Há "As
Melhores" histórias — como as que encontramos
no livro The Best of the Realms,
Book II: The Stories of Ed Greenwood (prefiro
chamar-lhe apenas ‘Best of Eddie’) - e há algumas
que são apenas fragmentos divertidos: lampejos
inacabados.
Este é um deles.
"Ladrões Demais" foi escrito no final de 1989. Ele é apenas um dos
muitos, muitos, episódios até então inéditos ocorridos no início da vida do infame
mago Elminster, durante o período (iniciado em 229 CV) detalhado pelos capítulos
4 a 6 do livro Elminster: The Making of a Mage. Neste ponto o jovem
Elminster Aumar, ainda não iniciado em magia, está usando o nome ‘Eladar o escuro’,
enquanto ele se esforça para ganhar a vida como um ladrão em Hastarl, uma cidade
governada pelos Lordes mágicos. No entanto, Hastarl é uma cidade que ele, o último
Príncipe vivo de Athalantar, deveria em breve estar governando.
Ele e seu amigo Farl são os líderes de um bando de ladrões conhecido como os
Mãos de Veludo, formado como oposição a primeira gangue de ladrões que Hastarl
conheceu: os misteriosos Garras da Lua.
Se você gostou deste pequeno lampejo dos dias de ladrão de Elminster, tenho dezenas
mais. Se você quiser belas histórias acabadas, completas, escolha o ‘Best of
Eddie’ — quero dizer, The Best of the Realms, Book II: The Stories
of Ed Greenwood.
"Uma bela manhã", Elminster concordou, olhando em volta. Empadas quentes
de esquilo-e-folhas fumegavam em suas mãos, compradas do velho Lansiblin na sua
habitual esquina. Ele as mordeu, relutando enquanto a crosta queimava o céu da
sua boca, e mastigou satisfeito. "Ummh. Um pouco menos de rato que o habitual."
Farl examinou as suas. "Bom. Eu estava pensando... Mas talvez ele tenha
colocado um inteiro na minha".
El discordou. "Não — cê sabe que ele não podia botar tudo, rabos e garras
e tudo mais, numa coisa pequena assim. E se ele fez, que carne ele colocaria
no resto?"
Farl acenou com a cabeça, concordando, e mordeu sua empada. "Aproveite este
dia", ele resmungou, com a boca cheia que parecia estar tão quente quanto à de
Elminster. "Se os Garras da Lua reagirem a nossa primeira incursão como
eu espero, esta pode ser a última manhã em que ousaremos mostrar nossos rostos
nas ruas por muito tempo."
El concordou. "Eu também acho, depois que nós..."
Ele parou, rosto pálido, assim que entrou num beco. Farl se aproximou para apanhar
os pedaços da empada que caiam das mãos de seu amigo, mas nada disse.
Ele podia ver Klaern Blaenbar deitado sobre suas costas no chão do beco tão bem
quanto Elminster.
O ladrão fitava interminavelmente o céu. Havia poeira nos seus olhos e em sua
boca aberta, moscas pousando aqui e ali sobre ele. Poucos metros depois havia
uma maça disforme, vermelha escura pelo sangue seco, que deveria ter sido seu
irmão Othkyn.
"Cê sabia?" Elminster sussurrou, virando-se rapidamente.
Farl deu de ombros. "Eu imaginei. Provavelmente Jhardin." Ele devolveu
a empada a Elminster. "Eles sabiam todos os nossos nomes e rostos — e foram
direto para os Garras da Lua. Pelas moedas, ou talvez eles tenham já tivessem
se unido aos Garras. Nós não poderíamos deixá-los vivos."
El olhou em seus olhos, com o rosto ainda pálido. "Em um combate, tudo bem,
quando o sangue esta quente e lâminas em punho", e é sua vida ou a dele — mas
se esgueirar atrás de alguém que você decidiu matar de antemão, caçar ele ... "Ele
balançou sua cabeça. "Estou começando a odiar isso", acrescentou em
um sussurro.
"Arrebatar jóias de Senhoras sonolentas é mais divertido, sim," Farl
concordou, "mas você está em guerra com Lordes mágicos e soldados; Por que
você se lamentaria por um traidor? Hastarl está melhor sem os Blaenbars." Ele
seguiu caminhando.
Elminster seguiu, olhando para trás enquanto um vira-lata faminto entrava no
beco — e levantou a cabeça ansiosamente assim que sentiu o cheiro de carne.
