Elaine
Cunningham deixou um pouco de lado seu último
projeto para falar um pouco sobre Liriel e sobre
outros assuntos de interesse dos fãs
de Forgotten Realms e Guerra
nas Estrelas.
Wizards of the Coast: Como foi seu início
como autora?
Elaine Cunningham: Acidental.
Não, faça isso “sortudamente”
- isso soa mais impressionante. Eu comecei escrevendo
de olho no mercado editorial quando meu primeiro
filho nasceu. Infelizmente, as primeiras histórias
que tentei escrever – ficções
sobre mulheres contemporâneas –
não serviam para a minha personalidade
e estilo de escrever. Um querido amigo leu meus
manuscritos e disse: “Garota, você
não tem nenhuma veia romântica
no seu corpo. Encare isso: você é
estranha. Talvez você devesse tentar escrever
sobre fantasia”. Por algum motivo, esse
conselho mexeu comigo. No dia seguinte, eu peguei
uma cópia da revista Writer’s
Digest. Na última seção
havia um minúsculo artigo que solicitava
proposta para uma nova série passada
no mundo de Forgotten Realms.
Eu liguei para o número dado, falei com
a diretora de edição Mary Kirchoff,
e corri para leituras sugeridas: a velha caixa
de campanha cinza e todos os romances já
editados. Eu imediatamente me apaixonei pelo
mundo de Ed Greenwood. A Estilha de Cristal
de Bob Salvatore me convenceu que isso poderia
ser uma divertida caixa de areia para brincar.
Eu escrevi a proposta que futuramente se transformaria
em Elfshadow, meu primeiro livro publicado.
Wizards: Quais são as suas principais
influências como escritora?
Elaine: História, folclore
e mitologia. Soa um pouco comum, eu sei, mas
é isso. Ficção, definitivamente.
Um pouco de poesia também tem sua influência
– e isso não é necessariamente
uma boa coisa. Posso ficar horas procurando
pela imagem certa, ou a palavra que descreva
a nuance desejada mais precisamente. Às
vezes isso faz diferença, mas na maioria
das vezes isso costuma atrapalhar.
Música tem uma participação
importante na caracterização.
Eu tenho uma idéia muito forte sobre
que tipo de música um bardo tocaria,
e qual tipo de música faria mover-se
(ou irritar-se) um não-músico.
Mesmo que ninguém escute as melodias
eu as escuto, ajuda saber que tipo de música
inspiraria alguém tão selvagem
como Arilyn a dançar à luz da
lua, ou o que poderia trazer lágrimas
de nostalgia a Elaith Craulnober. De tempos
em tempos eu escrevo músicas para acompanhar
as histórias. Eu não poderia dizer
que isso é uma trilha sonora, mas várias
pessoas, lugares, emoções e temas
têm sua própria expressão
musical. Uma das razões para que eu me
sinta mais em casa em Águas Profundas
do que em outros lugares é que eu consigo
realmente imaginar que tipo de música
toca lá.
Wizards:
Qual foi o primeiro livro que você se
lembra de ter lido quando era criança?
Elaine: Eu me lembro de começar
a ler bem cedo, mas nenhum livro em particular
me vem à cabeça. Os primeiros
livros que nós tínhamos na escola
não eram, no geral, uma experiência
muito interessante ou positiva. Eu comecei a
ler por mim mesma no verão entre a 1ª
e a 2ª série. O primeiro livro que
realmente fez minha imaginação
viajar foi uma coletânea de histórias
sobre gatos. Eu comecei a ler poesia um pouco
depois. Baladas eram as minhas favoritas –
eu amava o ritmo que havia na história,
e imediatamente comecei a escrever (bem mal)
minha própria poesia. No final da 2ª
série, eu lia absolutamente tudo que
caísse em minhas mãos. Eu me lembro
de ir à biblioteca da cidade com a minha
irmã e pegar o máximo de livros
permitidos, e voltar na data marcada para pegar
mais. Eu passei por toda a seção
de mitologia, li todos os livros de Frank Baum
sobre Oz, e passei pela maior parte das prateleiras
de ciência. Na 5ª série eu
decidi ler todas as enciclopédias da
escola. Eu fui até o “T”
antes de ir para o 2° grau; conseqüentemente,
sei muito pouco sobre coisas como “vertigem”
ou “fascólomo”.
