As brumas azuis passam mais uma vez,
deixando o rei e a rainha juntos em uma névoa
cinzenta, fria e pegajosa.
"Eu começo a gostar disto menos
e menos”, Filfaeril anunciou firmemente.
“Você não pode fazer o invento
de Vangey funcionar e nos levar direto de volta
para casa?”
“Um momento, minha querida”, o Dragão
de Cormyr replicou, avançando poucos
passos, cruzando as tábuas sob seus pés.
Uma corrente de névoa o engoliu, e sua
rainha teve que correr para que ele não
desaparecesse inteiramente de suas vistas.
Ela o encontrou parado de frente a uma sólida
e baixa amurada de madeira, de um formato estranhamente
estriado e ornamentado. Uma amurada de navio.
Azoun estava observando além da borda
do navio, agachando-se para se equilibrar do
balanço – apesar do navio parecer
estar firme abaixo dele – e inclinando-se
suavemente.
“Onde nós estamos?" , a Rainha
Dragão perguntou, tocando seu ombro contra
o dele, em um sinal silencioso de que queria
que seu marido pusesse um braço confortante
ao seu redor. Ele atendeu. “É um
navio, como é óbvio, mas não
sinto o mar sob nós, não ouço
ondas – não sinto o cheiro das
ondas!”
“Ficaria surpreso se você conseguisse
isto, Fee”, retrucou o marido, apontando
para um intervalo súbito entre a névoa,
que abriu a visão para as copas de algumas
árvores, “visto que estamos velejando
no ar.”
Todo mundo nas Terras Centrais dos Reinos, e
qualquer um que, de vez em quando, visite uma
taverna em qualquer lugar em Faerûn também,
deve ter ouvido falar do “Navio Perdido”.
As histórias contadas ao seu respeito
são muitas, coloridas e contraditórias,
mas todas concordam que, por anos, ele vem velejando
os céus dos Reinos, voando mais perto
ou mais além, baixo e silencioso ainda
que nunca pareça correr sobre as árvores,
as torres de fortalezas altas ou escarpas de
montanhas.
Alguns dizem que ele é uma armadilha
para arcanos, um engodo em que os magos espectros
de Netheril, que o assombram, drenam as vidas,
possuem os corpos ou roubam os encantos de quaisquer
magos tolos o suficiente para se aventurarem
a bordo. Outros dizem que o navio é assombrado
por mortos-vivos insanos e desesperados que
infinitamente fogem de algo ainda mais terrível
que os perseguem pelos céus. Outros ainda
acreditam que é um uma creche disfarçada
para ovos de dragão, protegidos com encantos
que enlaçam e aprisionam aventureiros
para alimentar as jovens crias. Ou pode ser
o lar abandonado de um deus, ou algum monstro
sensitivo que se mascara como um navio, ou um
templo mágico roubado de seu lugar de
origem por ladrões que agora estão
amaldiçoados e a deriva nos céus.
Alguns dizem que piratas vivem a bordo, descendo,
atacando e pilhando, somente fazendo isto novamente
semanas ou meses depois. Existem quase tantas
histórias quanto seus contadores, cada
uma delas extravagantes e estranhas, mas ainda
assim... fascinantes.
Elminster, é claro, sabe ainda mais sobre
isto, apesar de mesmo ele não saber o
porquê do navio voar infinitamente e nem
por que propósito.
"O Navio Perdido" não ostenta
nenhum nome em seu casco ou proa além
de rabiscos recentes e borrados (“Bruxa
dos Céus”, “Vingança
de Laeroth”, e “Rainha Severa”
são pelo menos três deles). Este
navio celeste (como descritos no artigo "Sailors
on the Sea of Air" (NT: “Marinheiros
no Mar do Ar”) na edição
#124 da Dragon Magazine), é
possivelmente de construção halruaana,
e vem velejando por séculos.
Em sua aparência, o navio voador é
de um cinza espectral, escurecendo até
chegar a um marrom profundo (onde a parte do
casco de madeira está exposta), com sua
parte superior amplamente coberta em uma camada
contínua de um metal (desconhecido, mas
inerte, não ferruginoso e aparentemente
inútil) leve como sabão, que pode
ser retirado mas que prontamente derrete no
ar, e não possui resistência. Suas
amarras (cordas) parecem ser de cânhamo
normal, mas combinam com a cor cinzenta –
assim como suas velas, que estão grandemente
em farrapos. Seu cordame é, ou parece
ter sido um dia, o de uma embarcação
que no mundo real é conhecida por “bergantim”:
dois mastros, com quatro velas quadrangulares
em seu mastro dianteiro, três jibs (velas
triangulares) entre o mastro dianteiro e o arco
da espicha da vela, e outras duas jibs entre
o mastro dianteiro e o da vela mezena, e nesta
mezena, um gancho grande está suspenso
em duas velas quadradas de topo. Flâmulas
de tecido e cordas soltas esvoaçam e
balançam por toda a parte, sem responder
ao “vento” da passagem do navio
ou das brisas que predominam sobre ele, e a
natureza arruinada de seus cabos não
parecem ter efeito na maneira com a que o navio
veleja.
O Navio Perdido possui casco baixo e delgado,
com um convés externo, com quatro degraus
de altura, na proa e um na popa com sete. Cabinas
com janelas, beliches, mesas para mapas, e cadeiras
estão abaixo de ambos os convés
elevados, e escotilhas nos pisos das cabinas
e no convés adjacente às cabinas
levam para baixo, a uma longa e baixa cela que
ao longo do tempo acumulou uma coleção
de passageiros assassinados e seus pertences
embolorados (que, se apanhados, se mostrarão
sem valor). Como Elminster, disse de modo atravessado,
a principal carga que a embarcação
fantasmagórica carrega parece ser todas
as histórias fantásticas que o
povo conta sobre ela.
Sob a cela existe um porão cheio de uma
antiga, mal-cheirosa e negra água, maculada
com uma maldição mágica
muitas vezes invocada. Qualquer um que for tolo
o suficiente para beber mais do que algumas
gotas (o suficiente para encher uma garrafa
de poção ou frasco) se transformará
em um dilacerador cinzento. A mudança
física leva 4+1d4 horas; depois que a
forma é totalmente assumida, trate a
vítima como se tivesse recebido os efeitos
de mudar forma (ver página 314 do Livro
dos Monstros, e mais a sua mais recente
errata) que dura por 1d8 dias. Seres que tenham
experimentado meras gotas imediatamente sentem-se
rígidos e entorpecidos, levando uma penalidade
de -1 na Destreza. Adicionalmente, a pele da
vítima toma uma leve tonalidade de cinza,
mas esta condição passa em 4+1d4
horas.
Existe obviamente muito mais para aprender
sobre o Navio Perdido, e nosso próximo
artigo explorará o que mais se sabe sobre
ele. Afortunados sejam Azoun and Filfaeril.

Sobre o Autor
Ed Greenwood é o homem que lançou os Reinos
Esquecidos em um mundo que não os esperava.
Ele trabalha em bibliotecas, escreve fantasia,
ficção científica, terror, mistério e até estórias
de romance (às vezes coloca tudo isto em um
mesmo livro), mas está ainda mais feliz escrevendo
Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos
e mais Conhecimento dos Reinos. Ainda existem
alguns quartos em sua casa com espaço para empilhar
seus escritos.
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