Ele sentiu um arrepio, e virando seu rosto, disse com pesar, "Isto não esta
vingando meus pais", e acelerou atrás do seu amigo.
A última das tortas estava ruim, e ele jogou fora.
Selûne parecia apenas a borda de uma moeda flutuando no céu; o último raio de
luar sumiria em breve. No entanto, havia ainda o suficiente para refletir em
uma espada erguida impacientemente. Se antecipando ao golpe, El cravou os dedos
nos ombros de Farl e arrastou-o para o lado, em um beco.
De dentro da escuridão em algum lugar à frente veio uma maldição, a que se seguiu
o fraco som de passos de várias pessoas ocultas vindo cuidadosamente — mas rapidamente — em
sua direção.
Farl bateu na mão de Elminster para mostrar que compreendeu, e se afastou; El
ouviu o suave sussurro da espada longa extra-fina deslizar para fora da bainha.
Ele sacou da bota sua própria faca longa, ajeitou o punhal já pronto em sua outra
mão, subiu cuidadosamente sobre a borda de um velho caixote quebrado e sem tampa,
e esperou.
Ele não precisou se equilibrar por muito tempo. Da escuridão a sua frente veio
um som nítido, o início de uma maldição e, em seguida, o estrondo de alguém caindo
como um pesado tronco de madeira podre.
Elminster saltou. Seus calcanhares aterrissaram na carne, e sua faca longa golpeou
bem ao lado deles. O grunhido de respiração pesada se transformou em um guincho
alto de dor. El esfaqueou novamente e saltou ileso para o lado.
Ele atingiu a parede de pedra ao lado do caixote e ricocheteou nela, mantendo
suas lâminas prontas para agir. Farl pegou a garganta do próximo homem dos Garras
da Lua, que gorgolejou indefeso e veio a baixo.
"Uldorn?" Uma voz ansiosa sibilou muito perto. Elminster congelou silenciosamente.
"Uldorn?" A voz se aproximou um pouco mais.
Elminster controlou um gemido abafado. Ele ouviu o próximo passo quase em cima
dele — e se arremessou ferozmente noite a dentro.
Sua lâmina perfurou couro e afundou em alguém, que fez um som de susto e choque.
Quem quer que ele tenha atingido recuou fazendo muito barulho com suas botas.
El deu um longo passo em frente e, em seguida, respirou, mantendo-se abaixado.
Sua faca atingiu algo sólido novamente. Houve um soluço, o sussurro de uma maldição
sincera, em seguida, o som sem igual de algo cruzando o ar. Em seguida uma seta
saiu da noite, passou por sua orelha, e zuniu invisível rua abaixo.
"Ai está esse arqueiro maldito de novo!" Farl rosnou. "Vá pra
direita, El!"
Elminster virou para a direita e correu, Farl logo ao seu lado. A saída do beco
trouxe-lhes uma brisa fria, e eles correram abaixados para lá — Enquanto o aço
assobiava rapidamente na rua escura, despertando um grito agudo.
Venezianas se abriram no alto, e subitamente a luz se derramou pela rua. Um homem
gritou: "Quem está ai?"
Ele pendurou uma besta atravessada em seu peito desnudo, enquanto fazia caretas
e olhava atentamente para a escuridão.
Farl e Elminster recuaram para o beco, fora da vista do homem. Sob a luz que
caía da janela, eles puderam ver dois homens desconhecidos deitados de bruços
sobre as pedras que calçavam a rua, se contorcendo e balançando para frente e
para trás por causa da dor. Outros dois jaziam imóveis.
Algo se moveu pra frente, onde a luz o iluminou — e horrorizados eles reconheceram
seu amigo Rhegaer, olhos vidrados, sendo sacudido por uma lâmina que atravessava
sua garganta. O matador dos Garras da Lua chutou ele, e o garoto e deslizou para
fora do aço com uma lentidão nojenta, desabando para a rua.
"Estou te vendo!" O homem na janela gritou recuando. Eles ouviram o
rápido sussurro de uma corda tencionada, e tremeram, sabendo o que estava vindo.
Quando a mudança na luz disse-lhes que o homem tinha voltado para a janela, uma
flecha saltou para fora da noite. Eles ouviram o homem gemer, o rápido clique
da besta disparando, seu virote zumbido no céu noturno — e, em seguida, o homem
caiu pesadamente por cima do peitoril.
Um segundo depois, seu corpo caiu como um saco de sementes cheio em cima dos
corpos que se moviam precariamente logo abaixo. As botas dos Garras da Lua logo
abaixo dele chutaram uma vez. . . e, em seguida, os dois homens ficaram imóveis.
