O Rei e a Rainha de Cormyr encontravam-se
agora de pé na escuridão — uma
escuridão cheia de poeiras e teias de
aranha.
Uma escuridão total, cheia de poeira,
teia de aranha.
Azoun retirou sua adaga e desejou que ela brilhasse
apenas um pouco mais rápido do que Filfaeril
colocou os seus dedos na jóia que usava
no pescoço com a mesma intenção.
Um momento depois, eles permaneceram juntos
no coração da suave iluminação
conjunta dos dois encantos.
Estavam em uma passagem de pedra estreita e
coberta de poeira. Pela aparência das
paredes, o lugar pertencia a uma larga e grandiosa
mansão ou mostrava uma parede maciça
de um castelo. Pelo seu estado, eles já sabiam
que a passagem não possuía um
uso freqüente.
Filfaeril rapidamente usou as pontas dos dedos
e as colocou para tapar suas narinas, evitando
qualquer espirro, batendo no ombro de Azoun
para que ele a visse e fizesse o mesmo.
Algo repousava no chão a apenas um passo
a frente deles — um fragmento de um pergaminho
com algo escrito.
Depois de lançar uma rápida olhadela
para o teto para se assegurar que nada esperava
para cair sobre ele, Azoun inclinou-se e pegou
o pedaço de pergaminho.
“Um mapa do tesouro?”, Filfaeril
perguntou esperançosa.
“Não fomos tão sortudos,
amor”,
Azoun respondeu, franzindo o rosto. “’Isso é um...
esboço, suponho, de uma visita de estado
a nossa corte. Ou, melhor — isto é um
tratado de um cortesão para treinamento,
escrito para dizer aos atendentes e pajens
sob suas ordens todos os passos que não
devem esquecer nesta ocasião.”
Filfaeril estendeu uma mão urgente.
Azoun segurou o pergaminho, virando-o para
se certificar que não havia nada escrito
na parte de traz e disse:
“Então nós devemos estar
em algum lugar de Cormyr”, ele refletiu,
examinando de alto a baixo a passagem. “Eu
apenas vou dar uma olhada...”
O braço que envolveu sua garganta era
esguio e bem formado, mas firme. “Reis,
assim como outras pessoas, olham com os olhos
e não com mãos ou pés”,
relembrou-lhe sua rainha, com seus lábios
contra sua orelha. “Fique exatamente
aqui até em terminar a leitura. E nós
podemos sair para um passeio juntos. Eu não
quero ficar separada de você e você não
está a salvo de cometer uma bobagem
quando está por conta própria”.
"Oh?" Azoun rosnou. "Não
estou a salvo? E de quem é esta opinião?"
"Minha. Você não esteve a
salvo de Zara Emmerask, Você não
esteve a salvo de Harantra Mangual Longo, você não
esteve a salvo de Jasmra Portachifre, você não
esteve a salvo de Perrele Jalance, Você não
esteve a salvo, que os deuses nos atormentem,
de Aumarra Hiloar — de fato, Az — nem
de Belara —"
“Certo, Fee, basta”, Azoun resmungou,
um pouco chateado. “Eu não preciso
de uma lista de arauto de minhas indiscrições
ostentada diante de mim mais uma vez. Você me
curou de todas aquelas meretrizes, e mais,
e eu mereci tudo aquilo, mas —”
“Mas o que aconteceu o tornou mais sábio,
e você ficará parado até que
eu... tenha terminado. Não foi tão
difícil, foi?”
“Não, minha flor brilhante”,
o Rei de Cormyr respondeu, se assegurando que
sua rainha não podia vê-lo revirar
os olhos. “Como você diz — de
forma alguma”.
O pedante texto do pergaminho lido pelos Obaskyrs
foi levemente editado aqui para maior clareza
e brevidade (menções a “Coroa” por
toda parte se referem ao monarca regente).
Ela esboça a seqüência de
eventos (e preparações para eles)
que envolvem uma visita de estado em Cormyr.
Uma visita de estado é uma visita pública
(não as privadas, para encontros secretos,
caçadas ou banquetes) de um chefe de
estado ou favorecido da realeza, regente ou
enviado especial (um embaixador, representantes
de igreja, ou negociador para formar uma aliança
de países).
1. Preparações Preliminares
As Cozinhas Reais
-
Contate o enviado estrangeiro
para saber quais são as comidas
preferidas e as que devem ser evitadas.
-
Prepare cardápios,
consultando o Adegueiro, a Governanta,
e o Senescal*.
Conquiste a aprovação dos
três
mais a do Sábio Real.
-
Remeta os
cardápios de volta para
mim.
-
Solicite as provisões necessárias
para as cozinhas (requer desembolso do tesouro
sobre aprovação do Senescal)
Alto Lorde Marechal ou Lorde Protetor Interino
do Reino
-
Consulte o intinerário
com o Mago Real
-
Distribua responsabilidades
e horários
entre os elementos dos Dragões Azuis
e Púrpuras e aos Magos de Guerra.
Obtenha a aprovação de Vangerdahast,
da Coroa ou Regente.
-
Reporte tudo acima
ao Atendente do Escudo
Mago da Corte
-
Esboce um itinerário inicial
em consulta com a Coroa (ou, em substituição
a Coroa, o Sábio Real), o Atendente
do Protocolo, e enviados estrangeiros relevantes.
-
Submeta o itinerário esboçado
para a aprovação de Vangerdahast(1),
a Coroa ou Regente.
-
Transmita o itinerário
ao Atendente do Protocolo, o qual é responsável
por notificar os Arautos da Corte.
