O Rei e a Rainha de Cormyr se encontravam
em uma sala pequena e escura, tornando-se rapidamente
aconchegante para eles até que dois globos brilhantes
vieram à vida. Um orbe flutuava sobre uma cama
circular com roupas íntimas resplandecentes
e a outra abaixo de uma mesa. Através de sua
luz compartilhada, os Obarskyrs observaram um
guarda-roupa, um quadro com cavaleiros e dragões
colocado sobre a mesma despojada e vazia mesa,
duas poltronas macias e belas o bastante para
ser um material élfico, um carpete de um escuro
e nada familiar pêlo debaixo de seus pés; e
paredes lisas e escuras que curvavam-se para
se tornar tanto chão quanto teto – e dispostas
com uma completa ausência de portas, janelas
ou qualquer outra maneira visível de sair.
“E justamente onde nós estamos agora?”,
observou a Rainha de Cormyr, nada menos do que
entretida. “Você não tem uma forma de
controlar a magia de Vangerdahast?”.
Azoun suspirou. “Se eu tivesse, você
acha que ele estaria comandando toda a furiosa
Cormyr dia após mês, após ano, nos comandando
tão firmemente quanto ele faz com cada último
servo e carregador de esterco do reino?”.
Filfaeril moveu seus olhos… e então,
surpreendentemente, sorriu.
“Eu quis dizer, senhor do meu
coração, se você pode controlar o anel que usa?
Ou ele nos levará a qualquer lugar que desejar?”.
“Ele nos levou, eu acredito, de um
lugar para o outro numa seqüência que nosso
amado Mago Real preparou. Uma seqüência que
eu espero – que ele indicou, aparentemente –
que seja um circuito que eventualmente nos levará
de volta para o Palácio”.
“Suas masmorras, ou seus quartos de
dormir ou o sala de onde partimos?”.
Era a vez de Azoun sorrir. “Eu começo
a achar que nenhum desses locais do Palácio
é preferível a qualquer outro. Eu até ficaria
menos surpreso se nosso quarto de dormir
estivesse entre eles”.
“Certo, eu tenho que tirar amanhã as
tapeçarias que ficam ao pé de nossa cama”, disse
sua rainha sombriamente.
“Isso se conseguirmos ficar a uma distância
de falar com qualquer servidor do Palácio pela
manhã”, Azoun a relembrou gentilmente.
“Ah, esse é meu Dragão Púrpura”.
A voz de Filfaeril era doce. “O homem que encoraja
e inspira cada moça e jovem de Cormyr com sua
segurança. O senhor autoconfiante cuja confiança
se espalha sem aviso sobre todos, porque ele
sempre diz a coisa certa”.
Azoun lhe lançou um olhar inocente.
“Eu vejo uma cama útil… e privacidade. Importa-se
de ser encorajadora e inspiradora?”.
“Eu disse ‘autoconfiante’, não ‘sortudo’”.
Azoun e Filfaeril parecem ter sido transportados
para uma sala secreta: um espaço mobiliado para
o uso de humanos, elfos ou criaturas similares,
que não tem entrada ou saída física visível.
Nenhum deles ainda tinha notado magias surgindo
ou os afetando, nem habitantes ou construtos
guardiões… ou um ar ruim.
Eles se beijaram afetuosamente, e então
se viraram para olhar os arredores, cada um
com o braço ainda ao redor do ombro do outro.
“Então onde você acha que nós estamos,
amor?”, Filfaeril murmurou, a mão indo novamente
para sua adaga.
“Um refúgio seguro”, Azoun respondeu
prontamente. “A quem pertence e onde está, entretanto…
eu não tenho a mínima idéia”.
“Um refúgio seguro”, Filfaeril ecoou,
atentando-se para as cadeiras vazias e o quadro
de cavaleiros e dragões.
“Um pequeno refúgio, um espaço mágico
escondido. Elfos criaram isso nos dias antigos.
Dizem que Myth Drannor era recheado de literalmente
centenas – talvez milhares – deles. Você lembra
do Refúgio Seguro, encontrado ao se subir
na Pedra do Acordo e pulando dela justamente
na direção certa...?”.
“Quebrando pernas ou pior se você erra
e cai no chão?”, Filfaeril disse sombriamente.
“Eu sei muito bem o que refúgios seguros são.
Eu também ainda sei muito bem o que Vangerdahast
é. De quem é este refúgio e por que ele causou
sua visita? É aqui onde ele esconde as pessoas
que ele não quer que nós – ou diversos assassinos
nobres – encontremos, você não acha?”.
Azoun suspirou. “Eu tenho que
pensar sobre isso, Fee? É pensando que parece
que sempre arranjo problemas. Nós não podemos
apenas usar a cama e parar de se preocupar com
toda Faerûn um pouco?”.
“Não”, a Rainha Dragão disse enfaticamente.
“Tais luxurias não são para aqueles que vestem
coroas. Vangerdahast pode estar ocupado casando
com ambas de nossas filhas bem neste momento
e declarando-se Mago-Imperador de toda Cormyr”.
Azoun estourou. “Se ele tentar, é melhor
que corte fora a língua de Tana e a mão da espada
de Luse primeiro, ou ele terá o mais curto reinado
de todos…”.
Filfaeril gargalhou. “Mantenha esse
pensamento, meu senhor. Esse é um ponto
de vista que posso saborear”.
O Dragão Púrpura riu. “Bem, esse é
um deles”.
Azoun de Cormyr está correto: refúgios
seguros foram criados em grande número por elfos
nos primeiros séculos, mas nenhum deles é feito
agora, porque aqueles que os criaram posteriormente
viram os seus perigos. A presença de um refúgio
seguro enfraquece a feitura planar, permitindo
que magias de teletransporte e propagação de
dimensões penetrem no lugar mais facilmente,
e visitantes não intencionais (monstros) que
“atravessam as paredes” e cheguem sem aviso
e sem anúncio.
Este foi um fator contribuinte para a
queda de Myth Drannor durante as batalhas do
Ano da Queda, tanto que monstros oportunistas
e forças do Exercito da Escuridão geralmente
apareciam sem aviso no coração da cidade, pegavam
o povo de surpresa e os destruíam em seus mais
privativos quartos de suas próprias casas.
Refúgios seguros são chamados de “refúgios
élficos” por muitos sábios humanos e eles algumas
vezes se confundem levemente com mais os comuns
e visivelmente parecidos refúgios feitos antes
e (raramente) desde as épocas quando refúgios
eram populares: redes de câmaras subterrâneas,
tumbas ou covis “trancados por terra” (salas
enterradas ou cadeias de salas que não mais
tinham uma entrada física ou saída para áreas
acima do solo ou passagens adjacentes ao Subterrâneo)
que eram ligadas por portais para uma
sala ou local de Faerûn.
A alegre realeza
Cormyriana retornará na nossa próxima coluna,
aonde veremos se eles aprenderam o suficiente
sobre refúgios seguros pra encontrar a forma
de saírem deste.

Sobre o Autor
Ed Greenwood é o homem que lançou os Reinos
Esquecidos em um mundo que não os esperava.
Ele trabalha em bibliotecas, escreve fantasia,
ficção científica, terror, mistério e até estórias
de romance (às vezes coloca tudo isto em um
mesmo livro), mas está ainda mais feliz escrevendo
Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos
e mais Conhecimento dos Reinos. Ainda existem
alguns quartos em sua casa com espaço para empilhar
seus escritos.
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