Atualmente conta-se que no Ano da Harpa Emudecida,
quando a sombra do assim chamado “Dragão Diabólico”
lançou-se sobre a terra de Cormyr, havia muito
receio em Suzail. Após um breve aumento nas
importações de armas, armaduras e outros artigos
de guerra, o comércio na cidade caiu vertiginosamente.
Muitos comerciantes estrangeiros transferiram
suas rotas para Sembia e para os portos independentes
da Costa do Dragão – especialmente para Portão
Ocidental. Notícias do vasto mundo e artigos
comerciais interessantes e coloridos tornaram-se
escassos, e rumores de traição entre nobres
e cortesãos, e de discórdia entre os membros
de muitas famílias do reino, espalhavam-se pelas
ruas diariamente, deixando o povo apreensivo
aos murmúrios.
À medida que os exércitos em confrontação nas
terras do norte aproximavam-se da capital do
Reino das Florestas, o receio intensificava-se.
Dizia-se que monstros horrendos estavam prestes
a esmagar a cidade. A comida (cujo preço já
havia aumentado consideravelmente em vista das
depredações provocadas pelos ghazneth e de problemas
associados ao produto das colheitas) tornou-se
ainda mais escassa e cara. Depois que a cidade
de Arabel sucumbiu e seus cidadãos fugiram em
massa para Suzail, viajando de uma cidade à
outra a passos largos por meio de poderosas
magias conjuradas pelos Arcanos de Guerra, tanto
o receio quanto a falta de alimentos intensificaram-se
rapidamente. Muitos cidadãos de Suzail que dispunham
de uma fortuna portátil suficiente (ou que tinham
frágeis lealdades para com a cidade) acreditavam
que a coisa mais sábia a fazer seria abandonar
a cidade e o reino por um algum tempo, e assim
o fizeram – levando consigo suas moedas e enfraquecendo
o comércio. Notáveis entre aqueles que partiam
estavam muitos dos jovens membros mais esbanjadores
de muitas famílias nobres de Cormyr, que foram
“enviados para fora do reino para sua própria
segurança” pelos parentes. Em alguns casos,
suas famílias optaram prontamente por seguir-los,
citando variações do tópico “negócios urgentes,
há muito negligenciados, a tratar em terras
distantes”.
As pessoas menos afortunadas que permaneceram
em Suzail logo notaram que trabalhadores ocasionais
não eram mais fáceis de encontrar (exceto pelos
rufiões de aparência suspeita, que haviam estabelecido-se
na cidade a fim de oferecer seus serviços temporários
como guarda-costas de aluguel a qualquer pessoa
disposta a pagar por eles). Serviços tradicionais
de contratação temporária como carga, descarga
e remoção de refugos tornaram-se difíceis de
se realizar, e logo muitos ratos e animais abandonados
por aqueles que fugiram da cidade passaram a
perambular esfomeados pela capital, infestando
as ruas em números crescentes. Alguns nobres
passaram a caminhar pelas ruas (nas raras ocasiões
em que saiam de suas mansões muradas e cheias
de trancas) acompanhados de grandes guarda-costas
que se apoderavam de quaisquer bens e lidavam
severamente com qualquer um que os contestasse,
exceto quando sob o olhar vigilante de patrulhas
da Vigília ou de Dragões Púrpuras uniformizados.
A comida tornou-se ainda mais escassa e cara.
As condições no Palácio e na vasta Corte Real
refletiam àquelas das ruas de Suzail, embora
poucos cortesãos tenham realmente passado fome
ou necessidade. Os oficiais da Corte notaram
o aumento da poluição local, da ilegalidade
e da desesperança, e determinaram que algo deveria
ser feito. Os Altos-Cavaleiros foram afastados
de suas missões de espionagem sobre nobres suspeitos
para “espreitar” em Suzail (para liderar as
forças de ataque dos Dragões Púrpuras contra
contrabandistas, escravistas, e as sempre crescentes
gangues de rua formadas por ladrões e arruaceiros).
Entre outras medidas decretadas para “restaurar
a ordem” havia uma curiosa insensatez: o imposto
da janela.
Originalmente proposto por um insignificante
tabelião a serviço dos Cofres Reais, o Sub-Escriba
Lhultan Culthorp (um humano intratável, mordaz
e de modos “superiores”; LN, Esp1), esse imposto
visava um meio de arrecadar uma receita destinada
à compra de alimentos para a população e à eliminação
dos ratos. O chamado “Imposto Sobre Clarabóias
e Vidraças” arrecadaria 1 falcão prateado ao
mês para cada janela ou clarabóia instalada
em prédios não-pertencentes à Coroa situados
dentro das muralhas de Suzail (a menos que as
características mencionadas houvessem sido permanentemente
alteradas pela instalação de venezianas ou tábuas,
contanto que todo o vidro tivesse sido removido
e que o “uso de ferramentas adequadas fosse
necessário para re-abrir as janelas ou clarabóias
bloqueadas”).
Os proprietários dessas construções pagariam
o imposto aos Escriturários da Corte nas repartições
de praxe no interior da Porta dos Leões, entrada
que dá acesso à Corte Real. A arrecadação expiraria
no último dia de cada mês a partir da data de
proclamação do imposto. Cidadãos que não pagassem
dentro do prazo de seis dias após a data de
expiração, de acordo com o esboço da proclamação
de Culthorp, perderiam seus bens (que seriam
confiscados pela Vigília) em uma quantidade
correspondente ao valor de mercado do imposto
devido (as avaliações seriam realizadas apenas
por oficiais da Corte e não estariam sujeitas
a objeções ou apelações).
O imposto foi proclamado em Suzail em um único
dia, da mesma forma como são anunciadas todas
as leis de Cormyr. Notificações escritas foram
postadas em tabuletas ao longo do Passeio, em
cada portão da cidade, no Mercado, no Salão
do Mercado, e em todas as entradas da Corte
Real. Ao mesmo tempo, a nova lei foi “gritada”
(lida em voz alta) por oficiais da Corte, protegidos
por guarda-costas, em todas as tavernas da cidade.
O novo imposto não foi bem recebido.

Sobre o Autor
Ed Greenwood é o homem que lançou os Reinos
Esquecidos em um mundo que não os esperava.
Ele trabalha em bibliotecas, escreve fantasia,
ficção científica, terror, mistério e até estórias
de romance (às vezes coloca tudo isto em um
mesmo livro), mas está ainda mais feliz escrevendo
Conhecimento dos Reinos, Conhecimento dos Reinos
e mais Conhecimento dos Reinos. Ainda existem
alguns quartos em sua casa com espaço para empilhar
seus escritos.
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