Pisando cuidadosamente por sobre seu sósia
insensato, o Rei Azoun estendeu uma mão sobre
o obstáculo em um elegante floreio para sua
rainha, levando um sorriso a sua face. Depois
ele a conduziu até pelo caminho ao longo do
corredor para onde tinham virado, com portas
fechadas em cada parede.
Azoun caminhou até o canto
e parou, olhando para baixo — e demonstrava
repugnância.
Em uma piscina escura de
sangue, uma mulher coberta em um revelador traje
de couro jazia esparramada na passagem, sua
garganta estava aberta tão profundamente que
a sua cabeça estava quase separada. Havia poeira
em seus olhos para sempre arregalados, e a face
abaixo deles era uma máscara congelada de terror.
Em seu busto imóvel coberto
de negro repousava uma única rosa vermelha.
“Deixada por quem?”, a Rainha
de Cormyr perguntou calmamente.
“Um amante, ou um Mascarado
Escarlate — ou alguém, que quer fazer-nos pensar
que é um trabalho de um Mascarado Escarlate”,
respondeu.
Então ele enrijeceu, e Filfaeril
o observou ficar pálido.
Ela levantou uma mão para
trazê-lo de volta, livre do cadáver e qualquer
que fosse a magia que o afligia, mas ele segurou
dedos dela, respirando em um fôlego profundo,
e disse-lhe pesadamente, “A deusa Lliira disse-me
que o assassino foi um Mascarado. E o porquê”.
Ele deu no corpo um chute,
repulsivo, e o afastou, procurando a porta que
estava aberta.
Formado para vingar o assassinato
da Alta Mestra de Festejos de Lliira em Selgaunt,
os Mascarados Escarlates são uma ordem militante
na Igreja da Alegria.
Poucos em número e altamente
secretos, os Mascarados escondem-se tanto entre
o clero quanto pelos (que se passam por) seguidores
leigos de Lliira. “Alegria Feroz” é a frase
que usam para se revelarem aos clérigos lliirianos,
que tanto os temem como os reverenciam (e os
ajudam e obedecem sem hesitação). Alguns Mascarados
usam rosas vermelhas como “cartões de visitas”
nos locais de seus assassinatos e trabalhos
e nos templos e santuários de Lliira. Segurar
uma única rosa cortada tornou-se um sinal sem
palavras de afiliação aos Mascarados ou um chamado
para os Mascarados reunirem-se ao portador da
rosa e prover-lhe ajuda.
Fundado para punir o clero
de Loviatar, os Mascarados foram lentamente
expandindo seu papel de proteção aos fiéis de
Lliira nos banquetes e devoções mais solenes.
Eles defendem os lugares sagrados da deusa e
matam aqueles que massacram e oprimem lliirianos.
De oficiais tirânicos e clérigos rivais que
procuram impedir os festejos até loviatanos
que são instruídos pelo clero superior (ou inspirados
por sonhos enviados pelo próprio Loviatar) a
trabalhar contra a Igreja da Alegria, todos
têm motivos para temer os Mascarados.
Os Mascarados Escarlates não
hesitam em contratar aventureiros e outros mercenários
para ajudá-los a guardar templos de Lliira,
o clero ou seus devotos e atacar ou contrapor
poderosas forças inimigas. Eles preferem agir
pessoalmente e furtivamente sempre que possível,
exceto quando eles alcançam um altar de Loviatar.
Lá eles gostam de dançar (protegidos pela mais
forte magia que puderem invocar), usando suas
botas-lâminas (adagas que saem das solas, projetando-se
além das biqueiras dos sapatos) contra todos
os loviatanos que partem contra eles.
Mascarados Escarlates não são
assassinos sisudos. Eles amam cantar, dançar,
festejar, gracejar, fazer jogos e entreter crianças
— mas diferentemente de outros lliiranos, eles
sempre estão alerta para o perigo e prontos
a explodirem em ação para lidar com ele.
Os Mascarados Escarlates tiraram
o seu nome dos disfarces usados pelos primeiros
Mascarados para atacar os loviatanos em Selgaunt.
