormentando-o.
Ele havia pensado que isso não teria importância
– que a causa estaria perdida – mas agora…
“Está preparado, Mestre?”,
Drovesm perguntou da porta. Ele havia vestido
sua couraça de couro negro e usava espadas gêmeas
que pareciam ser próprias para um ladino, e
não um paladino. Era o modo como treinara –
o modo como Gedrin havia treinado a todos.
Gedrin fez a saudação, mostrando
as costas da mão com os dedos para cima. O Olho
de Helm, o deus dos guardiões há muito falecido,
brilhava no anel que usava em seu anular esquerdo.
Quando baixou a saudação, seu manto negro se
fechou sobre o anel, ocultando o símbolo nas
sombras. Da mesma forma como Gedrin havia vivido
toda sua vida: oculto. Talvez não houvesse sobrado
luz no mundo.
Ele bateu suavemente no punho
da Defensora, sua confiável espada de mão-e-meia
– a espada do deus que ele havia visualizado
pela primeira vez em uma visão e havia carregado
por todos os dias, desde então.
“Mais uma vez, velha amiga”,
ele sussurrou. “Mais uma vez – e então poderemos
descansar”.
*****
O debilitado porto de Luskan
ficava na costa do Mar Sem Rastros como uma
ferida esperando para ser arrancada – mas era
um ferimento que havia se tornado tão inchado,
feio e profundo que não poderia ser lancetado
sem matar o corpo de Faerûn ao redor. Ladrões
e assassinos governavam as ruas – homens se
tornavam lobos, devorando o que quer que conseguissem
encontrar.
Eles passaram por uma hospedaria
capenga, chamada Hospedaria da Velha Mari, e
Gedrin viu um grupo de homens e mulheres amontoados
na entrada do beco, olhando fixamente como seres
sem vida. Seus mantos eram feitos de pedaços
de sacos de batata ou grãos, costurados, que
agora envolviam corpos que se assemelhavam a
galhos quebradiços. Eles esperavam, contorcendo-se
e tremendo, sem falar.
“O que foi, Mestre?”, perguntou
Drovesm, mas Gedrin apenas balançou a cabeça.
A porta finalmente se abriu
para deixar entrar uma mulher de sessenta ou
setenta invernos, com uma face pontuda que demonstrava
a idade – a própria Mari, Gedrin imaginou. O
povo faminto a empurrava estupidamente, mas
ela os desviava com um bastão robusto. Quando
a entrada ficou livre, ela pôs a mão para dentro
da estalagem e tirou de lá um pote de ferro
preto, entregando-o ao povo reunido ali.
“Peguem o que sobrou, e quero
meu pote limpo depois”, disse ela, passando
o braço pela testa. “Tenho que começar a fazer
o ensopado 'prá manhã antes da meia noite”.
O povo esfomeado caiu em cima
do pote como cães sobre uma raposa abatida.
Gedrin pensou que Mari teria seu pote de volta
antes de poder contar até cinqüenta.
“Os deuses sabem que sou generosa
demais”, ela resmungou. “Mas gentileza nunca
fez mal a ninguém”.
Gedrin encontrou o seu olhar,
e era um olhar frio e julgador, que se abrandou,
transformando-se em compreensão. Ele desviou
os olhos, e eles continuaram seu caminho.
Os prédios e praças de Luskan
nunca haviam sido grandes ou ricos, mas agora
eram pouco mais do que esconderijos e cortiços
destruídos e malcheirosos onde homens e mulheres
doentes chafurdavam por moedas como porcos na
lama. O coro de vozes cheias de dor e morte
subia através das casas em ruínas e das mansões
destroçadas para se unirem aos gritos de prazer.
A maioria destes últimos saía
das janelas do Espora Briante, do outro lado
da rua – um prostíbulo, cujas janelas tapadas
com tábuas permitiam vislumbres de velhas sedas
e aromas fugazes de incenso. O símbolo do lugar
tinha apenas sete de suas letras originais,
que poderia ser lido como Espora “Brilhante”.
Para Gedrin Ruína das Sombras
– que raramente encontrou alegria nos braços
de uma amante – os sons de prostitutas trabalhando
eram lembrança de uma vida vazia da carne. E
ainda assim, ele ouvia um testemunho do poder
dos homens e mulheres mortais de ver luz à sua
frente, apesar da escuridão. Eles comerciavam
seus corpos e desistiam de sua vontade pelas
moedas, e, no entanto, encontravam alegria.