Sobre eles, um instante mais tarde, saltou uma figura delgada, bem torneada e
familiar: Tassabra, correndo, seus cabelos esvoaçando atrás dela. A espada longa
em sua mão estava coberta de sangue quase ate o cabo.
"Calma cavaleiro", ela bufou assim que entrou no beco e mergulhou entre
Farl e Elminster, fazendo a velha piada.
"Justo amanhecer à frente, se os deuses estiverem conosco", Elminster
deu a resposta formal e completa, sua mente e os olhos mirando a escuridão de
onde ela tinha saído. Um instante depois, um homem dos Garras da Lua veio correndo
da escuridão, em seu rastro.
Foi este ladrão que Elminster tinha expulso uma vez pela janela, ele nunca esqueceu
aquele rosto cruel com sua barba de franja e cabelo curto espigado. O homem usava
um bracelete de arqueiro e guardou seu arco ainda nervoso, acenando um sabre
curvo em sua outra mão.
El e Farl e sacaram suas adagas juntos. El errou seu alvo, cortando a bochecha
do homem — mas a lâmina de Farl encontrou um olho. O homem lançou sua cabeça
para trás, violentamente, e atingiu a parede. Ele foi morto antes que seu corpo
deslizasse para o chão.
"Esse era Goroth", disse Farl com alguma satisfação. "Alguém sabe
quantos matamos esta noite?"
Tassabra ainda tinha dificuldade para respirar, seu peito subia e descia pesadamente. "Eu...
Abati três", ela falou. "Jhardin — outro. Ele... lá atrás em algum
lugar. Receio que... perdemos Chaslarla esta noite. Ela não conseguiu correr...
E Rhegaer, aqui. Quantos vocês dois pegaram?"
"Não o suficiente", disse Farl, abraçando ela.
Ela beijou-o, e, em seguida, encostou a lâmina em seu peito e acrescentou num
tom ameaçador , "Se você não se afastar de mim, Farl Fancy-breeches, haverá outro
dos Mãos de Veludo morto esta noite, aqui no beco — E não serei eu! "
"Meus pêsames", respondeu Farl, recuando.
Tassabra deu-lhe um olhar frio como aço. "Sei," ela respondeu. "Agora
me leve em algum lugar onde sirvam cerveja, e que não tenha Garras da Lua esperando
para me matar nele!"
Gentilmente, os dois homens obedeceram. Atrás deles um rangido soou, alguém olhava
para fora da janela e procurava o que tinha atingido o homem com a besta.
Esta não estava se revelando uma noite tranqüila em Hastarl.
Pelo menos uma vez, Farl ficou tão branco e silencioso como Elminster. Sob a
luz brilhante da manhã, olharam severamente ao redor do quartinho empoeirado
onde Jhardin vivera. O grande homem jazia deitado no seu próprio sangue, o penico
enfiado na cabeça. Alguém tinha cortado sua garganta e esculpido uma lua e um
punhal cruzados no seu enorme e cabeludo peito. Tudo no quarto estava quebrado,
sujo — ou desaparecido.
Quando Farl virou, seus olhos estavam queimando. "Será uma guerra declarada
entre nós agora".
"Não foi, na noite passada?" Elminster perguntou calmamente.
Farl deu-lhe um olhar negro. "Espero que os deuses ainda não tenham feito
de você um profeta das gangues".
Elminster deu de ombros. "Estamos nisso agora", disse ele, "sangue
e tudo mais — Tassabra, Tarth, Larrin, e nós dois. Isso não é perto o bastante."
Farl fez uma cara feia. "Eu continuo a pensar que existe um Lorde mágico
ou um comerciante endinheirado por detrás destes Garras da Lua. Eles são muitos,
aparecem do nada tão subitamente, com uniformes e tudo mais..."
Elminster concordou. "E então?"
Farl rangeu os dentes com força. "Então nós descobrimos quem lhes dá as
suas ordens, e cortamos sua cabeça. Se fizermos isso direito, nós poderemos até conseguir
dar algumas ordens que vão levá-los a lutar com os soldados. Por hora, temos
que alertar os outros, e nos esconder."
"No cemitério?"
"Onde mais?" Farl disse, e seus lábios se curvaram num súbito, sorriso
amarelado. "De uma forma ou de outra."
Leia mais de Ed Greenwood em The Best of the Realms, Book II:
The Stories of Ed Greenwood.

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