Eles posaram como uma trupe viajante de cantores,
atores dançarinos e fizeram uma apresentação
do lado de fora dos portões do templo loviatano,
atacando o clero de Loviatar quando eles vieram
com chicotes nas mãos para "escorraçá-los".
Mascarados não usam uniformes
característicos e nem possuem títulos formais
ou uma hierarquia específica. Entre os Mascarados
existe uma hierarquia informal — desconsiderada
por Lliira quando ela possui necessidades operacionais
— baseada em mérito (performance passada como
um Mascarado). A maioria possui postos na igreja
da Portadora da Alegria, mas seus papéis como
Mascarados precedem estes postos. Quando eles
“entram em ação” fora de seus deveres habituais,
ou vão em missões, eles podem dar ordens a qualquer
clérigo de Lliira, até mesmo a Alta Mestra de
Festejos, e esperam ser obedecidos. E eles quase
sempre o são.
Não existem Mascarados Escarlates
falsos. A deusa Lliira presta uma estreita atenção
pessoal a cada Mascarado e encoraja quem encontra
outro Mascarado a ficar instantaneamente ciente
e absolutamente certo de estar lidando com um
Mascarado operando sob a total aprovação de
Lliira. Da mesma forma, Lliira mantém um controle
rigoroso sobre os Mascarados através de visões
em sonhos e vozes em suas cabeças em respostas
à preces e em avisos espontâneos ou palavras
de orientação. Ela não tolera interesses próprios
ou Mascarados que se desviam de seu serviço.
Qualquer um que finge ser um Mascarado será
aos poucos acometido de tremores, inconsciência
irremediável e mentalmente dominado por uma
alegria extasiante enviada pela deusa. Eles
permaneceram assim até morrerem de desnutrição,
serem aprisionados, levados para uma punição,
ou expulso pelos lliirianos, ou tenham seu fingimento
descoberto.
Mascarados Escarlates valorizam
o trabalho preciso — assassinam, mutilam, ou
ferem apenas aqueles que ofenderam Lliira ou
que pretendem ser uma ameaça aos lliiranos,
e nem todos possuem estes pecados. Mascarados
veteranos recrutam clérigos lliiiranos bons
de ação ou fiéis devotos (isto é, indivíduos
que reverenciam fortemente Lliira, venerando-a
acima de todas as outras divindades) para tornarem-se
Mascarados. Eles agem como mentores e tutores
para estes recrutas.
Em sua maioria, os Mascarados
são ágeis e atléticos, até mesmo acrobáticos,
mas Mascarados podem ser de qualquer classe
capaz de venerar devotadamente Lliira.
O que Azoun encontrará na
porta que irá abrir? Se ele o fizer, quem —
ou o quê — espera atrás dela? Começa a parecer
que usar novamente o anel pode ser uma idéia
mais sábia. Vejo você em nossa próxima coluna.
Nota do Tradutor:
Infelizmente para nós e para o nosso amigo Ed
Greenwood não haverá uma próxima coluna. A Wizards
of the Coast descontinuou a seção Realmslore
(traduzida por nós como Coletânea dos Reinos)
em Novembro de 2006, sendo este o último escrito
a ser publicado. Tive o prazer de traduzir 79
dos 93 artigos publicados em nosso site e recomendo
fortemente os Mestres de campanhas nos Reinos
Esquecidos a lê-los. São muitos detalhes que
podem funcionar para caracterizar melhor os
personagens e lugares dos Reinos, além de fornecerem
ganchos de aventura interessantes. Espero que
tenham gostado do trabalho e vejo vocês em outra
seção, além, é claro, das histórias da Comitiva
da Fé.

Sobre o Autor
Ed Greenwood é o homem que lançou os Reinos
Esquecidos em um mundo que não os esperava.
Ele trabalha em bibliotecas, escreve fantasia,
ficção científica, terror, mistério e até estórias
de romance (às vezes coloca tudo isto em um
mesmo livro), mas está ainda mais feliz escrevendo
Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos
e mais Conhecimento dos Reinos. Ainda existem
alguns quartos em sua casa com espaço para empilhar
seus escritos. |