Eles davam e achavam conforto uns nos outros,
mesmo rodeados por sua cidade apodrecida.
Quando mais jovem – como um
fanático do Deus Tripartido – ele teria condenado
estas pessoas como sendo irredimíveis e sem
esperança. Agora, em sua idade avançada, ele
não podia deixar de sorrir. Todos estes anos
desprezando os pecadores – todos estes anos
desperdiçados.
Ao seu lado, Drovesm também
escutava os sons dos jovens homens e mulheres
que trabalhavam por moedas no prostíbulo, mas
Gedrin sabia que não havia nada de nobre no
interesse do seu aprendiz. Era simplesmente
interesse na carne, e não tinha nada a ver com
luz ou escuridão.
“Escudeiro”, disse Gedrin,
e Drovesm ficou imediatamente atento. “Meus
olhos me traem na luz do luar de Selûne. Guie
nosso caminho”.
“É claro, Mestre Ruína das
Sombras – é claro”. Drovesm lentamente deixou
de prestar atenção no prostíbulo. Ele cuspiu
na rua enlameada. “Putas”.
Gedrin olhou-o criticamente,
mas manteve seu silêncio.
Então seu olhar recaiu sobre
um mendigo que estava sentado na esquina do
Espora.
Seus olhos eram ruins, a rua
estava um caos e Selûne estava escondida atrás
de nuvens agourentas, e Gedrin não sabia dizer
como conseguira ver o garoto pedinte. Mas ele
o viu: uma criança de cerca de oito invernos,
curvada, envolta em vários trapos encardidos.
Talvez ele houvesse tossido ou se mexido de
alguma forma – ou talvez fossem seus olhos.
O menino olhava fixamente para Gedrin de uma
forma ardentemente intensa que ele não havia
visto em muitos anos.
“Mestre?” perguntou Drovesm,
quando Gedrin pisou na estrada. “Mestre, o que…?”.
Gedrin foi lentamente até o
garoto, mas em consideração à sua idade, não
por cautela. Ele sentiu novamente a sensação
familiar de escuridão vinda do garoto, mas havia
luz também. Aqui havia uma alma que não estava
perdida, mas também não estava salva. Os olhos
do garoto – tão cinzentos que eram quase brancos
– permaneciam no rosto de Gedrin com uma certeza
e confiança que o impressionaram.
Eles estavam ali, parados,
o velho e o menino, olhando um para o outro.
Gedrin viu cicatrizes em volta dos lábios do
garoto – provavelmente ele tinha o hábito de
morder os lábios – e um nariz que tinha quebrado
e tinha sido colocado no lugar de forma desajeitada.
Sua pele estava muito suja, com marcas de lágrimas
descendo pelas bochechas. Ele estava segurando
sua mão esquerda, nitidamente quebrada. Todos
os dedos tinham marcas de mordidas – parecidas
com as dos lábios.
Então o garoto estendeu uma
vasilha de cerâmica quebrada em sua direção.
“Dá uma moeda?”, ele perguntou. “Não como há
dias”.
A voz abalou Gedrin e ele fez
uma carranca. “O que foi que disse, garoto?”.
Outro pedinte poderia ter saído
correndo diante da raiva crescente de Gedrin,
mas o garoto apenas fechou a boca e olhou-o
de volta, sem medo.
“Estou com fome”, disse ele.
“Dá uma moeda pra eu comer”.
Gedrin deu um sorriso torto.
O garoto certamente era corajoso.
Seu aprendiz o chamou, com
voz nervosa. “Mestre? Precisamos nos apressar”.
“Fique tranqüilo, Drovesm”.
Gedrin cruzou os braços. “Seu nome, garoto”.
O menino olhou para ele, curioso,
como se ninguém jamais houvesse perguntado isso
a ele antes.
“Você deve ter um nome”, disse
Gedrin.
“Kalen.” A palavra soou hesitante
nos lábios do garoto. “Mas ninguém me chama
assim – ninguém além da minha irmã”. Ele parecia
cauteloso, como se tivesse cruzado alguma linha
proibida e mostrado muito de si mesmo. Os olhos
da cor da noite eram desconfiados – mas também
cheios de personalidade. Eles pareciam, na visão
embaçada de Gedrin, quase que um único olho
vigilante.
