Quando
Elaine Cunningham começou sua saga da
elfa drow Liriel com o livro Daughter of
the Drow (A Filha do Drow), ela
adiantou dois livros na série Starlight
& Shadows (Luz & Trevas).
O segundo livro deixaria a história em
aberto para uma possível continuação,
contanto que Liriel e seus companheiros fossem
bem recebidos pelos fãs dos Reinos
Esquecidos.
Isso foi a sete anos atrás.
Tangled Webs (Teias Emaranhadas)
de 1996 foi a continuação das
aventuras de Liriel na superfície do
mundo, mas então a maré mudou
e as histórias da drow se tornaram menos
freqüentes. Para Elaine Cunningham era
realmente questão de marcar o tempo.
“Eu trabalhei em outros livros: Evermeet
(Encontro Eterno), Dream Spheres
(Esferas de Sonho) e Thornhold
(Alça de Espinhos)”, ela
diz sobre anos que se seguiram após a
publicação de Tangled Webs.
“Eu queria completar o conto de Liriel
e submeti propostas em várias ocasiões,
mas os editores tinham outras idéias.
Naquele momento eles queriam livros para pessoas
novas nos Reinos Esquecidos,
começos que não fariam os novos
leitores sentirem que tinham que ler pilhas
de outros livros apenas para acompanharas hostórias.
O resultado foi a trilogia Counselors and
Kings (Conselheiros e Reis), que
se passa na região pouco conhecida de
Halruaa”.
Mas todas as coisas boas aparecem para quem
espera: ao seu tempo, as marés mudaram
mais uma vez, e a Wizards of the Coast resolveu
trazer de volta a drow à vanguarda do
seu programa de publicação recentemente,
com um número de romances e produtos
incluindo o romance War of the Spider Queen
(A Guerra da Rainha Aranha) e a aventura
City of the Spider Queen (A Cidade
da Rainha Aranha). A história de
Liriel se ajusta muito bem nessa nova ordem.
Então, finalmente, sua história
foi concluída com a publicação
de Windwalker (Andarilho dos Ventos)
o terceiro e último livro na saga Starlight
& Shadows.
Foi um longo tempo de espera, mas foi muito
bem aproveitado.
Windwalker começa exatamente
onde a história parou em Tangled
Webs. Esse livro terminou com Liriel e
Fyodor em uma embarcação deixando
Ruathym e indo para o continente, e Windwalker
começa com essa jornada no mar até
seu fim. “Devido ao longo atraso entre
os livros, pareceu importante incluir algumas
passagens em flashback” Cunningham comenta.
“O prelúdio, certamente, começa
com eventos anteriores de Daughter of the
Drow. Leva-nos de volta a Rashemen, à
batalha contra a horda Tuigan, que resultou
no exílio de Fyodor e na sua busca pelo
amuleto Andarilho dos Ventos. Em seguida, vem
uma ‘reprise’, que nos leva até
o ponto da história no qual Gorlist e
Shakti desaparecem de vista”.
Muitos romances de fantasia, ela explica, são
geralmente sobre um jovem herói deixando
sua casa para perseguir uma jornada; essa história,
entretanto, é exatamente o oposto. “Fyodor,
após completar sua primeira missão,
volta para casa” ela destaca. “Até
agora nós o temos visto através
dos olhos de Liriel ou, ao menos, no contexto
de sua relação com Liriel. Contra
o cenário dessa pátria, seu canino
(uma companhia animal selvagem) e sua família,
você realmente vê Fyodor pela primeira
vez como pessoa, e não como um nobre
cavaleiro devotado à sua dama. Essa é
a revelação para Liriel, que está
acostumada com tudo ser sobre ela”.
Naturalmente, Liriel permanece como o centro
da saga, e em Windwalker, ela passa
por uma grande transformação.
Em Daughter of the Drow, Cunningham
relembra, Liriel deixa o Subterrâneo e
sua família surpreendentemente disfuncional
para trás, encontrando aventura a céu
aberto e amizade com alguém que ela realmente
pode confiar. Em Tangled Webs a aventura
se torna responsabilidade, amizade se torna
intimidade e, pela primeira vez na sua vida,
Liriel foi forçada a se deparar cara
a cara com sua própria natureza sombria.
Mais revelações perturbadoras
esperam por ela em Windwalker. “Ela
aprende que ações têm conseqüências”,
Cunningham diz sombriamente, então acrescenta:
“algumas vezes, conseqüências
de longo alcance”.
E sim, Cunningham confirma que Shakti está
de volta, mas que ela poderá surpreender
os leitores…
Um escritor menor poderia sentir que Liriel
– ou qualquer personagem drow, no que
diz respeito – existe à sombra
DO DROW andarilho e seu criador, R. A. Salvatore.
