Quando
estávamos escrevendo o romance City
of Splendors, Ed Greenwood e eu discutimos
a possibilidade de revisitarmos o passado de
Águas Profundas, não com flashbacks comuns
mas com “contos heróicos” contados por Taeros
Falcão do Inverno. Ao longo da história, Taeros,
um jovem da nobreza dos mercadores de Águas
Profundas, estava trabalhando secretamente em
Profundas Águas, uma coleção de histórias recontando
as lendas e heróis de Águas Profundas, que ele
tencionava presentear a Azoun V, o rei infante
de Cormyr.
Mas o tempo e as restrições
da quantidade de palavras se mostraram inimigos
mortais da sua idéia. Apesar das referências
feita a Profundas Águas no romance,
nenhum dos contos de Taeros estão incluídos.
Aqui está a história que ele escreveu enquanto
esperava pela chegada de seus amigos em seu
novo retiro em Distrito das Docas. Fala de uma
lenda muito conhecida sobre um famoso marco
de Águas Profundas.
* * * * *
Há muito tempo atrás, muitas
gerações antes dos homens e elfos erguerem uma
pedra nas Terras dos Vales para começar novamente
a contagem dos anos, pequenos grupos de bárbaros
construíram um lar ao lado de um porto de águas
profundas. Era um bom lugar, com caça abundante
nos bosques e florestas circundantes. Havia
tantos peixes nos mares que eles mal cabiam
todos na água. Na verdade, durante cada lua
cheia do verão, pequenos runchions prateados
se arrastavam para a praia para botar ovos na
areia. Pegar estes rápidos e escorregadios peixes
era considerado ótima diversão, uma ocasião
para alegria e canções.
Sima era uma jovem alegre,
redonda com uma fruta e marrom como um pássaro.
Mas sua irmã, Erlean, era alta e clara, com
o cabelo da cor de trigo vermelho, e foi Erlean
que chamou a atenção de Brog, o chefe da tribo.
As lágrimas dele foram amargas quando foi jogada
a sorte lote para conhecer o tributo a ser pago
ao dragão e a pedra que caiu mais perto do altar
de sacrifício era mais vermelha do que trigo
vermelho.
Naqueles dias, as terras entre
os mares eram governadas por dragões, e todo
verão eles vinham exigir os tributos: uma jovem,
morta na pedra de um altar, e levada para servir
ao paladar de algum rei dragão distante. Cada
ano o líder jogava um punhado de pedras perto
do altar: pedrinhas de rio brancas e vermelhas,
pedras negras de carvão, pedaços de âmbar dourado
de todas as cores, do amarelo mais pálido ao
marrom. A vontade dos deuses decidia qual pedra
cairia mais perto do altar. A jovem que tivesse
o cabelo da cor mais próxima da cor da pedra
de má sorte seria sacrificada naquele verão.
Nenhuma jovem da aldeia, exceto
Erlean, podia se gabar de ter cabelos da cor
de trigo vermelho.
Tão forte era o amor de Brog,
o líder, por Erlean que ele não queria desistir
dela. Com palavras negras e promessas suaves
ele convenceu o tanoeiro da aldeia para sua
causa. No dia da primeira lua cheia do verão,
a noite em que os runchions corriam e os dragões
se banqueteavam, Brog proclamou um banquete.
Foi uma coisa fácil para o tanoeiro adicionar
ao hidromel ervas que fariam com que os aldeões
caíssem no sono. Todos beberam, com a exceção
de Brog e do tanoeiro, e quando Sima dormiu,
eles esfregaram suco de cereja em seu cabelo
até que ficasse mais vermelho do que trigo vermelho,
e a amarraram na pedra do altar.
Os aldeões acordaram no luar
forte da lua cheia com o trovejar de asas quando
dois dragões vermelhos vieram para cobrar o
tributo: um dragão guerreiro conhecido como
Hysta'kiamarh e sua companheira, uma sacerdotisa
cujo nome não era pronunciável por nenhuma língua
humana. Eles eram apavorantes, e foi grande
o medo de Sima quando ela se viu sobre o altar
no lugar de sua irmã.
“Eu fui traída!”, ela gritou.
“Eu não sou a escolhida para o sacrifício! Outra
deveria morrer, e não eu!”
O dragão guerreiro olhou para
ela e sua enorme boca com dentes enormes se
curvou em um sorriso terrível e traiçoeiro.”Eu
sempre achei que um pouco de traição dá um gosto
apimentado em um humano. Nomeie os que a traíram,
coisinha barulhenta, e ficará livre.”.