O líder visionário do Olho
da Justiça nunca havia ignorado um sinal.
“Eu sou o paladino Gedrin Dren,
também chamado de Ruína das Sombras,” disse
Gedrin. “Lorde do Olho da Justiça – cavaleiro
escolhido do Deus Tripartido. Você compreende?”.
O garoto franziu as sobrancelhas.
“Não”, ele disse, com sinceridade. “Seu nome,
sim, mas eu nunca ouvi falar do…”.
De baixo de seu manto, Gedrin
tirou Desfensora – em sua bainha negra, perfeitamente
balanceada – e desembainhou a lâmina alguns
centímetros. O garoto prendeu a respiração diante
da visão do aço cinzento, onde as sombras tremeluziam.
Não havia medo nos olhos do
garoto – apenas deslumbramento. Gedrin poderia
ter enterrado a lâmina em seu peito num piscar
de olhos e o garoto não teria parado de se maravilhar
diante da Defensora. As sombras da espada do
deus dançavam por entre seus olhos pálidos perspicazes.
Talvez Gedrin tivesse feito
a escolha certa, após tantos anos de escolhas
ruins.
Gedrin segurou a Defensora
com reverência, medindo pela última vez o peso
familiar, e então deixou-a cair quase que desdenhosamente,
como se estivesse se livrando de uma chateação
irritante. A espada fez um ruído surpreendentemente
suave – tudo na Defensora era surpreendente
– nas pedras quebradas da rua e depois ficou
imóvel diante dos olhos espantados do garoto.
“Nunca mais mendigue”, disse
Gedrin.
Quando o garoto tentou falar,
Gedrin moveu sua mão e deu-lhe uma bofetada
na orelha. Espantado, os olhos dele se encheram
de súbita raiva, e ele olhou furiosamente para
o velho. “Por que fez isso?”
“Para que se lembre”, disse
Gedrin. “Aceite-a – não tente fugir dela, como
eu fiz.”
Ele também tirou de sua mão
um anel – o anel de prata com a imagem do olho-que-tudo-vê
na palma de uma mão enluvada levantada. Este
ele largou na vasilha de cerâmica, onde aterrisou
com um tilintar alto.
“Quando você seguir o caminho
tripartido”, disse ele. “Vá para Portão Ocidental.
Encontre minha filha Levia e mostre-a este anel.
Ela vai saber o que ocorreu entre nós.”
“Mas…”, o garoto olhava boquiaberto
para a espada que estava entre seus joelhos.
“Eu não compreendo”.
Gedrin se virou, arrastando
seu manto largamente para esconder o garoto
atrás dele. Ele também enrolou o manto no seu
braço esquerdo para ocultar a falta da bainha
da Defensora. Drovesm se aproximava, seu rosto
confuso cheio de preocupação. “Mestre, o que
o senhor…?”.
Drovesm inclinou-se para ver
do outro lado do manto, mas Gedrin deu um passo
à frente e agarrou-o pelo braço. “Chega de atraso”,
disse ele. “Continuemos com nossos negócios,
e logo”.
Drovesm tentou olhar novamente,
mas Gedrin puxou-o mais ainda. O jovem acabou
cedendo.
Andaram pela rua, em direção
às docas em ruínas e ao seu destino: Mercadorias
de Barthul, um depósito cavernoso cujo dono
era um comerciante de má reputação que se supunha
ter negócios com os mercadores mais suspeitos
de Águas Profundas, e vendia bens recém roubados
a preços exorbitantes nas ruas de Luskan. Nesta
mesma noite, havia uma reunião de mercadores
poderosos que comerciavam armas e venenos. As
ações de Barthul levaram à mortes e ao caos
nesta cidade apodrecida, e Gedrin iria acabar
com isso – de uma forma ou de outra.
Eles hesitaram fora do depósito.
A riqueza de Barthul aparentemente permitia
que ele tivesse janelas de vidro mesmo em Luskan,
e o fato de elas ainda estarem intactas mostrou
a Gedrin que ele era conhecido por ladrões da
área como sendo uma força a ser evitada. Uma
luz turva enchia as janelas escurecidas, e o
som de vozes tocou seus ouvidos sensíveis, se
misturando com o cheiro de carniça em suas narinas.