Mas Elaine Cunningham não está
preocupada com comparações entre
sua protagonista e Drizzt. “Alguns leitores
irão gostar das duas histórias,
de Drizzt e de Liriel, outros terão uma
preferência mais forte”, ela diz
diplomaticamente. “Já que os personagens
e suas histórias são tão
diferentes, isso parece inevitável. Mas
competição (entre os
autores) simplesmente não entra em cena.
Se não fosse pela Estilha de Cristal,
eu não estaria escrevendo para os Reinos.
Se não existisse um Drizzt, não
existiria uma Liriel”.
Ainda, escrever sobre criaturas do Subterrâneo
não acontece sem desafios. Escrever sobre
o próprio Subterrâneo, por exemplo,
trouxe para Cunningham um desafio incomum. “Eu
sou um pouco mais do que claustrofóbica”,
ela admite, “o que torna o tempo que eu
passo no Subterrâneo desconfortável.
Apesar de parecer uma desvantagem, eu me dei
bem. Existe um sentido de urgência na
inquietude de Liriel e seu desejo por aventuras
na superfície que, de outra forma, poderiam
não ser descritos nas páginas,
se não fosse por esse acaso”.
“Dito isso, eu realmente gosto da beleza
e do mistério das cavernas”, ela
acrescenta. “Há algum tempo atrás
minha família passou uma semana de feriado
no sul da Inglaterra e visitou as cavernas em
Cheddar Gorge. Eles foram bem cuidadosos e bons
turistas com as cavernas, notem, mas meu filho
caçula ficou absolutamente encantado.
Ele estava em todo lugar, explorando com uma
vivacidade e uma felicidade que me trouxeram
Liriel vividamente à cabeça. Naquela
época ele também tinha o tamanho
de Liriel. Vê-lo se movimentar pelas cavernas
como um Orlando Bloom pré-adolescente
com uma pressa foi uma experiência diferente
(‘Hum, parece que eu acabei de escrever
essa cena…’)”.
Windwalker se passa em um local onde
Cunningham diz se sentir mais à vontade.
“Rashemen possui elementos de cultura
popular eslava”, ela nota. “Essa
é minha herança, e enquanto eu
estava escrevendo os locais da terra de Fyodor,
eu senti como se pudesse me movimentar por ali.
De vez em quando eu podia ouvir a risada desinibida
de minha avó entre as vozes da vila,
ou uma canção polonesa familiar
vindo de uma das cabanas. Esse era meu presente
inesperado”.
No final, Cunningham esculpiu um nicho especial
para si mesma como um dos poucos autores capazes
de delinear fundamentalmente as raízes
dos romances sobre drows. “No coração
das histórias de fantasia está
a luta entre o bem e o mal”, ela explica.
“Drows são a incorporação
do mal e, como tais, eles representam um desafio
real. Alguns leitores vêem os drows como
máquinas assassinas que apenas têm
prazer em atos de destruição.
Mas isso é problemático porque
se você pega esse argumento da ‘maldade’
para uma conclusão lógica, os
drows logo terminarão sua existência.
Se os seus impulsos fossem expressões
permitidas sem restrições, a sociedade
drow iria entrar em colapso. A vida envolve
encontrar um equilíbrio, e quanto aos
drow, a luta entre o bem e o mal é expressada
de uma forma muito incomum. Eles têm que
se forçar a serem apenas bons o suficiente
para sobreviver, para atender às necessidades
da vida cotidiana e para perpetuar sua sociedade
e sua raça. Essa é uma nova virada
na questão bem-versus-mal, e é
uma questão interessante.
Tal profundidade de entendimento serviu bem
a Cunningham não apenas em seus contos
dos Reinos, mas também em seus contos
de uma galáxia muito, muito distante.
Seu romance Dark Journey (Jornada
Sombria) de 2002, continuou a saga sempre
em expansão de uma Nova Ordem Jedi
no Universo Guerra nas Estrelas, mas para
Cunningham o processo de escrever sobre Yuuzhan
Vong não foi muito diferente de escrever
sobre os drows. “O primeiro passo foi
ler material de apoio: romances, produtos de
jogo, revistas em quadrinhos”, ela diz.
“Eu sou fã de Guerra nas Estrelas
desde o primeiro dia, então não
me importei nem um pouco de fazer pesquisa.
“Escrever em qualquer mundo compartilhado
envolve uma troca” ela acrescenta. “Um
autor de uma série compartilhada requer
muito mais visão do que um autor solitário
ou uma trilogia, então teve muito vai
e volta com os editores da Del Rey e o pessoal
do Licenciamento da LucasFilm (eu suspeito que
o pessoal escrevendo a série dos Reinos
Esquecidos War of the Spider Queen
iria reportar uma experiência similar!).
Apesar de os autores da Nova Ordem Jedi estarem
trabalhando para uma história ‘bíblica’,
o que uma pessoa escreveu realmente moldou o
que estava por vir. Para complicar a situação,
muitos autores estariam trabalhando em livros
em qualquer hora. Isso levou a numerosas e muito
interessantes discussões. Troy Denning,
em particular, foi extremamente útil”.
