Filfaeril não teve que se apressar.
O Dragão Púrpura de Cormyr parou
diante de uma porta de pedra que se ergueu de
dentro da escuridão, acima de sua cabeça,
embora a pequena maçaneta de pedra estivesse
na altura de sua cintura. Trabalho anão,
claramente; velho, sólido e expressivo,
feito em um muro de pedra lisa que em tudo se
assemelha a uma peça maciça ao
invés de pedra trabalhada. Também,
estendia-se na escuridão além
de onde o fraco brilho da arma alcançava,
e continuava do outro lado da inquebrável
porta dentro da escuridão.
A própria porta tinha cerca de oito Filfaerils
de altura, e era profundamente gravada com runas
anãs: linhas negras que se entrelaçavam
tão intricadamente quanto qualquer monograma
nobre ao invés de serem claras e separadas,
como ambos os Obarskyrs tinham se acostumado
a vê-las. Nenhuma delas era familiar para
Filfaeril.
Azoun havia parado de fitar as runas muito tempo
atrás. Sua espada ergueu-se como uma
tocha para ajudá-lo a ver melhor, ele
estava observando algo que tinha sido recentemente
pintado em uma gravura anã.
Um meio círculo tão alto quanto
um homem incluía a cabeça com
um bico em forma de gancho de uma águia.
Essa cabeça estava voltada para a esquerda,
lateralmente, mas encarava os dois Obarskyrs:
fendas na tinta grosseira e pálida encobriam
uma nítida fileira de três olhos.
Filfaeril sentiu Azoun endurecer; qualquer que
seja o significado desse símbolo, ele
o reconheceu – e não favoravelmente.
“Onde nós estamos?”, ela
murmurrou próximo do ouvido dele.
“Maerantide”, Azoun assobiou, sacando
sua espada como se esperasse uma batalha.
“Use o brinquedo de Vangey”, Filfaeril
lhe disse calmamente. “Agora”.
Durante anos, Harpistas e sábios têm
especulado quem poderia ser o próximo
a tentar fundar um reino entre Cormyr e Amn,
nas ocupadas rotas de caravanas entre a Costa
da Espada e o Mar das Estrelas Cadentes.
Trolls, dragões invasores famintos e
os poderosos nativos de Tun já haviam
tentado frustradamente antes, mas isso não
impediu a cobiça de tentar – geralmente
pela ocupação e reconstrução
de um dos marcos ou das antigas e arruinadas
fortalezas da região, proclamando-se
lorde disso ou rei daquilo, e tentando reforçar
sua vontade por meio de cavaleiros poderosos
portando lanças.
Quando aqueles cavaleiros eventualmente morriam,
voltavam-se contra eles ou fugiam, os pretensos
regentes normalmente desapareciam, não
sendo vistos novamente, e os mercadores de caravana
sorriam tanto por resignação quanto
por alivio, resmungando sobre monstros saqueadores
ou vilões Zhents ou que “os deuses
não queriam que tal reino existisse”,
e continuavam a preparar suas caravanas para
se defender nas longas jornadas de leste a oeste
através do que uma vez já foi
um país aberto, mas sem leis.
O último poder que se ergueu ao longo
da rota de comércio foi Azadarr Darkyn,
autoproclamado Barão de Maerantede, um
mercenário Calishita de cruel reputação
que liderava sua companhia de espadas de aluguel
a ocupar a longamente abandonada Fortaleza Luhklyn,
na primavera de 1372 CV, e a reconstruíram
em um simples e carrancudo forte de pedra, agora
chamado de Maerantede (“May-urr-na-TEED”).
Do topo do seu castelo, o Barão de Maerantede
agora controla o melhor campo natural a oeste
das Montanhas da Corrida do Gigante e a leste
de Iriaebor, um prado protegido pelo Pico Luhklyn
(a oeste) e o Ahmaer Tor (ao sul), que tem um
lago pequeno e de água potável
na base do pico. Três dias de jornada
a sudoeste de Priapurl, na borda ocidental dos
Campos Verdes a meio caminho entre Easting e
a Montanhas dos Trolls, ele está somente
um pouco ao sul da rápida rota entre
Iriaebor e Priapurl e situado num local ideal
para dominar todos os caminhos de Priapurl através
da Floresta das Cobras até Eshpurta (e
portanto, o resto de Amn e pontos ao sul).
Darkyn comanda cerca de uma centena de guerreiros
veteranos bem armados e um punhado de magos
experientes em conjurações em
campo de batalha. Ele também conta com
a ajuda de alguns clérigos de Tempus
e Waukeen, e tem espalhado a palavra de que
“Os Cavaleiros de Maerantede” protegerão
todos os comerciantes que acamparem perto de
seu castelo ou que passarem através de
seu baronato (embora exatamente onde as fronteiras
do seu baronato ficam seja problema de alguma
disputa). Além disso, ele garante terra
livre e proteção a todos os ferreiros,
criadores de cavalos, treinadores de cavalos
e rancheiros de ovelhas que povoem Maerantede,
para que “essa nova terra pacífica
possa acolher e ajudar caravanas mercantes corajosas
e trabalhadoras que enriqueceram a todos nós,
ao carregar bens por toda terra entre os dois
Grandes Mares”.
Tudo isso seria muito bom (assumindo que Maerantede
sobreviveu a inevitáveis tentativas de
investidas Zhent e de Thay, com intenção
de dominá-la, além das invasões
de trolls das montanhas próximas) se
não fosse por causa da verdade suja que
os Harpistas e Elminster acabaram descobrindo.
Rumores sussurrados eram verdadeiros: longe
de lutar duramente contra as brigadas e foras-da-lei
que estavam montando um agudo e súbito
aumento nos ataques nas trilhas do terreno durante
1373 CV, o Barão de Maerantede estava
tanto coletando altas taxas de proteção
daqueles que acampavam sobre sua proteção
– quanto patrocinava as “brigadas”
e os “foras-da-lei”, que eram realmente
seus próprios guerreiros, retiradas suas
armaduras de cavaleiro, mas armados com preciso
conhecimento para aproximar-se da presa.
Resumindo, o Barão Vigilante (como foi
escrito no seu título proclamado) é
uma sangrenta fraude, essa criatura de coração
negro de tantos contos de taverna: o barão
ladrão.
Mais sobre o vilão Barão Vigilante
na próxima coluna. Faerûn nunca
viu a falta de vilões de corações
negros – mas em compensação,
a demanda por eles também raramente diminui.

Sobre o Autor
Ed Greenwood é o homem que lançou os Reinos
Esquecidos em um mundo que não os esperava.
Ele trabalha em bibliotecas, escreve fantasia,
ficção científica, terror, mistério e até estórias
de romance (às vezes coloca tudo isto em um
mesmo livro), mas está ainda mais feliz escrevendo
Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos
e mais Conhecimento dos Reinos. Ainda existem
alguns quartos em sua casa com espaço para empilhar
seus escritos.
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