Gedrin olhou na direção da
baía, olhando pela última vez os Reinos que
ele amava – e odiava – tanto. Os poucos barcos
que navegavam balançavam suavemente em seus
ancoradouros. Os restos de navios menos afortunados
marcavam covas aquáticas de incontáveis marinheiros,
e novos corpos estavam se juntando ao grupo
de mortos todas as noites. Perto dali, Gedrin
viu dois homens se livrando exatamente de uma
carroça cheia de homens e mulheres – os corpos
nus pareciam ter morrido de doenças, assassinatos
e fome.
“Seu anel, Mestre”, disse Drovesm,
apontando para a mão que segurava a bengala
com a cabeça de elefante. “O senhor o perdeu?”.
Gedrin pensou no garoto de
olhos brancos e sorriu. “Rezo aos deuses para
que não”.
*****
Quando Drovesm o levou para
o meio de um grupo de ladrões e assassinos esperando
no depósito de Mercadorias de Barthul, Gedrin
não se surpreendeu. Ele já sabia há meses que
esta traição ocorreria.
“Eu juro, Mestre, que não tinha
idéia…”. Drovesm protestou, mas Gedrin não estava
escutando. Em vez disso, ele avaliou os brutamontes
que haviam vindo acabar com sua vida.
“Bem vindo, Ruína das Sombras”,
disse uma voz profunda e forte – o próprio Barthul,
Gedrin adivinhou pela forma como o homem gordo
comandava a atenção de todos na sala. Ele parecia
ter sido um homem enormemente forte um dia,
apesar de estar arredondadamente gordo na sua
idade avançada. Vestia um manto roxo e aplaudia
ironicamente. “Que honra recebê-lo!”.
Gedrin não respondeu – ele
não via razão para participar desta farsa.
À direita de Barthul estava
uma sacerdotisa de Bane trajando uma negra armadura
de pregos, e segurava um cetro que crepitava
com raios esverdeados. Gedrin reconheceu-a,
mesmo que não pelo nome – eles haviam lutado
uma vez antes, nos becos de Portão Ocidental,
e esta era provavelmente a vingança dela por
aquela derrota.
À direita do gordo mercador
estava um homem barbado vestido de negro que
segurava uma varinha em cada mão – um mago Zhent,
sem a menor dúvida. Eles eram todos iguais,
os magos da Rede Negra, apesar de bem mais fracos
do que haviam sido quase um século antes.
Quatro outros mercadores –
homens e mulheres de locais tão longínquos quanto
Amn e Calimshan, a julgar por seus traços e
vestimentas – estavam nervosamente perto de
Barthul. Claramente não eram combatentes, estando
ali apenas para observar. Entre Gedrin e os
comerciantes estavam uma dúzia de homens e mulheres
armados de espadas, clavas e facas de diversas
formas e tamanhos – muitos dos quais escorria
veneno negro e esverdeado. Seus olhos estavam
famintos e seus olhares de desprezo eram venenosos.
“Que honra”, continuou Barthul,
“ter tão nobre e lendário herói agraciando nossa
pequena reunião com sua presença”.
Gedrin assentiu rigidamente.
Ele não se curvaria a homem nenhum.
O gesto de indiferença e arrogância
não foi ignorado pelo mercador, que se tornou
levemente rosa. “Você tem atrapalhado meus negócios
em Luskan por algum tempo, Gedrin Ruína das
Sombras”, disse Barthul, deixando de lado qualquer
pretensão de cortesia. “Hoje, farei de você
um exemplo para meus associados. Vejam só, caros
colegas de negócios, o que acontece quando se
desafia Barthul, o Negro”.
Os brutamontes seguraram suas
armas. Seus rostos, no entanto, mostravam nervosismo
– afinal de contas, Gedrin Ruína das Sombras
era um herói, e ninguém queria ser o primeiro
a se mover. O mago e a sacerdotisa esperavam,
com as magias brilhando nas pontas dos seus
dedos, mas Gedrin podia ver preocupação também
nos olhos deles.
