Por anos, o povo nas tavernas das Terras Centrais
do Ocidente dos Reinos comentam sobre um antigo
e quase esquecido "Deus do Ouro" e
seu cálice sagrado - que dizem ser guardado
por sacerdotes, especialmente clérigos
de Waukeen. Poucos ouviram falar de tal divindade
ou querem saber de outra força divina
com a qual devam se preocupar
mas os sussurros
sobre o Cálice das Serpentes nunca se
dissiparam completamente.
Onde as cidades existem, existem leis - e pessoas
que se metem em problemas com ela. Por este
motivo, as terras selvagens, além do
alcance das lanças e arcos dos cavaleiros
que realizam patrulhas, concentram uma grande
parte de foras-da-lei, que tornam a viagem perigosa
para pequenos grupos e mascates solitários.
Como resultado, a maioria das caravanas aceita
"viajantes", que pagam algumas peças
de cobre para viajar na relativa segurança
das carroças e dos seus guardas. Muitos
destes procuram emprego em uma nova cidade.
Estes viajantes geralmente são menestréis,
algumas damas e uns poucos mascates e pequenos
comerciantes.
Dois de tais mascates - um belo, mas idoso homem
e sua filha de uma beleza misteriosa - acompanham
caravanas que rumam para Iriaebor, Águas
Profundas, Nashkel e Portal de Baldur. Os viajantes
Darvith e Taleene Raldemarr comerciam miúdezas
(não perecíveis, itens portáteis,
pequenos bens duráveis - como tigelas
de metal, cofres, espelhos, baldes e trancas
- comprando-os mais baratos em um lugar, esperando
vender em outro por algumas peças de
cobre a mais). Eles também servem como
Guardiões do Cálice das Serpentes.
Através dos anos, a história se
espalhou sobre a curiosa taça mágica
que eles carregam - uma taça mortal para
todos que não sabem como usá-la,
e para aqueles que não reverenciam o
deus para o qual ela é consagrada. Este
cálice supostamente dá conselhos
divinos em troca de algumas moedas.
Quando entram em uma taverna, carregam de modo
reverente a brilhante caixa de ouro com eles.
Darvith imediatamente pede por uma cadeira.
Se alguém lhe oferece uma, esta generosa
pessoa normalmente pensa que a cadeira é
para a atraente mulher que está com ele
- mas Darvith, ao invés de dar a cadeira
para Taleene, coloca a caixa sobre ela, ajoelha
e murmura uma oração. Se alguém
questioná-lo sobre isto - ou procurar
qualquer informação sobre este
rito, mesmo por olhares ou gestos - Darvith
gravemente começará a contar sua
história.
"Na caixa", ele diz, "descansa
o Cálice das Serpentes, a taça
de metal mais velha do que Águas Profundas,
talvez mais velha que a fabulosa Netheril -
um cálice consagrado ao "Deus do
Ouro", que é mais velho que a própria
Waukeen. Muito foi esquecido deste ser outrora
divino, até mesmo o seu nome, mas seu
poder deve ter sido impressionante, e muito
dele ainda vive, atravessando todas as eras
e séculos, até chegar nesta noite.
Ele comandou e consagrou o indigno Darvith Raldemarr
à falar com vocês, e a minha filha
Talenee - fazendo nosso sangue, saliva e suor
venenosos para muitos, e nos forçando
a oferecer os poderes do Cálice para
todos que por ele pedirem."
Darvith depois abre a caixa, revelando papéis
de embrulhos do quais emerge um cálice,
que precisa ser erguido com duas mãos,
cujo bojo é maior do que uma cabeça
humana e protegido por um domo de metal nobre.
O cálice parece pesado e é realmente.
Na maioria das tavernas ele é colocado
no chão cuidadosamente. Em tavernas raras,
abençoadas com uma mesa grande e firme
o suficiente, Darvith instalá-o sobre
ela, abaixo de um lustre (se a iluminação
é ruim, ele providencia uma lâmpada
a óleo com um refletor altamente polido
que sai de um nicho da caixa e ilumina o cálice
de baixo para cima, realçando-o impressionantemente.
"Contemplem o Cálice das Serpentes",
ele declara).
"O Divino", ele começa a explicar,
"é de ouro, e não precisa
de nada, mas deseja que os mortais tenham tanta
riqueza quanto possam alcançar. Mesmo
sem o poder absoluto de seus tempos ancestrais,
ele ainda fala através deste Cálice".
Darvith reverentemente retira o domo da taça
e o dá à sua filha. Ele segura
a taça e mostra a todos os presentes
que ele está vazio. Recolocando-a novamente,
ele novamente põe a tampa e mostra uma
pequena fenda no alto. "Por aqui",
ele explica, "aqueles que desejarem a sabedoria
do cálice podem depositar uma moeda de
cobre ou de prata - nunca de ouro -, enquanto
a tampa descansar sobre a taça".
Esta oferta, acompanhada pelas preces de Darvith
e sua filha (as palavras pouco importam; as
imagens sagradas que vinham à mente enquanto
rezavam tinham maior importância), causaram
o surgimento de uma cobra no cálice.
Como era de se esperar, isto não era
sempre uma notícia muito popular.
A próxima parte desta coluna irá
revelar tudo sobre o Cálice das Serpentes.

Sobre o Autor
Ed Greenwood é o homem que lançou os Reinos
Esquecidos em um mundo que não os esperava.
Ele trabalha em bibliotecas, escreve fantasia,
ficção científica, terror, mistério e até estórias
de romance (às vezes coloca tudo isto em um
mesmo livro), mas está ainda mais feliz escrevendo
Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos
e mais Conhecimento dos Reinos. Ainda existem
alguns quartos em sua casa com espaço para empilhar
seus escritos.
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