Olhando para trás, vejo como certos livros
favoritos têm impacto na infância.
Séries como a de Anne of Green Gables
me ensinaram que personagens recorrentes podem
ser amigos valorosos. Aventuras clássicas
como Ivanhoé, Os Três
Mosqueteiros, A Ilha do Tesouro,
e A Pimpinela Escarlate são
uma boa preparação para se escrever
histórias sobre espadas e magia. (Na
verdade, um antigo editor da Wizards of the
Coast costumava dizer: “Se Alexandre Dumas
escrevesse hoje, ele escreveria para nós”).
Qualquer um que leu A Pimpinela Escarlate
verá de onde veio Danilo Thann. Eu estava
intrigada pela noção de um nobre
infantil, vaidoso que era mais do que parecia
ser.
Wizards: Que são seus autores favoritos
no momento?
Elaine: Eu achei Corelli’s
Mandolin (escrito por Louis De Bernemieres)
brilhante. Não o julgue pelo filme, que
não se aproxima da história, das
idéias e da linguagem incrivelmente rica
e do romance. John Irving é maravilhoso.
Eu li Windom for a Year entre lágrimas
de inveja e desespero. Isso é um exagero,
mas só um pouco. Os livros de fantasia
que li recentemente e gostei incluem Deuses
Americanos, do Neil Gaiman e a série
“Fire and Ice” de George
R.R. Martin. Eu admiro o lirismo e caracterização
de Toni Morrison, assim como o humor e o frescor
das idéias de Connie Willis. Eu amo as
séries Cadfael de Ellis Peter,
que são mistérios passados na
Inglaterra medieval durante a guerra civil entre
o Rei Stephen e a sua prima a Imperatriz Maud.
Esse é o tipo de livro que você
quer ler de dois jeitos: rápido, para
acompanhar o mistério, e devagar, para
saborear a prosa elegante. Em mistérios
de outros tipos, o estilo de dialogo de Lawrence
Block é maravilhosamente peculiar. Eu
li todos os livros da Antonia Fraser sobre história
escocesa e inglesa. Gosto de uma gama muito
ampla de humoristas: Washington Irving, Mark
Twain, Oscar Wilde, Dorothy Parker, Roger Zelazny,
Douglas Adams, e Dave Barry que eu me lembro
agora. No momento um padrão deveria estar
aparecendo: o fato é que não existe
muito um padrão. Eu leio uma grande variedade
de livros: populares, literatura, mistérios,
história e não-ficção.
Wizards:
O que você faz para manter o processo
criativo?
Elaine: Eu aplico uma fórmula
simples: escrever = bunda na cadeira.
A fórmula é simples: a implementação
não. Histórias tomam forma devagar,
durante longos períodos, em várias,
várias camadas. Nada é tão
assustador quanto uma tela de computador em
branco, então para mim é mais
fácil começar com uma pesquisa.
Algumas idéias me chamam a atenção,
e depois eu começo uma série de
“E se?” questões que eventualmente
me levam a um começo. Eu tenho um rumo
para a história, claro, mas recentemente
eu percebi que realmente não sei sobre
o que a história será realmente
até que ela esteja escrita. O verdadeiro
trabalho realmente começa na revisão
e quando vou reescrever.
Wizards: Elaine, Daughter of the
Drow foi publicado primeiramente em 1995
e Tangled Webs em 1996. Foi difícil
voltar e terminar a trilogia com Widwalker
seis anos depois?
Elaine: Em uma palavra, sim.