“Sinto muito, Mestre”, Drovesm
disse, da porta. Ele havia abandonado sua tentativa
de convencer Gedrin de sua inocência e disse
a verdade. “Eles me ofereceram muito dinheiro,
e o seu caminho é tolo. Deste modo é melhor
– melhor para todos nós.”
Gedrin não se incomodou em
replicar. Não havia propósito em fazê-lo – apesar
de admirar o fato de Drovesm ter admitido suas
falhas. Na verdade, ele achava que isto estaria
acima do rapaz.
Um pouco sem jeito, ele ajoelhou-se
e baixou a cabeça.
“Esta é a última conspiração
que demoverei”, disse ele. “O último antro maligno
que extirparei e eliminarei antes de me entregar
à paz e ao descanso. As sombras e a escuridão
devem ser perseguidas em toda forma, através
de todas as ruas, por qualquer caminho, não
importa quão escuro, até que sejam eliminadas
do mundo”. Ele olhou em volta para todos eles.
“Vocês são todos corruptos, e devem queimar”.
As palavras de sua ostentação
ecoaram pela câmara, e as pessoas ali reunidas
se enrijeceram. Os mercadores, especialmente,
ficaram pálidos ao ouvir esta condenação. Até
a sacerdotisa parecia em dúvida, e as mãos do
mago tremiam.
Barthul, no entanto, não se
alterou. “Diga-nos, Ruína das Sombras”,
o corpulento mercador perguntou, apontando para
o cinto de Gedrin. “Como é que planeja acabar
com todos nós sem sua espada lendária? O velhote
estúpido vem a nós desarmado!”.
Isso ressegurou um pouco os
contratados de Barthul. O terror que radiava
de Ruína das Sombras foi quebrado, e os brutamontes
relaxaram visivelmente. A sacerdotisa parecia
satisfeita e o mago sorriu, expondo uma boca
cheia de dentes afiados.
“Mate-o agora!”, disse Barthul.
Gedrin Ruína das Sombras deu
um pequeno sorriso e fechou os olhos. Ele murmurou
uma prece para o Deus Tripartido.
Ele então explodiu em luz,
arremessando os homens para longe.
*****
Quando Gedrin abriu os olhos,
o mundo estava em chamas.
Barthul, os brutamontes, o
mago, a clériga negra, e o traidor Drovesm,
gritavam e arranhavam as paredes, tentando escapar
da luz abrasiva. Gedrin, ajoelhado, continuava
exalando luz, que queimava olhos, cabelos, pele.
Aqueles que receberam a maior
parte dos raios morreram rapidamente. Barthul
explodiu como uma uva podre e evaporou, deixando
para trás apenas uma sombra na forma de um homem
aterrorizado. O mago se debateu desesperadamente
e se transformou em cinzas escuras como uma
folha de papel queimada por chama voraz. A soluçante
Banita se contorceu contra a parede como se
estivesse crucificada, pregada na argamassa
pela luz carbonizante que saía do velho paladino,
e então veio ao chão em um monte de carne e
ossos queimados. Os soldados que tiveram a má
sorte de estar entre Gedrin e seus mestres gritaram
quando suas armas explodiram em chamas brilhantes,
e caíram no chão, sufocados, incapazes de respirar
o ar ardente.
“Mestre!”, Drovesm gritou.
“Mestre… por favor! Eu estava errado!”.
“Que a luz da justiça o purifique,
como purificou a mim”, Gedrin rezou através
do brilho ofuscante. “Os malignos não podem
ficar de pé, mas a luz mostra compaixão aos
arrependidos”.
Abandonando palavras, Drovesm
bateu com sua cabeça contra a parede, tentando
desesperadamente fazer com que a dor parasse.
Então, ouviu-se um ruído surdo e ele veio ao
chão, o corpo em espasmos.
Homens e mulheres caíram de
joelhos, pedindo perdão, mas a luz consumia
tudo. Aqueles mais perto do paladino foram queimados
e viraram cinzas, e aqueles um pouco mais distantes
estavam com o sangue borbulhante e as lágrimas
evaporando com o calor.
O depósito se encheu de morte
naquela noite – morte que veio rápida nas asas
da radiância cauterizante, frente a qual ninguém
podia ficar.
