A Rainha Filfaeril não conseguiu
inteiramente conter um suspiro em sua voz. "Senhor
do meu coração, onde acha que
chegamos agora?"
King Azoun piscou para retirar as últimas
brumas azuis da teleportação de
suas vistas, sacudiu a cabeça para ajudar
a recobrar-se da viagem, observou atentamente
em volta, e anunciou, “uma vila”.
O olhar que Filfaeril lhe enviou possuía
adagas neles e o fez se lembrar que embaixo
de sua rica vestimenta, haviam duas finas e
afiadas adagas embainhadas em suas ligas.
"Aham," ele adicionou apressadamente,
"Eu temo que levarei um pouco de tempo
– em verdade, quase nada – para
determinar qual vila. Eu acho isto pois a maioria
delas é muito semelhante."
Muitos reinos em Faerûn tem áreas
selvagens ("terras ermas" no falar
dos Reinos), freqüentemente montanhosas
ou ao menos com colinas, e altamente cobertas
de florestas. As habitações das
terras ermas são poucas, isoladas e lares
de pessoas fortes e auto-suficientes que costumam
batalhar contra monstros sem ajuda, e que se
mantém por si próprias.
Em áreas menos selvagens, com as que
se abrem das fronteiras em direção
de povoados maiores, “fortes” (ranchos
com plantações de subsistência)
e fazendas tornam-se comum. Em tais regiões
rurais, vilas, aldeias e lugarejos geralmente
se desenvolvem ao redor de um templo ou santuário,
entroncamento de estradas, pontos de paradas
(estalagens), ou moinho (ou rios). Tais povoados
geralmente têm um mercado a céu
aberto onde os fazendeiros locais vendem o que
produzem (uma vez por semana), um poço
público ou cocho para cavalos ou ambos,
uma taverna e uma ou mais lojas locais e serviços.
Tipicamente um comércio “âncora”
irá ser um ferreiro ou a oficina de um
carpinteiro, tanoeiro (construtor de barris),
ou fabricante de carroças.
Se o povoado ou seu templo é grande ou
importante o bastante, ou está localizado
estrategicamente ao longo de uma rota comercial
e é suficientemente popular ou suficientemente
perigoso, ou se há falta de hospedagem,
haverá uma estalagem.
Uma típica aldeia ou vila de zona rural
é uma mistura de habitações
de pedra e madeira (chamadas de “lugar”,
ao invés de “cabanas” ou
“choupanas”, apesar de um “lugarejo”
se referir a uma casa e suas construções
agregadas, jardins e outras áreas de
campo). Muitos dos lugares têm telhados
de telhas de madeira finas ou tábuas
(às vezes cobertos com terra, onde jardins
de plantas trepadeiras de frutas comestíveis
crescem), e uma cozinha jardim “do lado
de fora”, entre a habitação
e sua “casinha” (privada externa
ou latrina).
A maioria das construções fica
de frente às estradas ou trilhas do povoado,
e lugares ocasionais têm paredes de tijolos
de barro ou taipa. Habitações
com mais de um piso são raridades: as
exceções são geralmente
as grandes casas de senhores locais, magos,
líderes comunitários, ou clérigos.
Muitos povoados rurais têm grande quantidade
de lenha e pastos entre suas casas, e lá
podem haver grelhas ou fornos coletivos a céu
aberto, um “esterqueiro” (um esterqueiro
é o que muitos do mundo atual chamariam
“depósito de lixo” ou “entulho”,
só que estes são dominados por
itens que não tem mais nenhuma utilidade,
não havendo mobília descartada.
Em Faerûn, qualquer coisa feita em metal,
tecido, ou madeira tende a ser usada e re-usada
até que se desintegrar).
Muitos povoados têm um ponto de observação,
seja uma torre ou, mais freqüentemente,
o alto de uma colina (com uma fogueira de sinalização
pronta para ser acesa, para alertar sobre a
aproximação de um exército
ou horda de orcs). Estradas são geralmente
de terra batida, exceto em áreas pantanosas
(onde troncos são colocados transversalmente
para formar um piso rústico e acidentado.
Somente as melhores estradas têm valas
para escoamento).
Em quase todas as cidades e vilas, e onde as
pedras de dureza adequada puderem ser conseguidas
com preço barato e com abundância,
as estradas de terra tornam-se em breve pavimentadas
com blocos de pedra, que oferecem uma superfície
dura e preferível à lama rígida,
congelada pelo inverno ou mole e que atola na
primavera. Onde blocos de pedra não estão
existem, mas pequenas pedras estão disponíveis,
as estradas são feitas com cascalho,
às vezes posto sobre toras ou valas em
áreas propensas a serem varridas pela
água (não apenas onde córregos
e nascentes as cruzam, mas também no
sopé de colinas íngremes, onde
uma chuva severa de tempestade pode causar danos).