Uma das coisas mais difíceis foi reconciliar
na minha cabeça as diferenças
entre as regras de AD&D e as mudanças
que o D&D trouxe para o drow. Na verdade,
isso não foi difícil – foi
terrível. Eu não podia passar
por cima disso; Não podia lidar com a
necessidade prática de escrever um livro
com regras obsoletas. Estava fora de questão
reescrever os dois livros e atualizá-los
para o D&D. Nessas séries, não
era um problema de alguns globos de escuridão
ou uma capa mágica que falhava quando
não deveria, ou vice e versa. A premissa
central dos dois primeiros livros era que os
drows não podiam trazer a sua magia e
seus itens mágicos para a superfície.
Foi essa limitação que motivou
Liriel a procurar o amuleto Windwalker e o que
levou os drows a persegui-la. A escolha entre
consistência interna e continuidade não
foi apenas um detalhe. O pobre do meu editor
ouviu pacientemente os meus problemas, e decretou
que eu deveria continuar com o mesmo mundo que
moldou os dois primeiros livros. Ele afirmou
que os leitores de Forgotten Realms
eram um grupo inteligente e entenderiam a necessidade
disso. Enquanto eu concordava com tudo isso,
também percebi que os leitores aumentavam,
com jovens leitores vindo a todo o momento.
Para muitos, aquele seria o primeiro contato
com Liriel. E para muitos jogadores, a segunda
edição era apenas uma vaga lembrança
ou uma nota de rodapé na história
do RPG. Esses recém-chegados ficariam
confusos ou chateados pelas “inconsistências”
com o novo Forgotten Realms.
Conforme fui trabalhando com o problema, Windwalker
começou a tomar uma forma diferente do
que eu imaginava. Pistas nos dois primeiros
livros me levaram a uma inesperada, mas certa,
direção. O personagem de Liriel
havia crescido – ela transformou-se de
uma amante de diversão mais desleixada
princesa para uma maga de guerra e uma sacerdotisa
avessa a isso - mas sua jornada no livro três
a levou a lugares que eu jamais pensei que ela
iria. No geral, eu acho que isso foi uma boa
coisa.
Também tive alguns problemas pessoais
que me atrapalharam a escrever a história.
Meu pai faleceu esse ano após uma breve
luta contra um câncer. Nós estávamos
esperando pela publicação de um
livro sobre paganismo polonês e mitologia,
pretendíamos traduzir para o inglês
como um esforço extra – não
para a publicação em si, mas pela
ajuda que daria na pesquisa de um mundo de fantasia
original e na criação de uma série
de livros sobre folclore para crianças.
Uma das coisas mais difíceis em se lidar
com a perda de alguém amado é
a realização de que o não
há como voltar o tempo. Tudo o que poderia
ser feito foi feito; tudo o que poderia ser
dito, foi dito. Voltar para o folclore eslavo,
sozinha, lembrava-me disso o tempo todo.
Wizards: Você tem alguma característica
de personalidade parecida com Liriel Baenre
ou Fyodor, da trilogia Starligth & Shadows?
Elaine: Exatamente não.
Dos dois, eu acho que tenho mais em comum com
Fyodor – o perfil eslavo, o fato de ele
ser um contador de histórias tão
preso a contos antigos. Enquanto estava escrevendo
Daugther of the Drow, li uma grande
quantidade de folclore e mitologia eslava para
desenvolver uma voz distinta para ele. Eu compreendo
a mistura entre humor malicioso, fatalismo e
melancolia que faz parte da personalidade dele,
também aprecio sua absoluta lealdade
àqueles que ele chama de amigo. De onde
Liriel veio eu não tenho nem idéia.
Ele é uma criança rebelde –
algum escritor com um senso de humor distorcido
a deixou no meu inconsciente.
Apesar disso, há algumas semelhanças
entre experiências e perfil, como quando
a Liriel ficou em Arach Tinileth. Eu saí
de casa aos 14 anos para estudar em internato.
A claustrofobia, as regras rígidas, a
sensação de estar fora do lugar
– tudo isso me ajudou a formar uma idéia
emocional para a experiência de Liriel.