“Mas… mas não somos maus!”,
gritou um mercador de Amn que tentava em vão
se esconder da luz. “Por favor! Eu… eu sou mercador
de moedas! Eu não sou um homem bom, mas não
sou mau!” Ao lado dele, uma mulher de
Calimshan de rosto afilado guinchava escondendo
a face cheia de queimaduras.
A luz diminiu um pouco, como
se as palavras a tivessem amortecido. Então
Gedrin suspirou.
“Mas você é corrupto”, disse
ele, tristemente. “E isso é a mesma coisa”.
A luz se renovou, mais brilhante
do que antes. O mercador caiu com um gemido,
e o cabelo da sua companheira desapareceu nas
chamas enquanto ela caía sem sentidos, suas
mãos destruídas revelando um pedaço de carvão
onde seu rosto estivera.
Os gritos foram diminuindo
– todos os seus inimigos haviam sido queimados
até o ponto que mal se distinguia que ali houvera
vida.
*****
Após uma dúzia de respirações
agonizantes e dolorosas, a luz finalmente diminuiu
e desapareceu em volta do velho paladino. Ele
se ajoelhou no centro de um vasto círculo de
cinzas mortais e olhou em volta com uma mistura
de tristeza e resignação. Até que descansasse
um pouco, a luz se esconderia além do seu alcance
– ele havia gasto o máximo que sua carne podia
agüentar.
Gedrin Ruína das Sombras sentiu
seu coração bater rapidamente. Ele não havia
canalizado tal poder em décadas, desde quando
havia eliminado, a serviço de seu deus, um enorme
dragão das sombras. Talvez a morte estivesse
finalmente chegando, e ele temia e ansiava por
aquela escuridão com a mesma intensidade.
A escuridão veio, mas não da
maneira como ele havia imaginado.
Uma forma saiu das sombras.
Se Gedrin tivesse olhado para trás quando a
luz estava brilhando, ele poderia ter visto
o homem das sombras encolhido no canto, o mais
longe possível da luz cegante, mas apenas se
ele olhasse da forma certa. A criatura andava
pelas sombras como se elas fossem um mundo à
parte, como de fato o eram.
Gedrin reconheceu imediatamente
seu antigo inimigo, apesar de muitos anos terem
se passado desde a última vez que haviam se
visto. “Kirenkirsalai”, disse ele.
Era um nome que ele não havia
pronunciado em trinta anos, desde o duelo em
que havia destruído a criatura em que Sivgena
havia se tornado – uma criatura que ele,
o homem das sombras, havia criado. Isso importava
pouco, agora. Gedrin estava acabado.
“Você se lembra”, o homem das
sombras disse. “Você se lembra do nome que te
dei para me chamar”.
Gedrin considerou seu inimigo.
Ele poderia um dia ter sido um mortal nascido
de um humano e de uma elfa, mas havia pouco
de humano nele agora – não havia há mais de
um século. Seus olhos, para começar, eram completa
e inteiramente negros – sem branco nem íris:
apenas a escuridão indescritível.
“Sim”, disse ele. “E também
o seu nome verdadeiro, Ne…”.
“Nunca este nome”. Uma mão
agarrou a garganta do velho, sufocando suas
palavras. “Eu nunca mais usarei este nome. Eu
estou além dele – melhor do que ele.
Aperfeiçoado”.
Gedrin piscou, cansado. A respiração
era quase impossível, e também a fala. Ele estava
morrendo, ele sabia – uma última amostra de
radiância antes do fim. Ele achou que podia
ver as faces do Deus Tripartido.
“Onde está ela, Ruína das Sombras?.”
Dedos envoltos na escuridão acariciaram sua
cabeça. “Onde está ela, a criança que você prometeu
me entregar, todos estes anos atrás? Você deve
estar com ela.”
Gedrin olhou para o rosto de
seu atormentador. Ele não mentiria, nem iria
implorar. “Não”.
“Quase oitenta anos, e ainda
assim você não a tem?”. A criatura deu um
passo para trás, seu rosto dividido por um sorriso
louco e cruel. “Vocês homens são todos iguais.
Paladino ou assassino, os votos que você faz
em nome da honra são apenas vento nos
meus ouvidos”.
“Você está errado,” disse Gedrin,
mas não conseguia dizer nada além disso. Seu
coração batia descompassadamente, e era como
se houvesse um cavalo sentado na parte esquerda
do seu corpo. Seu tempo havia acabado.