Gnomos e halflings preferem criar um túnel
nas colinas para confeccionar suas habitações,
alinhando as cavernas escavadas com pedras e,
com arcos do mesmo material, fazendo seus tetos.
Onde pedras são fáceis de obter
e abundantes, eles preferem as extraírem
e as esculpir precisamente em blocos, e a maioria
das construções feitas para humanos
segue este tipo. Um trabalho típico de
um gnomo é um bloco retangular de pedra
esculpido com uma aresta delgada ou uma saliência
em seu topo, e uma correspondente fenda ou denteação
na parte de baixo. Os blocos são unidos
quando um é colocado sobre o outro, prevenindo
a passagem da maioria dos ventos, fazendo uma
parede estável contra pressões
laterais (como as feitas pela terra). Em um
trabalho mais rude dos gnomos – e halflings
- , as paredes são reforçadas
simplesmente se construindo uma segunda parede
após a primeira e, se mais reforço
se fizer necessário, eles constroem contrafortes
(pequenas e inclinadas “sapatas”
feitas de alvenaria construída perpendicularmente
a parede principal).
Em climas frios, tais trabalhos em pedra são
simples, superdimensionados, massivos e duráveis,
e são feitos com “juntas de expansão”
para resistir às forças do frio,
gelo e ventos gélidos. Quebra-ventos
(conhecidos nos Reinos como “paredes de
cobertura”) abrigam a maioria das entradas;
em sua simplicidade, são apenas paredes
que saem de outra parede ao lado de uma porta
e viram ficando paralelas à outra, na
distância de um homem robusto, e possuem
uns quatro metros de extensão e então
terminam (quando olhada de cima, este tipo de
parede de cobertura forma uma letra “L”
maiúscula, de extensão alongada).
Paredes de cobertura protegem mais freqüentemente
portas que ficam abertas, e trepadeiras com
vegetais comestíveis geralmente as cobrem.
Pequenos nichos em seus blocos, normalmente
escondidos pelas folhas das trepadeiras, permitem
às pessoas deixarem mensagens e outros
pequenos itens (como chaves ou dinheiro de pagamentos).
Construir nos reinos é quase sempre um
trabalho de um único supervisor dirigindo
sua família e/ou trabalhadores pagos
(construtores de telhado, vidraceiros ou assentadores
de cerâmicas profissionais, ou carpinteiros
e “contratados” casuais que levam
objetos, martelam e carregam materiais). Um
fazendeiro, um pequeno mercador, ou soldado
aposentado geralmente serve como supervisor
em suas construções e são
os próprios donos da terra onde a construção
será erguida. Mercadores ricos e nobres
contratam um supervisor (o que no mundo real
as pessoas chamam de “empreiteiro”)
ou ordenam aos seus próprios administradores
para servir em tal competência para eles.
Somente em casos raros, proprietários
de terras, mesmo se estiverem pretendendo obter
rendas através de aluguel como senhorios,
contratam construtores para erigirem mais que
um edifício por vez.
"Mestres construtores" (o que no mundo
real chamaríamos de “engenheiros”
ou de “arquitetos”) são muito
raramente usados e, quando o são, somente
pela realeza, nobreza, ou por ricos clientes
privados; para os demais, carpinteiros, em conjunto
com seus patrões, “projetam”
os prédios. O trabalho de um mestre construtor
é geralmente necessário para construir
edifícios idênticos múltiplos
(ou edifícios em um mesmo estilo). Os
cleros mais organizados têm seus próprios
mestres construtores como membros de sua fé
ou mesmo ordenados clérigos.
E assim nossa visão geral sobre como
os humanos moram, e porquê, se conclui.
A coluna seguinte explora as leis e costumes
pertinentes a terra, fronteiras, e visitantes.

Sobre o Autor
Ed Greenwood é o homem que lançou os Reinos
Esquecidos em um mundo que não os esperava.
Ele trabalha em bibliotecas, escreve fantasia,
ficção científica, terror, mistério e até estórias
de romance (às vezes coloca tudo isto em um
mesmo livro), mas está ainda mais feliz escrevendo
Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos
e mais Conhecimento dos Reinos. Ainda existem
alguns quartos em sua casa com espaço para empilhar
seus escritos.
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