Talvez seja por isso que ela ficou tão
pouco tempo lá!
Wizards:
Você acha mais fácil escrever no
mundo de Forgotten Realms ou no mundo de Guerra
nas Estrelas e por quê?
Elaine: Há poucos anos,
eu diria que era Forgotten Realms,
sem hesitação ou necessidade para
refletir. Eu me senti em casa desde o dia em
que abri a velha caixa de campanha cinza. Mas
eu ainda não assimilei a última
versão de D&D. O mundo parece muito
diferente para mim. Às vezes tenho a
impressão que eu saí por um tempo
e quando voltei encontrei um shopping onde antes
tinha uma fazenda. As regras mudaram, o sistema
de magia mudou, até o mapa mudou. Windwalker
foi um livro de transição –
uma história entre as duas edições.
Qualquer livro de Forgotten Realms que eu vá
ler agora, estará nesse mundo redesenhado,
então estou no processo para fazer os
ajustes mentais necessários.
Escrever um livro de Guerra nas Estrelas
(Dark Journey, livro 10, da série
New Jedi Order) foi muito divertido. Eu gostei
da interação entre os editores
Del Rey, a continuidade da equipe na LucasFilm,
e dos outros autores trabalhando na New Order
Jedi. Antes dessa experiência, eu nunca
pensei seriamente em trabalhar junto com um
outro autor. Agora eu vejo os aspectos positivos
em se trabalhar em equipe.
Então, voltando a sua pergunta, eu realmente
não posso dizer um ou outro. Cada um
tem suas recompensas e seus desafios. Eu pretendo
continuar escrevendo histórias em Forgotten
enquanto as pessoas quiserem ler, e eu poderia
voltar à galáxia muito, muito
distante, em um piscar de olhos.
Wizards: Você acha difícil
escrever sobre um lugar que nunca foi explorado
antes em nenhum outro romance ou conto, ou é
mais fácil criar algo para descrever
essa área?
Elaine: Na verdade, existem
algumas histórias passadas em Rashemen*,
mas desde que elas passaram para Immiltar, uma
cidade um pouco maior, ele se parece muito mais
com os outros reinos. Nos romances, os eventos
da trilogia Horselords, colocaram a horda Tuigan
em Rashemen.Nenhum romance maior focou-se na
cultura Rashemaar, em si, o que me deu um espaço
maior para desenvolver essa área. Eu
me diverti muito com isso, mas também
não pude fugir muito do pouco que já
existia. Parte do que você leu em Windwalker
é novo, mas é baseado ou elaborado
a partir do material da caixa de campanha Spellbound.
* Mary H. Herbert contribuiu em “Thieves’
Honor” para Realms of Infamy
e “Thieves’ Reward”
para Realms of Magic.
Wizards: O que você mais gosta
em escrever sobre um mundo?
Elaine: A divisão em
si. É muito gratificante poder contribuir
com alguma coisa para algo maior. Eu gosto da
interação com pessoas criativas
e talentosas, tanto com aqueles que são
escritores profissionais, ou com aqueles que
criam aventuras para jogar ao redor da mesa
de jantar.
Wizards: Há alguma coisa que
você gostaria de acrescentar?
Elaine: Se você estiver
interessado em saber sobre novos projetos, lançamentos,
livros autografados, e sobre comparecimento
em convenções, dê uma olhada
no meu site, www.elainecunningham.com.
Esse ano haverá muita coisa e alguns
novos projetos, e lá é o melhor
lugar para encontrar informações
sobre eles. Eu normalmente escrevo alguns anúncios
e informações assim que eu recebo
permissão para isso. Também gostaria
de convidar qualquer um interessado em receber
e-mails sobre atualizações, a
assinar a mailing list.
Veja mais sobre os trabalhos de Elaine Cunningham
nestas publicações:
Evermeet:
Island of the Elves
Silver
Shadows
Thornhold
Tangled
Webs
Dream
Spheres
The
Floodgate
The
Wizardwar

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