Uma sombra passou entre ele
e a luz acima. Seu mundo escureceu.
“Não pense que vai escapar
de mim – eu não vou deixar a idade mortal roubar
minha vingança”.
Então Kirenkirsalai hesitou.
“Sua espada, Ruína das Sombras”.
A voz sem emoção soava agitada. “Seu velho tolo
– o que foi que fez com sua espada?”.
Gedrin olhou para os dois pontos
de luz em uma das janelas embaçadas de Barthul:
o garoto dos olhos brancos. O garoto estava
olhando para ele – implorando com ele.
Não implore, Gedrin
pensou na direção do garoto. Não tente fugir,
como eu fiz.
“Você é um inútil”, disse o
homem das sombras, saindo de perto de Gedrin
com desprezo. “Um velho patético e arruinado
sem nenhuma utilidade. Você está acabado, velho
– acabado e morto.”
“Talvez”, Gedrin sussurrou.
“Mas ele não”.
“O quê?”, o homem das sombras
perguntou. “O velhote delira, quando sua hora
chega?”.
“Meu aprendiz”, disse Gedrin.
“Meu aprendiz vai continuar o trabalho”.
O homem das sombras riu. “Seu
aprendiz foi morto por suas mãos, Ruína das
Sombras”. Ele apontou para a pilha de cinzas
que havia sido Drovesm. “Ou você esqueceu? Todos
se viraram contra você e não lhe restou nada.
Você morre como um homem quebrado – uma causa
perdida.”
As palavras recaíram nos ouvidos
de Gedrin, mas ele mal as ouviu. Ele estava
olhando para o garoto dos olhos brancos.
Veremos, pensou ele.
Gedrin sorriu para o garoto,
depois olhou de volta para a criatura das sombras
de pé diante dele. Havia uma espada em sua mão
– uma lâmina longa composta de pura meia-noite.
Ele ficou em uma posição delicada e graciosa
de ataque, a lâmina sobre o coração de Gedrin.
“Você pode morrer agora, Ruína
das Sombras”, disse ele com desprezo, seus olhos
negros vívidos cheios de malícia.
Seu coração estava explodindo
– ele sentia com se seu peito estivesse desabando
dentro de si mesmo. A respiração não vinha,
muito menos a fala. Ruína das Sombras fechou
os olhos, sabendo que nada poderia fazer – força,
espada ou radiância alguma havia sobrado. Apenas
a aceitação.
A lâmina entrou no seu peito.
Ele pensou em Sivgena e em
seus filhos.
Veio a verdadeira escuridão.

Sobre o Autor
Erik Scott de Bie tem 20 e
poucos anos e teve uma variedade de empregos,
a maior parte deles de natureza jornalística
e/ou administrativa, apesar de alguns serem
mais exóticos – domesticar crianças birrentas,
apagar incêndios em florestas e duelar amadoristicamente.
Erik viveu na estrada na Espanha
por um mês, no metrô de Londres por seis meses,
no vale da Califórnia por pelo menos um ano
e meio, em uma parte artificialmente verde do
Oregon por quatro meses e ele mora, atualmente,
no Norte (Seattle, na vida real) com um casal
de gatos chamados Apollo e Athena e com um anjo
cativo chamado Shelley.
Nas horas vagas, ele anda furtivamente
pelas ruas de Londres vestido de preto, ataca
os antigos castelos da Escócia e enfrenta franceses
pirofágicos em noites quentes às margens do
Sena.
Ele já olhou a morte nos belos
olhos, venceu seu maior inimigo em nome do amor
verdadeiro e ganhou algumas cicatrizes de sabre
bem espetaculares (vocês deviam ter visto o
outro cara).
O resto do tempo Erik passa
escrevendo, jogando RPGs, lendo vorazmente,
escrevendo mais ainda, tentando reunir o seu
grupo de D&D, atualmente separado, para
sessões de jogo de vez em quando, pesquisando
segredos arcaicos, invocando demônios e obrigando-os
a obedecer suas ordens para utilizá-los contra
advogados e pessoas que pronunciam seu nome
errado. Neste mês, veja o lançamento de Erik
Scott de Bie, Downshadow [Ruína das
Sombras].
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de romances vá para nossa seção
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