Arautos da Corte
-
Conceba a cerimônia em consulta
com o Encarregado de Protocolo, ou Mago da
Corte,
e o Sábio Real. Obtenha aprovações
de Vangerdahast, da Coroa, ou Regente.
-
Contate e informe os
Lordes do Rei (2) relevantes e altos clérigos sob protocolo de
discrição
(resultados de tais contatos devem ser
reportados de volta a mim).
Mestre dos Banquetes
-
Planeje todos os banquetes
e entretenimentos pertinentes a visita
sob direção
do Encarregado do Protocolo. Obtenha aprovações
de Vangerdahast, da Coroa, ou Regente.
-
Encomende a criação e/ou
compra de todas as bandeiras, decorações,
flores e outros ornamentos. Todas as bandeiras
estão sujeitas á aprovação
dos Arautos da Corte.
-
Providencie os
músicos e artistas,
fazendo uso privado de desembolso de recursos
com a aprovação do Senescal.
-
Informe todos os progressos e preparativos
de volta a mim
Subencarregados
de Protocolo
-
Encontre com todos
os nobres relevantes, guildas e especialistas
no local natal do
visitante (3), sob a direção
do Encarregado de Protocolo.
-
Obtenha informação
sobre os gostos, antipatias, feudos, disputas
legais
e interesses de negócio dos visitantes,
bem como seus assuntos de litígio
a respeito de territórios e população.
-
Exercite toda discrição
possível
nestes assuntos!
Governanta
e Encarregados das Escadas (4)
-
Tome todas as decisões necessárias
referentes ao abrigo e conforto das personalidades
visitantes, incluindo, mas não limitando-se
a: redecoração, roupa de cama
e guarda roupa; acompanhantes; tratamento
de montarias, animais de estimação,
companhias, conhecidos, necessidades e
desejos peculiares.
-
Consulte e comunique-se,
se necessário,
com o Encarregado do Escudo, enviados estrangeiros
relevantes, e Subencarregados de Protocolo.
-
Submeta todas as preparações á aprovação
do Senescal e do Encarregado do Escudo.
-
Providencie todos os
desembolsos do tesouro que se fizerem necessários, sujeitos
a aprovação do Senescal.
-
Reporte todos estes
arranjos de volta para mim com para elaboração
resumo para reportar ao Mago da Corte.
“Devo confessar”, Azoun comentou
no momento posterior, “que meus olhos
começaram a arregalar quando vi o ponto
em que se fala de animais de estimação
e companhias. É assim que estamos nossas
moedas? Eu confesso, estou conduzindo as rédeas
do trono por todos estes anos sem mesmo perceber
quanto espalhafato e tolice todos estes nossos
cortesãos podem exibir!”.
"Está bem, querido", Filfaeril disse
suavemente. "A confissão é o
passo mais difícil para os reis. Agora
nós podemos trabalhar em seu aperfeiçoamento.
Poderia conduzir o restante da leitura?"
O Dragão Púrpura ficou vagamente
púrpura. “Não”, admitiu.
Compartilhamos um pressentimento comum
que a Rainha de Cormyr irá fazer seu marido
ler o resto do documento imediatamente? Nós
pensamos isso, mas iremos ver no próximo
artigo.
Notas de Rodapé:
*Nota do tradutor: senescal era o nome dado
aos antigos mordomos dos castelos e palácios.
1. Na época em que o documento foi escrito,
o mago Vangerdahast era tanto o Mago da Corte
quanto o Mago Real. Alaphondar era e permanece
o Sábio Real. O Encarregado do Escudo é responsável
pela segurança de sala por sala do Palácio. “Enviados
estrangeiros relevantes” referem-se aos
cortesões ligados à personalidade
visitante.
2. Os Lordes do Rei são os chamados “lordes
locais” de Cormyr. Por “relevante”,
entenda-se que os arautos contatarão
somente os lordes e altos sacerdotes dos locais
que a visita deverá envolver. “Sob
protocolo de discrição” significa
que os arautos conferenciarão com os
lordes e altos sacerdotes em termos de saber
o que for preciso (dizendo-lhes o mínimo
que devem aprender, não revelando tudo
sobre a visita — isto para prevenir traição
da parte destas pessoas ou um descuido ao falar
por parte delas).
3. Os “especialistas” referidos
aqui podem ser mercadores, sábios, pessoas
que já habitaram um lugar estrangeiro
relevante, ou que tenham um conhecimento pessoal
com a personalidade visitante, bem como espiões
do palácio.
4. As Encarregadas das Escadas são as
superiores da (escribas para e agendadores
do) Líder das Arrumadeiras de cada andar
e ala do Palácio. Elas reportam a Chatelaine,
mas não fazem parte de sua equipe. A
Líder das Arrumadeiras, todas as outras
arrumadeiras e as Páginas da Presença
(ou seja, as carregadoras errantes e as arrastadoras
de móveis e outras serventes que são
relacionadas às salas e não à equipe
que atende a realeza) fazem parte da equipe
dela.

Sobre o Autor
Ed Greenwood é o homem que lançou os Reinos
Esquecidos em um mundo que não os esperava.
Ele trabalha em bibliotecas, escreve fantasia,
ficção científica, terror, mistério e até estórias
de romance (às vezes coloca tudo isto em um
mesmo livro), mas está ainda mais feliz escrevendo
Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos
e mais Conhecimento dos Reinos. Ainda existem
alguns quartos em sua casa com espaço para
empilhar seus escritos. |