Com a aventura de Liriel terminada, Cunningham
passou a trabalhar em novos contos, tanto seus
próprios quanto de outros – ela
fica relutante em discutir muito sobre si mesma
(“eu acho que informação
pessoal sobre autores deve ser dada da mesma
maneira como acontece em um romance: quando
é relevante para a história”),
apesar de que ela irá divulgar seus autores
favoritos como sendo relevante no entendimento
do que ela escreve. Ela pode listar facilmente
poucos dos seus autores favoritos de fantasia
e de ficção científica:
Neil Gaiman, Connie Willis, Greg Bear, Gregory
Keyes (“é sério”,
ela se adianta, “leiam King Briar
[Rei Briar], seu último livro”),
George R.R. Martin, Harry Turtledove, Marion
Zimmer Bradley, J. Robert King e Laurell K.
Hamilton. Mas os hábitos de leitura de
Cunningham não se restringem a seus próprios
campos. Em ficção histórica
ela gosta de Sharon Penman e Morgan Llewellyn.
“Recentemente eu li o livro de Jane Stevenson
The Winter Queen (A Rainha do Inverno),
um romance histórico belamente escrito
com maravilhoso senso de tempo e lugar”,
ela acrescenta. Seus autores de mistério
favoritos incluem Ellis Peters (“especialmente
os mistérios medievais de Cadfael”),
Lawrence Bloch, J.D. Robb, e Janet Evanovich.
Fora do gênero ficção, outros
poucos favoritos são John Irving, Toni
Morrison, Amy Tan e Andrew Vachs. “Eu
leio bastante sobre história, mitologia
e cultura popular. Antonia Fraser, Magnus Magnuson
e Geoffrey Ashe estão entre meus historiadores
favoritos. Meus humoristas favoritos incluem
Mark Twain, Oscar Wilde, Dorothy Parker e Dave
Barry. Eu estou claramente certa de que não
há um padrão aqui!”.
E quando ela não está lendo, como
se esperaria, ela está escrevendo. “Eu
estou terminando um romance de pesquisa intensiva
no qual estou trabalhando há muito tempo.
Não é um livro dos Reinos
Esquecidos; de fato, é completamente
diferente de qualquer coisa que já fiz.
Várias histórias curtas e alguns
artigos de não ficção estão
em vários estágios de conclusão.
Lá pelo meio de março (2003),
eu terei terminado todos eles e estarei pronta
para agarrar novos projetos”.
Quanto a Windwalker, que logo prenderá
os leitores na jornada final da aventura épica
de Liriel, Cunningham espera que os leitores
fiquem com essa simples mensagem sobre o romance:
que escolha e destino são profundamente
entrelaçados. “Todo mundo na história
passa por eventos de sua própria autoria”
ela aponta, “e enquanto nenhum dos personagens
aceita placidamente seu destino, herança
e crença definitivamente moldam suas
respostas. Como a maioria de nós, eles
geralmente fazem escolhas baseadas em resultados
que eles acreditam que acontecerão. Importa
muito de onde viemos. E também importa
o que acreditamos sobre a vida e sobre nós
mesmos”.
“Nunca ocorreu a Liriel considerar suas
próprias limitações”
ela acrescenta. “A crença de que
nada é impossível é muito
poderosa e faz com que ela se abra para possibilidades
inesperadas. Eu acho que viver como Liriel vive,
com paixão e sem restrições,
é um ato de tremenda coragem. Ela irá
encarar muita tentação, errar
mais e experimentar mais dor e desilusão
do que uma pessoa comum, mas enquanto ela vive,
ela estará muito mais completa, vibrantemente
mais viva do que qualquer pessoa se atreve a
ser”.
É claro, Cunningham certamente considera
escrever um outro livro que permita que Liriel
viva até mais, mas como ela aponta, “a
cópia na capa interna dos livros Starlight
& Shadows deixa bem claro que a história
de Liriel será limitada a esta trilogia”.
Além disso, ela acrescenta, parece provável
que quando o “Ano do Drow” terminar,
os leitores estarão prontos para seguir
em frente com outras coisas.
“Por outro lado, eu aprendi a não
rejeitar nada”, ela diz. “Sete anos
se passaram entre o segundo livro e o terceiro.
Quem sabe o que irá acontecer daqui a
sete, cinco ou dois anos? Até onde eu
sei, eu não estou certa nem do que escreverei
no mês que vem!”.
Confira os romances de Starlight & Shadows:
Daughter
of the Drow (A Filha do Drow)
Tangled
Webs (Teias Emaranhadas)
Windwalker
(Andarilho dos Ventos)

Sobre o autor
Thomas M. Costa é um
membro profissional do comitê na U.S.
House of Representatives. Ele tem contribuído
em muitos produtos da Wizards of the Coast como
Demihuman Deities (Divindades Humanóides)
e Races of Faerûn (Raças
de Faerûn), e é o autor ou co-autor
de um número de Dragon Magazine
e artigos do website da Wizards of the Coast.
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