Juntos, o Rei e a Rainha de Cormyr deram
um passo à frente, tendo o suave e tranqüilo
musgo sob suas botas, para olhar em volta
em comunhão com o prazer silencioso da
visão das belas árvores e das manchas da
luz do sol nas suas folhas dançantes.
Quando uma névoa veio, correndo por
eles por todos os lados, para cair como
um manto intencional e maligno de medo
cinza claro. Ela tinha o odor como o de
um charco ou margem de lago, e era fria.
O calafrio era sinistro. Tanto Azoun
e Filfaeril olharam rapidamente como se
vultos de monstros bloqueassem silenciosamente
os limites de sua visão a cada instante.
Quando o rei ou a rainha se virava para
vê-los melhor, eles desapareciam, deixando
para trás imagens mentais de morte e agonia,
de amigos e parentes mutilados.
“Deuses nos protejam”, murmurou Azoun,
levantando sua espada e a examinando a
névoa com ela, tentando encontrar um inimigo
contra o qual a pudesse usar. “Isto é...
pouco amistoso.”
Sua rainha que já havia se movido para
trás dele, porém sem bloquear seu braço
da espada, virava-se para o outro lado
para impedir um ataque por trás. “Correndo
o risco de soar como uma megera exigente
marsembiana”, ela murmurou, “Eu sou impelida
a perguntar novamente: onde nós estamos?”.
Sob suas pontas dos dedos, ela pode
sentir os ombros de seu marido vagarosamente
relaxarem. A voz de Azoun, quando veio,
era quieta, lenta e calma. “Um lugar onde
poucos humanos tiveram o privilégio de
entrar por séculos. Estou atemorizado.”
Flechas zuniram da névoa, diretamente
em direção de suas faces — mas no tempo
que o rei e a rainha tomavam fôlego, os
projéteis derretiam, consumidos pela magia
protetora que fazia as pedras em seus pescoços
brilharem brevemente, mas furiosamente.
Eles observaram a primeira saraivada
esmaecer até sumir, depois a segunda, e
a terceira.
“Atemorizado e privilegiado”, Azoun
repetiu com um sorriso destorcido, tão
quieto como antes.
Um dos lugares mais decadentes, misteriosos
e envoltos em lendas nas terras ermas ao
oeste dos Picos do Trovão é o Lago Sember.
“O Lago Assombrado”, como muitas histórias
humanas o chamam. Nas suas narrativas selvagens
figuram horrores improváveis como dragões
do tamanho de montanhas que saem do lago
para lançar-se sobre os aventureiros — dragões
cujos corpos são inteiramente compostos de
mortos vivos unidos que se separam em centenas
de zumbis, esqueletos, carniçais e coisas
piores para atacar suas presas vivas.
Sábios podem zombar de tais coisas, mas
têm pouca informação para oferecer em troca.
Registros e escritos sobre Abrigo de Sember
desde a queda de Cormanthyr são inexistentes.
Para os elfos de Encontro Eterno e do Sul,
o nome próprio nome designa primariamente
um aglomerado de povoamentos agora desaparecidos.
Para os elfos locais e a maioria dos N'Tel'Quess,
o nome é uma palavra que remete ao lago e
a área em volta dele.
Mistérios e rumores abraçam Abrigo de Sember – dizem
que ele é sem fundo, ou que alcança os Nove
Infernos, ou que gera dragões, ou que contém
deuses afogados que permanecem envenenando
a água tingida tão fortemente que o mero
toque é fatal. Estas fantásticas lendas foram
ambas iniciadas deliberadamente.
Aqui, de acordo com o que certas fontes
até agora verdadeiras revelaram, está a verdade.
Após a Queda de Myth Drannor, entre os
poucos elfos sobreviventes, estavam um punhado
de praticantes de magia muito poderosos.
Eles fugiram para as florestas ao redor do
Lago Sember, onde o aglomerado de vilas coletivamente
designando como “Abrigo de Sember” havia
sido estabelecido a milhares de anos antes
como um refúgio para elfos enfermos, crianças
e suas mães e elfas grávidas. Lá eles conjuraram
poderosos feitiços de Alta Magia (envolvendo
vários sacrifícios de vida de conjuradores
que, com efeito, se tornaram os “espíritos
da nevoa”) para desencorajar não elfos a
perseguí-los.
As magias alteraram as névoas da área e
lhes deram poderosas propriedades (estas
névoas quase contínuas ocorriam naturalmente
quando o vento resfriado pelos Picos do Trovão
reagia com a água quente do Lago Sember.
Exceto durante ventanias, era raro ver o
lago sem névoa localizadas em ao menos uma
de suas margens).
Infundida com magia, as névoas tornaram-se
capazes de sentir e responder às criaturas
vivas, movendo-se para fisicamente interceptar
e envolvê-las — e se infiltrar em suas mentes.
Elfos e meio-elfos podiam sentir a magia
e a consciência das névoas, mas para todas
as outras mentes, as névoas implantavam sugestões de
ameaça que indicavam “não venha para cá” e
de repulsão. Elas escolhiam medos das mentes
e usavam para gerar imagens vívidas e aterradoras.
Intrusos sujeitos a tais imagens eram amedrontados,
contrariados e subconscientemente se apressavam
a fugir para escapar das imagens. Estes efeitos
eram fortes o suficiente para fazer com que
a maioria dos humanos fugisse as cegas pela
mata. Muitos eram cegos ou mortos depois
de esbarrarem em galhos afiados, escorregarem
para precipícios ou caírem nas mandíbulas
e garras de predadores da floresta.
Na mente de forasteiros, as névoas também
causavam verdadeira do (denominada poeticamente
como “fogo da mente” por alguns elfos). Este
efeito atingia os daemonfey (a magia atacava
a parte demoníaca de suas naturezas, apesar
de possuírem sangue élfico), bem como demônios
e diabos de sangue puro.
Com o passar do tempo, seres suficientes
encontraram as névoas para que estas recebem
o nome de “as Névoas dos Pesadelos”. Elas
funcionaram muito efetivamente, apesar de
sua magia ter enfraquecido através dos tempos.
Tudo que ela pode fazer hoje é evocar em
seres fracos um vago, mas sempre presente
sentimento de melancolia, desolação e solidão,
mais visões rápidas e amedrontadoras. Aqueles
que dormem experimentam fortes pesadelos.
Em nosso próximo artigo, nós iremos
explorar mais da história e das atuais
condições em Abrigo de Sember — uma exploração
que pode até apontar o que Azoun e Filfaeril
Obarskyr estão prestes a encontrar.

Sobre o Autor
Ed Greenwood é o homem que lançou os Reinos
Esquecidos em um mundo que não os esperava.
Ele trabalha em bibliotecas, escreve fantasia,
ficção científica, terror, mistério e até estórias
de romance (às vezes coloca tudo isto em um
mesmo livro), mas está ainda mais feliz escrevendo
Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos
e mais Conhecimento dos Reinos. Ainda existem
alguns quartos em sua casa com espaço para
empilhar seus escritos.
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