“Jure,” Sima insistiu. “Jure
o mais sagrado juramento que conhece e diga
que aquele que fez com que eu fosse amarrada
aqui morrerá em um lugar!”.
“Pelos quatro ventos, pelo
próprio Hálito de Tiamat, assim será!”, entoou
Hysta'kiamarh.
Uma vez feito seu juramento,
o dragão estendeu uma garra e cortou as cordas
que amarravam as mãos de Sima. Ela levantou
o braço e estendeu um dedo acusador, passando-o
em um caminho mortal através do grupo de pessoas
de Profunda Água iluminado pela lua. O medo
estava em cada um dos rostos familiares, mas
brilhava mais forte nos olhos daqueles que a
haviam traído.
Sima viu o que estava nos olhos
de seu pai e seu chefe, e por um momento ela
hesitou, tremendo. Então ela girou sua mão até
o alto para apontar para o dragão vermelho maior.
“Foi você, grande Hysta’kiamarh”,
ela gritou, “foi você quem ordenou este tributo,
que me colocou neste altar! Mãos humanas ataram
os nós, mas as cordas que nos amarram a todos
estão em seu poder. Pela união antiga entre
o vento e a palavra, é Hysta’miamarh quem deve
morrer no lugar de Sima!”
Com essas palavras, vapor saiu
furiosamente das narinas do dragão, e chamas
saltaram e queimaram dentro dos olhos amarelos
de Hsta’kiamarh. Sibilando sua raiva pela insolência
da garota, ele ergueu suas garras para o golpe
mortal.
Imediatamente um vento terrível
rugiu vindo do mar. Uma monstruosa nuvem escura
na forma de um dragão veio em direção aos aldeões
curvados de medo como uma tempestade assassina.
Passou impetuosamente por Profunda Água, para
depois girar no céu e circular de volta com
intenção fatal.
O dragão renegado tirou os
olhos daquela visão medonha apenas para mandar
um olhar inquiridor penetrante a sua companheira.
Ela inclinou a cabeça com chifres
em um aceno solene. “O Hálito de Tiamat”, a
sacerdotisa confirmou. “Assim como foi jurado,
será. Pela palavra e pelo vento, a sua vida
pela da garota.”
E enquanto ela falava, a nuvem
em forma de dragão desceu e engolfou Hysta’kiamarh.
Nuvem e dragão então subiram em direção à lua
que tudo observava. Desapareceram juntos, bem
acima de Profunda Água, em um estrondo que dividiu
o céu como o maior trovão jamais ouvido. Uma
chuva de escamas de dragão caiu com estrondo
na lama batida de Profunda Água, fazendo com
que os aldeões fugissem em pânico.
Mas o luar curioso logo conseguiu
achar um caminho pelo redemoinho de pó, e os
aldeões vieram depois. Todos viram algo impressionante:
as escamas do dragão haviam caído, formando
um elaborado círculo em volta do altar de pedra,
sobre o qual Sima estava de pé, desamarrada
e ilesa. O dragão-clériga e curvou-se, saudando-a
como se ela fosse a filha de um chefe.
“O acordo foi cumprido, o tributo
está acabado”, disse o dragão, sua voz ondulando
através da praia e do mar. “O que os guerreiros
de Profunda Àgua não conseguiram através da
força das armas, uma garota obteve através de
sua inteligência e lealdade”. Então a dragão-fêmea
lançou-se para os céus e os deixou.
Os aldeões estavam maravilhados,
e então, juntos, ficaram de joelhos frente à
donzela que os havia salvado.
Sima desceu do altar e pegou
com uma mão seu pai e com a outra Brog, pretendente
de sua irmã. Ao erguê-las, ela disse alegremente,
“A lua está cheia, e os runchions logo voltarão
ao mar. Só porque os dragões não podem comer,
não é motivo para nós não comermos!”
O povo de Profunda Água desceu
para as areias alegremente. Eles perseguiram
os peixinhos que fugiam com muitas brincadeiras
e risadas, até que a lua se retirou para o seu
sono do dia ao som de canções felizes e o cheiro
bom de assado de runchion.
Até hoje, o mosaico de escamas
de dragão pode ser visto na Praça da Virgem,
mais duro do que qualquer pedra. Graças a Sima,
nunca mais os dragões do Norte exigiram um tributo
de sangue do povo de Águas Profundas.
* * *
Para ler mais histórias de
Elaine, veja The Best of the Realms, Book
III: The Stories of Elaine Cunningham.

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